Nascida em um lar cristão, na cidade de Curitiba, PR, aos sete anos, a irmã Evelyn Nagel mudou-se com sua família para Porto Alegre, RS, onde seus pais foram batizados na Igreja Adventista. A decisão foi tomada durante uma campanha evangelística dirigida pelo Pastor Walter Schubert. Fez os estudos fundamentais na capital gaúcha, e o segundo grau no antigo Colégio Adventista Brasileiro, hoje Instituto Adventista de Ensino, em São Paulo. Aí conheceu o então seminarista Ruy Nagel, com quem se casou quando ele cursava o 4º ano de Teologia.

Durante anos, dedicou-se aos afazeres domésticos e às atividades da igreja, ao lado do esposo. Posteriormente trabalhou na Escola Radiopostal da União Norte-Brasileira, desempenhou várias funções no Hospital Silvestre, enquanto o Pastor Nagel servia como tesoureiro nesses setores da Igreja.

Na Divisão Sul-Americana, trabalhou no setor de contabilidade e no Departamento Pessoal, além de ajudar voluntariamente no grupo de Candangolândia, DF.

Nesta entrevista, concedida via internet a Ministério, a nova líder da Área Feminina da Associação Ministerial, Afam, partilha suas idéias e dá conselhos às esposas de pastores do território da Divisão Sul-Americana.

Ministério: Qual o seu sentimento ao ser nomeada para liderar as atividades da Afam na Divisão Sul-Americana?

Evelyn Nagel: Liderar a Afam na Divisão Sul-Americana é um grande desafio. Somente o aceitei depois de muita oração e meditação. Continuo pedindo que Deus me oriente a fim de que eu possa ser uma bênção, ajudar e animar outras senhoras. De qualquer modo, gosto de estar envolvida no trabalho de Deus.

Ministério: O que significa para a senhora ser esposa de pastor?

Evelyn Nagel: Ser esposa de pastor é uma decisão que precisa ser bem pensada antes de ser assumida; pois é um grande privilégio poder dedicar a vida exclusivamente à pregação da mensagem ou no trabalho para Deus em todos os níveis. Não digo que seja difícil, mas a tarefa envolve muitas responsabilidades. Por isso, quem estiver pensando em casar com um pastor deve orar muito e pensar no grande envolvimento que deverá ter com a Igreja.

Ministério: Quais são os maiores desafios que uma esposa de pastor enfrenta?

Evelyn Nagel: Acredito que as diversas transferências que envolvem o trabalho do pastor, formar novas amizades em cada lugar, deixar a família para viver em lugares distantes e algumas vezes remotos. Há também a expectativa de como será aceita em seu novo local de trabalho, especialmente quando vamos substituir alguém que as pessoas não gostariam que fosse substituído. Mas talvez a parte mais importante e crucial é ajudar o esposo a não perder o senso de missão. Não importa a função que ocupe, ele nunca pode perder de vista que o principal objetivo da sua vida é a pregação do evangelho.

Ministério: No contexto secularista da atualidade, quais, a seu ver, são as grandes ameaças à família do pastor?

Evelyn Nagel: Um dos grandes problemas é a educação dos filhos. O mundo atual está muito diferente, com prerrogativas que não existiam no passado e que trazem preocupação aos pais. Como disse alguém, “o mundo envelhece piorando”. Ellen White afirmou que “a cada passo, os pais necessitam mais que sabedoria humana a fim de poderem saber educar melhor os filhos para uma vida útil e feliz aqui, e mais elevado serviço e maior alegria no além”. Através da Afam procuraremos ajudar as mães nessa grande tarefa. Outra ameaça é a financeira. O mundo cada vez mais apre-senta facilidades e novidades que muitas vezes fazem com que as esposas almejem um marido rico e que lhes proporcione todas as facilidades.

Ministério: Sempre há referências à auto-estima da mulher adventista, em literatura ou palestras dirigidas a ela. A senhora acha que essa é uma área problemática?

Evelyn Nagel: Particularmente acho um grande privilégio poder trabalhar para Deus; mas sei que, embora não seja generalizado, muitas esposas enfrentam o problema de baixa auto-estima. Penso que, muitas vezes, ele é gerado pela falta de preparo ou má informação sobre o papel de esposa de pastor. Algumas o associam a status financeiro, acabam estabelecendo comparações com outras esposas e o problema surge. Acho que para superá-lo devemos sempre lembrar que Deus está ao nosso lado, pronto para ouvir nossas queixas, diariamente. Além disso devemos procurar ocupar nosso tempo, ajudando a quem necessita, e fixar a mente em nossa missão. Sempre tenho em mente um pensamento que diz: “Não há nada que Deus e eu não possamos fazer juntos.”

Ministério: Como podem a igreja local, o esposo pastor e a Igreja institucional ajudar a esposa de pastor a sentir-se afirmada, feliz e realizada em seu papel?

