A sociedade começou no Éden, e tem a sua confirmação nas palavras do sábio: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro… o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Ecles. 4:9, 10 e 12).
Pertenço a uma sociedade. Tem ela 22 anos de idade. Desde que nos casamos, minha esposa e eu temos considerado nossa vida uma sociedade dedicada ao minis-tério de Cristo. Quando vieram os filhos — em número de quatro — cada qual se tornou um novo membro dessa sociedade. Temos trabalhado juntos; juntos te-mos sofrido; temos resistido juntos, e jun-tos temos experimentado o amor, a fé e a esperança. Nossa família é uma sociedade.
A sociedade nos negócios
Atualmente, estou cuidando de 52 igrejas em um dos maiores distritos da missão adventista nas Filipinas. É desnecessário dizer que estou muito ocupado, e às vezes viajar e dar orientações produz dificuldades, principalmente na igreja da qual sou o pastor. Em tais ocasiões, minha família vem em meu auxílio, pregando a Palavra, organizando algum trabalho, dando um estudo bíblico ou atendendo a uma visita marcada.
O preparo de nossos filhos para emergências assim, não aconteceu da noite para o dia, mas é o produto de anos de ensino no lar. Quando nossos filhos cursavam ainda a escola primária, já lhes ensinávamos maneiras simples de dar um estudo bíblico. No processo, eles aprenderam a amar o Mundo, bem como a partilhar a sua fé. Certa vez tive que deixar a cidade numa emergência. Isto interrompeu uma série de estudos bíblicos que eu estava dando a uma secretária executiva. O seu interesse pela verdade havia chegado ao auge, e eu não queria que houvesse uma interrupção naquele momento. Perguntei àquela senhora se meus filhos poderiam substituir-me enquanto eu estivesse fora. Meus filhos de 12 e 14 anos de idade estudaram a Bíblia com ela, e a levaram a aceitar o Senhor e a aceitar o batismo. Ao permitir que tomassem parte no serviço de Deus, não só fiz com que meus filhos se sentissem importantes, mas fui também capaz de elevar ao máximo suas potencialidades. Uma satisfação pelo resultado: meus filhos jamais se queixaram de que eu não gastei tempo suficiente com eles.
Parte do meu trabalho envolve cuidar das atividades legais da igreja. Em meu distrito, apenas 10 por cento da propriedade da missão estão legalizados, muitas propriedades não têm nenhuma documentação e os litígios contra a igreja são um problema constante. Mesmo nos assuntos seculares da igreja onde apenas a estrita aplicação da lei pode prevalecer, os membros da família podem constituir uma fonte de apoio e poder. Certa ocasião um influente cidadão deu entrada com uma ação contra uma de nossas igrejas — as escolas integradas alegaram que ele tinha a documentação legal do terreno. Nossa posição parecia insustentável. Ele tinha a lei do seu lado. Que poderiamos fazer? Em meus pedidos a meus filhos, fizemos desse caso um assunto de oração e intercessão da família. Podia haver alguma deficiência no título de posse da terra, mas o tipo e o propósito da obra em que a igreja estava empenhada — em favor de centenas de jovens — estavam acima da demanda. Seria possível a Deus intervir no caso e pleitear contra os queixosos? Por que não? Como família, oramos. Estudamos a Palavra de Deus e oramos fervorosamente para que se fizesse Sua vontade. Não tardou, aquele que se pensava fosse um litigante irredutível, propôs uma saída amigável; de maneira que o colégio pôde continuar o seu trabalho. Mais ainda, vimos uma porta aberta para a pregação do evangelho.
A reunião de família em estudo e oração neste caso, ensinou-me uma importante lição: nada é impossível para Deus, quando vamos a Ele em oração. A via espiritual continua sendo o meio mais eficaz nas relações humanas. A oração, em especial a oração coletiva, feita pelos fiéis, pode abrandar corações, resolver dificuldades e conseguir o inimaginável. Sem o culto e a oração familiar, nossa família não teria sobrevivido durante todo esse tempo. A intimidade com Deus e uns com os outros, é a maravilha que os joelhos dobrados realizam. Tem-se tornado uma prática em nossa família orar sem cessar; em tempos de aflição, sussurre uma oração; nos momentos de alegria, expresse louvor.
