Warren H. Johns e David C. James, Diretores associados da revista Ministry
A publicação da obra Origin of Species, escrita por Charles Darwin, precipitou o confronto de duas importantes teorias sobre as origens. Muitas igrejas e cristãos individuais passaram a aceitar alguma modificação da teoria evolucionista. Outros não estão satisfeitos com essa acomodação, porque as Escrituras indicam uma Criação pelo fiat divino numa época relativamente recente, e por causa do impacto da evolução sobre as inferências teológicas da Bíblia. Este artigo começa com uma análise do que constitui a teoria evolucionista, indica a incompatibilidade dos princípios em que ela se baseia com os princípios fundamentais do cristianismo, e então considera como ela se relaciona com algumas doutrinas cristãs.
A teoria evolucionista tem provavelmente tantas variedades diferentes como os produtos Heinz! Na atualidade, os dois principais tipos de pensamento evolucionista são o “gradualismo filético” e o “equilíbrio pontuado”. A diferença fundamental é se a evolução ocorreu lentamente, como no primeiro caso, ou rapidamente, como no último. Conquanto alguns criacionistas achem que o equilíbrio pontuado esteja um passo mais próximo do criacionismo devido à sua ênfase a repentinas e dramáticas modificações na história da vida, ele requer, porém, cerca de três bilhões de anos e um processo de casualidade para conduzir a vida de uma simples etapa unicelular para a sua atual complexidade multicelular.
Ao tratar da compatibilidade da evolução com o cristianismo, resumiremos primeiro a evolução de acordo com os seus quatro maiores princípios, segundo são explicados na Origem das Espécies, de Darwin.
1. Descendência com Modificações. Todos os organismos vivos, quer sejam plantas ou animais, se reproduzem, originando novas gerações que são diferentes das gerações anteriores. Não há dois seres vivos exatamente idênticos, assim como não há dois flocos de neve exatamente iguais.
2. Superprodução. A maioria dos organismos vivos produzem uma descendência muito maior do que a progênie que atingirá a maturidade. Por exemplo, só uma pequena fração das bolotas produzidas por um carvalho conseguirá brotar, e só uma parte dessas plantinhas chegará a tornar-se uma árvore plenamente desenvolvida e produtiva.
3. A Luta Pela Existência. Todo o mundo da Nature-za se caracteriza por uma contínua batalha pela sobrevivência. Os organismos competem uns com os outros pelo mesmo espaço e pelas mesmas provisões de alimentos. Visto que essas provisões são limitadas, al-guns organismos morrerão de subnutrição, e outros tomar-se-ão alimento para organismos famintos.
4. A Sobrevivência dos Mais Aptos. Visto que os se-res vivos produzem mais descendentes do que os que atingirão a maturidade, e visto que há uma luta cons-tante pela existência, sobreviverão os organismos que estão mais bem adaptados ao ambiente e suas pres-sões. A vantagem competitiva pertence aos que herdaram a variação que lhes confere a superioridade nessa luta renhida.
Esses quatro princípios foram combinados por Charles Darwin — o primeiro cientista a fazer isto — e transformados naquilo que ele chamou de “seleção natural”. (Por isso ele intitulou seu livro: Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural.) Assim como os agricultores podem aumentar a capacidade de sobrevivência de seus animais pela procriação artificial ou seleção, a Natureza também melhora constantemente suas espécies vegetais e animais por meio de um processo de seleção natural.
A seleção natural é compatível com o cristianismo? A resposta é tanto Sim como Não. Não encontramos dificuldades teológicas para os dois primeiros princípios da seleção natural: descendência com modificações e superprodução. Estes fatos do mundo natural, evidentes por si mesmos, estão em harmonia com princípios inscritos na estrutura da Natureza pelo próprio Criador. Encontramos problemas com os dois últimos pontos. Não podemos negar que há uma luta pela existência, mas Darwin deixou de reconhecer a causa dessa luta — a presença no mundo do pecado e do mal. Ele deixou de admitir que essa luta não é natural, e, sim, antinatural (Gên. 3:14-19; Rom. 8:20-22). Segundo diz a parábola, “um inimigo fez isso” (S. Mat. 13:28). A evolução envolve um princípio de competição na luta pela existência, ao passo que o cristianismo se baseia no princípio do amor em sua forma mais autêntica — a abnegação — que abrange o ato de partilhar com o próximo, e até com os inimigos, os elementos necessários à sobrevivência (S. João 15:13; Atos 20:35; Rom. 12:20). A preservação da própria existência não é intrinsecamente má; quando, porém, não é acompanhada pela abnegação, torna-se um mal que não difere do que requereu a destruição de Sodoma e Gomorra (Ezeq. 16:49).
