(Parte I)
Êste artigo é o primeiro três, que constituem o cap do autor, sob o título: Move
— Redação.
I. Nossa Distinta Contribuição à Doutrina Cristã
- 1. A “VERDADE DO SANTUÁRIO” EXCLUSIVAMENTE ADVENTISTA. – Pensemos de nôvo na impressiva gravura oposta ao frontispício dêste volume, e sua legenda descritiva. A grande verdade, distinta, separada, estrutural que identifica os adventistas do sétimo dia e os põe à parte de tôdas as demais corporações cristãs, do passado e do presente, é isso que temos sempre designado como a “Verdade do Santuário.” Isso tem sido assim desde os primórdios do movimento, pois a Verdade do Santuário foi o primeiro ensino pós-desapontamento a ser descoberto e pregado. E nunca perdeu essa posição fundamental.
Tôdas as demais grandes doutrinas que mantemos e ensinamos: Sábado do Sétimo Dia, Imortalidade Condicional, Segundo Advento. Espírito de Profecia, Interpretação Profética, Pré-milenialismo, Justificação pela Fé, Batismo por Imersão, Dízimo etc. — tôdas têm sido mantidas por um ou mais grupos, ao todo ou em parte, quer no passado quer no presente.
Mas nem na Igreja Primitiva (quando os ensinamentos apostólicos estavam ainda intactos), nem na Igreja da Reforma (quando grande porção das atitudes apostólicas foi redescoberta e restaurada), foi ensinada a Verdade do Santuário Celestial, com seu Sacerdote Ministrante oficiando em duas fases distintas dêsse serviço mediatório, com a segunda fase, compreendo as atividades da grande hora presente do Juízo de Deus.
- 2. NÃO ERA OPORTUNA A ÊNFASE EM TEMPOS PASSADOS. – Êsse silêncio, no passado, foi pela simples razão de que não era oportuno que a Verdade do Santuário fôsse discernida e acentuada antes que, no divino plano milenar de Deus, a profetizada hora do juízo divino satisfizesse a determinada seqüência do tempo. O juízo era, nos tempos apostólicos e pós-apóstólicos, considerado como merecedor de ênfase no futuro, nos últimos dias. O líder da Reforma, Lutero, considerava-o de atualidade 300 anos após o seu tempo. Nós o reconhecemos e proclamamos como não só de oportunidade para hoje, mas como obrigatório na pregação do Evangelho Eterno. Nós com justiça o consideramos um tremendo imperativo da Verdade Presente.
Cabe-nos, pois, não só crer verdadeiramente na Verdade do Santuário e ensiná-la hoje, mas também conceder-lhe lugar central, em nossa distinta e identificadora ênfase da atualidade. Incumbe-nos, pois, compreendê-la claramente e a seguir proclamá-la em nossa mensagem aos homens. E por esta simples razão: É a essência do adventismo, e tudo abrange.
Com efeito, se não existe Santuário no Céu, e nêle não há operando um Grande Sumo Sacerdote; e se não existe mensagem da Hora do Juízo, a ser, por ordem divina, pregada atualmente, então não há lugar para nós no mundo religioso, nem missão e mensagem denominacionais distintas, nem desculpa para funcionar como entidade eclesiástica separada.
- 3. FERE A INTEGRIDADE DO ADVENTISMO. — Conseqüentemente, qualquer enfraquecimento, negação ou submersão da Verdade do Santuário, é questão séria, mesmo crucial. Qualquer desvio ou abandono da mesma, fere o coração do adventismo, sendo um desafio a sua própria integridade.
Fomos suscitados por Deus — e viemos à existência por imperativo histórico — para acentuar essa grande, todo-abarcante Verdade Presente, que em si mesma envolve e constitui “um completo sistema de verdades’’ (Conflito, 423). Tôdas as outras verdades essenciais acham-se, realmente, nela abrangidas: A Lei Moral, o Sábado, a Expiação Sacrifical, a Mediação Sumo-sacerdotal, o Juízo, a Justificação e Santificação, Justificação pela Fé, recompensas e punições finais, Segundo Advento, e a destruição total dos incorrigivelmente ímpios.
