O artigo “Chaves do sucesso” (p. 14) discorre sobre cinco hábitos ou disciplinas dos pastores altamente eficazes. O segundo hábito fala da necessidade de manter íntimo relacionamento com Deus por meio do estudo da Sua Palavra, entre outras coisas. Mas quero falar sobre um sexto hábito muitas vezes negligenciado entre nós, ministros do Senhor. É claro que o principal livro de estudo de todo pastor e teólogo é a Bíblia. Nenhuma ferramenta teológica é capaz de substituir nem suplantar o estudo particular, profundo e metódico das Escrituras. Os pioneiros adventistas eram, fundamentalmente, teólogos da Palavra. Eles dedicavam dias e até mesmo noites inteiras para estudar a Bíblia, nada mais do que a Bíblia.

Eles eram ávidos leitores e dominavam muitas das ferramentas teológicas, mesmo sem ter recebido treinamento formal em um seminário. Por exemplo, eles tinham profundo conhecimento dos acontecimentos da história mundial, tanto para entender o cumprimento das profecias quanto para demonstrar as razões históricas da mudança do sábado para o domingo. Eles também tinham conhecimento filosófico. Rejeitaram a doutrina da imortalidade da alma porque entenderam que ela estava contaminada com as pressuposições filosóficas gregas vindas do neoplatonismo.

Ellen White foi uma grande leitora. Isso pode ser constatado pelo tamanho de sua biblioteca. Na verdade, ela possuía três bibliotecas: uma em seu escritório, à qual seus assistentes literários tinham acesso; um acervo pessoal e uma biblioteca com 572 volumes que ela comprou de C. C. Crisler, em 1913. Entre os mais de 1.500 títulos encontram-se muitos livros sobre teologia, história, homilética e arqueologia.

John Andrews também tinha uma extensa biblioteca, com aproximadamente 650 títulos. A maioria deles eram obras teológicas, históricas, arqueológicas e linguísticas. Embora boa parte de seus livros estivessem em inglês, também havia muitos em francês, alemão, mais de ١٠٠ trabalhos em latim e vários em árabe, grego, hebraico e português. As anotações encontradas em seus livros revelam que ele dominava a teologia, a história e as línguas bíblicas. Seu nível de erudição era tal que, quando a Igreja Adventista precisou escolher um nome para sua primeira universidade, a comissão administrativa não hesitou em colocar o nome de “Universidade Andrews”.

Sem dúvida, Andrews foi alguém que se identificou com a prática pastoral e a missão da igreja. De fato, ele foi o primeiro missionário oficialmente enviado pela Igreja Adventista a terras estrangeiras. Ellen White não estava equivocada quando, em 1878, escreveu aos irmãos na Suíça: “Enviamos a vocês o homem mais talentoso de todas as nossas fileiras.”

Acredito sinceramente que haja uma relação direta entre os hábitos de leitura de John Andrews e a descrição que Ellen White fez dele como o mais talentoso entre as fileiras adventistas. Seu desejo de aprender, de se destacar, e de realizar todas as suas tarefas com excelência o levou a buscar conhecimento nos livros. Aliás, o caso de Andrews rompe com o mito de que a teologia está desconectada da realidade e da missão. Ele foi o erudito mais brilhante entre os pioneiros, mas também foi o primeiro missionário a aceitar ser enviado para o exterior.

Um dos autores mais preeminentes do século 20, Jorge Luís Borges, disse: “Deixe os outros se vangloriarem das páginas que têm escrito; a mim me orgulha as que leio.” Certamente, sua genialidade como escritor estava intimamente vinculada à sua avidez como leitor.

Incorporemos esse sexto hábito à nossa vida ministerial, principalmente, o da leitura metódica da Palavra de Deus. Mas também de livros teológicos e de outras áreas, e nossa identidade e missão como pastores do rebanho serão fortalecidas. 

“O caso de John Andrews rompe com o mito de que a teologia está desconectada da realidade e da missão. Ele foi o erudito mais brilhante entre os pioneiros, mas também foi o primeiro missionário a aceitar ser enviado para o exterior.”

Marcos Blanco, doutorando em Teologia, é editor da revista Ministério, edição em espanhol