Peço explicarem a visão de Pedro, em Atos 10. Quer isso dizer que podemos comer qualquer espécie de carne que nos apeteça? Aparecem só no Velho Testamento as referências à alimentação de carne de porco?
UM dos princípios capitais da interpretação bíblica é por Paulo chamado o “que maneja bem a Palavra da verdade.” (II Tim. 2:15.) Significa isso: Não tomar o que se aplica a um caso e aplicá-lo a outro. A visão de Pedro, em Atos 10, não tem ligação alguma com a questão do nosso alimento. O próprio Pedro o disse. (Atos 10:28.) Essa foi uma maneira impressiva adotada por Deus para auxiliar Pedro a libertar-se do seu preconceito de raça. No versículo 14, Pedro disse que nunca havia comido “coisa alguma comum e imunda.” Por isso, estava perplexo quanto ao que Deus queria apresentar com a visão. (Vs. 17 e 19.) Mandou-lhe Deus, então, acompanhar mensageiros gentios à casa do gentio Cornélio (Vs. 19-27.) Isso deve ter despertado em Pedro mais clareza. A visão referia-se ao seu contato com pessoas a quem considerava imundas. Disse êle a êsses gentios que, anteriormente êle não se teria de maneira alguma ajuntado ou chegado a êles (V. 28) “mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo.” Pedro julgara que a visão se referisse a alimentos comuns ou imundos, mas compreendeu que Deus estava usando os alimentos como símbolos das diversas raças humanas, e que êle não deveria chamar homem algum imundo. Lástima é que as pessoas hoje ainda se mantenham na ‘incompreensão que Pedro nutria a princípio, e deixem de adquirir a compreensão que Pedro adquiriu ao dispor-se a obedecer a Deus.
As referências à impropriedade da carne de porco como alimento encontram-se no Velho Testamento. Sendo elas abundantemente suficientes, não precisaram ser repetidas no Novo. A classificação de animais em limpos e imundos era bem conhecida antes do Dilúvio. Ver Gên. 7:2. Em conformidade com Isa. 66:15-18, quando Jesus Cristo voltar para julgar a Terra, uma das características dos que hão de ser queimados será que comem carne de porco. Visto que êsses dois passos abrangem todo o tempo, desde o princípio até à segunda vinda de Jesus — incluindo o tempo do Novo Testamento — não é necessário repetir êsse ensino no Novo Testamento. Lembro-me do que Adam Clark, grande comentarista metodista, disse certa vez: Foi êle convidado para pedir a bênção para uma refeição de que constava carne de porco, e fêz esta oração: “Ó Senhor, se na dispensação cristã Tu puderes abençoar o que amaldiçoaste na velha, abençoa êste alimento.”
A questão de que alimentos Deus pretendeu que comêssemos, estende-se da criação à eternidade. É uma parte da vida prática. Nada tem que ver com o rito simbólico e típico do santuário, que começou com a construção do tabernáculo, no Sinai, e terminou na cruz. Ao criar Deus os sêres humanos, destinou-lhes o seu alimento. (Gên. 1:29.) Mais tar-de, quando a espécie humana reencetou a vida, após o Dilúvio, em época em que pouca vegetação havia sôbre a Terra, Deus permitiu o uso da carne. (Gên. 9:3.)
Conquanto êste versículo não o especifique, a circunstância exigia que só os animais limpos fossem comidos. A diferença entre limpo e imundo era tão bem conhecida de Noé (Gên. 7:2) que Deus não teve necessidade de especificar-lha. Com a instrução ministrada a Noé para preservar sete casais de animais limpos, e um, apenas, de imundos, Deus proveu alimento para depois do dilúvio e até que a alimentação vegetal crescesse de novo. Noé não pôde haver comido os animais imundos, pois apenas um casal de cada espécie fôra preservada.
Séculos mais tarde, quando, no Egito, os israelitas haviam quase perdido o conhecimento de Deus, o próprio Deus, no Sinai, lhes deu instruções específicas acêrca dos animais limpos e imundos. Ne-nhum simbolismo havia nessas leis sanitárias, ao dar-lhas Êle por intermédio de Moisés. Por exemplo, Deus ordenou a quarentena das moléstias contagiosas, e ninguém imagina que tenham terminado na cruz. (Núm. 5:1-4 e outros passos.) Por meio do milagre do maná, de quarenta anos de duração, Deus lhes ensinou que Se interessava pela sua alimentação saudável. Em Isa. 66, descreve Êle a pureza e consagração exigidas dos que haverão de escapar dos fogos do inferno, quando Jesus voltar, e quem estiver contaminando o corpo não escapará.
Os Animais Ferozes na Nova Terra
Como se pode harmonizar Isa. 11:6 e 7, com 35:9?
“E Morará o lôbo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezêrro, e o filho de leão e a nédia ovelha viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e seus filhos juntos se deitarão; o leão comerá palha como o boi.”
“Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a êle, nem se achará nêle; mas os remidos andarão por êle.”
Sem dúvida, o consulente acha dificuldade em harmonizar estas passagens, porque um diz que na nova Terra haverá leões, e a outra diz que ali não haverá animais ferozes. Todos serão mansos. O cap. 11 de Isaías declara que todos os animais hão de ser mansos, e de natureza diferente da que conhecemos hoje, enquanto o cap. 35 afirma que não haverá animal algum que perturbe a paz, pois tudo será perfeito.