Com a missão de testemunhar num mundo altamente secularizado, onde proliferam as mais diversas teorias acerca de Deus, e a fé não parece tão importante, a maior necessidade da Igreja é manter-se firme nos ensinamentos das Sagradas Escrituras. Nisso, “o pastor é peça fundamental”, diz o Pastor José Sílvio Ferreira, secretário ministerial da Associação Rio de Janeiro, nesta entrevista, em que também fala de outros assuntos merecedores de profunda reflexão, por parte de ministros, anciãos, obreiros e demais leitores de Ministério.
O Pastor Sílvio nasceu em Lavras, MG; concluiu o curso teológico em 1973, no IAE, fez mestrado em Teologia e, atualmente, é aluno do programa de doutorado do Salt. Além desses cursos, também participou do Curso de Arqueologia Bíblica no Jerusalem Center of Studies, em Israel, em 1989. Trabalhou como pastor distrital em Goiânia, GO, Coronel Fabriciano, Tocantins, Divinópolis e Belo Horizonte (igreja central), MG, Curitiba (igreja central), Maringá, PR, e Rio de Janeiro (igreja de Botafogo). Foi secretário ministerial e evangelista na Missão Mineira Central, e diretor J.A. na Associação Espírito-Santense.
De seu casamento com Ellen Ferreira, filha de pastor, e obreira na área educacional da ARJ, nasceram três filhos: Marlon Henrique, Malton Guilherme e Marden Eduardo.
MINISTÉRIO: Que fatos do seu pastorado distrital considera especialmente marcantes?
PASTOR SÍLVIO: Considero o pastorado como um romance, pontilhado de momentos significativos e de muita emoção. Entre esses momentos, posso citar a chegada a uma nova cidade, o primeiro contato com a igreja, em alguns casos com mais de 1.200 membros, o trabalho pessoal com pessoas de elevado nível sociocultural e econômico, desejosas de conhecer as verdades bíblicas; acompanhar as mudanças (algumas drásticas) no estilo de vida dessas pessoas, operadas pelo poder de Deus, e, finalmente, batizar esses novos conversos. A evangelização de um novo lugar, com o apoio de jovens e irmãos da igreja, estabelecendo aí uma nova congregação, também é um fato marcante.
MINISTÉRIO: A que atribui seu êxito no pastorado de igrejas grandes? Há um método especial para mobilizar esse tipo de congregação? ,
PASTOR SÍLVIO: O segredo é trabalhar com humildade, autenticidade e constante de-pendência da orientação divina. Procurar conhecer pessoalmente cada membro da igreja e sua família. Interessar-se por seu trabalho, estudos e projetos de vida. Identificar os diversos dons e habilidades existentes na congregação e envolver as pessoas nas atividades onde possam desenvolver ao máximo esses dons. O pastor de uma igreja grande deve ser um especialista em sua obra, tal como o são os profissionais dessas igrejas em suas áreas respectivas. Deve ser um exemplo na religiosidade, conduta familiar e social. Para isso, somente a graça de Deus pode tornar-nos qualificados. Quanto aos métodos de mobilização missionária, estes devem ser encontrados junto à idiossincrasia e realidade de cada congregação. Geralmente, essas igrejas possuem muitos jovens, universitários, profissionais liberais; enfim, é um contexto diferente do que comumente se vê e que deve ser aproveitado de acordo com suas características.
MINISTÉRIO: Quais, a seu ver, são as maiores necessidades de um pastor?
PASTOR SÍLVIO: Além da necessidade de viver em íntima comunhão com Jesus, o pastor necessita de um companheirismo autêntico com os colegas de ministério, para que tenha supridas todas as suas expectativas sociais. Mas também necessita de maior estabilidade familiar, que o proteja dos assédios da imoralidade. O pastor necessita de uma formação profissional mais ampla e profunda, especialmente nas áreas de relações humanas, pregação e administração eclesiástica. Não posso deixar de mencionar a dedicação total e comprometimento com o evangelho de Cristo, vivendo-o e pregando-o.
