Nas últimas doze horas, recebi três notícias provenientes de três países diferentes de nossa Divisão. Lugares muito distantes uns dos outros, entretanto com certas coincidências. As duas primeiras traziam o impacto de mortes trágicas, e a terceira era sobre um acidente que quase acabou com um homem. Os três casos estavam relacionados a homens especiais, três obreiros… três pastores que dedicaram suas vidas ao Senhor.

Não posso deixar que passem como simples notícias ou meras informações. Não consigo parar de pensar nelas. Imagino quadros distantes, em lugares onde nunca estive, que abrigam pessoas desconhecidas; porém, paradoxalmente, muito próximas já que formamos uma grande família: a familia de obreiros dedicados a proclamar o evangelho.

À distância, e em meu anonimato, sofro por essas esposas de pastores que foram tão brutalmente golpeadas e que deverão agora seguir caminhando sozinhas.

As perdas são sempre desagradáveis, atormentadoras. A morte é uma perda que surge como uma tragédia que se toma ainda maior quando ocorre inesperadamente; quando a única aparente explicação de sua causa foi estar naquele lugar, naquele instante. Um segundo… décimos de segundos.

Por quê?

Nessas ocasiões, nossa primeira reação é pensar: “Senhor, por que essas famílias devem sofrer dessa maneira? Acaso não eram eles homens especiais que sentiram o Teu chamado e responderam ‘eis-me aqui’? E enquanto estão servindo acontece o inesperado… O inexplicável… Não posso entender.”

De onde tiramos a idéia de que pode-mos entender tudo e que merecemos uma explicação para cada coisa? Quem disse que os cristãos, e especialmente aqueles que se entregaram ao serviço do Senhor, não passariam por situações difíceis ou desagradáveis? De onde surge esse desejo de insistir que Deus nos preste contas? E esse desejo, às vezes, cresce a ponto de transformar-se em uma “necessidade”.

Esse é o momento em que, se não reagirmos, poderemos dar início à nossa segunda e maior tragédia. Começaremos a questionar a Deus, Sua sabedoria, Seu poder, Seus motivos, Seu amor. É o momento em que poderemos confundir-nos e pensar que Ele faz coisas sem sentido. Pensar assim é, realmente, uma tragédia.

Foi a respeito desse assunto que o Dr. James Dobson escreveu um livro cujo título poderia parecer irreverente: Cuando lo que Dios hace no tiene sentido (Quando o que Deus faz não tem sentido). Nele, o Dr. Dobson comenta o seguinte: “Minha preocupação é que parece que muitos crentes pensam que Deus tem a obrigação de permitir-lhes navegar em um mar calmo ou de, pelo menos, dar explicações completas (e talvez pedir desculpas) pelas dificuldades que encontram no caminho. Nunca devemos esquecer que, antes de tudo, Ele é Deus. … Às vezes Ele escolhe ex-plicar-nos o que faz em nossa vida… Mas em outras ocasiões, quando nada do que nos acontece tem sentido; quando pensamos que as experiências pelas quais passamos ‘não são justas’; quando nos sentimos sós na sala de espera de Deus, Ele simplesmente nos diz: Confia em Mim!” (pág. 50).

Quando começamos a questionar a Deus, Sua sabedoria, Seu poder, Seus motivos e Seu amor, isso é realmente uma fatalidade.

A tentação de duvidar

É nesses momentos que Satanás chega semeando dúvidas, insistindo com idéias tais como: “Mas se Ele te ama, não deveria ter permitido…”; “É assim que Deus demonstra Seu amor?”; “Não acha você que tudo isto é injusto?” E se lhe damos oportunidade, fará que nos invada o senti-mento de ser-mos vítimas da falta de interesse ou cuidado por parte de Deus, e de uma tremenda “necessidade de explicações”. E essa é, na verdade, a grande tragédia.

Conversando sobre esse assunto com uma amiga, escutei uma frase que me fez pensar sobre algumas coisas que às vezes não vemos, ou não levamos em conta. “Eu tenho uma única explicação para essas mortes trágicas: é que Deus sabe que esses homens estão preparados e, portanto, tolera um ataque mais do inimigo.” A palavra chave é tolera, que foi dita exatamente assim – de forma entrecortada -, sendo grandemente enfatizada. Tolerar é permitir algo, ainda que não se aprove.