Sociedade financeira
Sou o gerente financeiro da família.
Minha esposa é a tesoureira, a auditora e a administradora das finanças. Não temos nenhum problema pessoal no que se refere às nossas funções; somos realmente sócios em conservar saudável, espiritual e forte o núcleo familiar. Logo após o nosso casamento, decidimos que minha esposa manejaria as finanças da família, e ela tem feito um excelente trabalho. Os filhos e eu temos nossas responsabilidades, em especial quando precisamos viver com um salário limitado e o sempre crescente custo de vida. Cada membro da família está envolvido no ajustamento do orçamento familiar. A família discute e vota qualquer despesa que exceda a uma certa quantia.
Nossos filhos, possuídos de um senso de participação nos ganhos da família, começaram, desde os seus primeiros anos de vida, a fazer contribuições. Viver dentro de suas posses e não fazer exigências que não pudessem ser satisfeitas, foram algumas das lições mais precoces de participação familiar que eles aprenderam. Quando crescessem mais, haveriam de colaborar com dinheiro de verdade, fazendo alguns trabalhos remunerativos. As meninas, costurando. Os meninos, colportando, mantendo assim a família, bem como partilhando sua fé. Ensinamos aos nossos sócios menores uma promessa que é como se fizesse parte de nossa vida: “Não há limites à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o próprio eu, oferece margem à operação do Espírito Santo na alma, e vive uma vida de inteira consagração a Deus.’
A despeito de todos os esforços para viver dentro do orçamento familiar, houve ocasiões em que o mês parecia mais longo do que o dinheiro. Passar necessidade e ter déficit fazem muitas vezes parte da vida, mas não se deve permitir que se tornem o todo. A vida é o quadro maior, são as belas discussões, o horizonte que sempre se expande, e jamais deveria ser medida por aquilo que temos ou não te-mos. Em nossa função como administradores financeiros de nossa família, essa lição assume a prioridade. Minha esposa e eu nos dispusemos a fazer com que nossos filhos aprendessem essa lição básica nas finanças: que Deus suprirá “em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Filip. 4:19).
Participação social
A solidez de um lar depende da ordem e da unidade que assinalam o seu funcionamento. Este princípio é duplamente aplicável a um lar cristão, pois “uma casa cristã bem ordenada é poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã”.2
A família que ora junta, permanece unida. É um ditado antigo, mas verdadeiro. Podemos subscrever essa verdade, dizendo que a família que trabalha unida, brinca junta, diverte-se mais junta, tem mais possibilidades de ser uma família feliz. Nossa família não é muito boa nos esportes, mas gostamos de fazer as coisas juntos. Gostamos de jardinagem. Andamos um pouco a pé. Ocasionalmente, jogamos peteca. Partilhamos nossos serviços domésticos. Passar tempo juntos é o grude que mantém os membros da família unidos.
Quando nossos filhos estavam ainda na escola primária, nós os utilizávamos do lado social da participação familiar. Dávamos a eles pequenos deveres domésticos, de início, aumentando-os à medi-da que eles iam ficando mais velhos. Colávamos na porta da cozinha uma lista de trabalhos, convencionada entre os membros da família. Cada pessoa tinha um dever a cumprir dentro de um tempo previamente estabelecido. No final da semana, avaliávamos o desempenho e ajudávamos uns aos outros com sugestões a respeito de como poderiamos ter realizado melhor o trabalho. A apreciação de um trabalho bem feito constituía um fator im-portante para tornar o trabalho um prazer, e variávamos a maneira de expressar nossa satisfação às crianças — estrelas em seus nomes no mapa de trabalho, pequenos presentes ou mesmo um abraço. Quando os filhos cresceram, a carga e a espécie de trabalho também aumentaram, e cada qual assumiu a vez de cuidar das responsabilidades domésticas com títulos desafiadores: gerente de soalho (esfregar o chão), engenheiro sanitário (limpar o banheiro), chefe (cozinha), paisagista (capinar o jardim), donzela (lavanderia e camas), capelão (dirigente do culto), etc. Ao tornarmos o trabalho dentro e ao redor da casa um deleite para as crianças, não só havíamos solucionado o problema da conservação da casa, mas ensinado também lições sobre solidariedade na família, dignidade do trabalho, contabilidade e consciência do tempo.