Assim também, o conceito da “sobrevivência dos mais aptos” a princípio talvez pareça ser uma descrição inócua das ocorrências cotidianas, mas certamente contradiz as apresentações bíblicas dos princípios em que se baseia o cristianismo. O cuidado divino pelos seres que lutam com dificuldades, e a intervenção de Deus em seu favor, altera o que parece ser a ordem natural. A aptidão inerente não determina a capacidade de sobrevivência; é a relação com Deus que o faz. (Veja S. Mat. 5:3; S. Luc. 4:18; 14:21; I Cor. 1:26-31; II Cor. 12:10.)
A evolução não fere, porém, apenas os princípios gerais em que se baseia o cristianismo; ela também atinge, direta ou indiretamente, todas as doutrinas cristãs. Consideraremos agora sua relação com algumas doutrinas específicas.
A Natureza do Homem
Gênesis 1 e 2 vinculam a criação do homem com a criação do mundo e, principalmente, dos animais — mas esses relatos também fazem uma separação bem definida. A afirmação de que o homem foi criado à imagem de Deus acentua essa separação. O fato de ter sido criado à imagem de Deus distingue o homem dos animais, que de outro modo poderiam ser considerados muito semelhantes a ele, e diz alguma coisa sobre o conceito bíblico da natureza humana. A Bíblia retrata o homem como um ser dotado de inteligência e de uma natureza espiritual que possibilitava elevado nível de comunicação com Deus. Também possui livre arbítrio, uma consciência, e é considerado responsável por suas ações e palavras, e mesmo por seus pensamentos e motivos. E cumpre notar que os relatos da criação dão a entender que o homem, ao ser criado, era imortal, embora essa imortalidade fosse condicional. A morte não fazia parte do plano traçado para o mundo, mas ocorreu como resultado da queda do homem (Gên. 2:16 e 17; 3:1-4 e 22).
Se o homem se originou de um desenvolvimento evolucionário relativamente contínuo, é destruída a clara separação dos animais superiores que consideramos mais acima. Em que ponto da evolução do homem ele teria sido revestido da imagem de Deus? Quando teria atingido um nível em que pudesse comunicar-se com Deus — e, o que é mais importante, quando ele teria sido imbuído de moralidade? Quando teria sido dotado de consciência e senso de responsabilidade? Em que ponto teria Deus indicado ou decidido que todas as formas de vida na genealogia humana até esse ponto não seriam elegíveis para a vida eterna, e, sim, todas as formas de vida depois disso? Ou será que todas as formas de vida ressuscitarão para a vida eterna?
Alguns têm procurado solver esses problemas alegando que nalgum ponto da evolução do homem ele recebeu uma alma imortal, com a resultante natureza espiritual e suas possibilidades. As Escrituras indicam, porém, que o homem é uma unidade indecomponível. A parte espiritual de sua natureza não lhe foi “imposta”, mas constitui uma parte integrante de seu ser. O conceito dualista sobre o homem provém da mesma fonte em que apareceu pela primeira vez o conceito do desenvolvimento evolucionário — a saber, o antigo pensamento grego.
A evolução retrata as formas de vida bem-sucedidas como seres relativamente completos que atuam adequadamente em seu ambiente. E o homem é considerado uma dessas formas de vida bem-sucedidas. Mas a representação bíblica do homem diverge consideravelmente desse conceito. Devido aos seus componentes espirituais e por causa do efeito da Queda e de seus próprios pecados pessoais sobre este aspecto de sua natureza, não se pode dizer corretamente que ele é um ser completo, que age adequadamente. Paulo apresenta um quadro pessimista da raça humana separada de Deus (Rom. 1 e 2) e chega até a dizer que os homens separados de Cristo estão mortos (Efés. 2:1 e 5; Colos. 2:13) — o que não constitui uma indicação de que eles estão agindo adequadamente! Há uma divergência básica e muito real entre o conceito evolucionista e o pensamento bíblico nesse sentido.
