A cada estágio de desenvolvimento, o concerto eterno é reafirmado. A cada estágio alguma coisa expira e algo novo acontece

Durante séculos, os protestantes têm alimentado uma contínua discordância em relação aos concertos bíblicos, e particularmente com suas implicações com a lei. Jonathan Edwards, por exemplo, observou que “talvez não haja uma parte da divindade cercada por tão grande complexidade, e na qual a ortodoxia teológica faça tanta diferença como estabelecer uma precisa concordância ou diferença entre as duas dispensações de Moisés e Cristo”.1

Que esse ainda é o caso, está evidente em uma pesquisa realizada por Brice L. Martin, na qual ele analisou a posição de alguns eruditos a respeito da lei.2 O resultado do estudo indica que, para muitos deles, entre os quais se encontram alguns “pesos pesados” como Albert Schweitzer, H. J. Schoeps, Ernst Kasemann, F. F. Bruce e Walter Gutbrod, a lei já não é válida para os crentes.

Mas há outros estudiosos que assumem uma posição oposta, aceitando a vigência da lei para os cristãos. Entre esses, podemos citar “pesos” não menos “pesados” como C. E. B. Cranfield, George E. Hoard, Hans Conzelmann, George Eldon Ladd e Richard Longenecker. Essa divergência verificada entre estudiosos de tão elevado quilate possibilitou a um “erudito do jardim da infância” como eu a oportunidade de reestudar o assunto. E sobre um tema considerado “pedra angular” como este, um pastor não pode deixar de dar sua opinião. Aqui neste artigo encontra-se a minha.

Os papéis de um concerto

Primeiramente, o objetivo de um concerto é produzir segurança a um projeto ou relacionamento com o qual duas partes se comprometem. Por exemplo, um casal que não é casado legalmente não possui a mesma segurança, em seu relacionamento, que possui um casal que esteja unido de acordo com as leis matrimoniais. No primeiro caso, algumas vezes a paixão poderá ser abalada e as promessas correm o risco de ser esquecidas.

Que Deus desejasse ter qualquer relacionamento conosco, indignos como somos, já seria algo muito surpreendente. Mas que Ele desejasse comprometer-Se num relacionamento de aliança conosco, é verdadeiramente extraordinário.

Podemos definir um concerto como uma concordância formal, solene e aglutinadora entre duas partes ou duas pessoas, tendo em vista o desenvolvimento de alguma ação inter-relacional mútua e específica. Em outras palavras, é um acordo para iniciar-se um projeto e vê-lo desenrolar-se até o fim. Para que isso seja consumado, devemos querer construir essa ponte, formar essa companhia, querer permanecer unidos por toda a vida.

Um concerto tenta cumprir alguma coisa. É uma concordância mútua que toma provável o sucesso desse cumprimento. Ter isso em mente é importante para compreendermos a razão pela qual a discussão sobre concertos nas Escrituras degenera em uma discussão sobre condições e mandamentos, como se essas coisas fossem um concerto em si mesmas. Na verdade, um concerto está emoldurado por condições que precisam ser honradas, mas elas existem com o objetivo de proteger o projeto.

Aperto de mãos, circuncisão, emblemas de comunhão, um arco-íris cruzando o céu (no caso de Deus com Noé) e outros tipos de sinais aparecem na Bíblia como indicadores que expressam ou confirmam as resoluções mútuas que as partes envolvidas tomaram, na formulação de um concerto. Ao manifestar qualquer um desses sinais, uma das partes está dizendo à outra: “Estou levando muito a sério este compromisso. Cumpra você tam-bém a sua parte.”

A grande promessa

Qual é precisamente a grande promessa que Deus tem Se comprometido a realizar em relação a nós? Nada menos que o estabelecimento de um reino, a criação de um espaço relacionai onde Ele possa estabelecer raízes com Seu povo e nós possamos nos unir como Sua família. Uma leitura da história de Abraão (Gên. 12; 15 e 17) confirma essa realidade. Abraão foi chamado por Deus a fim de deixar suas origens e seus familiares, e aventurar-se a uma terra estranha na qual ele deveria fundar um reino.

