Conquistar homens e mulheres, do pecado para a justiça, é obra de Deus. É certo que Êle pretende usar o homem, com suas limitações humanas, para ajudar a erguer almas, do reino das trevas para a luz do evangelho, mas nunca devemos perder de vista o fato de que, “ao chegar o Espírito com um mais direto apêlo, a alma entrega-se alegremente a Jesus,” e de que ganhar almas é “o resultado de longo processo de conquista efetuado pelo Espírito de Deus — processo paciente e prolongado.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 172.

Levar indivíduos a decidirem-se por Cristo e pela mensagem não é conseguido num momento apenas; tampouco se dá isso em resultado de esforços intermitentes, frouxos. Tem de haver um alicerce para decisão de tão grande monta, e os elementos humanos e divinos têm de combinar-se para isso conseguir.

O obreiro evangélico tem de compreender as fôrças envolvidas em semelhante decisão. Tem de lembrar-se de que o conflito entre a verdade e o êrro, especialmente hoje, é uma acérrima batalha contra a indiferença, o fanatismo, a incredulidade e o temor. O inimigo tornou-se hábil na sutil arte de confundir, e a procrastinação e o desafio à verdade são seus sub-produtos. Tem êle cegado por tal forma o coração dos homens que para êles as trevas se afiguram como luz e a luz como trevas. O inimigo não retém, da alma que está por decidir-se, nenhuma arma perversa, nenhum obstáculo ou suposto benefício.

Em chegando a hora da decisão (e há um momento em que semelhante atitude é não só oportuna, mas mesmo positivamente necessária à salvação), tem de seguir a ação por parte da alma hesitante. O instrumento humano, ao fazer o apêlo, tem de empenhar tôda a força de uma personalidade santificada, para ajudar a levar à decisão. O apêlo tem de tornar-se como que o próprio chamado de Deus àquela alma em luta. Nessa hora é imperativo que a relação da instrutora bíblica para com Deus seja tal que Êle possa servir-Se de suas palavras como um cativante apêlo para persuadir almas a deixarem o êrro pela verdade. Efetua-se, em certo sentido, uma obra de mediação. “Rogamos que vos reconcilieis com Deus” (II Cor. 5:20) é o sentido do chamado à alma hesitante.

A “palavra em vós implantada. . . é poderosa para salvar as vossas almas.” S. Tia. 1:21. O obreiro tem de ter um cabal conhecimento da Bíblia. Esta é a “espada do Espírito,” que o soldado de Cristo usa para eficazmente tomar de assalto a cidadela da alma. O obreiro tem de reconhecer claramente o que Deus espera que êle faça nessa hora crítica. Passagens, oportunas e incisivas, têm de ser assestadas à alma por decidir-se, e isso de modo direto, com tino e persuasão. Poderão os homens tentar fugir a todos os apelos humanos, mas não poderão para sempre esquivar-se às reivindicações de Deus nem mudar a Sua Palavra. Nenhum argumento é mais importante, e nenhum método melhor se conhece, para promover a decisão certa.

Deve o ganhador de almas ter presente que Deus não fêz os homens todos segundo um só modêlo. É necessário um suprimento especial de graça para “discernir os espíritos” dos homens. Jesus dominava magistralmente essa arte. “Êle mesmo sabia o que era a natureza humana.”

S. João 2:25. Temos de conhecer os homens antes de podermos conhecer os métodos para ganhá-los. Um toque de simpatia é de importância vital nesse período do esforço. Oriundas da memória das angústias do Getsêmane de nossa própria alma, provirão as expressões de simpatia que tocarão numa corda sensível da alma em luta. É efetivamente uma “obra delicada,” que requer brandura, emoção, paciência e capacidade de persuadir. Ao usar Deus, com poder, o consagrado ganhador de almas, abranda-se o coração empedernido, baqueiam as barreiras do preconceito, e a procrastinação transforma-se em decisão.

Depois de uma série de sucessivas vitórias na tarefa de conseguir decisões em favor de Deus, sempre existe o grave perigo de começar a obreira a julgar que ela domina os únicos métodos e a mais comprovada técnica que possam existir. Mas a confiança profissional pode roubar-lhe o poder e a glória devidos tão-sòmente a Deus. Na pessoa que tenha essa confiança própria, embotar-se-á a agudez do sentido da conquista de almas. Sua experiência pode ser semelhante à da enfermeira que se torna tão endurecida pelas cenas que testemunha no quarto dos enfermos que, embora possa estar-se aperfeiçoando sua habilidade profissional, o coração se lhe torna calejado em relação às tristezas e angústias do mundo. Isto também se pode tornar verdade no campo da enfermagem espiritual.

Bem me lembro das muitas vêzes em que despertava na calada da noite, com a mente conturbada por fortes impressões acêrca de alguém por quem eu estava trabalhando. Seguia-se uma evidente convicção acêrca do próximo passo que devia dar para ajudar aquela alma a alcançar a vitória — as próprias palavras a empregar ao fazer novos apelos enchiam o espírito agora acalmado. É desnecessário dizer que, seguidas essas impressões, vinha rápida e fácil a decisão. Lembro-me de que isso se dava especialmente quando tratava com a espécie temperamental de indivíduos. A disposição de espírito afeta consideràvelmente as reações, e é muitas vêzes desconcertante à obreira bíblica, que tem de estar em constante contato com Deus, a fim de saber como tratar com tôda sorte de pessoas.

Persuadir almas a se renderem a Deus não é a experiência do agente comum, que vai de porta em porta vendendo enciclopédias, artigos domésticos e coisas quejandas, embora se empregue alguma técnica semelhante. Não é uma batalha de palavras espirituosas, arte de vender sob alta pressão, ou tanger uma pessoa à decisão. A fervorosa solicitação a uma alma, para que se entregue a Deus, é o que mais conta na decisão. A obreira tem de ter a convicção de que é “mestre da parte de Deus.” Então na maioria das vêzes a tendência de demorar a decisão pela verdade, ou esquivar-se a ela, transforma-se em ação e incondicional entrega.

Os frutos que permanecem firmes através de provas e tempestades espirituais são um milagre do Céu, que não deixa lugar para glorificação humana. É um processo que jamais pode ser analisado completamente em têrmos humanos ou por comparações comerciais, e o calor dessa experiência espiritual é sempre arrefecida pelo frio profissionalismo que emprega o metro das estatísticas.

Nessa hora crítica da decisão a obreira tem de exibir as qualidades de Elias e João Batista. É ela uma mensageira de Deus, com a solene mensagem: “Se o Senhor é Deus, segui-O,” e: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus.” A palavra do Senhor é transmitida por meio dela, e tem de ser dada a Seus filhos destemidamente. Não é fácil a tarefa, todavia incumbe-lhe o dever. Mesmo em nossos dias Deus tem havido por bem usar instrumentos humanos a tal ponto que almas que antolhavam decisões de fato viram Cristo no mensageiro, não ousando rejeitar-Lhe a mensagem. Oh, quem nos dera mais dêsse poder em nosso ministério em favor das almas hesitantes!