“Se os obreiros se mantiverem ligados a Deus, Ele lhes dará aumento de sabedoria” 

Durante meus doze anos de pastorado adventista, tenho cometido significativa quantidade de erros. Porém, estou consciente de que, a menos que eu esteja disposto a aprender dos meus próprios erros, jamais desenvolverei, ao máximo, minhas habilidades. Embora eu saiba que em alguns lugares existam distritos imensos, com mais de dez congregações, a verdade é que pastorear mais de uma igreja não é missão fácil para ninguém, especialmente quem não é do tipo “faz tudo”. Mas, como disse Robert Schuler, “é melhor tentar alguma coisa grande para Deus e falhar, do que não tentar fazer nada e ter sucesso”.1 

Indubitavelmente, os erros podem desanimar nosso espírito, contudo devemos prestar atenção ao que escreveu Ellen G. White: “Você comete erros? Não deixe que isso o desanime. O Senhor talvez permita que você cometa erros pequenos para poupá-lo de cometê-los maiores.”2 

Espero que as seguintes sugestões possam ajudá-lo a não repetir alguns dos erros que tenho cometido. 

Pregue segundo as necessidades locais 

Aprendi que o que é considerado bom sermão por uma congregação pode ser totalmente irrelevante para outra. Lembro-me de tantas vezes em que mergulhei no preparo bem esmerado de uma mensagem, apenas para descobrir subitamente, pelos olhares dispersos diante de mim, que o sermão tinha pouco ou nenhum sentido para as necessidades imediatas dos ouvintes. A necessidade que uma congregação tem de ouvir uma mensagem pode não ser a mesma de outra. As igrejas não são clones umas das outras. 

Um sermão sobre o princípio historicista de interpretação profética pode ser oportuno para uma igreja que enfrenta problemas com o futurismo, por exemplo, mas não tocará o coração de um grupo de adoradores entre os quais se encontram alguns enfermos, ou pais que perderam o filho adolescente em um acidente. Esse exemplo pode ser extremo, mas demonstra que num determinado sábado rebanhos diferentes podem lutar com diferentes demandas. 

Embora muitos sermões possam ser pregados com sucesso em múltiplas igrejas, outros que até são baseados no mesmo texto talvez necessitem ser adaptados para enfatizar verdades relevantes para outras igrejas. Sempre haverá ocasiões em que mensagens inteiramente diferentes podem ser requeridas por igrejas diferentes. Conseqüentemente, muitos pastores talvez necessitem preparar vários sermões para a semana, caso tenham que pregar em várias congregações, no domingo, quarta-feira e sábado. 

Preparar duas ou mais qualidades de sermões para uma semana, exige planejamento antecipado. Alguns pastores costumam planejar seus sermões para o ano inteiro. Outros fazem isso para o mês ou semestre. Entretanto, mesmo uma hora de planejamento no início da semana pode ajudar a fazer com que a mensagem do sábado seja bem ajustada às necessidades da congregação. Quanto mais cedo o pastor desenvolver seu planejamento, mais tempo terá para construir um sermão eficaz.

Escolher, semanalmente, uma passagem da Escritura sobre a qual deve fundamentar o sermão, com freqüência, não é a maior tarefa. Mas, nesse ponto, uma profunda familiaridade com o conteúdo escriturístico se torna extremamente ajudador. A Bíblia tem mais que suficiente variedade de passagens sobre as quais podemos basear incontáveis sermões que falem a circunstâncias locais. Jesus sempre demonstrou controle da Escritura, ao falar com facilidade e rapidez a respeito de versos bem conhecidos, aplicando-os como respostas aos questionamentos que Lhe eram feitos (ver, por exemplo, Mt 5:17-48; 12:1-8; 19:3-9; 22:23-33; Mc 12:1-12; 12:28-34; Lc 4:16-30; 24:27, 44-48; 4:4, 8, 12). 

Para as semanas em que nenhuma necessidade especial da congregação parece evidente, costumo escolher um salmo, parábola, alguma passagem do evangelho ou das cartas de Paulo, e pregar exegeticamente. Esse método tem uma vantagem abençoada: a comunicação de novas verdades, ou ênfase em textos normalmente passados por alto na leitura da Bíblia. 

Os erros que cometi no âmbito da pregação me ensinaram que o sermão refinado sempre é bom; mas, o sermão relevante é ainda melhor. “A palavra, a seu tempo, quão boa é!” (Pv 15:23). 