Deus disse ao patriarca: “Quanto a Mim, será contigo a Minha aliança; serás pai de numerosas nações. … Far-te-ei fecundo extraordinariamente, de ti farei nações, e reis procederão de ti. Estabelecerei a Minha aliança entre Mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a ter-ra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus” (Gên. 17:4-8).

Que saga! Deus determina abrir uma nova fronteira, na qual o coração de Abraão pode se ligar com o Seu coração e estar em paz. Na realidade, o termo técnico “reino de Deus” não é usado aqui nem em qualquer lugar no Antigo Testamento, mas a idéia é clara. John Bright estava correto quando disse que “é aparente que a idéia [do reino] é mais visível que o termo, e devemos procurar a idéia onde o termo está ausente”.3

O fabuloso sonho de um reino, um lugar de unidade familiar, dirige todas as fases do concerto eterno. Isso foi verdade por ocasião do concerto feito com Abraão em meio às instalações de adobe de Ur (Gên. 12), assim como foi verdade no antigo concerto feito com Israel à margem das rochas do Sinai (Êxo. 23:20 e 32; 25:8; 33; 34; Deut. 7). Também foi verdade quando Jesus falou da nova aliança com os discípulos ao redor da rústica mesa (Mat. 26:27-29; João 14:1-3), tal como é verdade para as doze tribos de Israel, os redimidos de todas as eras que permanecem maravilhados enquanto a Nova Jerusalém suavemente desce do Céu (Apoc. 21:1-5, 9 e 10).

Tais experiências de concerto são nada menos que um desdobramento progressivo, em estágios, do concerto eterno feito com Abraão.

Mudanças no concerto

Tudo isso nos leva a uma questão: Qual é o paradigma utilizado na Bíblia para descrever a mudança no concerto? Trata-se, por acaso, de um paradigma revolucionário de mudança que desfaz o status quo e estabelece uma ordem completamente nova, como se fosse uma revolução na qual os insurgentes assumem o poder, ignoram as regras antigas e estabelecem suas próprias ordens? Ou se trata de um paradigma evolucionário, no qual o novo emerge progressivamente do velho? Lembra-se de um ovo se transformando em uma larva, a larva numa crisálida e esta numa borboleta? As Escrituras ensinam que o reino se desdobra progressivamente; primeiro o pedúnculo, depois a árvore, então o fruto (Mar. 4:26-29). E a lei e o concerto andam juntos.

Jesus Cristo uniu o reino e a lei (Luc. 16:16 e 17). Posteriormente, a prenunciada mudança evolucionária foi construída na própria origem do concerto feito com Abraão (Gál. 3:8). A bênção prometida devia evolver, da família de Abraão à nação, a uma comunidade internacional, e então alcançar sua fruição completa no Céu, na cidade aguardada pelo patriarca (Heb. 11:10).

Continuidade e descontinuidade

A cada estágio de desenvolvimento, o concerto eterno é reafirmado, e o processo avança. A cada estágio alguma coisa expira e algo novo acontece. O processo envolve tanto continuidade como descontinuidade. O carvalho está na bolota e a bolota está no carvalho, ainda que a árvore não seja a bolota.

Se o paradigma progressivo da mudança do concerto é correto, seguem-se algumas observações importantes. Primeira, não podemos colocar um estágio de desenvolvimento contra outro, como se eles fossem inerentemente antagônicos. O fato é que os estágios mais baixos produzem os estágios mais altos, e passam adiante sua dinâmica, seu DNA.

Portanto, não podemos opor o concerto sinaítico, feito com Moisés, contra o concerto eterno feito com Abraão, ou o novo concerto feito com os discípulos. Todos os concertos prosperam sobre promessa e graça. Os indivíduos não eram salvos por graça nos dias de Abraão, e pela lei nos dias de Moisés. Também não foram salvos pela graça nos dias de Paulo e pela lei nos dias de Moisés, como alguns afirmam. Que os tempos de Moisés tam-bém eram tempos de graça, está claro a partir dos seguintes fatos:

1. Deus não escolheu Israel como Sua propriedade exclusiva por causa de algum mérito que a nação tivesse. Ele a escolheu porque a amou e pelo juramento feito aos seus antepassados. Moisés refere-se ao concerto sinaítico como uma aliança fundamentada no amor (Deut. 7:7-9; 4:32-39).