- 4. INCUMBÊNCIA OBRIGATÓRIA DA IGREJA REMANESCENTE. – Conseqüentemente, a Verdade do Santuário não é uma doutrina estranha, peculiar, anormal, desvirtuada, indefensável — nem simples expediente para justificar o episódio do Desapontamento, em 1844, como alguns antagonistas têm alegado. Não é um desvio da fé cristã histórica. É, ao contrário, a conclusão lógica e a inevitável consumação dessa fé. É simplesmente, o surgimento e cumprimento, nos últimos dias, da profetizada acentuação do Evangelho Eterno, por parte da Igreja Remanescente no segmento final de seu testemunhar ao mundo. Testifica à Terra tremendas transações efetuadas no Céu, intensamente fascinantes no escopo e portentosamente vitais.
Por virtude de sua natureza crucial e seu significado, a Verdade do Santuário está sujeita a ser objeto de desafio, de ataques, de insinuações indiretas e desprêzo. E isto tanto de dentro como de fora. Temos de esperar isso, e estar preparados para enfrentá-lo. Temos de ser ciosos pela integridade da Verdade do Santuário, e alerta e irredutíveis em sua eficaz defesa. Aqui não podemos silenciar, pois não se trata de mero princípio opcional de fé.
- 5. INEVITÁVEL ALVO DE ATAQUES. -Satanás odeia a Verdade do Santuário. Sabe ser ela uma verdade suprema para os nossos dias. Ela o interessa diretamente — seu destino e condenação, sua prisão por vir, e destruição final. Procura êle comprar tempo. Quer desesperadamente atrair para a destruição, em sua companhia, o maior número possível. Conseqüentemente, iniciará e estimulará tôda e qualquer tentativa para modificar, reconstruir, desvirtuar ou alterar a pregação, mudando o conceito da Verdade do Santuário. Quer abafar seu testemunho, reprimir seu ensino e viciar-lhe a integridade.
Temos que contar com revisionistas, reconstrutores, pervertedores, bem como positivos destruidores. Isto é prova insuspeita de seu caráter e importância cruciais. Semelhantes manobras nunca se concentram em questões de somenos importância. Temos de estar preparados para manter e defender posições corretas acêrca do Santuário, contra todos os oponentes e pervertedores.
- 6. OS SOLAPADORES FINALMENTE SE REDUZIRÃO A NADA. — Frisamos o ponto: Haverá os que hão de desdenhar de sua validade, pôr em dúvida sua base bíblica, e ladear suas confirmações pelo Espírito de Profecia. A Verdade do Santuário, mais do que qualquer outro ensino básico adventista, e sem falar na oposição não-adventista, tem sido sujeita a ataques internos através de tôda a nossa existência denominacional. Mesmo desde o princípio, têm surgido periodicamente indivíduos que tèm negado, primeiro um aspecto, depois outro.
Mas êsses solapadores todos acabaram nos deixando, e geralmente se puseram contra nós. Afinal todos, sem exceção, deram em nada. Seus infelizes destroços espalham-se através dos anos. Uma vez assim procedendo, perderam-se para a Fé, e nunca fizeram alguma contribuição construtiva à missão e obra da igreja.
- 7. GUARDEMO-NOS DE COMBATER CONTRA DEUS. — A Verdade do Santuário, cuja pregação obedece a ordem divina, destina-se a prevalecer, pois os que a combatem, lutam contra Deus e contra a mensagem por Êle destinada aos homens. Deus sempre teve defensores leais e capazes, e os tem também hoje. Tem de haver, naturalmente, como se dá com tôdas as verdades, um constante aperfeiçoamento, fortalecimento, ampliação, e aumentada clareza e amplidão de conceito. Mas nenhuns aperfeiçoamentos genuínos jamais invalidarão os autenticados princípios fundamentais do passado. Os genuínos fortalecedores da fé jamais subvertem. Deus nunca nega nem abandona mais tarde, aquilo que outrora favoreceu e confirmou.
Temos, pois, de olhar com desconfiança aos que querem solapar e subverter aquilo que nossos antepassados tão fielmente labutaram por estabelecer, com as bênçãos de Deus, e Seu Espírito tem repetidamente confirmado.
