A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem compreendido o evangelismo como o trabalho de conduzir pessoas a Jesus Cristo e à igreja, através do batismo. Sob esse ponto de vista, a atividade evangelizadora geralmente está relacionada a séries de conferências públicas, estudos bíblicos pessoais, e programas de rádio e televisão co-mo A Voz da Profecia e o Está Escrito.
Muitos adventistas mantêm o conceito de que um programa evangelístico de sucesso é aquele cujo desenvolvimento resulta em muitas pessoas unidas à igreja. E, usualmente, a bênção de Deus sobre o empreendimento é considerada proporcional ao número de pessoas que foram batizadas: quanto maior esse número, maior foi a bênção divina.
Entretanto, uma questão crucial relacionada aos esforços evangelísticos adventistas necessita ser considerada. Quando muitos dos que foram batizados numa cruzada evangelística não são ativamente integrados às atividades da igreja, podemos realmente considerar tal empreendimento um sucesso?
Vamos ser honestos. Como Igreja, nós temos agido muito corretamente em canalizar significativa dose de energia e recursos, empenhados em conduzir pessoas a Cristo e batizá-las. No entanto, em seu zelo para cumprir a missão evangelística, a Igreja tem negligenciado um pouco a tarefa de nutrição daqueles aos quais atraiu. Por essa razão, embora o número de membros continue crescendo, uma grande quantidade de novos conversos, maior do que desejaríamos, acaba deixando a comunidade, freqüentemente dentro de pouco tempo após a experiência batismal.
Que podemos fazer para solucionar essa dificuldade?
Para começar, nosso conceito de evangelismo necessita ser ampliado. Ele deve incluir também o aspecto da integração dos novos membros. Um programa de evangelismo não deve ser tido como encerrado por ocasião do batismo. Evangelismo – o partilhar das boas novas da salvação em Jesus Cristo – deve buscar a transformação de um descrente em um ativo membro da igreja, um amadurecido discípulo de Jesus Cristo. Evangelismo deve ser visto como um processo dinâmico que leva um indivíduo a se tornar um ativo discípulo de Jesus Cristo, ao contrário de ser um evento que meramente produz um compromisso com Cristo e encerra-se aí.
Pesquisas feitas com membros que se desenvolveram na igreja com sucesso, revelam dois elementos cruciais que necessitam ser incluídos em qualquer programa de crescimento eclesiástico: um estudo contínuo da Bíblia e o desenvolvimento de amizade com outros membros da comunidade da fé.
Dizemos que esses fatores são cruciais em virtude de duas falsas pressuposições, geralmente alimentadas: primeira, a de que uma vez batizado, o novo membro, automaticamente, terá o desejo de continuar seu crescimento espiritual e de ampliar seu conhecimento da Bíblia, através dos programas e recursos que a igreja coloca à sua disposição, tais como a Lição da Escola Sabatina, cultos de oração, classe bíblica ou reuniões de pequenos grupos. A segunda pressuposição é a de que, uma vez batizado, o novo membro se integrará, muito naturalmente.
Entretanto, a verdade é que muitos novos membros não aproveitam completamente as vantagens dos programas e recursos existentes: talvez porque eles não foram ainda despertos para o impacto que eles mesmos podem exercer em seu crescimento espiritual, ou porque têm ainda um comportamento reticente, no sentido de serem envolvidos em atividades que não lhes são bem familiares. Seja qual for a razão, o novo membro, usualmente no meio do processo de reordenamento de sua vida, não gravita automaticamente em torno dos programas e recursos da igreja.
Semelhantemente, o estabelecimento de novas amizades dentro da igreja nem sempre é fácil. Para algumas pessoas, que possuem naturalmente a disposição de fazer amizade e trabalhar em equipe, isso não representa muita dificuldade; outras, no entanto, acham difícil tomar iniciativas nesse sentido. Em tais casos, a igreja deve agir e tomar a iniciativa de promover a integração.
Quando uma pessoa une-se à igreja, ela está se juntando a uma nova cultura, diferente da sociedade que lhe cerca. O cristianismo adventista do sétimo dia chama o indivíduo ao estabelecimento de um novo compromisso com Cristo, à adoção de um novo sistema de valores e de um novo estilo de vida. Ajudar os conversos através dessa transição, requer uma comunidade que funcione como um sistema de apoio. E para fazer isso, a Igreja deve incluir em seus modelos de evangelismo, planos definidos e claros para a assimilação e nutrição dos novos conversos. Tais planos devem ser estabelecidos sobre o pressuposto da igreja como sendo a família de Deus.
