Importantes e significativas são as palavras do salmista : “Adorai ao Senhor na beleza da Sua santidade.” Sal. 96: 9. Que é adoração? É algo mais do que observância exterior. A não ser que haja uma experiência interna, não haverá adoração.

A relação pessoal entre Deus e o homem é realmente o santo dos santos da personalidade humana. A verdadeira adoração é a mais dinâmica e inspiradora experiência pela qual o homem pode passar. O ministro do evangelho desempenha sua mais elevada função quando, como líder na adoração, dirige a mente humana para Deus, fazendo com que jovens e idosos se compenetrem do Eterno.

A adoração depende duma necessidade fundamental — a necessidade de Deus. Ponderemos nestas palavras: “Coisa alguma é mais necessária na obra do que os resultados práticos da comunhão com Deus.” —Test. Seletos, Vol. 2, pág. 102. No livro Obreiros Evangélicos, à pág. 357, são postos em contraste dois tipos definidos de culto: “Não nos é possível acentuar demais os males de um culto formal, mas não há palavras capazes de descrever devidamente as profundas bênçãos do culto genuíno.”(Grifo nosso.)

Como nossas congregações carecem da experiência do culto geníno! Disse Jesus: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são êstes que o Pai procura para Seus adoradores”. S. João 4:23. Que pensamento surpreendente! Deus procurando adoradores — aquêles que O adorem em espírito e em verdade.

Nós como povo destacamos a obra e o trabalho, e o fazemos acertadamente. Tais expressões como “terminar a obra”, etc., são familiares à linguagem adventista. Especializamo-nos em preparar nossas congregações para o trabalho, e costumamos cantar: “Sim, gôzo haverá no final”, como se não pudesse haver regozijo enquanto realizamos a obra. Sim, somos capazes de adestrar nossas congregações na arte do trabalho, mas sabemos ensinar-lhes a arte da adoração? Na verdade há uma grande obra a ser feita, mas há também um grande Deus que deve ser adorado. É bem possível que a obra do Senhor nos esteja separando do Senhor da obra.

No âmago da última mensagem divina aparece um apêlo para adoração (Apoc. 14:7). Quer salientemos as doutrinas, os preceitos e as profecias, quer promovamos uma campanha, todos os aspectos de nossa mensagem devem levar os membros a adorar “Aquêle que fêz o céu, e a Terra.” Tiago Moffatt declara uma importante verdade, ao afirmar:

Nenhum aspecto da igreja é mais característico do que o culto. Quando homens e mulheres adoram juntos, o caráter distinto de sua comunhão religiosa encontra uma expressão especial. No louvor e na oração em geral, nos atos e palavras dos cultos de igreja, as vivificantes convicções de sua fé manifestam-se mais distintamente do que em suas crenças. É notório que suas formas e métodos de culto, desde que sejam adequados, expressam o espirito do que crêem; os pontos vitais daquilo que acreditam ser sua relação para com Deus não são revelados tão vividamente em qualquer fórmula, por mais indispensável que esta seja, como nos diversos cultos de adoração que Lhe oferecem por meio de ritos e mesmo das mais singelas cerimônias. Aquilo que fazem ou deixam de fazer na adoração, particular ou pública, é invariàvelmente significativo. À medida que um movimento religioso ganha impulso na História, os hinos e as orações de que os adeptos participam e que lhes engrandecem os corações, constituem uma lírica e autêntica confissão de sua inconfundível fé em Deus, àqueles com os quais entram em contato. — Christian Worship, pág. 119.

Tornando o Culto Significativo

Os verdadeiros cristãos sempre prestarão culto; como, porém, obter o máximo dos cultos? Que podemos fazer para torná-los mais significativos? O culto regular de adoração consta de muitos aspectos, tais como hinos, orações, pregação, leitura bíblica, respostas, etc. Mas há outras coisas que também são importantes. Que dizer do silêncio e da meditação? Ajudar a congregação a ficar em silêncio o saber que o Senhor é Deus, talvez seja a mais importante experiência de tôdas.

Se faltam alguns minutos para o comêço do culto, os crentes devem entregar-se à devoção e meditação silenciosa, elevando a alma em oração a Deus para que o culto se torne para êles uma bênção especial, operando a convicção e conversão em outras almas. Devem lembrar-se de que estão presentes ali mensageiros do Céu. Perdemos geralmente muito da suave comunhão com Deus pela nossa falta de quietude e por não nos darmos à reflexão e oração. . . . Se os crentes, ao entrarem na casa de oração, o fizessem com a devida reverência, lembrando-se de que se acham ali na presença do Senhor, seu silêncio redundaria num testemunho eloqüente. — Test. Seletos, Vol. 2, pág. 194.

