De vez em quando nossos estudantes são obrigados a explicar para seus amigos o tipo exato de escola a que eles frequentam. “É um seminário no Colorado”, diz algum deles. Qual a reação dos interlocutores? Algumas vezes, sorriem mostrando aprovação e exclamam: “Ótimo! Que Deus o abençoe em sua vocação.” Outras vezes, apenas resmungam: “Que bom!” Sua atitude implica que, embora vejam o ministério como uma vocação requintada e respeitável, também a consideram um tanto peculiar, talvez algo parecido com um agente funerário.

Em algumas ocasiões, com os olhos arregalados, as pessoas perguntam: “Porque você decidiu estudar em um cemitério?” E. elas não estão fazendo jogo de palavras: honestamente confundem o seminário com um cemitério.

Dependendo do grau de interesse dessas pessoas, os seminaristas têm a oportunidade de explicar que cada crente é um ministro, o que quer dizer simplesmente um servo. Podem também dizer que cada crente é ordenado, embora nem todos possam testemunhar, pregando o evangelho em terras longínquas. Cada crente recebeu a imposição das mãos perfuradas de Cristo. Os seminaristas podem igualmente explicar que a esmagadora maioria dos crentes desempenha um ministério como “fazedores de tendas”. Ou seja, em meio ao exercício de uma atividade profissional secular, trabalham e testemunham por seu Senhor.

Eles ainda podem explicar que o Espírito Santo soberanamente outorga dons a certos crentes e os chama à vocação do serviço cristão; um chamado que os leva a devotar todo o seu tempo e seus talentos à propagação do evangelho. Ao lado disso, podem dizer que, embora eles se sintam chamados para o ministério, não se consideram pertencentes a uma casta superior de crentes. Quem sabe, podem até citar Robert Browning quando mencionou que “todo serviço é igual diante de Deus”, e que a única demanda que Ele faz é obediência e fidelidade à Sua vontade soberana.

A opinião dos críticos

Hoje, o mundo está repleto de críticos que vêem a vocação ministerial da mesma forma como nossos filhos vêem uma locomotiva a vapor – uma curiosa sucata remanescente de um tempo superado. Por tudo isso, costumo advertir meus alunos para que não se deixem surpreender ao encontrarem esses auto-nomeados juízes das escolhas alheias, e não se permitam sucumbir às pressões que fazem.

O crítico pode sorrir desdenhosamente e perguntar: “Por que você está se preparando para o ministério vocacional? É verdade que você tem o direito de fazer muitas escolhas; mas, entre essas escolhas, por que justamente esta?” E ele pode continuar argumentando, lembrando o que C.

L. Sulzberger, correspondente internacional do jornal New York Times, escreveu em sua autobiografia intitulada A Long Row of Candles (Uma Longa Fila de Velas): “Em meu tempo, a vida de um jornalista era esplêndida… [mas] hoje é como ser um ferreiro dos anos 1919 – ainda um honrado e habilidoso fabricante de ferraduras, que já não atrai atenção.”

Você vê, seus juízes podem continuar tentando impressioná-lo de que está literalmente apostando na profissão errada. Não compreende você que a instituição religiosa é como uma velha fábrica artesanal de ferraduras? Não está desperto para o fato de que, no futuro próximo, um profissional religioso será como um ferreiro, um homem com treinamento e habilidade que não tem oportunidades no mercado? E o interlocutor persiste: por que qualificar-se para um trabalho que brevemente se tornará tão arcaico como caçar búfalos?

Numa sociedade urbanizada, onde os búfalos já não perambulam pelas ruas, essa é uma maneira estranha de garantir a sobrevivência, e, mais que isso, inútil. De igual forma, ser um ministro de Jesus Cristo em um mundo secularizado também parece estranho e excêntrico. Por que então, os implacáveis críticos podem concluir, colocar a vida numa ratoeira eclesiástica?

