De um Leitor da Revista “O Ministério Adventista”

Nota: Faz vários meses recebemos esta carta com o pedido de que fosse publicada. Fazêmo-lo com muito prazer, transcrevendo-a conforme foi escrita, conservando as palavras e estilo do autor. Esperamos que este apelo de um leigo possa ser ouvido. — A diretoria.

Graças à gentileza de um pastor amigo, que incluiu o meu nome na categoria de obreiro leigo, tenho recebido durante o último ano esse periódico.

Como disse, tenho acompanhado ultimamente os assuntos dessa revista com interesse e satisfação. Durante os últimos trinta anos, desde que conheço a doutrina e a mensagem adventista, tenho seguido de perto suas atividades, programas, campanhas, desenvolvimento, progresso, lutas, e também, mercê de Deus, muitas vitórias. Tenho participado ativamente nessas atividades, direta ou indiretamente, cuidando de igrejas no interior e assessorando o pastorado nas igrejas da capital, onde me encontro agora.

Graças a Deus, desde que me conheço por gente e cônscio de minha responsabilidade, tenho devolvido fielmente o quanto pertence ao Senhor, segundo me informa a consciência. Mister se faz dizer que não vai aqui nenhum mérito pessoal, pois apenas cumpri o meu dever, além de ter participado de um alto privilégio de colaborador num trabalho cujo Patrão sempre nos recompensa centuplicadamente.

Vamos ao nosso assunto: “A Mensagem de uma Ovelha para o seu Pastor”. Desnecessário é dizer que estou invertendo a praxe, mas quem sabe trará algum benefício.

Meu querido pastor: Você, em princípio, é o meu exemplo. Eu olho para sua vida, como para um espelho. Procuro me orientar em suas pisadas. Com suas imperfeições, não pode deixar de ser o guia do rebanho. Eu quero lhe dirigir esta mensagem com a máxima humildade, respeito, carinho e devoção. Não quero magoá-lo, feri-lo, tampouco faltar-lhe com o merecido respeito. Um único motivo me leva a escrever esta mensagem, declinando algumas horas de meu descanso noturno. Tenho o máximo interesse que a nossa “Firma” tenha o maior êxito, segundo o plano de Deus. Somos acionistas nessa “Empresa” e queremos que ela tenha o sucesso absoluto.

Dois itens preciso lembrar: l.° —A mensagem não é minha; 2.° — Já é uma mensagem conhecida.

O livro há pouco publicado em português, “Conselhos Sobre o Regime Alimentar,” de E. G. White, me despertou o interesse para o assunto do qual pouco sabia, embora sua transcendental importância. Na verdade, ignorava o alto teor espiritual que envolvia dita matéria, até que li e reli aquele compêndio, que veio me impressionar ao ponto de me tirar a paz e o sono, enquanto não me inteirei completamente do conteúdo. Confesso, tive muitas surpresas à medida que descobria verdades que o povo de Deus desconhece e que põe-no até em perigo da própria salvação.

Entre outras muitas surpresas, aquela que mais me impressionou a ponto de “quase até duvidar”, só me convenci porque é o ESPÍRITO DE PROFECIA que está falando e graças a esse documento eclesiástico é que sou um adventista propriamente dito, aquela que mais me impressionou, dizia eu, foi a seguinte citação: “A reforma da saúde, foi-me mostrado, é parte da terceira mensagem angélica e está com ela tão intimamente relacionada, como está o braço e a mão com o corpo humano. O povo de Deus não está preparado para o alto clamor da terceira mensagem angélica”. Procurando maiores esclarecimentos quanto ao que ela se referia à reforma da saúde, descobri que relacionava-se justamente com o apetite. Vejamos à página 22, última frase do parágrafo número 20: “É impossível aos que condescendem com o apetite, alcançar a perfeição cristã”. Isto, esclarece mais adiante, constitui violação da saúde, o que evidentemente é pecado, pois à pág. 43, parágrafo 49, afirma: “A transgressão da lei física é transgressão da lei de Deus. Pecados da maior magnitude, são cometidos por via indulgência para com o apetite pervertido”.