2. O prólogo dos Dez Mandamentos lembra os israelitas de que o único doador da lei é o Deus que os redimiu pelo significado da Páscoa (Êxo. 20). Israel foi salvo pela graça antes que tivesse recebido a lei (Gál. 3:15-18). Até mesmo as condições do concerto eram para Israel uma graciosa lembrança de sua redenção (Deut. 6:20-25).

3. A relação entre a lei e a graça estava representada pelo significado da arca do concerto. Ali, as tábuas da lei estavam colocadas sob a cobertura dourada do propiciatório (Êxo. 31:7).

4. É nada menos que a ceia pascal que Jesus transforma no símbolo do novo concerto (Mat. 26:17-30). A graça expande-se cada vez mais plenamente, enquanto o concerto vai adquirindo maturidade.

5. De acordo com o livro aos he-breus, Israel não entrou no repouso de Deus porque optou pelas obras e recusou viver pela fé (Heb. 4:1-11). Os israelitas eram salvos pela fé, como nós o somos; viveriam pela fé, tal como acontece conosco (Heb. 11; Rom.9:31 e 32; Isa. 45:25).

6. Moisés não é a antítese de Jesus Cristo. As Escrituras dizem que ele foi fiel como um servo “em toda a casa de Deus” e testemunhou “das coisas que haviam de ser anunciadas” (Heb. 3:1-6). O próprio Cristo disse: “Porque, se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em Mim; porquanto ele escreveu a Meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como creríeis nas Minhas palavras?” (João 5:46 e 47).

7. Paulo exaltou a experiência de concerto vivida por Israel como essencial à história da salvação. Foi através de Israel, ele disse, que a encarnação de Jesus ocorreu. O apóstolo encontrou esplendor na história israelita sob o velho concerto. “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: que tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. São israelitas. Pertence-lhes a adoção, e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as pro-messas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém” (Rom. 9:1-5). A salvação é dos judeus. Eles não apenas nos levam a Cristo (Gál. 3:24), mas no-Lo deram.

8. A aliança do Sinai não foi de salvação pela lei, ou seja, de legalismo. Deus jamais estabeleceria um concerto fundamentado em salvação pelas obras. O legalismo é sempre como trapos de imundícia. Mas Paulo classifica o antigo concerto como glorioso. Quando Moisés recebeu a lei, sua face brilhou com a glória de Deus (II Cor. 3:7-11; Êxo. 34:29-35). Apenas em comparação à glória de Cristo a glória de Moisés foi menos impressiva; mas ainda assim permanecia impressiva.

9. A vida vitoriosa dos heróis do Antigo Testamento testifica da salvação unicamente pela graça. Podemos nos lembrar de Jacó, Davi, Mefibosete e Gômer, para citar apenas uns poucos. É interessante ler a procissão de fiéis que desfila em Hebreus 11.

Dificuldades no conceito progressivo

A marcha progressiva do concerto, entretanto, não está necessariamente livre de problemas. Sempre existe o perigo de uma interrupção nesse processo. Quando isso acontece, um estágio progressivo inicial, normal, pode sabotar um estágio posterior com trágicas conseqüências. Essa era claramente a situação em muitas antigas igrejas cristãs, quando Paulo escreveu sua carta aos gálatas.

O que aconteceu foi que judeus cristãos tentaram congelar o reino dentro de uma estrutura de judaísmo e aliança legalista. Ergueram uma barreira que obstou o avanço da era escatológica do Espírito. Dessa maneira, criaram uma tensão antinatural entre a era de Moisés e a era do Espírito, entre a graça e a lei, entre lei e Cristo. Mas é preciso lembrar em que essa tensão foi criada; não é que exista inerentemente. Os cristãos judeus insistiam que os gentios somente poderiam ser justificados se primeiramente se tomassem judeus, submetendo-se ao rito da circuncisão, adotando restrições dietéticas e observando os dias santos judaicos. A preservação de uma identidade nacional é a questão central nas lutas dos gálatas.