Ao ser a reverência manifestada em atitude e comportamento, o sentimento que a inspira será aprofundado. — Profetas e Reis, pág. 49.

Nenhum aspecto do culto é sem importância. Nada do que possa ser classificado como insignificante deve obter permissão para introduzir-se na hora de adoração. Embora enumerássemos partes que corretamente possam ser incluídas no culto, contudo, de per si, não constituem necessàriamente adoração. Qualquer uma delas, ou tôdas juntas, se efetuadas erradamente, podem realmente destruir a espiritualidade da reunião.

O culto deve ser planejado, coordenado, progressivo e adequado. Nêle nada deve ser feito ao acaso. Além do mais, cada parte precisa estar relacionada com o todo; deve decorrer com um objetivo em vista, e convém que culmine numa reação e resposta por parte da congregação. A fim de conseguir isto, a música também é importante. Deve-se exercer muito cuidado na escolha dos hinos, pois nos cultos adventistas essa é pràticamente a única oportunidade para a congregação participar dos mesmos. Quão lamentável é, pois, omitir estrofes!

Aquêle que reconhece sua responsabilidade como dirigente da adoração, organizará o culto de tal maneira que cada parte seja um passo progressivo em direção à reconsagração da vida de cada membro da congregação. Estas impressivas figuras de linguagem nos apresentam o verdadeiro propósito do culto:

Deus convida Seu povo a despertar, abandonar a atmosfera glacial em que tem vivido, sacudindo energicamente as impressões e idéias que fizeram esfriar os sentimentos de amor, conservando-o numa inatividade egoísta. Convida-o a elevar-se acima do baixo nível terreno e a respirar a atmosfera luminosa do Céu. — Test. Seletos, Vol. 2, pág. 250.

O egoísmo arrefece os impulsos vitais, mantendo-nos numa egocêntrica inatividade. Mas quando o culto é o que deve e pode ser, os adoradores sobem as encostas do monte da bem-aventurança, entrando na luminosa atmosfera do Céu. O gêlo da indiferença se derreterá sob o brilho da realidade. Convém prestar atenção ao seguinte e proveitoso conselho de Ellen G. White:

Não é vosso dever dedicar algum empenho, estudo e planejamento ao assunto de dirigir as reuniões religiosas, de maneira que sejam efetuadas de tal modo que realizem a maior soma de bem, produzindo a melhor impressão possível sôbre os que assistem a elas (adventistas e não adventistas)? — Review and Herald, 14 de abril de 1885.

O líder experimentado não sòmente estudará o programa, mas também aquêles aos quais ministra, planejando tudo a fim de satisfazer às necessidades do grupo. Não sòmente o programa deve ser elaborado, mas a aparência da casa de culto também é importante. Não convém existir algo que distraia os adoradores. Tiago declara: “Chegai-vos a Deus, e Êle se chegará a vós” (4:8). Como pode nosso povo se aproximar de Deus, se é permitido que tantas coisas prejudiciais destruam a atmosfera do culto? A “atmosfera” não é fácil de ser definida, pois abrange certo número de fatôres. Os organismos físicos dependem da atmosfera, sem a qual morreriam. A atmosfera é invisível, não pode ser tocada, contudo é absolutamente essencial. O ar que respiramos é realmente o fôlego da vida, mais vital mesmo que o nosso alimento. Nós só o percebemos quando o mesmo se toma rarefeito ou pesado.

A Predominante Atmosfera Celestial

Aplicando êsse vocábulo à nossa vida espiritual, E. G. White afirma que nossas reuniões “devem ser impregnadas da própria atmosfera do Céu” (Review and Herald, 30 de novembro de 1886). Pensemos nessa “atmosfera do Céu”, que nutre e enriquece a nossa natureza espiritual. Podemos estar inconscientes da mesma, mas ficaremos alarmados se essa atmosfera espiritual estiver ausente, ou “indevidamente carregada”.

A verdadeira adoração é uma experiência progressiva e funciona melhor num ambiente de perfeita ordem. Se a hora de culto destina-se a ser mais do que apenas outra reunião, é essencial haver correlação entre as partes componentes. O culto da manhã de sábado consta de duas divisões principais — a parte da congregação, que consiste grandemente em louvor e oração, e a parte do ministro, que consiste no sermão de instrução ou inspiração.