MINISTÉRIO: Que projetos específicos existem no seu Campo para ajudar a suprir tais necessidades?
PASTOR SÍLVIO: A liderança da Associação Rio de Janeiro tem feito o máximo para suprir essas e outras necessidades. Nas áreas intelectual e profissional, são realizados cursos de Educação Contínua, além de incentivo ao estudo e leitura individuais. Em outubro do ano passado, por exemplo, tornou-se realidade o sonho de uma viagem cultural com o grupo de pastores através das terras bíblicas e parte da Europa. Nas áreas social e familiar, temos realizado encontros de casais, visitação aos lares dos pastores, freqüentes reuniões da Área Feminina da Associação Ministerial, Afam, e encontros de filhos de pastores. Mensalmente acontecem os concílios regionais, onde os pastores distritais, capelães, departamentais e administradores se reúnem para troca de idéias, experiências, diálogo e orientações.
MINISTÉRIO: Há pastores que se dizem pouco à vontade para abrir o coração a um secretário ministerial. Como resgatar essa confiança ?
PASTOR SÍLVIO: Um secretário ministerial precisa transpirar lealdade no trato com os colegas de trabalho. Precisa ser autêntico e honesto nas palavras e na conduta, revelando pro-fundo e sincero interesse para com os problemas e anseios que lhe são expostos. Deve saber alegrar-se com as realizações e sucesso dos pastores. Deve ser um amigo no profundo significado da palavra; um verdadeiro confidente, que se demonstre digno de confiança.
MINISTÉRIO: É fato estabelecido que um administrador não deveria acumular a função de secretário ministerial. Administrador e pastor podem se encontrar numa mesma pessoa, ou as duas coisas não se combinam ?
PASTOR SÍLVIO: É bastante complexo para uma pessoa desenvolver concomitantemente as funções administrativas e de secretário ministerial. O ideal é que dois indivíduos exerçam separadamente tais funções. Isso também é benéfico para o grupo de pastores distritais e demais obreiros que podem recorrer a um ou outro, dependendo das necessidades e dos casos específicos.
MINISTÉRIO: Como pastores e líderes podem manter um relacionamento sem arestas?
PASTOR SÍLVIO: Os líderes devem exercer uma administração aberta, transparente e participativa, concedendo o devido crédito a cada liderado, pelas suas realizações, valorizando a pessoa do pastor e reconhecendo seus esforços ministeriais. Os pastores, por sua vez, devem atuar com dedicação e lealdade. As duas partes devem manter muito diálogo e exercitar ampla compreensão.
MINISTÉRIO: Sucesso pastoral está inevitavelmente, ligado ao alvo de batismo?
PASTOR SÍLVIO: Nem sempre o sucesso pastoral está relacionado com “alcançar o alvo”. Os batismos são apenas uma faceta do grande prisma que é a obra pastoral. Pastores podem estar trabalhando em igrejas e distritos localizados em regiões resistentes à pregação do evangelho. No entanto, eles têm dispendido tempo e energia na administração, no aconselhamento, na pregação, etc. E essa é, hoje, via de regra, uma característica das grandes igrejas situadas em cidades grandes. O trabalho desses pastores deve ser avaliado sob outros ângulos, além do alvo de batismos.
MINISTÉRIO: Que perigos e vantagens o senhor vê no estabelecimento de um alvo numérico para batismos?
PASTOR SÍLVIO: O alvo numérico, quando determinado pela própria congregação e seu pastor, como um desafio ao envolvimento e crescimento missionários, é altamente benéfico, necessário mesmo. Por outro lado, a estratégia ainda usada em alguns lugares, de se oferecer prêmios e recompensas aos pastores que alcançam determinado número de batismos, é perniciosa. Principal-mente para aqueles que não conseguiram chegar ao número ideal. O resultado, muitas vezes, é amargura e sentimentos de inferioridade em relação aos premiados.
MINISTÉRIO: Quais, em sua opinião, são as prioridades que um ministro deveria ter em sua vida pessoal e profissional?