Tenha empatia para com sua congregação 

Em um distrito que pastoreei, havia uma congregação que experimentou notável crescimento em determinado ano. Os irmãos e eu estávamos felicíssimos! Desafortunadamente, outra igreja parou de crescer. Eu estava tão entusiasmado com a atuação de Deus no crescimento daquela igreja que, um dia, estando na igreja menor, relatei com toda alegria o sucesso da outra. Imediatamente, aprendi que o que era uma grande notícia para mim, na realidade demonstrou ser frustrante para algumas pessoas que estavam presentes. Aqueles irmãos já estavam desencorajados. Falar a respeito do triunfo de outros somente os fez sentir-se ainda piores, e eu deveria ter sido sábio para “suavizar” a comunicação dos feitos da igreja grande e enfatizar mais o que Deus podia fazer por aquele rebanho ao qual me dirigia. Napoleão Bonaparte compreendeu esse princípio de liderança quando observou que “um líder é um mercador de esperança”.3 

As boas novas são que cada igreja, não importando quão duramente lute com problemas, pode ser abençoada de maneira única. A congregação que enfrentava dificuldades exigiu um pouco mais da minha atenção, incluindo aparentemente infindáveis reuniões para entusiasmar, motivar, inspirar e capacitar aqueles irmãos. Com freqüência, eu parecia sentir que meus esforços eram inúteis. Mas, algo aconteceu. 

O tempo e esforços extras, empregados com aquelas pessoas, criaram um laço amoroso nelas em relação ao pastor. Nem todos os problemas foram resolvidos, mas no último sábado que passei com esses irmãos, fiquei surpreso com o derramamento de sincera gratidão e apreciação que recebi deles. Igrejas são formadas de pessoas. Elas necessitam de afirmação e otimismo. Focalize o lado positivo. Peça e espere as bênçãos de Deus. Mais cedo do que você imagina, sua vagarosa igreja poderá ver “o livramento do Senhor” (Êx 14:13). 

Confie em Deus, para resolver os problemas 

Em determinada região, a menor de minhas duas igrejas tinha invertido os horários da Escola Sabatina e do Culto Divino, este sendo realizado às 9h. A igreja maior seguia o horário tradicional, de modo que ambas podiam ter o pastor no Culto Divino. A certa altura, a igreja menor quis inverter seu horário, retomando assim ao sistema habitual. Os irmãos imaginavam que, realizando o culto mais tarde, facilitaria a presença de mais pessoas, atrairia visitantes e, assim, possibilitaria maior crescimento. O desafio era saber como isso se ajustaria ao programa da igreja maior. 

Uma representação da igreja menor foi argumentar com a comissão diretiva da maior, solicitando-lhe que modificasse o programa sabático. Previsivelmente, alguns membros da comissão resistiram ao apelo para fazer tal ajuste. Para mim, o pedido da igreja menor parecia bastante razoável e, quando percebi a reação, fiquei um tanto frustrado. Avaliei aquela relutância como obstinação e, sem pensar, deixei escapar uma ameaça de alterar meu plano de pregação, a fim de atender a necessidade da igreja menor.

Esse meu descuido suscitou uma pontiaguda ameaça por parte de um descontrolado membro da comissão. A tensão pairou no ar. Felizmente, nosso irmão se acalmou e pudemos continuar com a reunião. Mas, o pedido foi rejeitado. Assim mesmo, a igreja solicitante resolveu ir adiante com seu plano, passando a realizar a Escola Sabatina às 9h, seguindo-se o Culto Divino, experimentalmente durante três meses. Tive que alterar meu programa de pregação para aquela igreja. Mas, depois de algumas semanas, eles descobriram que aquela não era a solução que esperavam, pois surgiram imprevistos. Não demorou muito e eles voltaram ao sistema anterior, permitindo-se respirar uma atmosfera de unidade e confiança mútua. O próprio distrito se encarregou de solucionar o conflito. 

Dessa experiência, aprendi que algumas igrejas progridem com maior dificuldade que outras; e, o que é mais importante, aprendi que não devia ter-me envolvido emocionalmente naquele conflito. Os problemas não podem ser ignorados, mas devem ser abordados com oração e sempre com atitude pastoral. Nesse caso particular, Deus tinha resolvido o problema já no seu início. Mas, quando os argumentos em favor de certa causa persistem inamovíveis, devemos seguir o conselho do sábio: “Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no Senhor está seguro” (Pv 29:25). 

Equilibre sua carga de trabalho 

Num determinado ano, uma vitoriosa série de conferências evangelísticas me fez esquecer de que sou apenas uma pessoa e que uma igreja pode se sentir sobrecarregada. Quando foi promovida uma campanha via satélite, imediatamente procurei fazer com que as duas igrejas aderissem ao plano, pensando que seria possível multiplicar o êxito conquistado. O que eu não pensei foi que a igreja estava cansada de uma campanha realizada naquele mesmo ano. 

