Sahlin: O senhor declarou que as esposas de pastores em primeiro lugar devem ser mulheres, e em segundo lugar, esposas de pastores. O que quer dizer com isso?

Wittschiebe: Uma jovem senhora muitas vezes forma um quadro em sua mente do que deve ser uma esposa de pastor: uma espécie de estereótipo, quase uma imagem plástica. Se ela se esforçar bastante para tornar-se tal espécie de mulher, talvez venha a perder uma parcela de sua humanidade, de sua naturalidade, de sua espontaneidade. Deve ser, em primeiro lugar, ela mesma, em amor com Deus e seu marido, expressando isto calorosamente e com profundo sentimento. Então lhe será fácil adquirir as amorosas qualidades de uma esposa de pastor em relação às pessoas.

Sahlin: Poderia explicar isto um pouco melhor?

Wittschiebe: Se um pastor se aproxima de sua esposa junto à pia da cozinha e a acaricia, ele não lhe diz: ‘‘Oh! Estou muito contente por estar com minha obreira predileta!” Ele a reqüesta como mulher, fazendo-a sentir-se desejável. Talvez ela diga: “Oh! Pare com isso!” Mas não estará falando sério.

Um dos mais eminentes pastores denominacionais disse-me: “Sabe o que faço às vezes, Charlie? Telefono do escritório para minha esposa e pergunto: ‘Seu marido está em casa?’ Ela responde: ‘Não.’ Portanto eu digo: ‘Estarei aí dentro de alguns instantes!’” Gosto da reação que isto ocasiona. A mesma conversação seria muito censurável num contexto diferente, mas ele a usa de um modo muito deleitoso. É isto que eu quero dizer quanto a manter a vivacidade da relação entre um homem e uma mulher.

Sahlin: Para as famílias dos pastores há uma forma estereotipada e “formalista” do pastor e sua esposa. Tem-se de dar uma impressão “decorosa” e isso se infiltra na vida amorosa.

Wittschiebe: “Formalista” é uma palavra apropriada. Mas aquilo sobre que você está falando é quase uma imagem pudica e docemente “beata” — sem ardor, sem profundeza, sem paixão, sem vivacidade.

Sahlin: Portanto é correto flertar com o cônjuge?

Wittschiebe: Acho que é necessário. Ao ler Cantares de Salomão, tenho a impressão de que aqueles dois não se cumprimentavam um ao outro com as palavras: “Oh! você está aqui agora.” Ela vai à porta, com as mãos gotejando mirra, e está disposta a passar momentos muito agradáveis com ele.

Sahlin: Voltemos à questão de a esposa do pastor ser o que ela é. Isso abrange sua própria carreira, à parte do ministério de seu marido?

Wittschiebe: Este é um aspecto que nós, como denominação, não temos explorado suficientemente nem definido muito bem. Costumávamos ter a tradição de que a esposa do pastor ficava em casa, criava os filhos, era um modelo na comunidade, e sempre dispunha de tempo adicional para ajudar as pessoas porque não estava trabalhando. Hoje, numerosas esposas de pastores trabalham fora de casa. São secretárias, dietistas e enfermeiras. Se achamos que a esposa do pastor pode trabalhar, sem prejudicar o trabalho de seu marido — então certamente uma mulher tem todo o direito de encontrar realização numa carreira.

Sahlin: Em sua atividade como conselheiro, o senhor tem encontrado “viúvas de igreja” — mulheres cujos maridos consideram mais importante disseminar o evangelho do que ficar em casa e zelar do casamento?

Wittschiebe: A esposa do pastor com freqüência tende a ser uma “viúva de igreja”, e os filhos, “órfãos”. Às vezes, os homens são diligentes no trabalho da igreja porque preferem fazer isso a estar em casa. Isto lhes proporciona uma desculpa plausível para estarem ausentes. Se um indivíduo participa cada noite de um “esforço” evangelístico, ele é um grande homem. Todos dizem: “Como o irmão Jones é admirável!” Mas pode ser que ele esteja fazendo isso porque não quer estar em casa. Talvez não lhe seja agradável estar ao lado da esposa, e assim ele arruma um pretexto para ausentar-se.