Como sócios de uma unidade social, ocasionalmente nos achamos em conflito uns com os outros. Como pais, procurávamos dar exemplo a nossos sócios mais jovens. Ao primeiro sinal de possível argumento, havíamos estabelecido uma regra de pararmos e perguntarmos a nós mesmos: é o argumento válido? Há outra maneira de resolver o problema? Por que não tomar tempo para refletir sobre isto? O culto e a oração em família sempre proporcionaram oportunidade de realçar o melhor no relaciona-mento familiar e no trato com os problemas que magoam.
Quando os conflitos envolvem os filhos, procuramos ser justos e ouvir a versão e o ponto de vista de cada um deles. Mas mesmo antes do início do conflito, procuramos ser justos em tudo o que os membros da família recebem ou fazem. Deixamos claro que o que damos aos filhos — roupas, bonecas, presentes, festas; e o que esperamos deles: trabalho, responsabilidade, prestação de contas — não reflete quaisquer tendências ou discriminação. Quando somos justos e damos o exemplo no relacionamento e maneira de viver, os filhos acham fácil aceitar a orientação e levam adiante os problemas interpessoais.
Sócios educacionais
A educação ocupa lugar saliente nas prioridades de nossa família. O entendimento familiar com relação a isto tem sido claro como cristal desde o início. Os sócios mais antigos proporcionam a base de sustentação, enquanto os mais jovens fazem sua parte, cumprindo alegremente todas as suas exigências, principalmente as que se referem ao estudo.
Como pais, prometemos a nós mesmos, no começo de nossa vida matrimonial, traçar o futuro de nossos filhos. Como pais, não tivemos todas as oportunidades de uma boa educação, mas sabíamos que nossos sócios mais jovens não deveriam ser privados da busca da excelência. Dessa maneira, planejamos logo a espécie de programa que nossos filhos deveriam ter: uma educação cristã na qual o dinâmico e o espiritual, o presente e o futuro, estivessem protegidos. Nossos filhos cresceram com uma educação cristã sustentada por uma forte base doméstica e apoiada por uma igreja solícita. Ainda nos dias da pré-escola, a família proveu as crianças de livros de gravura, cadernos de desenho, giz e instrumentos musicais para cultivarem seus talentos. A Escola Sabatina proporcionou também um meio educativo. Quando nossos filhos entraram na escola secundária, já estavam traduzindo e ensinando as lições da Escola Sabatina. No colégio, nós os animamos a se envolverem em atividades espirituais, científicas, físicas e sociais. Elogiávamos seus êxitos; compartilhávamos de suas frustrações; ali estávamos, quando eles necessitavam, para fosse qual fosse a razão.
A educação cristã era dispendiosa, mas valeu a pena tudo o que nela investimos. Ela ajudou na formação de vidas, no amoldamento dos caracteres e na decisão em favor da eternidade. Ajudou-nos a ver o cumprimento da promessa feita muito tempo atrás: “Que estas minhas palavras… estejam presentes, diante do Senhor nosso Deus, de dia e de noite, para que faça justiça ao Seu servo… segundo cada dia o exigir” (I Reis 8:59).
Eternos participantes
A instituição da família, da mesma forma que a do sábado, teve sua origem no Éden. Antes que o peca-do interrompesse as relações e trouxesse os espinhos e cardos, o lar surgiu no cenário terrestre como uma dádiva divina. O dom é para sempre e, como o sábado, a sociedade da família transcenderá as ‘barreiras do tempo e se achará uma vez mais enraizada na eternidade. A família é uma sociedade sagrada, e pela graça de Deus ela pode sê-lo para sempre.
Minha esposa e eu temos levado a sério este conceito, e procurado edificar um lar que possa chegar à eternidade. Aquilo que fizermos do lar hoje, decidirá o que ele será amanhã e no dia seguinte. A maneira como nossos filhos refletirem os valores da graça cristã hoje, determinará os contornos de seu desenvolvimento amanhã: “As companhias que têm, os princípios que adotam, os hábitos que formam, decidirão quanto a serem ou não úteis aqui, bem como seu futuro destino”.3
- 1. Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 227.
- 2. O Lar Adventista, pág. 36.
- 3. Idem, pág. 455.