Paulo busca desmontar essa barreira. É crucial entender que ele não está escrevendo um tratado teológico sobre a relação entre a lei e a graça, nesta epístola. Ao contrário disso, seus argumentos abordam uma interrupção progressiva incomum. Portanto, ele fala aos gálatas que eles escolheram sair da era escatológica do Espírito e regressar ao legalismo e nacionalismo judaico (Gál. 3:1-5). E lembra que Deus sempre planejou que os gentios fossem parte do Seu reino, ao dizer a Abraão que nele seriam abençoados todos os povos da Terra (Gál. 3:6-9). Além disso, o apóstolo adverte que se os gálatas insistirem em permanecer onde estão, ficarão assim sob a maldição da lei, pois Israel não obedeceu a Deus (Gál. 3:10-14).

E mais: a lei não anula ou invalida as promessas feitas a Abraão, o que significa que a promessa ainda está presente no concerto feito com Moisés (Gál. 3:15-18). A bolota ainda é um broto, mas deve se tomar uma árvore. Paulo argumenta que a lei nunca foi um meio de justificação. Se fosse possível à lei salvar a humanidade, Deus a teria feito com essa característica. Mas não o fez, porque não era Seu propósito que fosse assim (Gál. 3:21).

A era da lei, do concerto legalista, tinha o propósito de levar-nos à era de Cristo (Gál. 3:24); não era um ponto final, mas uma fase do progresso histórico. Permitia que a promessa a Moisés e Abraão nos conduzisse a Cristo.

O status da lei

A esta altura devemos nos perguntar o que é realmente extinto enquanto o concerto do Sinai progride em direção à era cristã? O propósito básico de Paulo em sua carta aos gálatas é declarar que o Israel nacional já não permanece como o único povo especial de Deus. A era de sua identidade exclusiva passou, sendo substituída por uma identidade espiritual internacional, multiétnica. A bênção da exclusão (Êxo. 19:5 e 6) tornou-se a bênção da inclusão (Gál. 3:26-29).

Todos os que têm fé, incluindo os gentios (o que parece um escândalo), são agora fervorosos candidatos a um relacionamento de aliança com Deus. Além disso, a vida espiritual dos crentes já não é expressada através de um gracioso sistema de lei, mas através do relacionamento com Jesus (Gál. 5:1-6). O amor legítimo da lei no coração do israelita (Deut. 6:4-9) já não inspira a vida espiritual do crente (Rom. 7:1-6). Jesus veio, e agora Ele é o inspirador da aliança com Seu povo.

Os dez mandamentos

Mas se o tempo de um concerto legalista passou, quais são as implicações para os dez mandamentos hoje? Ainda têm eles autoridade moral? Evidentemente sim, pois também abrangem a era espiritual. No tempo do novo concerto a lei é universalizada; aplicada a Cristo e ao Espírito; resumida como amor e preservada até que o reino de Deus seja inaugurado. Vamos analisar um pouco mais esta questão.

Que a lei é universalizada e desnacionalizada pode ser visto na maneira como Paulo adapta o quinto mandamento, que requer honra aos pais, de modo a caber na nova situação de uma igreja multinacional. Em Efésios 6:1-3, o apóstolo cita o mandamento, mas não textualmente. Ele modifica uma frase; a que contém a promessa de longevidade. Aí, o mandamento já não promete longevidade “na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êxo. 20:12), mas promete longevidade na Terra ou no mundo. O mandamento é universalizado para incluir filhos gentios obedientes vivendo além dos limites de Israel. O benefício da longevidade é para todos em todo lugar.

Thielman nos mostra um dramático exemplo da lei continuando a funcionar durante a era escatológica do Espírito.4 Ele viu isso na injunção de Paulo aos tessalonicenses, para que rompessem com o seu passado. Aqueles crentes deveriam manter-se completamente distantes da idolatria e da impureza sexual (I Tess. 1:1-10; 4:1-8). Se não o fizessem, estariam nada menos que rejeitando o Espírito. Paulo aplicou a profecia da nova aliança de Ezequiel àquela situação. Ezequiel previu um tempo quando o povo de Deus seria limpo da impureza (akatharsia), não mais serviria a ídolos, teria o coração de pedra transformado em coração de carne e guardaria os decretos divinos (Ezeq. 36:24-27).

