(Conclusão)
7. A OPINIÃO ADVENTISTA A RESPEITO DOS QUATRO IMPÉRIOS DE DANIEL 2 e 7. — Os adventistas do sétimo dia mantêm o ponto de vista de que Roma é o quarto império de Daniel, e rejeitam a opinião de que êste império é a Grécia. O império babilônico do tempo de Daniel foi derrotado pelo império medo-persa, e não simplesmente pelos medos ou persas sozinhos (Daniel 7:5 e 17; 8:20). E o reino medo-persa, por sua vez, foi suplantado pela “Grécia” (Dan. 8:21). Portanto, o império de Alexandre, que conquistou a Pérsia, foi o terceiro, e não o quarto da série. E o império de Alexandre e suas quatro divisões constituía um só império grego, conforme foi explicado. Por isso, o próximo poder mundial, que se apoderou do domínio do império macedônico de Alexandre — Roma — devia ser o quarto em autêntica sucessão. Isto é admitido pela maioria dos defensores atuais do ponto de vi ta referente à Grécia, mas êles citam êste fato como evidência de que a profecia não foi escrita por Daniel mas por um escritor posterior, do tempo dos macabeus, que não conhecia a sua história! Os adventistas do sétimo dia crêem que a sucessão dos reinos de Daniel não era inexata. Visto que Roma foi realmente o quarto império na seqüência histórica, afirmamos que ela ocupou também o quarto lugar na série de Daniel.
Cremos que a ponta pequena de Daniel 7 é o Papado — como ensinaram antes de nós a maioria dos eruditos da pré-Reforma, da Reforma, da pós-Reforma e dos historicistas bíblicos posteriores, inclusive os prérmilenialistas do início do século XIX. Êste poder surgiu no tempo designado, isto é, depois da desintegração do quarto império, Roma; surgiu nas circunstâncias especificadas, isto é, entre os reinos divididos que se apoderaram do território romano; êle era “diferente” dos demais, por ser um poder político-religioso, com o qual não houve semelhança antes ou depois; sua ascensão estêve relacionada com a sujeição de alguns reinos arianos; êle tornou-se “mais robusto” do que os outros, pois tornou se herdeiro da centralizada autoridade romana que acabou dominando os reinos fracos e fortes ao seu redor; caracterizou-se pela autoridade de um homem — o papa — que falava com insolência, pretendendo ser na Terra o representante e porta-voz do Altíssimo; êle guerreou contra os santos e prevaleceu contra êles em perseguições mais acerbas e prolongadas do que haviam sido feitas por Roma pagã; considera-se habilitado para mudar os tempos e as leis do Altíssimo, colocando as suas tradições e autoridade absoluta acima da Bíblia; sua história harmoniza-se perfeitamente com um período simbólico de três anos e meio proféticos ou simbólicos — 1.260 dias-anos; êle se estende até os últimos dias, quando terá de prestar contas de suas grandes palavras e ações contra a verdade e o povo de Deus. Seu caráter e história correspondem também a outros símbolos proféticos referentes a um grande poder apóstata, e a evidência cumulativa é irresistível no sentido de que o sucessor e continuador do quarto império, Roma, é o poder político-religioso do Papado. * Apresentar provas bíblicas e históricas, mostrar como êle cumpre minuciosamente as especificações proféticas, exigiria outra seção completa, que foge à finalidade desta obra.
8. OPINIÃO ADVENTISTA SÔBRE A PROFECIA ANÁLOGA, DE DANIEL 8.-Os adventistas do sétimo dia afirmam que as quatro profecias de Daniel 2, 7, 8 e 9, e 11 são em grande parte análogas, isto é, as últimas voltam atrás, repassando e abrangendo o mesmo terreno, dando porém ênfase a diversos aspectos no transcurso dos séculos e dos impérios — do mesmo modo que os quatro Evangelhos realçam as diversas facêtas da incomparável vida de Cristo nosso Senhor. Para obter, porém, um quadro completo, cada uma delas deve ser lida e interpretada à luz das outras.
