Ellen G. White
Há na vida tranquila e conseqüente de um cristão puro e verdadeiro, uma eloquência muito maior do que a eloquência das palavras. O que o homem é tem mais influência do que o que ele diz.
Os emissários que foram enviados a Jesus voltaram dizendo que nunca homem algum falara como aquele Homem. Isto era porque jamais homem algum havia vivido como Ele vivia. Fosse Sua vida diferente do que era, e não teria falado como falava. Suas palavras levavam consigo poder de convicção, porque procediam de um coração puro e santo, cheio de amor e simpatia, de benevolência e verdade.
Nosso próprio caráter e experiência determinam nossa influência sobre os demais. Para convencer a outros do poder da graça de Cristo, temos de conhecer o poder desta graça em nosso coração e vida. O evangelho que apresentamos para salvação das almas deve ser o mesmo evangelho pelo qual nossa alma é salva. Só mediante fé viva em Cristo como Salvador pessoal podemos fazer sentir nossa influência num mundo cético. Se queremos tirar pecadores da corrente impetuosa, nossos pés precisam estar firmados na Rocha: Cristo Jesus.
O símbolo do cristianismo não é um sinal exterior, tampouco uma cruz ou uma coroa que se leva, mas sim o que revela a união do homem com Deus. Pelo poder da graça divina manifestada na transformação do caráter, o mundo há de convencer-se de que Deus enviou Seu Filho para que seja redentor do mundo. Nenhuma outra influência que se possa exercer sobre a alma humana tem tanto poder como a influência de uma vida de desprendimento. O mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão amável.
A Disciplina da Prova
Levar vida semelhante, exercer semelhante influência, custa a cada passo esforço, sacrifício pessoal, disciplina. Muitos, por não compreenderem isto, se desanimam facilmente na vida cristã. Muitos que sinceramente consagram sua vida ao serviço de Deus, sofrem vexames e surpresa ao se verem, como nunca dantes, em face de obstáculos, provas e perplexidades. Pedem em
oração um caráter verdadeiramente cristão, e capacidade para a obra do Senhor, e logo se vêem em circunstâncias que parecem fazer todo o mal de sua natureza. Saem então a reluzir faltas de que não tinham eles mesmos a menor suspeita. Como o Israel do passado, eles se perguntam: “Se Deus é quem nos guia, por que nos sobrevém todas estas coisas?”
É porque Deus os conduz que tais coisas lhes sucedem. Provas e obstáculos são métodos de disciplina que o escolhe e condições que Ele assinala para o êxito. Aquele que lê o coração dos homens conhece-lhes o caráter melhor do que eles mesmos. Ele vê que alguns têm faculdades e habilidades que, bem dirigidas, podem ser aproveitadas no avançamento da causa de Deus. Em Sua providência Ele coloca estas pessoas em diferentes situações e variadas circunstâncias, para que possam descobrir em seu próprio caráter os defeitos que ficaram ocultos ao seu conhecimento. Dá-lhes oportunidade para corrigirem estes defeitos, e preparar-se para Seu serviço. Muitas vezes permite que o fogo das aflições os alcance a fim de purificá-los.
O fato de sermos chamados a sofrer provas mostra que o Senhor Jesus Cristo vê em nós algo precioso, que Ele quer desenvolver. Se nada visse em nós com que glorificar o Seu nome, não perderia tempo em nos purificar. Ele não lança pedras inúteis em Sua fornalha. O que Ele purifica é metal precioso. O ferreiro mete no fogo o ferro e o aço a fim de saber que espécie de metal são. O Senhor permite que Seus escolhidos passem pelo forno da aflição, para provar-lhes o caráter e saber se são próprios para Sua obra.
O oleiro toma o barro e o molda segundo sua vontade; amassa-o e trabalha-o. Despedaça-o e volta a amassá-lo. Umedece-o, e em seguida seca-se. Deixa-o depois descansar por algum tempo sem tocá-lo. Quando já está bem brando e manejável, retoma seu trabalho para fazer dele um vaso. Dá-lhe forma, compõe-no e o alisa ao redor. Põe-no ao sol para secar e o aquece ao forno. Assim volta a ser vaso útil. De igual modo o Grande Artífice deseja moldar-nos e formar-nos. E assim como é a argila nas mãos do oleiro, somos nós nas mãos divinas. Não nos toca a nós procurar fazer a obra do oleiro. A parte que nos corresponde é a de nos submetermos ao trabalho do divino Artífice. [Citado I S. Pedro 4:12 e 13.]
Em plena luz do dia, e ao ouvir a música de outras vozes, o pássaro engaiolado não cantará o que o seu amor procura ensinar-lhe. Aprende um pouquinho disto, um trino daquilo, mas nunca uma melodia inteira e definida. Cubra o amo a gaiola, e ponha-a onde o pássaro não ouça mais do que o canto que tem de aprender. Na obscuridade ensaia e volta a ensaiar o canto até que o aprende, e prorrompe em perfeita melodia. Depois é o pássaro tirado da obscuridade, e poderá cantar sempre o mesmo canto à luz do dia. Assim trata Deus com seus filhos. Há um canto que nos quer ensinar, e quando o houvermos aprendido entre as sombras da aflição, podemos cantá-lo sempre depois.
Escolha de Deus na Obra de Nossa Vida
Muitos estão descontentes com sua vocação. Talvez não se ajustem ao que os rodeia. Enchem o tempo com algum trabalho vulgar, enquanto se julgam capazes de mais altas responsabilidades. Muitas vezes parece que seus esforços não são apreciados, ou que resultam estéreis. Seu porvir é incerto.
Tenhamos em mente que embora nossa obra possa não ser a que escolhemos, devemos aceitá-la como tendo sido escolhida para nós por Deus. Gostemos ou não, temos de cumprir o dever que nos é posto diante. “Tudo que vier à mão para fazer, faze-o segundo as tuas forças”. Ecles. 9:10.
Se é desejo do Senhor que levemos uma mensagem a Nínive, não será de Seu agrado que vamos a Jope ou a Cafarnaum. Razões tem para nos mandar ao ponto para o qual nossos pés foram encaminhados. Ali mesmo pode estar alguém que necessita da ajuda que lhe podemos dar. Aquele que mandou Filipe ao eunuco etíope, que mandou Pedro ao centurião romano, e a pequena israelita em auxílio de Naamã, o capitão sírio, manda hoje em dia também homens e mulheres e jovens como representantes Seus aos que necessitam ajuda e direção divinas.