Concordo totalmente com minha amiga, e ao mesmo tempo vejo mais claramente quanto Satanás se esforça por maltratar-nos, turbar-nos e enganar-nos. Muitíssimas vezes, primeiro nos provoca um mal e, em seguida, nos insta a desconfiar de Deus e acreditar que foi Ele quem o provocou. Faz-nos duplamente perdedores ao tirar algo físico e palpável (um ser querido, um bem, a segurança de um emprego, o bem-estar da saúde) e quer também tirar nossa fé e confiança em Deus. E isso é a verdadeira tragédia.

O exemplo de Jó

Recordemos um pouco a tão conhecida experiência de Jó. Ele era um homem especial, um servo de Deus que O honrava através de sua própria vida. Disse Deus a seu respeito: “… ninguém há na Terra semelhante a Ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1:8). Fico emocionada ao pensar que o próprio Criador disse essas palavras. Não se tratava de um homem qualquer; era um verdadeiro servo de Deus, que O servia diariamente, não do púlpito de um templo, mas de uma plataforma bem visível. Pregava através de sua vida e exemplo. Era um ministro de Deus.

Ao ouvir essa frase, Satanás propõe a Deus que sejam retiradas as bênçãos a ele outorgadas (v. 11). E Deus tolera. Jó perde, perde muitíssimo. E Satanás insiste outra vez (2:4), pois seu objetivo de fazer com que Jó perdesse a confiança em Deus não se realizara. Deus tomou a tolerar (v. 6) e Jó perde ainda mais! Satanás ataca novamente, mas já não com perdas materiais e físicas, senão por outro meio – sua esposa: “.. .ainda conservas tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (v. 9). Vê? É evidente. O que Satanás perseguia em realidade era provocar em Jó a perda maior, ou seja, minar sua confiança em Jeová. Esse era seu objetivo final, e não apenas provocar um dano físico.

Deus tolera algumas coisas, mas nunca abandona Seus filhos, nem deixa de vê-los. Isto está claro em Sua Palavra. “Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos e os Seus ouvidos estão abertos às suas súplicas” (I Ped. 3:12). “Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações. Perto está o Senhor do que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra” (Sal. 34:17 a 19).

Confiar é o caminho

Por outro lado, sabemos também que o que nos parece inexplicável e sem sentido, o é inversamente para Deus: “Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os Céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Isa. 55:8 e 9).

O Senhor Jeová não está caminhando de um lado a outro nos corredores do Céu, sem saber o que fazer com os nossos problemas.

É verdade que muitas vezes não temos suficiente informação a respeito do que nos sucede; não sabemos todas as causas de nossas aflições e ficamos turbados: não pode-mos entendê-las nem interpretá-las. Mas há algo que é real – o nosso Deus. Se Ele tolera alguma coisa, sabe porque o faz. Se uma tragédia nos acomete, cuidado! Não permitamos que uma segunda aconteça.

O Dr Dobson, de novo, aconselha: “Peço a uma pessoa que se sente muito afligida, cujo coração está quebrantado e que se sente desesperada… que me permita assegurar que pode confiar no Senhor dos Céus e da Terra. Existe segurança e descanso na sabedoria eterna da Bíblia… e você pode estar seguro: Jeová, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, não está caminhando de um lado a outro nos corredores do Céu sem saber o que fazer a respeito dos problemas que existem em sua vida … Ele pode tomar em Suas mãos as cargas que estão lhe oprimindo.” (pág. 30).

“Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Apoc. 21:3 e 4).

Que glorioso é poder confiar em um Deus que hoje vela por nós, que está no controle de nossa vida e que tem um futuro tão especial para nós. Naquele dia glorioso, as tragédias da Terra não mais existirão. Porém, para chegarmos a viver esse momento, devemos lutar com a “segunda e maior tragédia”. Jó não pôde evitar as tragédias físicas e materiais, mas evitou, vitorioso, a tragédia de deixar de confiar em Deus.