Os relatos da Criação também salientam o domínio do homem sobre a Terra e sobre todas as formas de vida que ela contém. (Domínio não significa necessariamente “exploração”. O domínio do homem devia ser responsável; ele devia “guardar” a Terra, Gên. 2:15, o que denota preservação.) A evolução, por outro lado, insinua que o homem é um produto e uma parte da corrente da Natureza, estando, portanto, subordinado a ela.
As Doutrinas do Pecado e da Salvação
A aceitação de qualquer outra coisa que não seja a criação direta e pessoal por Deus debilita as doutrinas do pecado e da salvação. A palavra “pecado” tem muitas nuanças de significação nas Escrituras, como ilegalidade, não alcançar o nível requerido, errar o alvo, transgressão, etc. Em última análise, porém, todo pecado é rebelião contra o Criador. A Bíblia aponta para Sua qualidade de Criador como aquilo que Lhe confere autoridade, e o direito de esperar obediência de Suas criaturas (Sal. 96:1-6: Apoc. 14:7). Esta última e outras passagens bíblicas relacionam Sua qualidade de Criador não somente com Sua autoridade e merecimento de adoração, mas também com as ideias de que Ele é a Fonte da salvação e de que haverá um julgamento. E é porque Ele foi um Criador pessoal que Se comunicava diretamente com os primeiros seres humanos, que o pecado deles foi tão hediondo.
Provavelmente o problema mais difícil para os que procuram conciliar o cristianismo e a evolução está na necessidade de explicar como surgiu o pecado. A aceitação da criação literal admite uma explicação relativamente simples para o envolvimento do homem no pecado. Deus criou o homem à Sua própria imagem — perfeito e com liberdade de escolha. Quando deparou com a opção de crer no que Deus havia afirmado e aceitar Sua autoridade, ou duvidar das boas intenções de Deus e fazer sua própria vontade, o homem preferiu a segunda alternativa. Os esquemas evolucionistas para o desenvolvimento do homem destroem essa singela explicação bíblica e não oferecem, em seu lugar, uma explanação satisfatória para a queda do homem. Se o desenvolvimento do homem até o seu estado atual foi o resultado de uma sucessão de evoluções de antepassados do reino animal que eram moralmente irresponsáveis, em que ocasião ele se tornou responsável? Quando ele incorreu no desagrado divino? E como isso aconteceu?
Aumentando a dificuldade, a Bíblia retrata a morte como resultado do pecado. A desobediência de um homem fez com que ela passasse para todos (Rom. 5:12 e 19). Mas o sistema evolucionista depende de uma contínua sucessão de mortes desde o tempo em que o primeiro organismo vivo veio à existência. A morte torna-se uma parte do processo de triagem que resulta no desenvolvimento de novas formas de vida e no aumento de complexidade. Em vez de ser o resultado do pecado — um fator negativo — ela passa a fazer parte do processo criativo. A morte não resulta do pecado do homem, mas precede sua existência por milhões de anos.
O ato de aceitar a Criação ou a Evolução também influi sobre a compreensão da salvação. De maneira indireta, o conceito que a pessoa tem do pecado e seus resultados (especialmente a morte) afeta o seu conceito da salvação. Se a morte não constitui o resultado do pecado, mas uma parte natural do processo usado por Deus para criar, então a salvação do pecado e seus resultados não significa necessariamente salvação da morte. Mas a Bíblia ensina claramente que a salvação abrange o fim da morte. Com efeito, “ó último inimigo a ser destruído é a morte” (I Cor. 15:26; cf. Apoc. 20:14).
