PERGUNTA 6
Que entendem os adventistas pelo uso que Cristo fêz do título “Filho do homem”? E o que considerais ter sido o propósito básico da encarnação?
A Palavra Inspirada e a Palavra Encarnada, ou o Verbo feito carne, são pilares gêmeos na fé dos adventistas do sétimo dia, em comum com todos os fiéis cristãos. Tôda nossa esperança de salvação repousa sôbre estas duas imutáveis provisões de Deus. Na verdade, consideramos a encarnação de Cristo como o fato mais auspicioso, em si mesmo e nas suas conseqüências, na história do homem, e a chave de tôdas as providências redentoras de Deus. Tudo antes da encarnação conduziu a isso; e tudo que se segue depois procede disso. E isso envolve todo o evangelho, e é absolutamente essencial à fé cristã. Esta união da Divindade com a humanidade — do Infinito com o finito, do Criador com a criatura, a fim de que a Divindade pudesse ser revelada na humanidade — está além de nos-sa humana compreensão. Cristo uniu o Céu e a Terra, Deus e o homem, em Sua própria Pes-soa por meio desta provisão.
Além disso, por ocasião de Sua encarnação Cristo Se tornou o que não era antes. Tomou sôbre Si a forma corpórea humana, e aceitou as limitações da vida corpórea humana, como o modo de viver enquanto estêve na Terra entre os homens. Dessa forma, a Divindade conglutinou-Se com a humanidade numa única Pessoa, quando Êle Se tornou um e único Deus-homem. Isto é básico em nossa fé. A morte expiatória vicária de Cristo na cruz foi a conseqüência inevitável desta original provisão.
Além disso, quando Cristo Se identificou com a raça humana, através da encarnação, o eterno Verbo de Deus entrou numa relação terrena de tempo. Daí em diante, porém, desde que o Filho de Deus se tornou homem, não cessou de ser homem. Adotou a natureza humana, e ao voltar a Seu Pai, não sòmente levou consigo a humanidade que assumira pela encarnação, como reteve Sua perfeita natureza humana incessantemente — daí em diante identificando-Se eternamente com a raça que redimira. Isto tem sido expresso de forma clara por um de nossos mais preeminentes escritores, Ellen G. White: “Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Êle nos estará ligado por tôda a eternidade.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 17.
I. O Filho de Deus Se Torna o Filho do Homem
Pela encarnação, a majestade e glória do Verbo Eterno, o Criador e Senhor do universo (S. João 1:1-3) ficaram veladas. E aconteceu então que o Filho de Deus Se tornou o Filho do homem — expressão usada mais de oitenta vêzes no Novo Testamento. Tomando sôbre Si a humanidade, tornou-Se um com a raça humana para que pudesse revelar a paternidade de Deus à raça pecadora, e remir a humanidade perdida. Por ocasião da Sua encarnação tornou-Se carne. Teve fome, teve sêde, tornou-Se cansado. Necessitou de alimento e repouso, e restaurou-Se pelo sono. Partilhou a sorte do homem, carecendo de simpatia e necessitando de assistência divina. Contudo, sempre permaneceu o inculpável Filho de Deus.
Êle jornadeou na Terra, foi tentado e provado, foi tomado pelos sentimentos de nossas enfermidades humanas, e contudo viveu uma vida inteiramente livre do pecado. Sua humanidade foi genuína e verdadeira, que passou pelos vários estágios do crescimento, como qualquer outro membro da raça. Estêve sujeito a José e Maria, e foi um adorador na sinagoga e no templo. Chorou sôbre a culpada cidade de Jerusa-lém, e na sepultura de uma pessoa amada. Expressou Sua dependência de Deus em oração. Contudo todo o tempo reteve Sua divindade — um o único Deus-homem. Foi o segundo Adão, que veio na “semelhança” da carne humana pecaminosa (Rom. 8:3), porém sem mancha de suas propensões e paixões pecaminosas. (Ver também Apêndice B.)