Sim, não me canso de advertir nossos estudantes. Qualquer dia desses eles podem encontrar um cínico empenhado em desanimá-los. É preciso ficar atento para resistir aos ataques, ou, até você, ministro já formado e experimentado, poderá ser achado entre os que se tornaram desobedientes à visão celestial. De fato, por essa razão, gosto de enfatizar a grandeza da vocação ministerial. Em minha opinião, é realmente a maior tarefa que alguém pode realizar no mundo. A despeito dos críticos e juízes, eu insisto que, sem qualquer exagero, a vocação ministerial ainda é o mais importante trabalho da Terra.

O maior bem

Estou bem ciente de que ao insistir em tais afirmações, exponho-me à enxurrada crítica dos céticos do cristianismo institucionalizado. Um deles pode comentar: “Ouçam esta peça de alegação jesuítica por um empregado da indústria da pregação!” Outro pode dizer: “Ele está batalhando duro para garantir seu salário.” Um terceiro crítico pode ainda argumentar: “Talvez ele esteja sofrendo complexo de inferioridade. Depois de tudo, na vasta cordilheira da educação moderna, um lugar como um seminário teológico parece mais baixo que uma pequena colina.”

Apesar disso, parece-me que todo estudante em fase de preparo para o ministério cristão tem o direito de apropriar-se pessoalmente da santa jactância de Paulo em Romanos 11:13: “…eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério.” Aqui está uma vocação que merece ser glorificada em vez de ser diminuída. Um chamado que deve encher aqueles que o receberam de gratidão e santo orgulho. Aqui está uma tarefa que jamais poderá ser tida como demasiadamente exaltada, a tarefa de servir a Cristo vocacionalmente; uma tarefa que é, repito, a mais importante atividade no mundo.

Eu me considero um fanático dessa opinião porque, construído no mais firme fundamento – Cristo Jesus -, o ministério do evangelho ensina a maior verdade, oferece o maior bem, satisfaz as maiores necessidades e encerra a maior esperança. Que outra atividade pode, então, rivalizar com ele?

Qual é, por exemplo, a maior verdade? Será aquela a respeito dos restos fósseis ensinada pelos paleontólogos? Será a verdade que aborda os problemas urbanos, divulgada pelos sociólogos? Ou a que discute os hábitos humanos, ensinada pelos psicólogos? Não. Por mais valiosas e vitais como essas verdades possam ser, elas não são a maior verdade para o homem. Esta é a verdade ensinada pelas Escrituras Sagradas. É a verdade que parte de dois tremendos textos, um do Antigo Testamento e outro do Novo Testamento.

Esses textos são de tal forma significativos que, se eu tivesse autoridade política, mandaria que fossem inscritos em cada biblioteca do nosso país, cada laboratório, nas câmaras legislativas, salas de leitura e de espera. O texto do Antigo Testamento está no livro de Jeremias: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor” (Jer. 9:23 e 24).

O texto do Novo Testamento encontra-se no Evangelho de João: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).

Ignorância

Até que conheçamos a verdade a respeito de Deus, somos realmente ignorantes. Sendo ignorantes em relação a essa verdade, somos ignorantes em relação a nós mesmos; nossa origem, propósito da nossa existência, nossa identidade e nosso destino. Somos ignorantes a respeito da morte e da eternidade. Ignoramos todas as coisas que realmente importam.

Quando somos ignorantes a respeito de Deus, estamos na categoria sobre a qual Paulo lamenta, ou seja, aqueles “que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (II Tim. 3:7). Sem a verdade sobre Deus, nossas interrogações permanecerão sem respostas, apesar da atual explosão do conhecimento. A propósito disso, o jornalista Max Lerner, em seu ensaio intitulado The Revolutionary Frame of Our Time (A Moldura Revolucionária de Nosso Tempo), escreveu alguns anos atrás que os jovens estão atormentados e perplexos por toda sorte de questões.

