ARTHUR L. WHITE

Secretário, Escritos da Sra. Ellen G. White

Nos relatórios de investigações e descobertas, as notícias fornecidas à imprensa freqüentemente fornecem itens de interêsse incomum à luz das declarações contidas nos escritos da Sra. Ellen G. White, feitas há dezenas de anos. Uns poucos exemplos de acontecimentos recentes são dignos de nota. Comecemos com meados de junho de 1956. Extraímos de Newsweek, seção de Medicina, a seguinte nota muito interessante sôbre o câncer:

“Em Detroit, na semana passada, em reunião da Terceira Conferência Nacional do Câncer, o Dr. Wendell Stanley, virologista da Universidade da Califórnia e Prêmio Nobel, declarou que crê que “vírus causam a maior parte dos cânceres humanos.” Esta teoria não é nova, mas o Dr. Stanley, detentor do Prêmio Nobel pela primeira purificação e cristalização de um vírus, sugeriu novo ataque com a teoria do vírus.

Sabe-se que os vírus podem permanecer no corpo humano durante anos, e até a vida inteira; alguns causam dificuldade, outros não. É possível, declarou o Dr. Stanley, que todos nós sejamos portadores de “vírus de câncer adormecidos.” “Em alguns casos,” expõe o Dr. Stanley, “os vírus de câncer po-dem tornar-se virulentos, por meio de circunstâncias tais como a idade, desregramentos alimentares, descontrole hormonal, agentes químicos, radiação ou uma combinação dêsses fatôres e desenvolver-se a malignidade.” — Newsweek, de 18 de junho de 1956, pág. 102.

A revista Time da mesma data, em reportagem da comunicação do Dr. Stanley na Conferência do’ Câncer, esclarece que, conquanto “por sorte a conferência escutou provas independentes tendentes a confirmar a empolgante teoria do Dr. Stanley”, muitos peritos permaneceram cépticos.

O fator vírus no câncer tem sido um assunto de interêsse para os adventistas do sétimo dia, por muitos anos, em face da declaração incisiva da Sra. Ellen G. White, publicada em A Ciência do Bom Viver, em 1905, que reza:

“O povo come continuamente carne cheia de germes de tuberculose e câncer. Assim são comunicadas estas e outras moléstias.” — Pág. 269.

Quando A Ciência do Bom Viver saiu do prelo em sua primeira edição, na língua inglêsa, estas declarações não produziram sensação, porque virtualmente nenhuma espécie de estudo estava sendo feita no tocante ao câncer, à sua causa e transmissão. Vinte a trinta anos mais tarde, acuradas pesquisas levaram as autoridades médicas a anunciar que o câncer não era moléstia de origem microbiana. Confessavam abertamente que não sabiam o que causava o câncer, mas de uma coisa estavam certos: de que o câncer não era transmitido por um germe ou vírus.

Em vista da referência clara e inalterada da Sra. Ellen G. White quanto aos “germes de câncer,” esta positiva declaração científica foi desconcertante para alguns adventistas do sétimo dia. Alguns, de maneira como que contrita, sugeriram a possibilidade de que, por ser desconhecedora da ciência médica, a Sra. Ellen G. White houvesse empregado a palavra “germe” de maneira muito geral, no sentido de uma causa, mas não propriamente de um germe. Outros houve que, mais ousadamente, declararam que, na qualidade de leiga, a Sra. Ellen G. White não devia haver tido a ousadia de entrar no campo da Medicina, e que êsse exemplo demonstrava a pouca confiança que se podia depositar em seus escritos sôbre assuntos médicos. Outros mais sugeriram que se esperássemos pacientemente, o tempo viria, sem dúvida, trazer uma resposta para o problema. Êsses haviam visto cientistas eminentes, em mais de uma ocasião, por meio de seus novos descobrimentos, transtornar, sem constrangimento, da noite para o dia, afirmações aparentemente irrevogáveis.