Essa profecia é similar às profecias sobre o novo concerto de Jeremias e Isaías (Jer. 31:31-34; Isa. 59:20 e 21). Dessa forma, Paulo mostra claramente que os mandamentos ainda vigoram para os gentios na era da nova aliança, sob a qual os mandamentos são despidos de sua limitada jurisdição nacional. Isso era necessário porque, no Antigo Testamento, os mandamentos também funcionavam como leis governamentais para uma nação, como a lei do país. Desobedecê-los, portanto, não era apenas imoral mas também ilegal. Flagrantes infrações da lei eram punidas com pena de morte. Uma criança incorrigível, uma mulher apanhada em adultério e um transgressor do sábado poderiam ser apedrejados até à morte.

Sendo que Israel, como nação exclusiva de Deus, passou, o aspecto penal e jurisdicional da lei ganha uma roupagem cristocêntrica. Quando os fariseus levaram a Cristo uma mulher flagrada em adultério, o Mestre não contestou os argumentos fundamentados na lei mosaica para apedrejá-la. Ele reconheceu a infração moral da mulher, mas rejeitou a pena de morte (João 8:3-11).

Ademais, o Novo Testamento adapta os mandamentos ao novo tempo resumindo-os em um princípio simples, a saber, o amor ao próximo como a si mesmo (Rom. 13:9 e 10). O efeito disso é uma obediência remotivada, da obediência como dever para a obediência como um desejo positivo. Esse resumo não abole os mandamentos, simplesmente porque um resumo não anula o que foi resumido.

Assim a lei é preservada. Nem um j ou til será omitido da lei sem que tudo seja cumprido (Luc. 16:16 e 17). Quando tudo será cumprido? Não até que o reino seja inaugurado por ocasião da vinda de Jesus.5

À imagem de Cristo

Finalmente, o Novo Testamento remodela os mandamentos segundo a imagem de Jesus Cristo. Eles perdem a intimidação dos trovões e relâmpagos do Sinai e se tomam princípios de relacionamento que revelam onde nós estamos com Cristo. Nosso corpo, por exemplo, é uma extensão do corpo de Cristo e, portanto, não deve ser unido ao de uma prostituta (I Cor. 6:12-19). A imoralidade sexual, desse modo, se torna mais que uma infração legal; passa a ser um pecado contra nosso relacionamento com Jesus.

O mandamento do sábado também é “cristianizado”. Seu repouso focaliza a entrada no santuário celestial com Jesus, onde encontramos o trono da graça e então descansamos na obra completada por nosso Salvador (Heb. 4; 6:16-20). O repouso sabático é “entrar em”; não apenas “abster-se de”. Jesus torna-Se o centro de obediência cristã. Ele é o primeiro, o último e o melhor em todas as coisas; mesmo, ou especialmente, na questão da lei.

Como deveríamos então viver? Embora a lei ainda seja moralmente autoritativa e necessária, não devemos viver por ela, mas por Jesus. Sabemos que não podemos observá-la a menos que vivamos na graça de Deus, sejamos constrangidos pelo amor de Jesus e recebamos a capacitação do Espírito Santo.

Os mandamentos podem funcionar como marcos indicadores de que fomos separados para Deus. Mas os marcos são apenas a cerca; eles não são a propriedade. A terra é a propriedade. Jesus é nossa terra. Nossa alma floresce nEle, com Ele e para Ele. Crescemos nEle. Sabemos que não podemos esperar que alguma coisa cresça por causa de uma cerca. No âmago do nosso ser, sabemos que a lei, por mais valiosa que seja, não é a nossa glória. “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá luz, Ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (II Cor. 4:6).

Isso é nossa glória.

A aliança do Sinai não foi de salvação pela lei. Deus jamais estabeleceria um concerto fundamentado em salvação pelas obras.

Ao contrário de abolir, a nova aliança preserva e amplia o alcance dos mandamentos.

Referências:

1 W. A. VanGemeren, citado em Greg L. Bahnsen, Five Views on Law and Gospel (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1993), pág. 14.

2 Brice L. Martin, Christ and the Law in Paul (Leiden: Brill, 1989), págs. 21-68.

3 John Bright, The Kingdon of God (Nova York: Abing-don Press, 1953), pág. 18.

4 FranK Thielman, Paul and the Law (Douners Grove, III: Intervarsity Press, 1994), cap. 3.

5 G. E. Ladd, The Theology of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), págs. 495-510.

Smuts Van Rooyen, Ph.D., pastor adventista em Duarte, Califórnia, Estados Unidos