- 8. ESCOPO MULTIFORME DOS ATAQUES. — Os ataques às vêzes se focalizam na realidade do Santuário Celestial, como o grande Original. Isto não é imaginário. Temos sido advertidos de que:
“O inimigo introduzirá falsas teorias, como a doutrina de que não existe santuário. Êste é um dos pontos nos quais haverá um afastamento da fé.” – RH, 25-5-1905.
Ou se concentram na cronologia, no tempo, ou nas relações integrais de Dan. 8 e 9. Ou em relação à semântica, acêrca de aspectos técnicos da Expiação, do escopo e intenção da purificação do Santuário, do aperfeiçoamento dos santos, ou dos acontecimentos e processos da hora final de transição.
O maligno nada aprecia mais do que distrair-nos da descrição da positiva verdade, e pressionar-nos para despendermos tempo e energias em digressões, disputas ou debates com os transviados. Não lhe devemos dar essa satisfação.
II. Realidade do Santuário Celestial
- 1. O SANTUÁRIO É REAL COMO O PRÓPRIO DEUS. — À luz do que se disse, consideremos o desafio básico mencionado por E. G. White e examinemo-lo desde logo: Existe de fato um Santuário Celestial? Ou é o têrmo apenas uma transcendental figura de linguagem, usada para simbolizar alguma providência abstrata, propósito e atividade existentes no pensamento de Deus, para a salvação do homem?
O testemunho da Palavra é de que o Templo no Céu é uma superna realidade, uma atualidade divinamente revelada — tão real como o próprio Deus, ou a Nova Jerusalém, ou o Cordeiro de Deus que agora, como Sacerdote Celestial, ali ministra — e com tôdas as atividades redentoras daí decorrentes. É o estabelecido Centro de Comando onde se originam, e são levados a têrmo todos êsses sublimes empreendimentos. Tudo isto, e muito mais, tornar-se-á meridianamente claro, e estabelecido, à medida que prosseguirmos.
- 2. INTENÇÃO DE “ATUAL” E “REAL.”
- — Definamos nossos têrmos. É o Santuário Celestial atual e real, ou simplesmente metafórico
- — uma abstração em vez de realidade? Isto considerando não devemos confundir atualidade e realidade celestial com os elementos e materiais grosseiros dêste nosso mundo físico, amaldiçoado pelo pecado (I Cor. 15:48 e 49). Isso incluiría, naturalmente, a composição do tabernáculo terrestre, mosaico, feito de ouro, prata, cobre, madeira, linho, pedras, óleo da terra (Êxo. 25:3-7). Não devemos confundir os dois, pois acham-se em positivo contraste.
Em essência, atual quer dizer real, em oposição ao meramente figurado, retórico, metafórico, hipotético. Atual é verdadeiro, concreto, tangível, real. Tudo isto é contrário ao irreal, mítico, imaginário, fantasioso, quimérico, visionário, etéreo. O Santuário Celestial é verdadeiramente real — não é uma abstração.
III. Tudo Converge para a Verdade Central do Santuário
1. A VERDADE DO SANTUÁRIO ABRANGE A ESSÊNCIA DO ADVENTISMO. — O Evangelho Eterno, imudado e imutável, alcança sua imponente consumação na mensagem dos últimos dias: “Vinda é a hora do Seu Juízo.” Esta mundial proclamação do Primeiro Anjo, surgida nos começos do século dezenove, simplesmente se avoluma e alcança sua consumação sob a Segunda e Terceira Mensagens de Apoc. 14. São na realidade uma só mensagem — apenas tríplice pelo aspecto ampliador e a ênfase expansiva e cumulativa.
O Juízo é a fase final das providências e atividades do Santuário, tanto em tipo como em antítipo. Relaciona-se integralmente com as providências do Santuário, ou Tabernáculo, ou Templo, pois os têrmos são empregados permutávelmente.
