O Novo Testamento apresenta uma visão clara e coerente da igreja como uma comunidade unificada de crentes, estabelecida por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo. A unidade não é retratada como um mero ideal ou uma característica opcional, mas como algo fundamental para a identidade e a missão da igreja. Desde os ensinamentos de Jesus nos evangelhos, passando pelas cartas dos apóstolos e chegando ao Apocalipse, a unidade é descrita como um dom divino e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade humana. Vejamos três características essenciais da unidade da igreja:
É um reflexo da unidade divina. Em João 17:21, Jesus ora pela unidade de Seus seguidores: “A fim de que todos sejam um. E como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste.” Essa oração vincula a unidade da igreja à própria natureza da Trindade, na qual o Pai, o Filho e o Espírito Santo coexistem e atuam em perfeita harmonia. A unidade entre os crentes deve refletir essa unidade divina, pois é somente por meio dela que a igreja pode dar um testemunho autêntico ao mundo sobre Jesus. Essa unidade não é apenas organizacional, mas profundamente espiritual e relacional.
Baseia-se na igualdade na diversidade. O apóstolo Paulo desenvolve essa ideia-chave em suas cartas, especialmente em 1 Coríntios 12 e Efésios 4. Uma das metáforas usadas para ilustrar esse conceito é a do corpo humano. Cada crente representa uma parte única e necessária desse corpo e, embora haja diversidade de funções, há também unidade de propósito e identidade. Nenhuma parte é mais importante que outra; ao contrário, todas são interdependentes, valiosas e necessárias. Respeitar a dignidade de cada crente, independentemente dos dons que possua, é um dos pilares da verdadeira unidade: “O segredo da unidade encontra-se na igualdade entre os crentes em Cristo” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 2022], v. 1, p. 220).
Surge da obra do Espírito. A carta de Paulo aos Efésios reforça ainda mais o fundamento teológico e prático da unidade. Em Efésios 4:3, ele exorta os crentes a se empenharem para “preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. O apóstolo então explica que a unidade da igreja é fruto do fato de termos “um só Espírito, […] um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (v. 4-6). O final do trecho é revelador: a verdadeira unidade só é possível quando permitimos que Deus habite em nosso coração. Portanto, a unidade da igreja não surge do nada, tampouco é fruto do esforço humano, mas é uma realidade estabelecida por Deus – e que os crentes são chamados a preservar por meio da humildade, da compaixão e do perdão (v. 32).
Como conclusão, podemos observar que Atos 2 apresenta um exemplo prático da unidade vivida pelos primeiros cristãos: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. […] Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (v. 43, 46, 47). A unidade deles era visível no culto e na vida em comunidade – algo tão autêntico e cativante que atraía outros à fé. A unidade da igreja, portanto, tem um poder evangelizador.
Eric Richter, editor da Ministério, edição da Aces