Por êste motivo é que notícias tais como a de 18 de junho, são-nos uma fonte de interêsse especial. Naturalmente, a circunstância de o Dr. Stanley haver apresentado sua conclusão perante a Conferência Nacional do Câncer não indica ser essa a última palavra nem que o mundo médico aceite agora a idéia de que o câncer humano é moléstia proveniente de um vírus. O Dr. Stanley, porém, não está sozinho em suas opiniões que ligam o câncer a um vírus, e a imprensa, com crescente freqüência, noutras publicações dêste mesmo ano, tem apresentado declarações significativas que reconhecem o fator vírus como causa do câncer.

Não há dúvida hoje no mundo científico quanto ao fator vírus no câncer das galinhas, pois êsse vírus foi isolado e usado para infetar outras galinhas. Sabido é que êsse vírus, transmitido da galina para o ôvo e dêste para o pinto que dêle provém, propaga a moléstia, bastante disseminada entre as aves hoje em dia. O problema no mundo científico é quanto ao câncer nos sêres humanos.

Fatôres no Aparecimento do Câncer

Sugere o Dr. Stanley que os vírus do câncer, que podem “permanecer dormentes no corpo hu-mano durante anos, e até a vida tôda,” podem tornar-se virulentos por meio de circunstâncias tais como (1) “a idade,” (2) “indiscrições alimentares,” (3) “descontrole hormonial,” (4) “agentes químicos,” (5) “radiação ou uma combinação dêsses fatôres.” Para o atento estudioso dessas mensagens especiais da serva do Senhor, esta enumeração contém muitos aspectos interessantes, porquanto, em quatro ou cinco pontos, verificamos íntima analogia com as declarações da Sra. Ellen G. White, algumas das quais escritas em data bastante antiga. Examinemos êsses pontos e observemos sua analogia com as declarações publicadas nos folhetos e livros da Sra. Ellen G. White.

1. “A idade.” “Em alguns casos,” expõe o Dr. Stanley, “os vírus de câncer podem tornar-se virulentos, por meio de circunstâncias tais como a idade.”

Ellen G. White escreveu em 1864: “O humor canceroso, que permanecería latente no organismo a vida tôda, é inflamado, e começa seu trabalho corroedor, destrutor.” — Appeal to Mothers, pág. 27.

  • 2. “Indiscrições alimentares.” Desde os primeiros anos tem os escritos de Ellen G. White ligado o câncer à alimentação incorreta. A primeira dessas declarações foi publicada em Spiritual Gifts, Vol. IV, em 1864, no primeiro artigo da Sra. White que abordava o assunto da saúde. Neste caso, “os humores cancerosos’ estão associados ao uso da carne de porco. (Ver a pág. 146.) Em algumas ocasiões a seguir, Ellen ligou o uso do alimento cárneo com o câncer, em declarações como a citada, de A Ciência do Bom Viver, escrita em 1905, e as três seguintes. Em 1875 escreveu ela estas pala-vras:

“A alimentação cárnea constitui o alimento primordial de certas famílias, o que favorece a formação de tumores cancerosos e escrofulosos.” — Lições Sôbre o Dom do Espírito de Profecia, pág. 124.

Em 1896, escreveu ela:

“Cânceres, tumores e tôdas as doenças inflamatórias são grandemente causadas por comer carne. Pela iluminação que Deus me tem dado, a ocorrência de cânceres e tumores é grandemente devida à predominância da alimentação cárnea.” — Medicai Ministry, pág. 278.

Também, perante a assembléia da Associação Geral, em 1909, Ellen White declarou:

“Se o comer carne foi alguma vez saudável, não o é agora. Cancros, tumores e enfermidades pulmonares são causados em sua maioria por comer carne.” — Lições Sôbre o Dom do Espírito de Profecia, pág. 134.

Assim, as declarações de Ellen G. White feitas num período de quase cinqüenta anos ligam o câncer com os hábitos alimentares. Notemos, também, que quanto às causas do câncer, Ellen G. White reconhecia outros fatôres além do uso da carne.

