vocação ou carreira? Profeta ou profissional? Sacerdote ou guru? Convicção ou complacência? Afinal, por que nós somos ministros? Por que estamos, você e eu, fazendo este trabalho? O que realmente nos leva a priorizá-lo? O que nos conserva executando-o? Mais desafiador ainda, o que consideramos ser, de fato, o coração do ministério pastoral?

“O que eu mais odeio é a apavorante e sistemática trivialização do trabalho pastoral. É parte de uma trivialização maior, da própria cultura, tão vasta e epidêmica que existem dias em que sua ruína parece assegurada. Embora em outros dias, nós captemos um vislumbre de glória – um homem aqui e uma mulher ali determinados a viver nobremente.”

O chamado é santo porque tem origem no coração de Deus.

Com essas palavras, Eugene Peterson retoma a idéia da santidade vocacional. Nesse contexto, ele fala de “pastores forjando uma identidade vocacional tirada de modelos que eles recebem dos principados e poderosos” ao seu redor. Tais modelos, ele continua, “foram fortes em poder (fazendo as coisas acontecerem) e na imagem (aparentemente importantes). Mas nenhum deles pareceu congruente com o chamado que eu senti dentro de mim mesmo”.

Em suma, o chamado está baseado no fato de que ele mesmo, mais que o próprio ministro, é santo. Isso não é nada novo; mas, considerando que esteve esquecido durante os últimos 30 anos, ou mais, é um conceito que estava em decadência. Nosso chamado é genuinamente santo, porque foi feito pelo próprio Deus.

Devemos insistir no reconhecimento de que o chamado ao ministério, nosso chamado, é santo; algo que foi originado no coração de Deus. Todavia, pouco a pouco, correndo no ritmo do conhecimento e da visão imediatista, o pastor se torna sujeito a desenvolver facilmente um ministério de minúcias e trivialidades, um mero profissionalismo, simples-mente um emprego, apenas mais uma outra profissão. Eu não desejo, definitivamente, roubar o ministério de sua relevância. Meu maior desejo é que meu coração sempre pulse com a convicção de que Deus me chamou para fazer o que atualmente estou fazendo em meu ministério.

Algum tempo atrás, eu estava conversando com um dos meus colegas de pastorado; um companheiro a quem muito admiro e respeito. Aqueles momentos que passamos juntos foram muito inspiradores para mim. Ele simplesmente falou a respeito da profunda consciência que ele possui no sentido de que, quando se levanta para pregar, em qualquer lugar, é Deus quem inspira sua alma com um conteúdo particular, para aquela congregação particular, naquele momento particular. Ele disse sentir que é Deus quem o envia para falar àquelas pessoas, naquele tempo. Há alguma coisa magnificente e verdadeira na convicção que esse companheiro partilhou comigo.

Ezequiel possuía tal convicção. Ele não podia fazer meramente sua própria vontade. Seu trabalho era o trabalho indicado pelo Espírito. “Então entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava… Eles [a congregação de Ezequiel], quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta. Tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras, ainda que haja sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles… Eis que fiz duro o teu rosto contra o rosto deles, e dura a tua fronte, contra a sua fronte. Fiz a tua fronte como o diamante, mais dura que uma pederneira; não os temas pois…” (Eze. 2:2-3:9)

Há uma questão indicativa da nossa qualificação para continuar exercendo a vocação a nós confiada. Ela parece estar assinalada na fronte de todos quantos hoje se intitulam clérigos. E tem a ver com nossa credibilidade. A grande questão é: quão profunda e real é a nossa conscientização da santidade do nosso chamado? Não somos atores, não somos profissionais envolvidos em negócios terrenos. Nossa tarefa tem dimensões eternas, celestiais, altamente espirituais.

Onde quer que atuemos, o que quer que façamos, precisamos pensar e agir em conformidade com a nobreza dessa vocação. Deixemos que Deus nos guie no oceano da vida, direcionando com sabedoria o curso da nossa embarcação ministerial. Ele sabe como nos desviar dos obstáculos, procelas e ondas que ameaçam a nossa integridade vocacional.