A seqüência dos impérios mundiais de Daniel 2, 7, 8 e 11, de acordo com a própria índole da questão, deve ser a mesma — com a exceção de que nos capítulos 8 e 11 é omitido o primeiro império, Babilônia. Por conseguinte, Daniel 7 e 8 são profecias correlativas, abrangendo o mesmo terreno, exceto o ponto de partida mais avançado de Daniel 8, que começa com a “Média e Pérsia” (verso 20), que é seguida pela “Grécia” (verso 21), com suas quatro divisões (verso 22). Estas, por sua vez, foram seguidas pela ponta pequena que se tornou muito forte (verso 9) e é evidentemente a próxima grande potência mundial. Êsse império foi Roma, que se levantou contra o Príncipe do exército, o Príncipe dos príncipes, tirou os sacrifícios e lançou o santuário por terra (versos 11, 12 e 25). Em seu duplo aspecto — primeiro imperial e depois papal — Roma tornou-se muito forte, perseguiu o “povo santo” (verso 24) — os santos — estabeleceu um sacrifício falso em lugar do verdadeiro, lançou a verdade por terra e prosperou no que fêz. Continuará até o fim, quando será quebrada “sem esfôrço de mãos humanas” (verso 25). O cumprimento das especificações tanto por parte da fase pagã como da fase papal de Roma equipara a ponta de Daniel 8 ao quarto animal de Daniel 7 e a sua ponta pequena — o Império Romano com suas dez divisões e sua continuação no Papado, o reino “diferente” que surgiu entre as divisões de Roma, blasfemou contra Deus e Suas leis, perseguiu os santos e será recompensado no juízo de acôrdo com as suas obras.
A História dá testemunho da continuidade de Roma no Papado:
“Dentre as ruínas políticas de Roma, surgiu o grande Império moral na ‘forma gigantesca’ da Igreja Romana.” — A. C. Flick, The Rise of the Medieaeval Church (1909), pág. 150.
“Todos e quaisquer elementos que os bárbaros e arianos deixaram permanecer nas províncias . . . foram . . . colocados sob a proteção do Bispo de Roma, que era o principal personagem após o desaparecimento do imperador. . . . Dêste modo a Igreja Romana introduziu-se furtivamente em lugar do Império Mundial de Roma, do qual ela é a autêntica continuação; o império não pereceu, mas pass”ou apenas por uma transformação. Se declararmos . . . que a Igreja Romana é o antigo Império Romano consagrado pelo Evangelho, isto não é uma simples ‘observação sagaz,’ mas o reconhecimento do verdadeiro sentido da questão no âmbito histórico, e a maneira mais apropriada e proveitosa para descrever o caráter desta Igreja. Ela ainda governa as nações. … É uma instituição política tão imponente quanto um império mundial, por ser a continuação do Império Romano. O papa, que diz ser ‘Rei’ e ‘Sumo Pontífice,’ é o sucessor de César.” — Adolfo Harnack, What is Christianity? (1903), págs. 269 e 270.
Cremos portanto que a “ponta pequena” de Daniel 7 é o Papado; mas a ponta “muito forte” de Daniel 8, segundo a nossa compreensão, abrange tanto Roma pagã como papal, existindo tanto nos períodos A. C. como A. D. O único poder que veio depois da “Grécia” e permanece até ser “quebrado sem esfôrço de mãos humanas” é Roma em suas formas pagã e papal.
O Motivo Por Que Rejeitamos a Interpretação Referente a Antíoco Epifânio
Em resumo, rejeitamos a interpretação referente a Antíoco Epifânio porque:
1. Ela não corresponde às especificações da profecia.
2. Foi propagada como tentativa pagã para refutar a profecia e depreciar assim a religião cristã, mostrando que o livro de Daniel foi escrito após as ocorrências que parecia predizer.
3. O dedo da profecia aponta mais exatamente para a grande apostasia romana, o Papado, como o poderoso Anticristo que lança a verdade por terra, destrói os santos do Altíssimo e continua até o tempo do fim.
Rejeitamos pois a Antíoco como cumprimento inadequado de Daniel 7 e 8, e aceitamos a clássica interpretação protestante que oferece apropriado cumprimento na História. — Questions on Doctrine, págs. 333 a 338.
* Esta interpretação profética não justifica a acusação de que seus defensores sejam anticatólicos. Não recusamos dar crédito a • qualquer bem que tenha sido feito pelos católicos, nem desprezamos a sinceridade de fervorosos católicos individuais, por achar que êsse sistema é condenado nas Escrituras. Respeitamos a liberdade de todo católico para adorar a Deus como julgar melhor; e prevalecemo-nos do direito de indicar o que nos parece errado e procurar persuadir os homens a aceitar o que cremos ser verdade, sem preconceito ou fanatismo.