Onde quer que tenhamos um ambiente de muitas cultura, onde quer que a família seja como uma parte integrante da experiência de vida de alguém, a igreja necessita funcionar co-mo uma família para o novo crente, especialmente se essa pessoa acabou se tornando estranha ou isolada de sua família natural e de seu antigo círculo de amizades, em virtude dos novos compromissos assumidos e novas crenças adotadas. Devido à possibilidade desse profundo sentimento de perda, a igreja deve estar preparada para encher o vazio.
O exemplo do que acontece no Havaí pode ajudar. Para os adventistas da região, o pior tipo de perda que pode ser experimentado talvez seja na área da família, ou ohana. Para os nativos havaianos, a experiência da ohana é fundamental na vida de alguém. Quando a aceitação de um compromisso com Cristo ocasiona numa pessoa a perda de seu lugar na ohana, a igreja precisa reconhecer que o que esse novo membro necessita não pode ser satisfeito simplesmente através das reuniões semanais de oração, e outras programações semanais, mas através de atividades e experiências que ofereçam apoio social e emocional para ajudar a repor o que foi perdido.
Para criar tal apoio é necessária a aquisição de uma visão mais ampla da Igreja de Jesus Cristo. Nutrição espiritual deve ser sempre a principal consideração.
Um dos objetivos dessa nutrição tem sido ajudar o novo membro a compreender melhor as crenças e práticas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, dentro do contexto de um relacionamento pessoal com Deus. Quando um cristão experimenta es-se tipo de crescimento, então estará melhor capacitado para compreenter como os ensinos e práticas da sua igreja são significativos em fortalecer a vida espiritual.
A igreja necessita funcionar como uma família para o novo crente, especialmente se essa pessoa acabou se tornando estranha ou isolada de sua família natural e de seu antigo círculo de amizades.
Que forma deveria tal ministério de nutrição possuir? A resposta pode variar de uma congregação para outra. Uma igreja com 100 membros não poderia oferecer os mesmos programas oferecidos por uma com mil membros. No entanto, as duas podem oferecer oportunidades para seus membros, de modo que preencham as necessidades sociais e emocionais dos novos conversos. Cada igreja deveria avaliar criteriosamente e com muita oração os seus recursos, e desenvolver programas e atividades de acordo com eles.
O maior recurso de uma igreja é, na realidade, o povo. A simples preocupação e consideração manifestada para com a pessoa humana, especialmente o novo membro da comunidade, vai ajudar imensamente essa pessoa em seu crescimento espiritual. O senso de identidade, cuidado, amizade, guia, e aconselhamento que tão intensamente faz parte da ohana, deve ser a experiência vivida dentro das nossas igrejas.
Um programa de nutrição e crescimento de novos membros não exige grande quantidade de material ou dinheiro. O que apenas se requer é que os membros antigos recebam e tratem os novos conversos co-mo membros recém-chegados à família de Deus. Qualquer que seja o processo ou programa pelo qual essa meta será cumprida, a igreja deve assumir seriamente sua responsabilidade de contribuir para o crescimento e maturidade dos membros recém-batizados, tornando-os ativos discípulos de Jesus Cristo.
O Pastor Roy Allan Anderson orienta: “Quando um grupo de novos crentes se une a uma congregação, é a responsabilidade do evangelista alistá-los no serviço. Mas ele deve fazer mais do que isso. Deve atálos à vida e à atividade missionária da igreja porque esses novos crentes agora devem associar-se a outros em seu serviço. É importante, portanto, que o evangelista consiga que a igreja e seus oficiais conheçam a experiência de cada converso. Deve dizer aos oficiais da igreja, de onde vêm esses conversos, sua filiação religiosa anterior, se houver, e quaisquer outras informações que possam ser consideradas úteis, pois são esses oficiais que agora de-vem assumir a responsabilidade de guiá-los em seu serviço missionário. Naturalmente os membros da comissão da igreja ou pelo menos seus representantes, já tiveram contato com os novos conversos. Provavelmente alguns deles estiveram presentes nas classes bíblicas anteriores ao seu batismo, mas agora todo o grupo de líderes deveria conhecer as experiências prévias desses conversos para poderem melhor achar as espécies de serviço que mais se prestam a cada indivíduo.” (O Pastor Evangelista, págs. 266 e 267).
Até que isso seja feito, continuaremos perdendo muitas pessoas dentre aquelas que são batizadas, especialmente em campanhas evangelísticas. Enquanto essas perdas acontecerem, nossos esforços evangelísticos não podem ser chamados de exitosos; não importa quantos nomes ainda permaneçam nos livros e quantos números sejam apresentados nos relatórios.