A primeira vez que aparece o título “Filho do homem” no Novo Testamento é aplicado a Jesus como um viandante sem lar, sem mesmo um lugar onde pender a cabeça (S. Mat. 8:20); e a última vez, como um Rei glorificado, prestes a vir (Apoc. 14:14). Foi na qualidade de Filho do homem que veio para salvar os perdidos (S. Luc. 19:10). Como Filho do homem avocava autoridade para perdoar pecados (S. Mat. 9:1-8). Como Filho do homem semeou a semente da verdade (S. Mat. 13:37), foi traído (S. Mat. 17:22; S. Luc. 22:48), foi crucificado (S. Mat. 26:2), ressurgido dos mortos (S. Mar. 9:9), e assunto ao Céu (S. João 6:62).
Da mesma maneira como Filho do homem está Êle agora no Céu (Atos 7:56) e vigia Sua igreja na Terra (Apoc. 1:12, 13 e 20). Além disso, é como Filho do homem que Êle voltará nas nuvens do céu (S. Mat. 24:30; 25:31). E como Filho do homem executará o julgamento (S. João 5:27) e receberá Seu reino (Dan. 7: 13 e 14). Êste é o registo inspirado acêrca de Seu papel como Filho do homem.
II. Miraculosa União do Divino com o Humano
Cristo Jesus nosso Senhor era uma união miraculosa da natureza divina com nossa natureza humana. Era o Filho do homem enquanto estêve aqui na carne, mas era também o Filho de Deus. O mistério da encarnação é claramente e definitivamente expresso nas Escrituras Sagradas.
“Grande é o mistério da piedade: Aquêle que Se manifestou em carne” (I Tim. 3:16). “Deus estava em Cristo” (II Cor. 5:19). “O Verbo Se fêz carne, e habitou entre nós” (S. João 1:14).
Que maravilhosa verdade! Isto foi referido por Ellen G. White como segue:
“Êle vestiu Sua divindade com a humanidade. Durante todo o tempo fôra Deus, porém não aparecera como Deus. Velara as demonstrações de Divindade que impunham a veneração, e exigiam a admiração do universo de Deus. Fôra Deus enquanto estêve na Terra, porém Se desvestira da forma de Deus, e em seu lugar, assumira a forma de um homem. Andou na Terra como homem. Tomou-Se pobre, para que por meio de Sua pobreza pudéssemos tomar-nos ricos. Pôs de lado Sua glória e majestade. Era Deus, mas as glórias pertinentes a Deus, Êle por algum tempo as renunciou.” — The Review and Herald, de 5 de julho de 1887.
“Quanto mais pensarmos acêrca da vinda de Cristo como um infante aqui na Terra, tanto mais maravilhoso isto nos afigura. Como pode ser que a criancinha desprotegida na manjedoura de Belém seja ainda o divino Filho de Deus? Embora não possamos compreender isto, podemos crer que Aquêle que fêz os mundos, tornou-se um bebê frágil por nossa causa. Embora mais elevado do que qualquer dos anjos, embora tão grande como o Pai no trono do Céu, Êle Se tomou um conosco. NÊle Deus e o homem se tornaram um, e é neste fato que encontramos a esperança para a nossa raça caída. Contemplando a Cristo na carne, contemplamos a Deus em humanidade, e vemos nÊle o fulgor da glória divina, a expressa imagem de Deus o Pai.” — The Youth’s lnstructor, 21 de novembro de 1895.
“O Criador dos mundos, Aquêle em quem habitava corporalmente a plenitude da Divindade, manifestou-Se como frágil criancinha na manjedoura. Muitíssimo mais elevado do que qualquer dos anjos, igual ao Pai em dignidade e glória, e ainda usando a roupagem da humanidade! A Divindade e a humanidade combinaram-se misteriosamente, e o homem e Deus se tornaram um. É nesta união que encontramos a esperança de nossa raça caída. Contemplando a Cristo em humanidade, contemplamos a Deus, e vemos nÊle o brilho de Sua glória, a expressa imagem de Sua pessoa.” — Signs of the Times, 30 de julho de 1896.