Prosseguindo em busca de mais detalhes que viessem trazer mais luz ao assunto, é que descobri que esse apetite de que fala tanto e com tanto ênfase, se referia a algo especial. Que seria? Realmente, sem a menor sombra de dúvida, o apetite aqui mencionado significa intemperança no comer, mesmo da comida saudável”. — pp. 55 e seguintes. Mas precisamos ressaltar mais uma vez, o primeiro parágrafo da p. 69, onde ela cita até a data da visão, 10 de dezembro de 1871. “Foi-me mostrado NOVAMENTE que a reforma da saúde é um ramo da GRANDE OBRA que deve preparar um povo para a vinda do Senhor. Queridos ministros, por que esta mensagem está escondida e não aparece em vossas pregações? Posso pressentir o vosso pensamento: Mas, como? Tenho pregado e com freqüência esse assunto em minha igreja”. Vejamos adiante.

O livro continua com uma série de conselhos, fazendo jus ao seu nome, que não poderemos relacioná-los todos, é claro, sempre salientando e recriminando O APETITE, esse leão que temos que enfrentar todos os dias.

Procurando lições espirituais nesse aspecto, é claro que compreenderemos a necessidade de lutar de corpo e alma para combater esse inimigo que nos quer devorar. Cultivando a renúncia, dominando nossa vontade, superando essa tendência de comer a toda hora, pois que, de fato, nosso estômago não sente vontade de descansar e nosso corpo acaba sofrendo as conseqüências. As citações que se seguem, contraindicam comer em excesso, constituindo mesmo uma violência para o nosso organismo. Veja-se na página 102. Mas, o problema é que nenhum de nós acha que come demais, a despeito de que há dias que comemos cinco ou seis vezes. Deixemos, enfim, este aspecto, se bem que a advertência é séria. Glutões no Céu? Não, não. Tais pessoas jamais entrarão pelos portais de pérola da cidade dourada de Deus. “Ha trinta e cinco anos pratico o sistema de duas refeições”. E. G. White.

Queridos ministros, precisamos prosseguir, se bem que preferíssemos parar por aqui. Especificamente, a que a serva do Senhor se refere quando fala do apetite irresistível? Nenhuma sombra de dúvida paira sobre essa pergunta. Queremos respondê-la com uma citação na sua íntegra, após o que comentaremos outros detalhes. “Deus requer que o apetite seja dominado

“É impossível aos que condescendem com o apetite, alcançar a perfeição cristã.”

e se pratique a renúncia no tocante às coisas que fazem mal. Esta é uma obra que tem que ser feita antes que o povo de Deus possa ser apresentado diante dEle perfeito”. O que se encontra entre as coisas que fazem mal. “A possibilidade de adquirir moléstias, é dez vezes aumentada pelo uso da carne. Nenhuma grama de carne deve entrar em nosso estômago. O comer carne não é natural. Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos, a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes CONTINUAR A USAR COMO ALIMENTO QUALQUER COISA QUE EXERÇA TAO NOCIVO EFEITO NA ALMA E NO CORPO?” A pergunta está respondida com a mais clara lucidez.

Meus prezados pastores, estas verdades já são por demais conhecidas, mas não com aquele cunho de tão alto significado. Vejamos mais adiante: “Foi-me mostrado que o povo de Deus deve assumir atitudes firmes contra o comer carne. Se os nossos apetites clamam pela carne de cadáveres, é uma necessidade jejuar e orar para que o Senhor dê Sua graça para negar-se às concupiscências carnais que combatem contra a alma”.

Querido pastor, quer-nos parecer que estamos entrando no lado espiritual da questão. O lado físico é importante, mas o espiritual ainda mais. Os membros da sua igreja sabem disto. “Um regime de carne tende a desenvolver o animalismo. O desenvolvimento do animalismo diminui a espiritualidade, tornando a mente incapaz de compreender a verdade”. Note-se, corre risco a própria salvação. “Os que usam carne não possuem nenhuma prova de estarem andando em verdades seguras. Não têm a mínima desculpa quanto a comer a carne de animais mortos. Não posso pensar que estejamos em harmonia com a luz que Deus tem dado nessa prática de comer carne”.

