A. G. STEWART

Veterano Líder e Missionário aposentado, Divisão Australasiana

COM a sempre crescente importância dada ao uso de auxiliares mecânicos no trabalho do ministro, tais como a televisão, flanelógrafos, filmes, gravadores de fita e muitos outros, perfeitamente valiosos em si, somos levados a pensar se o evangelista não se disporá, talvez inconscientemente, a confiar mais e mais nesses auxiliares materiais do que no único essencialissimo: a unção do Espírito Santo.

A palavra unção ocorre apenas uma vez nas mil páginas da Escritura Sagrada. Acha-se em I S. João 2:20, que reza: “E vós tendes a unção do Santo.”

A significação da palavra unção é: “ungir ou o ato de ungir, a qualidade de linguagem ou de maneira de falar que exprime devoção, fervor religioso.” A extrema unção que é rito católico, é a unção de uma pessoa enfêrma que está a ponto de morrer.

A unção de que fala o apóstolo é evidentemente alguma coisa que o crente recebe diretamente do Santo e habilita essa pessoa para compreender a vontade ou o pensamento de Deus. Diz êle: “Tendes a unção do Santo, e’ sabeis tudo.” Isto também está indicado no evangelho de S. João, onde, falando dos discípulos como de ovelhas, êle diz: “Ouvem a Sua voz.” Esta iluminação celestial está muito definidamente relacionada com a recepção do Espírito Santo, pois no mesmo capítulo, no versículo vinte e seis, João escreve: “Mas aquêle Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, êsse vos ensinará tôdas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”

João diz, também: “Mas quando vier aquêle Espírito de verdade, Êle vos guiará em tôda a verdade; … e vos anunciará o que há de vir.”

Esta unção é o poder de que Cristo falou com tanta insistência aos discípulos, antes de Sua ascensão. Disse êle: “Eis que sôbre vós envio a promessa de Meu Pai. Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (S. Lucas 24:49).

Evidentemente teria sido absolutamente fútil que os apóstolos compreendessem a grande comissão sem essa unção do Espírito Santo. Essa era uma medida de conselho dada por Cristo aos Seus discípulos antes de Sua ascensão para que êles compreendessem com clareza e a ela obedecessem implicitamente. Era imperativo que assim fôsse, e os resultados provam concludentemente o seu valor eterno. Sem êsse período de espera e preparo não poderia ter havido Pentecostes, e sem Pentecostes a igreja cristã primitiva teria fracassado em sua missão.

O veículo do tempo nos tem transportado uma longa distância, desde aquêle acontecimento histórico, tanto em distância quanto em experiência. Parece-nos havermos ultrapassado a simplicidade daquela organização simples, permitindo-nos ficar desligados, por uma multiplicidade de organizações, da fonte vital do poder e da vida espiritual.

Tem-nos sido repetidamente chamada a atenção para nossa deplorável condição, por homens e mulheres tementes a Deus que de alguma maneira sentiram na alma a falência espiritual do minis-tério nestes tempos mais materialistas.

Do primeiro capítulo do pequeno livro Power Through Prayer, de E. M. Bounds, citamos o se-guinte repto que merece ser meditado:

Estamos sempre empenhados na escolha de novos métodos, se não obcecados por essa idéia, novos planos, novas organizações para fazer progredir a igreja e garantir a ampliação e a eficiência do evangelho. Esta orientação da época tem a tendência de perder de vista o homem ou fazer desaparecer o homem no plano da organização. O plano divino consiste em fazer muito do homem, muito mais dêle do que qualquer coisa mais. Os homens são o método divino. A igreja busca melhores métodos; Deus busca homens melhores. “Havia um homem, enviado de Deus, por nome João.” A dispensação que proclamou e preparou o caminho para Cristo estava ligada àquele homem João. … O esplendor e a eficiência do evangelho estão ligados aos homens que o proclamaram. Quando Deus declara que “quanto ao Senhor, Seus olhos passam por tôda a Terra, para mostrar-Se forte para com aquêles cujo coração é perfeito para com Êle,” Êle expõe a necessidade humana e Sua dependência dêles como um conduto pelo qual exerça Seu poder sôbre o mundo. Esta verdade vital e urgente, esta era mecanizada está a ponto de esquecer. . . .