  • 3. “Descontrole hormonal.” Escrevendo acêrca “do que me foi mostrado” como disse, Ellen G. White, em 1864 em Appeal to Mothers, falou da prática da “satisfação dos sentidos” (masturbação) por crianças e jovens como o fundamento de “humores cancerosos” (pág. 18). Esta antiga declaração adquire significação extraordinária à luz dos mais recentes estudos do sistema endócrino com seu delicado equilíbrio hormônico. E eis que o Dr. Stanley designa o “desequilíbrio hormônico” como um dos fatôres que, na sua opinião, podem ativar os vírus do câncer, latentes no organismo humano.
  • 4. “Agentes químicos.” Uma vez mais volvemos às antigas declarações de autoria de Ellen G. White, no ano 1865, quanto à ligação entre o câncer e o uso de certas drogas. Citamos suas palavras contidas em How to Live, N°. 3, em que lhe foram apresentados casos, dos quais três mostravam os efeitos de certas espécies, então chamadas de medicações por meio de drogas.

O terceiro caso me foi novamente apresentado. … O inteligente cavalheiro anteriormente citado, contemplou com tristeza o doente, e disse: — “Isto é a influência de preparações mercuriais. … Isto é o efeito do calomelano. Tormenta o organismo enquanto nêle houver uma partícula. Êle sempre vive, não perdendo suas propriedades pela longa permanência no organismo vivo. Inflama as juntas, e muitas vêzes produz o apodrecimento dos ossos. Freqüentemente se manifesta em tumores, úlceras e cânceres, anos depois de haver-se introduzido no organismo.” — Disease and Its Causes, págs. 55-59.

Esta declaração foi publicada faz agora noventa e dois anos.

Muita pesquisa ainda está por ser feita no terreno do câncer. Os cientistas de todo o mundo estão-se dedicando a esta tarefa com um fervor bem justificado pelo repto da doença: Justamente o que virão a ser os resultados, não tentaremos dizer mas os adventistas do sétimo dia, conhecedores das declarações de Ellen G. White no tocante ao câncer, examinarão com intenso interêsse os relatórios dêsses descobrimentos, e seus pontos que confirmam nossa crença.

O Sal

Do câncer, com suas horrendas conseqüências, voltemo-nos para o sal — o simples sal de mesa. Neste ponto, também, uma interessante notícia da imprensa corrobora as declarações feitas por Ellen G. White, há meio século. Citamos de Time, seção de Medicina, um item que aparece na coluna de Relatórios de Progresso:

Os cientistas do Laboratório Nacional da Brookhaven em experimentos feitos em empregados, verificaram que de 135 que nunca adicionavam sal ao alimento apenas um teve alta pressão inexplicável; de 630 que adicionavam sal depois de provar o alimento, 43 sofriam da doença; entre 581 que sempre adicionavam sal independentemente de provarem o alimento, 61 a tinham. — 30 de abril de 1956, pág. 64.

Newsweek fêz menção dessa experiência, declarando que “o uso de muito sal, começado desde cedo na vida, e praticado por muitos anos, pode produzir hipertensão (alta pressão do sangue).” 30 de abril de 1956, pág. 75. Talvez isto faça alguns adventistas do sétimo dia lembrarem-se de uma declaração de A Ciência do Bom Viver, publicada em 1905: “Não useis sal em quantidade.” — Pág. 261.

Suponho que esta advertência de A Ciência do Bom Viver tenha sido desprezada por muitos. Alguns talvez a tenham considerado uma noção mui-to estranha, especialmente à luz das pesquisas que indicavam a necessidade de sal no organismo. Mas a prova feita no Laboratório Nacional de Brookhaven parece indicar que há boas razões para a advertência escrita pela mensageira do Senhor: “Não useis sal em quantidade.”