O conceito bíblico da salvação é mais compatível com o intervencionismo direto do que com alguma espécie de uniformitarismo. As Escrituras descrevem a salvação como uma recriação (II Cor. 5:17; cf. Isa. 44:21-28; 65:17-25; Sal. 51:10), como uma operação sobrenatural que requer a mesma energia criadora que originalmente produziu a vida.
E, na Bíblia, a salvação final não se processa em termos uniformitaristas. As Escrituras não ensinam que a salvação final consiste em que o homem — ou alguma espécie de alma imaterial — seja levado para o Céu por ocasião de sua morte, possibilitando assim a continuação da evolução na Terra. Antes, o quadro bíblico é o de completa destruição da Terra e o de uma nova criação, que se relaciona com a criação original. O homem viverá então na Terra ideal, restaurada a sua condição original (Apoc. 21:1-5; Isa. 65:17 em diante; 66:22; Rom. 8:18-22; II S. Ped. 3:7-13). O quadro não é o de um mundo em progresso, e os justos sendo arrebatados individualmente para o Paraíso. Mas é o do Paraíso criado, perdido e restaurado finalmente pela bondosa e onipotente atividade de Deus.
A Evolução e o Sábado
O casamento e o sábado são as duas instituições que o homem levou consigo quando ele deixou pesarosamente a perfeição do Paraíso e penetrou num mundo afligido pelo pecado em toda a parte. A primeira destinava-se a ser uma proteção contra os pecados da carne, e a segunda devia ser uma proteção contra os pecados do espírito. Ambas foram originadas no começo da história humana (Gên. 1 e 2). A teoria da evolução causa um forte impacto sobre essas instituições, e, segundo a nossa opinião, minou os seus fundamentos. Quando a sociedade considera o homem meramente como um animal sofisticado com ascendência simiesca, ela deprecia a instituição do casamento.
A evolução prejudica o conceito bíblico sobre o sábado de maneira semelhante. Deus tencionava que o sábado fosse uma lembrança gravada no tempo, para comemorar a criação do mundo (Êxo. 31:17). No entanto, se a teoria da evolução for considerada um relato fidedigno das origens, ele se torna um epitáfio que comemora o sepultamento de milhões de criaturas que foram apanhadas na “luta pela existência” e se tornaram os subprodutos da seleção natural que tiveram de ser consumidos. O sábado passaria a comemorar então um processo (o acaso), e não uma pessoa (o Senhor Deus).
Que é o sábado? Já dissemos que ele é uma lembrança ou monumento comemorativo da atividade criadora de Deus no princípio do mundo (Êxo. 31:17; 20:11), mas constitui também um memorial do atual poder de Deus para recriar na vida humana a imagem de Deus que foi desfigurada e deturpada pelo pecado (Ezeq. 20:12; II Cor. 5:17; 3:18). Semanalmente ele faz com que o homem se lembre de sua qualidade de criatura e de que Deus é o seu Criador. Será que nesse sentido o sábado não pode ser compatível com a evolução, a qual também ensina que o homem é apenas uma criatura? As Escrituras não fazem nenhuma alusão à descendência do homem de algum homicídio pré-humano ou de um macaco antropóide. O sábado comemora o fato de que o homem foi formado à imagem e semelhança de seu Criador (Gên. 1:26), e que foi feito do pó da terra, e não de alguma vida preexistente (Gên. 2:7).
A questão da ascendência do homem, por sua vez, tem importantes inferências para o sábado. As Escrituras declaram que Deus “de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da Terra” (Atos 17:26), removendo assim todas as distinções raciais e sociais. O sábado, que é o dia no qual as pessoas se reúnem na “casa de oração para todos os povos” (Isaías 56:7), constitui um antegozo do sábado milenário em que não haverá distinções de classe ou barreiras sociais entre os adoradores. “E será que de uma lua nova à outra, e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor.” Isaías 66:23. Esse espírito de ditosa igualdade entre todas as pessoas não advém de gradual processo evolucionário, mas de um miraculoso ato criador da parte de Deus (v. 22).
