Nossa convicção é que a única esperança de salvação da humanidade está na imerecida bondade de Deus. Cremos que nenhum empenho nem esforço humano, nem obras de justiça praticadas por nós podem granjear-nos algum mérito diante de Deus. Cremos também que Deus faz por nós o que não podemos fazer por nós mesmos e que em Jesus Cristo Ele destruiu o domínio do pecado e da morte, tornando a salvação acessível a todos. Por meio da cruz Deus reconciliou consigo um mundo pecaminoso; agora Ele oferece a toda pessoa Sua dádiva da salvação.

Se quisermos compreender o plano bíblico da salvação precisamos reconhecer primeiro nossa premente necessidade. Embora, às vezes, homens e mulheres individualmente, e a sociedade em geral, pratiquem nobres ações, da perspectiva divina estamos condenados, individual e coletivamente. Somos rebeldes de coração e rebeldes em nossas ações; até mesmo nossos atos de justiça são como “trapo da imundícia” à vista de Deus (Ver Isa. 64:6). Conquanto nossos primeiros pais tenham sido criados à imagem divina, essa imagem se desfigurou: “Toda a cabeça está doente e todo o coração enfermo.” Isa. 1:5. Quando o olhar perscrutador de Deus examina a raça humana, o veredicto é o seguinte: “Não há justo, nem sequer um…, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Rom. 3:10 e 23.

A lei também não pode ajudar-nos. Mesmo que procurássemos justificar-nos diante de Deus pela meticulosa conformidade com os seus preceitos, não alcançaríamos o alvo. Jesus, elucidando a lei, mostrou que ela esquadrinha até nossos motivos e atitudes, e nossos desejos secretos (ver S. Mat. 5:17-48). Ele revelou que no âmago da lei está o amor — supremo amor a Deus e amor a nosso próximo como a nós mesmos (ver S. Mat. 22:34-40). Assim, a lei requer um padrão que nâo podemos atingir; em vez de salvar-nos, ela expõe nossa insuficiência. “Visto que ninguém será justificado diante dEle por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” Rom 3:20.

Confessamos que sem Deus estamos perdidos (ver S. Luc. 15). Estamos afastados de Deus, uns dos outros e de nosso ambiente. Não fazemos o que deveriamos ou gostaríamos de fazer; e, sim, o que não devemos fazer. Não somente estamos em falta no tribunal de Deus, mas somos escravos do pecado, tanto por dentro como por fora (ver Rom. 7:14-23; 6:17). Por mais desagradável que seja esta descrição para as pessoas modernas, ela constitui, porém, a representação bíblica da condição humana. Unicamente quando sentimos este estado desesperador e nossa premente necessidade de ajuda fora de nós mesmos, é que podemos apreciar o meio de salvação.

O segundo grande fato da salvação é o seguinte: Deus nâo nos deixa na situação em que nos encontramos. Aproxima-Se de nós e nos oferece Sua salvação. Realiza por nós o que não podemos fazer. Ele nos liberta da culpa, da condenação e do domínio do pecado.

Em toda a Escritura, Deus toma a iniciativa de salvar homens e mulheres. A primeira pergunta da Bíblia foi feita por Ele, e dirigida a nossos primeiros pais, quando se escondiam de Deus: “Onde estás?” Gên. 3:9. Desde a primeira fuga de Adão e Eva, nós também estamos fugindo; Deus ainda está chamando desde o Seu primeiro chamado. Yahweh interveio para libertar as tribos dos hebreus que se encontravam em escravidão (ver Êxo. 3:6-10); Ele também as trouxe de volta do cativeiro babilônico (ver II Crônicas 36:22 e 23).

O supremo ato de Deus está, porém, em Jesus Cristo. “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” S. João 3:16. A Palavra eterna, Aquele que sempre foi e sempre será plenamente Deus, Se fez carne, armando Sua tenda entre nós (ver S. João 1:1, 2 e 14). Ele não procurou egoistamente reter Sua posição, mas assumiu “a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homens” (Filip. 2:6 e 7). Como um de nós, participou de nossas tristezas, suportou nossas provações, experimentou nossos cuidados e necessidades, e foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança” (ver Heb. 2:18; 4:15). No entanto, em toda tentação mante-ve-Se sem pecado; era um “cordei-ro sem defeito e sem mácula” (I S. Ped. 1:19).