PASTOR SÍLVIO: Na vida pessoal, o pastor deve cultivar as virtudes de caráter que o tomem semelhante a Cristo. Constante crescimento na comunhão com Deus, sobriedade na conduta, estabilidade familiar. Na vida profissional, o alvo deve ser sempre a busca de maior qualificação intelectual. Reciclagem intelectual. Disciplina no estudo e no trabalho; procurar ser altamente competente no que faz.
MINISTÉRIO: Com sua experiência de pastor distrital, evangelista e secretário ministerial, que sugestões daria a um pastor para o estabelecimento de um programa de trabalho que corresponda às necessidades de sua congregação?
PASTOR SILVIO: Em primeiro lugar, manter em alto nível a qualidade da pregação bíblica. Ter como prioridade a execução de um plano racional de visitação aos membros e simpatizantes da igreja. Manter um constante pro-grama de treinamento para líderes e colaboradores. Dar atenção ao aspecto social da comunidade religiosa, princípalmente nas congregações das metrópoles, onde muitas pessoas vi-vem isoladas, embora cercadas de muita gente.
MINISTÉRIO: Quais as suas expectativas, e da administração de seu Campo, em relação a seus pastores?
PASTOR SÍLVIO: Esperamos de cada pastor da Associação Rio de Janeiro, total comprometimento com Cristo, Sua Igreja e a obra de salvação. Uma constante busca da excelência; lealdade. Que todos sejam “obreiros aprovados que não têm do que se envergonhar”.
MINISTÉRIO: Que métodos de trabalho têm se mostrado mais eficazes na evangelização de uma sociedade como a do Rio de Janeiro?
PASTOR SÍLVIO: A Igreja do Rio de Janeiro e seus pastores têm usado uma extensa variedade de métodos evangelísticos. Possivelmente, tenham se mostrado mais eficazes os seguintes: amplo uso dos recursos médicos, técnicos e até financeiros que o Hospital Adventista Silvestre tem proporcionado; uso da comunidade religiosa como unidade terapêutica, visando pessoas que precisam de afirmação social, emocional, econômica, etc.; e, ultimamente, o trabalho dos “pequenos grupos”. Esse método, especialmente, tem se demonstrado muito promissor, tanto para a conquista de pessoas, como para o engajamento de membros no trabalho de evangelização. Aliás, foi o método de pregação utilizado durante a Semana Santa. As igrejas fecharam suas portas, e os “pequenos grupos” funcionaram como pontos de pregação.
MINISTÉRIO: Quais são as principais metas para os próximos anos?
PASTOR SILVIO: Evangelismo constante e mais agressivo, dentro dos desafios da Mis-são Global. Intensificação do evangelismo por meio das emissoras de rádio e televisão. Ampliação e melhoramento da rede de escolas e do Ipae. Um apoio mais efetivo, acompanhamento e orientação aos pastores. Construção de igrejas em novos lugares. Criação de novos distritos pastorais, hoje em número de 51. Divisão do Campo, que, embora não pareça geograficamente extenso, possui grande número de congregações (cerca de 400), com quase 40 mil membros. A nova sede administrativa está em fase final de construção.
MINISTÉRIO: Até que ponto a tão propalada violência da região impõe limites ao processo evangelístico?
PASTOR SÍLVIO: Algumas vezes ela realmente impõe sérios limites. Mas o Rio não é uma cidade com maior índice de violência do que qualquer outra de seu porte, como divulgam os meios de comunicação. Nossos irmãos e pastores têm acesso a muitos lugares considerados perigosos, e ali realizam trabalhos sociais e evangelísticos. Projetos de ação comunitária, como distribuição de alimentos, assistência médica e odontológica, cursos de alfabetização, puericultura, culinária, entre outros, demonstram-se muito eficazes nessas regiões.
MINISTÉRIO: No passado, a figura do evangelista parecia intocável. Hoje, alguns Campos simplesmente não têm evangelista. Que acha disso?