- 2. DANIEL SUPRE A FALTA NO ANTIGO TESTAMENTO. — Por motivo de seu caráter básico, examinemos agora, com alguma profundidade, esta verdade fundamental, que é a reconhecida plataforma básica da Fé no Advento — pois alguns, confundidos, foram a ponto de negar a realidade do Santuário Celestial. Tratando dêste ponto, dêle nos aproximaremos primàriamente tendo em vista a prova exposta nos livros de Apocalipse e Hebreus. Entretanto, é a anterior profecia de Daniel que provê o ambiente bíblico, e a estrutura de tudo que segue. Examinemo-la resumidamente.
Daniel 7, 8 e 9 nos são tão familiares que bastarão algumas alusões e êles. Primeiro vem a cena do juízo, do cap. 7:10: o Ancião de dias, com miríades de miríades de assistentes. Então “assentou-se o juízo e abriram-se os livros” (Dan. 7:10). Mas isto ocorre depois das ousadas façanhas da Pequena Ponta Papal, mas antes do estabelecimento do Eterno Reino de Deus (v. 14). Isto explica a seqüência do tempo e da correlação.
- 3. PÉRFIDAS FAÇANHAS DA PONTA PEQUENA. — Esta, naturalmente, foi a mesma Ponta Pequena que tirou o “contínuo” e lançou por terra “o santuário” do “Príncipe do exército.” E a “verdade” do Príncipe foi ousadamente lançada “por terra” (cap. 8:11 e 12).
Especificamente, foram alterados os Dez Mandamentos. O sábado foi substituído pelo domingo, como dia santo de Deus. A imortalidade inata tomou o lugar da vida sòmente em Cristo. A aspersão suplantou a imersão, e assim por diante. O único Sacrifício de Cristo no Calvário foi substituído pelo sacrifício da missa em dezenas de milhares de altares terrestres. O único Sacerdócio de Cristo, que é tanto Deus como homem, foi anulado, substituindo-se por um único sacerdócio humano, nesses mesmos altares terrestres. E o pão e o vinho da Ceia do Senhor foram suplantados pela hóstia e a transubstanciação. Todas as doutrinas foram afetadas.
- 4. RESTAURAÇÃO DO SANTUÁRIO AO LEGITIMO CENTRO. – Então, no cap. 8:14, no tempo designado vem a “purificação do santuário.” E segue-se a antecedente inclusão das 70 semanas de anos do cap. 9:24, que vão até ser “tirado” o “Messias, o Príncipe,” para “dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna.” Êste foi o luminoso prólogo e cenário do Antigo Testamento. É indispensável e fundamental.
Correm os séculos. No tempo designado, dentro do determinado “tempo do fim,” surgiu, precisamente na ocasião exata, o Movimento do Advento, primàriamente para erguer e restaurar a indispensável e multifária “Verdade” celestial, que fôra lançada por terra — a verdade do Santuário Divino e tudo que implica — erguê-la a seu legítimo lugar central, e a suas transcendentes operações finais, que são parte integral de tudo.
- 5. AMARGA INIMIZADE CONTRA O TABERNÁCULO DE DEUS. – Na profecia paralela de João, no Nôvo Testamento, êsse antagonismo contra Deus e “Seu tabernáculo” se acha descrito como sendo tão grande que êsse mesmo poder — aqui apresentado sob o simbolismo da primeira “bêsta” de Apoc. 13, que surge do mar das nações durante o mesmo período profético dos 1260 dias-anos — “abriu a sua bôca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu tabernáculo [skenen], e dos que habitam no Céu” (Apoc. 13:6).
Há assim uma incessante inimizade contra o Tabernáculo-Templo de Deus. E êsse “tabernáculo” do Apocalipse é expressamente definido no cap. 15:5, como sendo “o templo do tabernáculo [skenen] do testemunho … no Céu.” * É dêste Tabernáculo-Templo, pleno da “glória de Deus,” que procedem as direções acêrca do derramamento das sete últimas pragas (v. 8). Tal é seu lugar central e sua identificação.
* O grego skene (tabernáculo) aparece três vêzes no Apocalipse (13:6; 15:5; 21:3). É essa mesma palavra (skene) que é tão significativamente empregada por Paulo em Hebreus 8 e 9 (8:2 e 5; 9:2, 3, 6, 8, 11 e 21).
(Continua)