Grandiosa como era a vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, ela apontava inevitavelmente para o Calvário. Para opor-Se ao mistério do pecado, Deus proveria o Mistério da Cruz. Na colina do Gólgota, Ele tomaria sobre Si mesmo a punição de nosso pecado, experimentando a desolação e o desespero da “segunda morte” (Apoc. 20:6). Eis o testemunho da Escritura: “Cristo morreu pelos nossos pecados.” I Cor. 15:3. Ele sofreu a morte que nos pertencia para que pudéssemos receber a vida que era Sua. “Àquele que não conhecia pecado, Ele O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus.” II Cor. 5:21.

Para nós a Cruz é central. Constitui o momento decisivo da História, quando Deus manifestou Seu juízo sobre o pecado, mas proveu salvação para o mundo. Cremos na morte vicária, expiatória e reconciliadora de Jesus Cristo. Em virtude da Cruz, Deus pode ser justo e também o Justificador do homem ou da mulher que crê em Jesus (ver Rom. 3:21-26). Admirados com a maravilha do amor que redime, exclamamos com S. Paulo: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”! Gál. 6:14.

Na Cruz Deus reconciliou o mundo consigo. Ele não relutou em salvar a humanidade perdida; antes, o plano da salvação em Jesus Cristo resultou de Sua iniciativa: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões.” II Cor. 5:19. Antes que fizéssemos qualquer movimento em Sua direção, Ele já abrira a porta do livramento; “Cristo… [morreu] por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8). Assim como todos estamos “em” Adão, o ancestral da raça humana, Deus quer que estejamos “em” Cristo, o segundo Adão e Aquele cuja vida de justiça e morte expiatória inverteram o dano da Queda (ver I Cor. 15:22; Rom. 5:12-21).

Cremos que a salvação de Deus em Cristo Jesus é provida para todo homem e mulher, menino e menina, na história humana. Deus não tem favoritos; Ele não quer “que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (II S. Ped. 3:9). A todo pecador Ele faz o convite: “Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei.” S. Mat. 11:28-30. Nenhuma distinção de raça, sexo, idade, educação ou posição social pode impedir uma pessoa de receber a dádiva da salvação de Deus em Jesus Cristo. Ele deseja que todos sejam salvos (ver I Tim. 2:4).

Embora Deus tenha feito plena provisão para a salvação do mundo, Ele não impõe Sua dádiva aos homens e mulheres. Sua natureza é amor, e almeja receber uma amorosa resposta de nossa parte — a resposta da fé. “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” Heb. 11:1. Fé é confiança em Deus; é aceitar o que Ele afirma, volvendo-nos de nossa justificação própria para a Sua justificação.

Mas, até mesmo a fé provém de Deus. Ele envia o Espírito Santo para convencer o mundo “do pecado, da justiça e do juízo” (S. João 16:8-11), despertando dentro de nós o anseio de chegar-nos a Deus. Habilita nossa vontade para escolher o bem: em vez de rebelar-nos contra Deus ou fugir dEle, Volvemo-nos para Sua Pessoa que está com os braços estendidos para dar-nos as boas-vindas. O Espírito nos impressiona especialmente por meio da Palavra de Deus (ver Rom. 10:17). Assim, embora seja imparcial no oferecimento de Seu Dom inefável, Deus respeita nossa liberdade de escolha; a salvação provém inteiramente dEle. “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efés. 2:8. No manto da justiça de Cristo, trajado pelos remidos, não há um só fio de invenção humana.

Cremos que a salvação abrange tanto aspectos objetivos como subjetivos. Os primeiros denotam nossa nova posição diante de Deus e os últimos, a transformação de nossa experiência.

Cremos na justificação só pela graça e só mediante a fé. Esta fórmula histórica expressa o que Deus realiza por nós em Jesus Cristo. Constitui a boa nova de que, pela Cruz, somos absolvidos no tribunal da justiça divina. “Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados…. O Senhor fez cair

Conquanto este aspecto objetivo da salvação seja eficazmente expresso pelo modelo de justificação do tribunal da lei, a Escritura fornece outras ilustrações de nossa nova condição. Somos perdoados (ver I S. João 1:9), resgatados (ver I S. Ped. 1:18 e 19), reconciliados (ver Rom. 5:10), lavados (ver I Cor. 6:11) e adotados como filhos e filhas do Deus vivo (ver Rom. 8:15). Outrora estávamos perdidos; agora fomos achados. O filho pródigo retornou ao lar (ver S. Luc. 15:11-32).