PASTOR SÍLVIO: Na Associação Rio de Janeiro, o evangelista é figura de destaque. Exerce um trabalho especializado e exclusivo. Tem todo apoio da liderança, inclusive financeiro. Realiza, normalmente, duas grandes séries por ano e oferece apoio e orientação aos distritais. Dispõe de um bom equipamento e uma bela equipe de obreiros e colaboradores. Responde aos desafios propostos pela Missão Global. Pensamos que assim deve continuar. O evangelismo público tradicional tem ainda o seu lugar. É até mesmo indispensável para alcançar certas localidades, sem dispensar a utilização de grandes concentrações curtas de colheita. Nos últimos anos, realizamos quatro dessas programações, com resultados compensadores. Os dois métodos são eficazes.
MINISTÉRIO: Como o pastor distrital pode atender com eficiência ao evangelismo, à congregação, família, escola, construção, etc. ?
PASTOR SÍLVIO: Aprendendo a administrar sabiamente o seu tempo. Quanto mais cedo em sua carreira o pastor aprender a usar corretamente seus dias, semanas e meses, mais bem-sucedido e realizado ele será. Com criatividade, boa vontade e disciplina, o pastor conseguirá distribuir seu tempo, a fim de atender a todas as demandas. Outro aspecto importante é que o pastor precisa delegar. Ele pode e deve confiar nos líderes das congregações, dando-lhes oportunidade e espaço para atuarem dentro das áreas para as quais foram nomeados. Assim fazendo, o pastor ficará livre para as prioridades intransferíveis de sua função de ministro.
MINISTÉRIO: Como deve ser o pastor para o momento atual do mundo e do ano 2000?
PASTOR SÍLVIO: O pastor deve conhecer cada vez mais de tudo. E conhecer tudo sobre o exercício de sua vocação. Deve desenvolver constante, plena e total entrega de todo o seu ser à ação de Deus, pois estamos diante de dias portentosos.
MINISTÉRIO: Numa sociedade informatizada, tecnológica, apressada e materialista, em que nível de importância coloca a figura do pastor e a visitação pastoral?
PASTOR SÍLVIO: Quanto mais a sociedade se desenvolve, mais cresce o abismo que separa o homem de seu semelhante e de Deus. Nesse contexto é que entra a figura do pastor vocacionado: profundamente humano, sensível, amoroso; que busca o perdido e o restaura em nome de Deus. A visitação pastoral, cada vez mais complexa e difícil de ser efetivada, nestes dias de constante azáfama, deveria ser reconduzida a seu verdadeiro nível de importância. Ela é imprescindível para a estabilidade de famílias e congregações. Há que se buscar tempo e maneiras para que seja realizada essa obra vital.
MINISTÉRIO: Qual a maior necessidade da Igreja, segundo seu modo de pensar, e como o pastor pode satisfazê-la?
PASTOR SÍLVIO: Na minha ótica, a maior necessidade da Igreja, hoje, é o genuíno conhecimento e a certeza da salvação em Cristo. A uma significativa percentagem de nossos membros falta uma sólida fundamentação bíblica de suas crenças. Não somos mais “o povo da Bíblia”. Temos negligenciado seu estudo e pesquisa. Nossas igrejas carecem de líderes que retornem à cristalina fonte: as Escrituras, e “sola Scriptura”, para ensino, pregação e vivência. O pastor é peça fundamental para que isso ocorra.
MINISTÉRIO: Seu último recado para os leitores.
PASTOR SÍLVIO: Vivemos num mundo eivado de males e carências, princípalmente nos aspectos moral e espiritual da existência humana. O desafio final que presentemente a Igreja já enfrenta é permanecer incólume, fazendo luzir a revelação divina, em meio à falência da sociedade pós-moderna. Apelos à Contextualização desmedida, ao rebaixamento das normas e princípios se fazem ouvir dentro e fora de nossas fronteiras. Nossa premente necessidade é buscarmos uma fundamentação bíblica sólida e segura para nossos conceitos religiosos, transmitindo-os a nossos filhos, por palavras e exemplo. Somente assim, indivíduos, famílias e congregações permanecerão de pé, vitoriosos.