Meu pastor, o senhor tem pregado esta mensagem ao seu rebanho? O senhor pode pregar esta mensagem ao seu rebanho? O senhor está pregando a mais solene mensagem que já foi dada por Deus? “Os homens combatem contra a verdade, por condescenderem com hábitos errados de comer e beber, tirando todo o poder da mensagem que apresentam. Nossos ministros, que conhecem a verdade, devem despertar o povo (…) e levá-lo a abandonar as coisas que criam o apetite contra a carne; caso contrário, PERDERÃO O PODER ESPIRITUAL. Não dê nenhum dos nossos ministros UM MAU TESTEMUNHO por comer carne. Esses são levados por Satanás, não somente a corromper o próprio corpo …”

Meu querido pastor, tenho-me preocupado muito a respeito deste assunto e não consigo dormir em paz, enquanto não me desincumbir dele. A mensagem não é minha, meu pastor. É o sustentáculo na igreja que nos manda. O ESPÍRITO DE PROFECIA, que aceitamos como válido, ou recusamos, o que traria opróbrio ao próprio ministério.

Meu pastor, você é meu exemplo, meu espelho, minha bússola. Preciso confiar em você. O rebanho precisa de você. A quem iremos quando surgem os nossos problemas espirituais? “Poderemos nós possivelmente ter confiança em ministros que, às mesas em que é servida a carne, unem-se para comê-la?” Como se sentiria um ministro que, abordado pelo seu paroquiano, este lhe dissesse: “Eu não creio no senhor. O senhor está neutralizando o trabalho de seus coobreiros, que estão ensinando a reforma de saúde; o senhor está fora da ordem, OPERANDO DO LADO CONTRÁRIO?” Que podemos entender por operar do lado contrário? “Mas, como pode o Senhor operar em seu favor, quando eles não estão dispostos a fazer-Lhe a vontade, quando se recusam a dar ouvidos às Suas instruções no que concerne à reforma de saúde? Porventura os ministros do Evangelho, que estão proclamando a verdade mais solene enviada a mortais, devem constituir-se exemplo no regresso às panelas de carne do Egito?”

Querido pastor, peça a Deus um poder maior, que jamais tenha recebido, ao meditar no pensamento seguinte: “é LÍCITO QUE OS QUE SÃO SUSTENTADOS PELOS DÍZIMOS DOS CELEIROS DE DEUS SE PERMITAM A CONDESCENDÊNCIA QUE TENDE A ENVENENAR A CORRENTE VIVIFICADORA QUE LHES FLUI NAS VEIAS?

“Não dê nenhum dos nossos pastores UM MAU TESTEMUNHO por comer carne.”

DESPREZARÃO A LUZ QUE DEUS LHES DEU E AS ADVERTÊNCIAS QUE LHES FAZ?”

Finalmente, meu amado pastor, Deus é testemunha que não vai dentro de mim nenhum rancor ou algo semelhante contra este ou aquele servo de Deus. Por muito tempo procurei protelar esta missão. Não sei se irá ser publicado na revista “O Ministério”. Para lá encaminharei, por estar preocupado que a Obra do Senhor esteja sendo prejudicada pela falta de atenção desta verdade tão importante como a própria mensagem angélica. Em minha igreja, ao lado do pastor, temos procurado instruir o povo nesse aspecto. Crê o prezado pastor, que o evangelho será pregado ao mundo enquanto não tomarmos uma medida de reforma total a este respeito? Pelo que pude alcançar da pena da inspiração, pessoalmente não posso crer.

Espero ser compreendido. Estou me dirigindo a homens de Deus. Não tenho a menor intenção de apontar o dedo para quem quer que seja. A mensagem não é minha. Se a redação achar por bem suprimir a autoria, preferirei. Se for necessária a identificação, estarei pronto para fazê-lo, esperando da parte de todos a compreensão que o caso requer.

Aos meus caros pastores que não necessitam da leitura desta mensagem, meus respeitos. Eu os estimo tanto quanto aos demais. Peço a Deus a bênção celestial sobre esta publicação. Muito obrigado.

— Do vosso servidor.