“Há a questão da emergência: que tipo de personalidade eu posso formar, e em que tipo de sociedade? Há a questão das oportunidades: estou eu dando a outros uma chance para a vida, chances iguais às minhas? Há questões de individualidade: quem sou eu? Quais são os meus laços de conexão com minha família, minha comunidade, meu país, meus semelhantes? Há questões de transcendência: posso eu fazer uma jornada em meu interior, a qual é a mais perigosa de todas as jornadas? Posso eu ousar enfrentar uma tragédia sem ser destruído por ela?

“Há questões de compromisso: posso eu trabalhar e cuidar bem desse assunto? Sou capaz de brincar, de dar e receber amor, de correr riscos por alvos e valores? Posso explorar as profundezas e altitudes do contentamento? Finalmente, existem as questões de nexo: Porventura tem minha sociedade o recheio da coesão? Tenho eu um senso de conexão humana, na clara compreensão de que o que acontece a outros do mesmo modo também acontece a mim?”

Essas são questões muito profundas. No entanto, na longa lista de Max Lerner, nenhuma vez ele mencionou a questão sem a qual toda questão considerada básica pode ser respondida, isto é, a questão a respeito de Deus. Ele existe? É real? O que Ele deseja? Qualquer homem que ignorar essas perguntas é desesperadamente ignorante sobre si mesmo e sobre a realidade. Não admira, então, que Jesus declare: “Eu sou a verdade.”

Oferecendo respostas

Mas, quem ensina essa verdade, que livra qualquer outra verdade da tragédia se degenerar numa fragmentada tolice? Quem a ensina “a tempo e fora de tempo”? O cristão engajado no ministério do evangelho! Essa é a razão pela qual eu glorifico essa vocação, e insisto em que ela é a maior sobre a Terra.

Além disso, a vocação ministerial oferece o maior bem. E qual é, realmente, o maior de todos os bens? A saúde? A alegria? A liberdade? A justiça? A cultura? A beleza? O prazer? A amizade? O sucesso? O poder? Todos esses são grandes valores, acima de qualquer discussão. Cada um deles é um precioso e estimado bem. Mas o maior bem é conhecer Deus através de Jesus Cristo. O maior bem é a alegria proveniente do favor divino. O maior bem é experimentar o perdão de Deus. O maior bem é viver em amizade com Deus. Qualquer pessoa será sempre indigente, se ganhar todos os outros bens debaixo do sol e tiver confiscado de si o supremo bem da vida eterna com Deus, a qual lhe chega somente pela fé em Cristo Jesus.

É necessário, novamente, insistir na questão: quem oferece esse grande bem tanto ao pobre indigente quanto ao materialmente favorecido e rico? Não é outro senão o cristão que, como missionário voluntário, pastor, educador, escritor, evangelista, médico ou capelão, faz parte do ministério evangélico. E essa é a razão pela qual eu insisto em que o ministério é a maior atividade da Terra.

E não apenas isso. O ministério é a mais importante tarefa desempenhada pelo homem, porque ele provê satisfação para a maior necessidade humana. Obviamente, todos têm, em todos os lugares, necessidades cruciais. Algumas tão desesperadoras e urgentes que confundem nossa mente e podem causar um colapso em nosso coração. As pessoas estão famintas: elas necessitam de pão. As pessoas são iletradas; e necessitam de educação. As pessoas vivem oprimidas: necessitam de liberdade. Quão inexpressivamente grandes são essas necessidades!

Mas a maior de todas as necessidades é o conhecimento de Deus em Jesus Cristo. Pois somente Ele pode dar perdão em lugar da culpa, conforto em lugar da tristeza, companhia em lugar da solidão, amor em lugar do ódio, esperança em lugar do desespero, vida em lugar da morte, salvação eterna em lugar da condenação eterna. Jesus Cristo não concede tais bênçãos, entretanto, por algum tipo de mágica espiritual. Ele usa agentes humanos, Seus discípulos e ministros. Eis porque o ministério é a mais significativa vocação.