O sábado comemora uma semana de criação literal. (Que a Bíblia considera os dias da Semana da Criação como literais é indicado por seu uso de números ordinais com a palavra hebraica para dia, yom, em Gênesis
1. Todas as vezes que essa palavra é precedida por um número ordinal no Antigo Testamento, ela se refere a um período de vinte e quatro horas. Veja, por exemplo, Números 7.) O sábado nos traz à lembrança nossa condição de criaturas, como produtos de uma criação literal pela mão de Deus, e que nossa vida é medida pelo tempo, em contraste com a eternidade de Deus. Ambos esses fatos de nossa existência servem para dirigir-nos a Deus. Mas a evolução impugna tanto a crença em nossa condição de criaturas como a crença no sábado, debilitando assim a percepção que o homem moderno deve ter de sua necessidade de Deus.
A Evolução e a Escatologia
A tendência de tornar os sete dias da Criação vagos e indefinidos é acompanhada pela tendência de tornar vagos e indefinidos os acontecimentos relacionados com o fim do mundo. Assim como a maioria dos eruditos consideram os primeiros capítulos de Gênesis como mitológicos, muitos eruditos consideram o livro do Apocalipse como totalmente simbólico, sem nenhum cumprimento dentro do âmbito da História. É possível que a revolução no pensamento geológico durante os últimos duzentos anos tenha influído nesse sentido. Alguns afirmam que a geologia moderna começou quando Tiago Hutton apresentou o uniformitarismo à Sociedade Real em 1785. Ele concluiu seu discurso perante esse grupo com estas palavras famosas: “O resultado, portanto, de nossa pesquisa é que não vemos nenhum vestígio de um princípio, nenhuma perspectiva de um fim.” Por certo, Hutton não estava negando que o Universo ou nosso próprio mundo deve ter tido um começo ou terá um fim, mas o princípio apresentado por ele tende a desacreditar o conceito bíblico de um definido princípio e fim.
Basicamente, o fim de todas as coisas pode ocorrer de duas maneiras: 1. Ser repentino, catastrófigo e sobrenatural; ou 2. Ser uma transição gradual, por meio de acontecimentos naturais, para um reino espiritual. Algumas declarações de Jesus parecem apoiar um aspecto, e outras, o outro aspecto. A introdução gradual e quase imperceptível do reino é descrita nestas palavras: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós.” S. Lucas 17:20. Só é preciso ler, porém, mais alguns versos para encontrar a ideia oposta: “Porque assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu, assim será no Seu dia o Filho do homem.” Verso 24. O conceito gradualista da introdução do reino aplica-se melhor à obra do evangelho dentro do coração humano; assim Cristo já estabelecera o reino em Seu tempo. Mas o futuro estabelecimento do reino em toda a sua glória será um acontecimento catastrófico e mundial, acompanhado pelo fogo que removerá todos os vestígios do pecado e servirá de prelúdio para um novo ato de criação pelo Criador divino (S. Mat. 24:35-39; I Tess. 1:7-10; II S. Ped. 3:7-10; Apoc. 6:12-17; 21:1 em diante).
Geralmente, a maneira como interpretamos os primeiros capítulos do livro de Gênesis determina a maneira como interpretaremos o livro do Apocalipse. Esses dois livros se acham ligados por um fio de ouro, e é significativo que o Senhor diga a Seu próprio respeito: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.” Apoc. 1:8. Se cremos que a Terra e todas as formas de vida nela contidas vieram à existência por meio de um vagaroso processo gradual chamado evolução, é provável que rejeitemos toda ideia que fale do fim do mundo como algo repentino e catastrófico, e do maravilhoso começo de um novo mundo. Toda a ênfase das partes escatológicas do Novo Testamento recai, porém, sobre o caráter subitâneo do Segundo Advento, e o livro do Apocalipse diz em tom de advertência: “Eis que venho sem demora.” Cap. 22:12.
O término da história humana se dará por intervenção sobrenatural. E se é verdade que o fim ocorrerá de maneira repentina e mediante atividade sobrenatural, temos toda a razão em crer que a vida também se originou de maneira repentina e sobrenatural. A base para a crença de que Cristo pode transformar radicalmente este planeta maculado pelo pecado e remover todos os vestígios do mal, consiste em que Ele é tanto o Criador como o Redentor. “Tu és digno. Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas Tu criaste, sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas.” Apoc. 4:11.