Evelyn Nagel: O esposo deve lembrar que ele tem um lar e que este deve ser um pedacinho do Céu na Terra, onde os anjos de Deus tenham prazer em habitar. Acontece muito que o esposo tem tempo para ajudar os membros da igreja, para dar carona a um ancião para um lugar fora da sua rota, mas nunca tem um segundo para conversar com a esposa. Não tem tempo para ajudá-la no supermercado, a colocar um quadro, consertar uma torneira, etc. Isso faz com que a esposa se sinta diminuída e sem valor. A igreja local pode ajudar, não pensando que a esposa do pastor deve sempre ter todas as respostas e assumir todos os departamentos. Deve perceber que ela tem muitas ocupações, sendo o suporte do marido e que muitas vezes tem de ser responsável, quase sozinha, pela educação dos filhos. Que tal lembrar o aniversário de casamento, ou alguma data importante na vida dos dois, e fazer-lhes uma surpresa? A esposa de pastor, como todas as mulheres, é sensível e se alegra com pequenas coisas. Não são necessárias muitas coisas; mas as pequenas gentilezas dizem muito.

Ministério: A senhora crê que a Igreja tem investido o suficiente no crescimento da esposa do pastor?

Evelyn Nagel: Minha resposta a esta pergunta pode gerar um pouco de espanto, pois sempre foi meu pensamento que trabalhar na causa de Deus é um grande privilégio. O que recebemos por nosso trabalho é mais do que suficiente para termos uma vida confortável e tranqüila. Sinto-me triste e preocupada quando vejo esposas queixando-se por não terem o auxílio financeiro que gostariam de ter para estudar, ou qualquer outro benefício. Entristece-me, principalmente, quando tal descontentamento é comentado com os membros da igreja aos quais deveriam ajudar a confiar em Deus. Acho que, nos últimos tempos, a esposa do pastor tem sido muito lembrada e considerada. Através da Afam, suas coordenadoras têm procurado ajudar para que elas tenham todo o apoio necessário, providenciando cursos de educação contínua, palestras sobre crescimento pessoal, educação de filhos, saúde, administração do lar, finanças, e assim por diante. A Igreja tem se preocupado e empenhado em ajudar naquilo que está ao seu alcance.

Ministério: Que conselhos daria a uma esposa de pastor que esteja sendo alvo de críticas?

Evelyn Nagel: Em primeiro lugar, quanto menos a esposa falar e tentar justificar será muito melhor. Em segundo lugar, deverá fazer uma análise das críticas, para ver se alguma coisa precisa ser muda-da ou não. Se alguma pessoa foi ofendida, deve ter a grandeza de pedir perdão; com humildade, dobrar os joelhos e buscar conselho e sabedoria de Deus. Isso é o que melhor pode ser feito.

Ministério: Como a senhora avalia a participação feminina na missão da Igreja?

Evelyn Nagel: A mulher adventista está muito consciente de sua importância na missão da Igreja. Ela está muito envolvida no evangelismo integrado, pregando, por todos os seus feitos, que “a esperança é Jesus”.

Ministério: Pode citar alguns exemplos de realizações missionárias femininas?

Evelyn Nagel: Em Manaus, AM, uma irmã estabeleceu, no ano 2000, através de seu trabalho, três novos grupos. Em janeiro deste ano, fundou mais dois novos grupos e levou 97 pessoas ao batismo. Outra irmã também levou ao batismo mais de 90 pessoas, no ano passado, e neste ano já está construindo uma igreja no local onde realizou uma série de conferências evangelísticas. Esses fatos são os mais recentes de que tenho conhecimento. A mulher adventista está muito envolvida no evangelismo integrado, através de preparação de campanhas evangelísticas, oração intercessória, trabalhos comunitários, pregações em prisões, para citar apenas algumas frentes de trabalho. Os resultados são emocionantes.

Ministério: Quais as suas principais metas para a Afam?

Evelyn Nagel: Tenho em mente muitos planos para ajudar as esposas em todas as suas necessidades. Já tive oportunidade de me encontrar com grupos de esposas em diferentes áreas. As necessidades são diferentes, dependendo da região onde vivem. Com a graça de Deus, quero poder ajudar em tudo o que estiver ao meu alcance. Um dos principais planos é ajudar moças que estejam se preparando para se tornar esposas de pastor. Penso que estando elas bem conscientizadas terão mais alegria em seu trabalho.

Ministério: Como a senhora descrevería a esposa de pastor ideal?

Evelyn Nagel: Pedi a um médico, meu amigo, para escrever sobre depressão, que é o mal dos nossos dias. E ele começa seu artigo dizendo o seguinte: “Todos esperam que você seja uma mulher maravilhosa, uma pessoa alegre, bem disposta, capaz de assumir a direção da Escola Sabatina, dos departamentos infantis, que toque o piano, seja regente do coral, diretora das Dorcas, solista, declamadora, boa contadora de história para crianças…” Bem, essa seria a esposa de pastor ideal. Mas quem tem todos esses predicados, ou melhor, quem conseguiría desempenhar todos esses trabalhos? Parece-me que só pensar na lista faz com que alguém entre em depressão. Por isso, uma esposa de pastor ideal deveria, em primeiro lugar, ser uma pessoa consagrada a Deus e a Seu trabalho; que tratasse a todos da mesma maneira, dando atenção a todos os membros de sua igreja e, principalmente, que soubesse guardar os segredos que lhe são confiados. Todas as demais situações serão resolvidas, pois todos verão que ela é uma mulher em quem podem confiar.

Ministério: Que conselho final gostaria de dar à esposa do pastor, ao pastor e aos filhos?

Evelyn Nagel: Primeiramente, que gastem tempo no culto familiar, pela manhã, e também gastem tempo no culto familiar de gratidão a Deus, no fim do dia. Depois, gastem tempo no estudo da Bíblia e na oração. Finalmente, gastem tempo sozinhos com Deus. Isso é desfrutar o melhor da vida.