O que a igreja necessita hoje não é de mais nem melhor mecanização nem novas organizações ou mais modernos métodos, mas de homens a quem o Espírito Santo possa usar — homens de oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não flui por meio de métodos, mas através de homens. Não Se manifesta em máquinas mas em homens. Não unge planos, mas homens — homens de oração.—Págs. 9 e 10.

Não foi a ligação com uma igreja magnificamente organizada, nem sua graduação teológica que habilitou Pedro para falar com todo aquêle poder no dia de Pentecostes, quando milhares de almas ficaram convictas de coração e muitos exclamaram: “Varões irmãos, que faremos?” O Segrêdo do poder dos apóstolos é-nos a todos nós notório: haviam implicitamente obedecido à instrução do Salvador. Juntamente com outros, êles “perseveravam unânimemente em oração e súplicas.” “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. E de repente veio do Céu um som como de um vento veemente e impetuoso, e encheu tôda a casa em que estavam assentados. … E todos foram cheios do Espírito Santo.” (Atos 2:1-4). Isso foi “a unção do Santo.

“Isto é o Que”

Em explicação subseqüente dêsse notável fenômeno, o apóstolo Pedro explicou: “Isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (Atos 2:16). O isto nas palavras de Pedro foi a concessão de poder; o que foi a predição ou a predição profética do que aconteceria. Foi o poder contido na promessa do Salvador de que receberíam.

A experiência pentecostal foi apenas um cumprimento parcial da profecia de Joel, pois outra parte da profecia reza: “Porque Êle . . . fará descer a chuva, a temporã e a serôdia, no primeiro mês. (Joel 2:23).

Diz Atos dos Apóstolos:

“O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o comêço da primeira chuva, ou temporã, e glorioso foi o resultado. Até ao fim do tempo, a presença do Espírito deve ser encontrada com a verdadeira igreja.

“Ao avizinhar-se o fim da ceifa da Terra, uma especial concessão de graça espiritual é prometida a fim de preparar a igreja para a vinda do Filho do homem.’ — Págs. 54 e 55.

“O derramamento do Espírito nos dias apostólicos foi a “chuva temporã” e glorioso foi o resultado. Mas a “chuva serôdia” será mais abundante.” — O Desejado de Tôdas as Nações, Pág. 616.

Conquanto haja em tôrno de nós muita coisa para inspirar-nos confiança na guia divina ao testemunharmos a disseminação da mensagem em muitas terras, temos que reconhecer que não vemos a demonstração do divino poder em sua plenitude.

Podemos ver por tôda parte condições mundanas tais como guerra, fome, desavença nacional, busca de prazeres, imoralidade, descontentamento industrial, e dizemos: “Isto é o que” foi dito pelo profeta, ou pelo Senhor Jesus ou pelos apóstolos. Mas onde está aquela plenitude de poder de Seu Espírito que nos habilita a dizer: “Êste é aquêle poder, aquêle anjo com grande poder para iluminar a Terra tôda.”?

Em Atos dos Apóstolos, pág 50, lemos:

“Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não fluem para a Terra em favor dos homens. Se o cumprimento da promessa não é visto como poderia ser, é porque a promessa não é apreciada como devia ser. Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. Onde quer que a necessidade do Espírito Santo seja um assunto de que pouco se pense, ali se verá sequidão espiritual, escuridão espiritual e espirituais declínio e morte. Quando quer que assuntos de menor importância ocupem a atenção, o divino poder, preciso para o crescimento e prosperidade da igreja, e que haveria de trazer após si tôdas as demais bênçãos, está faltando, ainda que oferecido em infinita plenitude.

“Uma vez que êste é o meio pelo qual havemos de receber poder, por que não sentimos fome e sêde pelo dom do Espírito?”