Desejando cooperar, os irmãos concordaram; mas, quando a campanha começou, a assistência foi muito pequena. Então, me encontrei gastando metade do meu tempo tentando implementar um programa que não criaria raízes em uma igreja, enquanto o mesmo programa estava inspirando nova vida e atraindo muitos visitantes em outra igreja. Mas, por causa de um planejamento imprudente, eu não tinha tempo adequado para dedicar ao trabalho que estava indo bem. Tentando fazer muito, terminei sobrecarregando a mim mesmo com trabalho extra, desnecessário, e isso sem mencionar o dinheiro gasto que poderia ter sido melhor utilizado em alguma outra coisa. 

Em seu livro Simple Church, Thom Rainer e Eric Geiger narram uma história envolvendo duas igrejas nomeadas como Primeira Igreja e a Igreja da Cruz. A Primeira Igreja era bem conhecida e tinha dez programas semanais, incluindo dois cultos de adoração, classe de discipulado na quarta-feira, pequenos grupos, encontros de homens e mulheres na terça-feira pela manhã, visitação quinta-feira à noite, coral de jovens e coral infantil. Todavia, apesar do grande leque de atividades, a igreja era um modelo de não crescimento durante cinco anos, porque a congregação estava sobrecarregada de atividades. 

A Igreja da Cruz, entretanto, não era bem conhecida e mantinha apenas três programas por semana: as atividades sabáticas, pequenos grupos e duplas missionárias. Os irmãos dessa igreja descobriram que, ao realizar fielmente um plano simples, têm sido habilitados a crescer mais que nos últimos 20 anos.4 A lição é óbvia: fazer mais não significa necessariamente garantia de sucesso. 

Certa vez, Deus impôs limites a Paulo e Timóteo, quando eles tentaram ir a Bitínia, mas o Espírito Santo não lhes permitiu (At 16:7). Na verdade, o Espírito os enviou a Filipos, limitando sua atividade a uma área na qual teriam êxito. 

Com meus erros, aprendi a ser mais sensível aos meus próprios limites bem como aos dos irmãos. Aprendi a direcionar as energias para onde Deus indicar. Nas igrejas do distrito, isso pode significar desenvolver um grande programa por ano e, por outro lado, estabelecer um projeto factível para que todos os membros sejam envolvidos. Evidentemente, deve haver muita oração em busca da orientação do Espírito Santo, bem como boa vontade para fazer ajustes, quando for necessário. Isso é essencial.

Igrejas são formadas de pessoas. Elas necessitam de afirmação e otimismo” 

 

Imprima sua agenda 

Tenho experimentado alguns momentos embaraçosos, como resultado de tentar dirigir os negócios da igreja somente baseado em minha memória. Esquecer uma reunião de comissão é humilhante. É perturbador descobrir que tenho agendados dois compromissos ao mesmo tempo. É desestabiliza-dor descobrir, de última hora, que um mal-entendido acabou deixando um púlpito vago. 

Todos esses percalços poderiam ter sido evitados se eu tivesse uma agenda escrita e examinada freqüentemente. Além de imprimir itinerário, escala de pregações, dias e horários das reuniões de comissões, é preciso distribuir, com antecedência, esses programas entre os oficiais e líderes. O tempo investido no preparo dessas coisas, utilizando computador, impressora e correio eletrônico, resultará em grande recompensa de ver o programa pastoral funcionar sem atropelos. Uma vez Deus escreveu Sua mensagem sobre uma parede, para que não fosse ignorada (Dn 5:5), e inspirou a escritura de 66 livros contendo mensagens especiais para o mundo. Isso nos diz muita coisa sobre a importância da comunicação impressa. 

Com respeito aos esforços dos pastores, Ellen White escreveu: “Por falta de experiência, erros poderão ser cometidos; mas, se os obreiros estiverem ligados a Deus, Ele lhes dará aumento de sabedoria.”5 

Referências: 

1 Citado por Mark Finley, Padeed Pews or Open Doors (Boise, ID: Pacific Press Publishing Association, 1988), p. 52. 

2 Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais, p. 124. 

3 Citado por Robert D. Dale, Pastoral Leadership (Nashville, TN: Abingdon Press, 1986), p. 14. 

4 Thom S. Rainer e Eric Geiger, Simple Church (Nashville, TN: Broadman and Holman Publishers, 2006), p. 41-44. 

5 Ellen G. White, Life Sketches (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1943), p. 246.