A propósito, o sal tem sido um assunto interessante para os adventistas do sétimo dia durante muitos anos. Nos primeiros tempos, quando nos estávamos iniciando no caminho da reforma pró-saúde, depois de têrmos começado a publicar uma revista de saúde e fundado uma instituição em Battle Creek, foi prestada alguma atenção a êste assunto. Os adventistas haviam, felizmente, descoberto nos escritos do Dr. R. T. Trail, um médico progressista que naquele tempo liderava grandes reformas em sentido muito apreciado; muita coisa que lhes foi proveitosa na sua aplicação aos princípios revelados em visão a Ellen G. White. Começaram a confiar muito no Dr. Trail, e artigos seus apareciam freqüentemente em nossa revista The Health Reformer. Depois foi convidado para responsabilizar-se por uma das seções da revista.

Infelizmente, com o tempo, o Dr. Trail inclinou-se mais para o extremismo em alguns pontos, especialmente quanto ao sal, o açúcar e os laticínios. Em resposta a consultas médicas, em 1869, alguns dêsses extremismos figuraram em nossa revista. Note-se a seguinte:

Pergunta: “Considerais o sal prejudicial quando usado moderadamente no alimento? Ou será melhor evitá-lo?”

Resposta: “Como veneno que é, não deve o sal ser usado de maneira alguma.” — The Health Reformer, de julho de 1869, pág. 19.

Essa atitude extremista foi corroborada por outros autores e apoiada pelo redator, um sincero leigo adventista do sétimo dia que, em editorial, aconselhou:

“Se tendes usado sal, temperos, manteiga, leite, etc., reduzi a quantidade dêsses artigos até verificardes ser fácil abandoná-los inteiramente.” — Idem, 1870.

Esta atitude extremista quanto ao sal levou a dificuldades os que buscavam pôr em estrita prática o ensino que, a propósito, o próprio redator de The Health Reformer não seguia.

Nesse ínterim Ellen G. White interveio, advertindo contra os extremismos que prejudicariam a causa da verdadeira reforma. No tocante ao “sal, açúcar e leite” escreveu ela, então, “o livre uso destas coisas é positivamente prejudicial à saúde.” “Presentemente não estamos preocupados com estas coisas.” — Testimonies, Vol. III, pág. 21.

E deve ter sido à experiência daquela época que se referiu Ellen White em 1901, ao escrever a um de nossos médicos:

“Certa vez o Dr. . . . buscou ensinar nossa família a cozinhar em conformidade com a reforma pró-saúde, segundo êle a compreendia, sem sal nem tempêro nenhum para condimentar o alimento. Bem, eu resolvi experimentar, mas de tal modo me faltaram as fôrças que tive que modificar; e regime diferente foi adotado com grande êxito. Digo-vos isto porque sei que estais em verdadeiro perigo. Deve o alimento ser preparado de maneira tal que seja nutritivo. Não deve êle estar privado daquilo que o organismo necessita …”

“Eu uso um pouco de sal, e sempre o tenho usado, porque, segundo a iluminação que Deus me concedeu, êste artigo, em lugar de ser prejudicial, é essencial para o sangue As causas e as razões disto eu não as sei, mas transmito-vos a instrução tal como me foi concedida.” — Counsels on Diet and Foods, pág. 344.

Ellen White possuia conhecimento pormenorizado da química orgânica. De fato, os cientistas pouco conhecimento tinham da química orgânica quando lhe foi transmitido a ela que o sal é indispensável para o sangue. Ela esclareceu bem que isso não era nenhuma noção de especulação humana, mas Deus lhe concedera instrução clara. Reconheceu sinceramente que o motivo exato por que o sal é indispensável para o organismo ela não o sabia, mas o fato de Deus lhe haver concedido iluminação era suficiente. Próximo do fim de seu ministério, em 1909, em assembléia da Associação Geral, ela uma vez mais se referiu ao sal:

“Eu uso sal e sempre o usei, porque o sal, em vez de produzir efeito deletério, é realmente essencial para o sangue.” — Test. Sel. [Ed. mundial], Vol. III, pág. 362.

Assim, também neste ponto os conselhos sensatos concedidos aos adventistas do sétimo dia nos anos primitivos, recomendando o uso de sal, mas advertindo contra o seu excesso, são corroborados pelas pesquisas hodiernas.

(Continua no próximo mês)