Seria difícil determinar qual delas é a mais importante. As opiniões diferem a respeito. Alguns sustentam que o sermão é o ponto principal, enquanto que outros, especialmente aquêles que empregam a liturgia, salientam a importância da participação dos presentes. Alegam que essa participação é mais essencial ao crescimento cristão do que a simples edificação. Isto bem pode ser confirmado.

Embora destaquemos a importância de outros aspectos além da pregação, não desejamos subestimar o papel do pregador, ou sugerir que o sermão é secundário. Se alguma coisa deve ser eliminada, certamente não é conveniente que seja a mensagem falada.

A Reforma Protestante veio à existência principalmente pelo poder da pregação. Mas o culto não é necessàriamente pregação, e certos tipos de pregação são tudo menos adoração. O verdadeiro culto se enfraquece quando os membros se tornam simples espectadores, em vez de serem participantes. Disse há anos a mensageira do Senhor:

A maior parte da adoração pública consiste em louvor e oração, e cada seguidor de Cristo deve empenhar-se nos mesmos. Também há a pregação, dirigida por aquêles cuja obra é instruir a congregação na Palavra de Deus. — E. G. White em The Signs of the Times, 24 de junho de 1886. (Grifo nosso.)

Participação da Congregação

Observai como são apresentados êstes dois aspectos do culto: “Cada seguidor de Cristo deve empenhar-se nos mesmos”, isto é, no louvor e na oração. Muitas vêzes falta aos membros o desejo de participar desta divisão do culto; em lugar do que sentam-se e lêem os nossos periódicos! Mas o louvor e a oração, êsse ato de participar da adoração, é algo em que todos se devem empenhar. Se nossos membros tèm de perder alguma parte do culto, não convém que seja aquela que às vêzes é erroneamente chamada de “preliminares.” Notai agora o claro conselho que aparece nas frases que seguem:

Embora nem todos são chamados para ministrar na palavra e na doutrina, não é necessário que sejam ouvintes frios e indiferentes. Quando na antiguidade a palavra de Deus foi proferida aos hebreus, o Senhor disse a Moisés: “E todo o povo diga: ‘Amém’”. Esta resposta, dada com todo o fervor da alma, foi exigida como evidência de que êles compreenderam a palavra falada e estavam interessados nela. — Ibid.

Quando os presentes penetram na autêntica experiência da adoração, por meio do louvor e da oração, após os hinos e a participação lhes aquecerem os corações, o pregador terá mais facilidade em inspirá-los à reconsagração e ao serviço leal. Percebendo êles suas necessidades individuais e sua fome espiritual, quando o banquete fôr servido, participarão com mais intensidade do pão da vida.

Reencontrar o verdadeiro propósito e poder da adoração — saber como “trazer as pessoas perante os altares do Eterno para inspiração, encaminhando-as, então, nas sendas do serviço em favor do próximo” — esta é a mais saliente necessidade de nosso ministério, nesta hora decisiva da história humana.

O culto que inspira e restaura não é destituído de interêsse. Lemos a respeito do antigo Templo que “a glória do Senhor encheu a casa de Deus.” Sempre que o culto fôr devidamente planejado, e nossas congregações se reunirem com verdadeiro espírito de adoração, sucederá o mesmo. A autêntica adoração se reflete na vida. Quando Isaías viu o Senhor, compenetrou-se das necessidades do povo e saiu para testemunhar. Ao deixarem os membros a casa de culto, havendo realmente contemplado Aquêle que é Alto e Sublime e entrado em comunhão com Êle, viverão de maneira diferente. As mães serão mais pacientes no lar; os pais tomar-se-ão mais dedicados; os empregados serão mais fiéis aos empregadores; as crianças serão mais dóceis no pátio de recreio e os professores mais compreensivos na sala de aula. “A verdadeira adoração é rever a Deus e restaurar o homem.”

VALOR DAS PROVAÇÕES

Um mineiro durante longos anos perseverara em escavar o leito duma torrente da Califórnia, na esperança de encontrar quartzos auríferos. Muitas vêzes lhe veio a tentação de desistir, pois receava arruinar-se. Mas uma noite desencadeou-se horrível tempestade, acompanhada por inundação que arrasou o vale, removendo milhares de toneladas de areia. O homem julgou perdidas as suas modestas propriedades, e, com elas, tôdas as probabilidades de progresso. Mas eis que, ao terminar o temporal, viu que, arrastadas as areias, tinha ficado a descoberto abundantíssimo jazigo de ouro, impossível de ser atingido através da espêssa camada de areia que anteriormente o cobria.