Minha alusão à esperança provida por Cristo deve-se ao fato de que, à parte do Seu evangelho, a experiência do homem acaba no mais desolador pessimismo e na mais escura melancolia. Napoleão sonhou conquistar o mundo, e morreu no exílio, clamando: “Os grandes homens são como os meteoros que se consomem tentando iluminar a Terra. Chegou minha vez de apagar.” Goethe, aos 75, contemplando as honrarias que tinham sido amontoadas sobre ele, queixou-se: “Minha existência nada foi senão sofrimento e fardo, um perpétuo rolar de uma pedra.” O poeta Byron, mesmo sendo admirado como um gênio, na Europa, confessou: “Meus dias são como folhas amarelas, as flores e frutos do amor já se foram. Apenas o verme, o câncer e o pesar me pertencem.”

Disraeli filosofou que “a juventude é uma bobagem, a masculinidade um conflito, a velhice uma lástima.” O capitão Robert Scott encontrou-se frustrado em sua tentativa de alcançar o Polo Sul e escreveu em seu diário: “Adeus, todos os meus sonhos diários.” Malcolm Muggeridge, decano dos colunistas ingleses, ex-editor de uma revista de humor, aos 66 anos, ridicularizou seus ideais de jovem, denunciando o sonho liberal, largamente alimentado pelo homem ocidental quando não estava envolvido na ferocidade das guerras, como um pesadelo.

Disse ele: “Devo confessar que o sonho é um pesadelo. Não posso crer nele, e, como Cortez, olho com presunção selvagem aqueles que o fazem. Se eu projeto o sonho no futuro, parece não haver resultado: somente uma projeção infinitamente ampliada que desaparece nas cinzas da insignificância – nossa economia expandindo-se ano após ano, duplicando, triplicando e quadruplicando, e a prestação da respectiva dívida subindo; televisão em cores, tridimensional, telas gigantes; veículos cada vez mais modernos, estradas amplas; aviões cada vez mais rápidos, supersônicos: poderosas armas de guerra.”

Uma grande obra

Onde encontrar esperança no mundo? Onde está a esperança para o mundo? Onde encontrar esperança além deste mundo? A única esperança do mundo está em Cristo Jesus, e Ele é a maior esperança. A única esperança do mundo está em Jesus Cristo, nosso Deus que prometeu vir pela segunda vez, pessoalmente, a este mundo para transformar a tragédia humana em uma gloriosa consumação. Nossa única esperança reside em Cristo Jesus, que, como Clemente de Alexandria tão belamente afirmou, “mudará todos os nossos crepúsculos em alvorada”.

Consequentemente, os discípulos que conduzem pessoas a seu Mestre estão engajados no maior trabalho na face da Terra. Eles estão conduzindo peregrinos desesperadamente perdidos na densa selva do mundo a Jesus. É por isso que eu estou absolutamente convencido de que nunca será demais exaltar a vocação ministerial. É por isso que eu glorifico o chamado com que Deus me contemplou e a outros tantos ao redor do mundo, incluindo seminaristas. Por isso também nunca cessarei de maravilhar-me na graça de nosso Senhor e Salvador, nosso Mestre, que nos confiou uma suprema mensagem e sagrada missão.

No King Lear de Shakespeare, o banido Duque de Kent volta disfarçadamente e se oferece, não importando as dificuldades e perigos, para acompanhar o rei. Aí tem lugar o seguinte diálogo:

Lear: – O que desejas?

Kent: – Servir.

Lear: – A quem desejas servir?

Kent: – A ti.

Lear: – Conheces-me o bastante para fazer isso?

Kent: – Não, senhor, mas tens no semblante algo que me faz chamá-lo de Mestre.

Constantemente tenho lembrado aos nossos alunos que temos visto na face de Jesus Cristo algo pelo que também podemos nos dirigir a Ele como Mestre. De modo que meu desafio para eles é este: Possamos nós firmemente recusar descer do alto nível de Seu serviço e assumir qualquer tarefa menor. Respondamos a todas as críticas e pressões seculares com as palavras de Neemias: “Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer (Nee. 6:3).

VERNON C. GROUNDS, Ph.D., diretor do Seminário Batista Conservador, em Denver, Colorado, Estados Unidos