Sahlin: É bastante difícil aduzir razões quanto ao tempo passado com a família quando o marido e pai sempre está dizendo: “Estou salvando almas.”

Wittschiebe: É penoso lutar contra Deus, de modo que o homem se torna piedoso. Outro exemplo é o da mulher que afirma que não pode ter mais de uma relação sexual de dois em dois meses, porque seu marido é irreligioso e não realiza o ato conjugal com motivos puros e santos. Ele fica muito irado. Como você sabe, isso não é justo nem sensato. É deveras penoso combater uma pessoa ou uma idéia; mas, que diriamos de colocar-se em oposição a Deus? Isso é blasfemo e sacrílego, e quem quer fazer semelhante coisa?

Sahlin: Isso parece ser insuperável. Como o senhor ajuda os casais a lidarem com essa questão?

Wittschiebe: Saliento que a religião, nesses casos, está sendo usada como anteparo, subterfúgio e tática para rebaixar a outra pessoa. Procuro descobrir as emoções que conduzem a essa espécie de ataque, e então, por assim dizer, eu as abro e extraio o pus. É preciso encontrar o motivo por que a pessoa age dessa maneira.

Sahlin: O que o senhor diz sobre o aconselhamento matrimonial para os pastores e suas esposas? O que um casal deve fazer quando reconhece que há um problema em seu casamento que eles não conseguem resolver?

Wittschiebe: Temos ido demasiado longe na suposição de que o pastor está acima dos outros homens, de que ele está acima dessas fraquezas humanas, de que é um modelo e exemplo. Na realidade, ele é um homem com debilidades e defeitos, e leva para o seu casamento todos os problemas de sua juventude. Imaginemos que um pastor tenha tido um péssimo relacionamento com sua mãe ou com seu pai, e é emocionalmente desequilibrado. Ele introduz tudo isso no casamento e não consegue expressar amor e/ou ira da devida maneira. Ou suponhamos que a esposa tenha tido uma idéia horrível a respeito do sexo, e que a leve para o seu casamento. Certamente precisam de aconselhamento. Ele será mais eficiente em seu trabalho de curar almas depois que sua própria alma tenha sido curada. Aconselho uma porção de pastores e suas esposas — confidencialmente, é claro. Isso ajuda esses casais porque contribui para fortalecê-los. Não significa que sou maravilhoso, e, sim, que eles me procuram, como pastor mais idoso, para obter alguns conselhos. Desvencilham-se daquilo que os aflige, sentem-se melhor e então se põem a labutar em favor dos outros. Não devemos supor que todos os pastores ou todas as esposas de pastores desfrutam perfeita saúde emocional, pois não é assim. O casamento sofre na mesma proporção. Um homem pode ter, como dissemos anteriormente, premente necessidade de realizar o máximo para o Senhor e de nunca demorar-se em casa. Isto é bom num sentido, mas de maneira exagerada. Sua esposa fica ressentida com ele porque aquilo toma todo o seu tempo. Ofende-se com as mulheres que solicitam a ajuda do pastor. Seus filhos se ressentem do fato de não terem um pai. E a primeira coisa que ficamos sabendo, depois de uns quinze anos, é que aquele lar se encontra em dificuldades; talvez a esposa até se envolva com outro homem. Isso acontece. Poderia ter sido evitado pelo devido aconselhamento, muito tempo antes.

Sahlin: Como podemos encontrar um conselheiro?

Wittschiebe: Infelizmente, em nossa própria Igreja não dispomos de suficiente número de conselheiros competentes aos quais nossos pastores possam recorrer porque, até recentemente, tínhamos péssimo conceito da psicologia. Olvidamos que a psicologia, o estudo da mente e das emoções, é boa em seu devido lugar. As Escrituras se acham repletas de princípios psicológicos.

Sahlin: O senhor passou bastante tempo ensinando os pastores a serem conselheiros. Se uma esposa se interessasse em receber esse preparo, o senhor acha que seria proveitoso ter uma equipe de conselheiros composta do marido e da esposa?