A dádiva da salvação não somente nos concede uma nova posição, mas também é transformadora. Quando nos volvemos de nossa própria justiça para a justiça de Deus, somos “convertidos” (ver Isa. 6:10); nossas atitudes e desejos recebem nova orientação e “nascemos de novo” (ver S. João 3:3-8). Somos libertos do reino do mal, resgatados do domínio do pecado: “Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo vieste a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” Rom. 6:17 e 18. Portanto, cremos que a dádiva da salvação de Deus não somente opera por nós, mas também em nós.

Como filhos e filhas resgatados por Ele, temos uma nova atitude para com a lei divina. Ela não mais se opõe a nós para condenar-nos, nem procuramos obter algum mérito por meio de escrupulosidade servil (ver Rom. 7:7-11). Antes, o Espírito Santo escreve os preceitos celestiais em nosso coração (ver Jer. 31:31-34; Heb. 8:10). Dizemos com nosso Senhor: “Agrada-Me fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; dentro em

Temos a convicção de que a experiência da salvação redunda em boas obras. “Somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras.” Efés. 2:10. Tais obras não são a base, mas o “fruto” de nossa salvação. Estando unidos a Jesus, a Videira, nossa vida refletirá a beleza de Seu caráter (ver S. João 15:1-5). Contemplando diariamente Sua glória, somos transformados na Sua própria imagem (ver II Cor. 3:18). Cremos que cristianismo é uma relação transformadora com um Salvador e Senhor que vive.

Por conseguinte, o indicativo da dádiva de Deus é acompanhado pelo imperativo de uma vida santa. Devemos tornar-nos o que somos, isto é, viver na íntegra a nova vida que é nossa em Cristo Jesus (ver I Cor. 5:7). Não ousamos menosprezar “tão grande salvação” que chegou até nós (Heb. 2:3). O privilégio da dádiva divina requer uma responsabilidade proporcional; devemos ser “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual [resplandecemos] como luzeiros no mundo” (Filip. 2:15).

Queremos deixar claro, porém, que tendo começado a vida cristã pela fé, não confiamos depois disso em nossa própria força. A maneira pela qual recebemos a Cristo é também a maneira pela qual vivemos em Cristo: pela graça, mediante a fé. “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle.” Colos. 2:6. Diariamente devemos dar tudo e receber tudo — dar inteiramente a nós mesmos, pela fé, e receber Sua nova vida. Cremos no contínuo ministério do Espírito Santo, o qual habita em nós como Paracleto de Cristo, para nos guiar, fortalecer e animar (ver S. João 14:13, 16-18 e 26; Efés. 3:16).

Não cremos que nossa aceitação inicial da dádiva da salvação de Deus assegure que não possamos perder-nos. Tendo começado bem, podemos recuar. Deus nunca nos abandonará — Ele não permitirá que alguém nos arrebate de Sua mão (ver S. João 10:28) — mas nós podemos abandoná-Lo. O Senhor não nos compele a continuar sendo Seus, como também não nos compele a tornar-nos Seus. De modo que encaramos com seriedade as reiteradas admoestações da Escritura para perseverarmos no caminho da vontade de Deus, a fim de não cairmos da graça (ver I Cor. 9:26 e 27; Heb. 6:4-6; 10:26-31).

Essa boa-nova da dádiva da salvação de Deus está bem no âmago do conceito que temos de nossa missão. Nós nos consideramos comissionados para pregar o “evangelho eterno” a um mundo que está na iminência do fim (ver Apoc. 14:6 e 7). Numa época de vida descuidada e indiferente, lembramos aos homens e mulheres as reivindicações da lei de Deus que os tornam culpados diante de Deus e sujeitos a Seu julgamento. Mas, ao fazer isso, nós chamamos sua atenção para Jesus, o qual viveu para nós e morreu em nosso lugar, a fim de remover a condenação e libertar-nos do poder do pecado. Ele é nosso Irmão, nosso Mediador, nosso Juiz, nosso Salvador e nosso Senhor!

E o melhor ainda está para vir! Aquele que nos salvou e a Quem agora apenas conhecemos pela fé, voltará em breve (ver S. João 14:1-3). Então O veremos face a face, e estaremos para sempre com Ele. Tomaremos parte no coro de Aleluia, no Céu, cantando: “Digno é o Cordeiro, que foi morto”! Apoc. 5:12.

William G. Johnsson, redator associado da Adventist Review, Washington, D.C.

“Um Advogado para com o Pai.” A mediação de Cristo nos confere a certeza da expiação e eliminação completa do pecado. Esta fase do ministério divino em prol do homem torna eficaz o supremo sacrifício da cruz.