Wittschiebe: Eu pessoalmente não me interesso numa equipe de aconselhamento. Creio ser melhor que ambos estejam preparados para fazê-lo, então a esposa pode aconselhar as mulheres e, ocasionalmente, um homem. Às vezes poderão trabalhar juntos, como uma equipe, mas não acho que seja necessário.

Sei que há várias mulheres que amam as pessoas e que se tornariam excelentes conselheiras se fossem adestradas nas idéias e técnicas fundamentais, e assim por diante. O pastor muitas vezes poderia recomendar que as senhoras as consultassem. Um pouco de conhecimento da mente e da personalidade seria muito útil. Estamos negligenciando as mulheres. Elas podem tornar-se grandes conselheiras. Muitas realizam excelente trabalho sem qualquer preparo. Elas sabem ouvir e ajudar.

Sahlin: Segundo sua opinião, qual é o papel do pastor na educação de seus filhos?

Wittschiebe: Você sabe a resposta! Ele tem a responsabilidade de ser um pai para seus filhos. Penso que um homem deve reservar algum tempo cada semana para estar com sua família. Cumpre-lhe anotá-lo em sua agenda. O que importa não é tanto a quantidade do tempo como a qualidade. Se o pastor está em casa, lendo um livro enquanto seu filhinho brinca no soalho, eles estão juntos, mas não inteiramente. No entanto, se ambos se encontrarem na área de serviço, montando uma ferrovia de brinquedo, eles estão completamente juntos! Alguns homens se esquivam a isso, deixando que a mãe desempenhe ao mesmo tempo a função de pai e mãe. Semelhante atitude não é agradável para ela nem para os filhos.

Sahlin: Visto que nossos pastores e suas famílias são considerados como exemplos, como pode uma família assumir o encargo de ser mais perfeita do que qualquer outra família?

Wittschiebe: Creio que não deveriamos pugnar por isso. Quando é criado um alvo como esse, as pessoas se tornam tensas e artificiais. Acho que as famílias dos pastores devem ser o que são na realidade, reconhecer que irão cometer erros e desatinos, e as pessoas as amarão assim mesmo. As crianças não são perfeitas. Não se deve permitir que a igreja estrague os garotos e então lance a culpa sobre eles. Não convém arrastar uma criança para duas igrejas num só dia. Precisamos proporcionar a nossos filhos o mesmo clima propício ao crescimento que as outras crianças têm, e não dar demasiada importância a nós mesmos. Cometeremos uma porção de erros como pais; se, porém, amamos nossos filhos, eles não os notarão. Os chineses têm um provérbio que diz: “Se você bater em seu filho por engano, não se preocupe; ele sabe a razão.” Acho que as crianças são bastante judiciosas.

O pastor deve ser em primeiro lugar um pai, e então um pastor. É a mesma idéia que foi expressa no que eu disse sobre a esposa do pastor. Se alguém dá mais valor às suas responsabilidades como pastor do que às suas responsabilidades como pai, está encarando as coisas sob uma perspectiva errada!

Sahlin: Talvez uma esposa de pastor diga o seguinte: “Meu marido ouve com facilidade a todos os tipos de pessoas. Mas quando ele chega em casa, está demasiado cansado para ouvir o que lhe desejo contar. Quer descansar ou fazer alguma outra coisa que não seja prestar atenção ao que lhe digo.” Como podemos enfrentar isso?

Wittschiebe: Em primeiro lugar, é preciso dar-lhe um pouco de razão, porque um homem realmente pode ficar esgotado. Ele se assemelha ao médico que esteve operando o dia todo e não se acha disposto a realizar outra operação. A esposa deve compreender que o marido está cansado. Se ela disser: “Querido, você está exausto, mas poderia dedicar cinco minutos para debater alguma coisa comigo? Não quero extenuá-lo”, creio que ele respondería: “Sim, acho que posso.” Ao passo que se ela começar a amofiná-lo, e ele se preocupar com a meia hora ou a hora inteira que estará à sua frente (pois é o que geralmente acontece), talvez tenha de dizer: “Cale-se, e deixe-me em paz!” Ela deve lembrar-se dele ao fazer o seu pedido. Afinal de contas, a esposa do pastor é um maravilhoso remédio para ele, que ameniza e cobre todos os seus ferimentos!