Em ambas as naturezas, a divina e a humana, foi Êle perfeito; foi sem pecado. Não há a menor dúvida de que isso é verdade quanto a Sua natureza divina. Quanto à Sua humanidade é também verdade. Em Seu desafio aos fariseus de Seus dias, disse Êle: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (S. João 8:46). O apóstolo dos gentios declarou que Êle “não conheceu pecado” (II Cor. 5:21); que Êle era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores” (Heb. 7:26). Pedro podia testificar que Êle “não cometeu pecado” (I S. Ped. 2:22); e João, o amado, nos assegura que “nÊle não há pecado” (I S. João 3:5). Não apenas os Seus amigos realçaram-Lhe a natureza sem pecado; também Seus inimigos o fizeram. Pilatos foi forçado a confessar não ter encontrado nÊle “nenhuma culpa” (S. Luc. 23:14). A espôsa de Pilatos avisara o marido para que não entrasse “na questão dêsse justo” (S. Mat. 27:19). Os próprios demônios foram compelidos a reconhecer-Lhe a filiação divina e Conseqüentemente Sua divindade. Quando se lhes ordenou que saíssem do homem a quem deixaram possesso, retrucaram: “Que temos nós contigo, Jesus Filho de Deus?” (S. Mat. 8:29). O evangelho de S. Marcos regista “o Santo de Deus” (S. Mar. 1:24).
Escreveu Ellen G. White:
Êle tomou “a natureza, mas não a pecaminosidade do homem.” — Signs of the Times, 29 de maio de 1901.
“Não devemos ter nenhuma dúvida em relação à perfeita inocência da natureza humana de Cristo.” — The SDA Bible Commentary, Vol. 5, pág. 1131.
Por que tomou Cristo a natureza humana? Isto foi dito com propriedade como segue:
“Pondo de lado Seu trajo real e a coroa de soberano, Cristo vestiu Sua divindade com a humanidade, Sara que os sêres humanos pudessem erguer-se de sua degradação e colocados em posição de superioridade. Cristo não podia ter vindo à Terra com a glória que possuía nas cortes celestiais. Sêres humanos pecadores não suportariam vê-Lo. Êle velou Sua divindade com a roupagem da humanidade, porém não Se desfez de Sua divindade. Salvador divino-humano, Êle veio para colocar-se à frente da raça caída, e compartilhar na experiência dêles desde a meninice até a varonilidade. Para que os sêres humanos pudessem participar da natureza divina, Êle veio à Terra, e viveu uma vida de perfeita obediência.” — Ellen G. White, na The Review and Herald, de 15 de junho de 1905. (Grifos supridos.)
“Cristo tomou sôbre Si a humanidade, para que Êle pudesse alcançar a humanidade. . . . Requeria-se tanto o divino como o humano para trazer salvação ao mundo.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 217.
“Tomando sôbre Si a humanidade, Cristo veio ser um com os homens, e, ao mesmo tempo, revelar nosso Pai celestial aos pecadores sêres humanos. Êle foi em tudo semelhante a Seus irmãos. Fêz-Se carne, como nós. Tinha fome, e sêde, e cansaço. Era sustentado pelo alimento e restaurado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens, e foi, contudo, o irrepreensível Filho de Deus. Era peregrino e forasteiro na Terra — estava no mundo, mas não era do mundo; tentado e provado como o são hoje em dia homens e mulheres, mas vivendo, não obstante, vida isenta de pecado.” — Test, for the Church, Vol. 8, pág. 286.
De novo acentuamos que em Sua natureza humana Cristo foi perfeito e sem pecado.
A êste respeito, alguma coisa de importância vital deve ser considerada. Aquêle que é sem pecado, nosso bendito Senhor, voluntàriamente tomou sôbre Si a carga e penalidade de nossos pecados. Êste foi um ato que se efetivou em pleno consenso e cooperação com Deus o Pai.
Deus “fêz cair sôbre Êle a iniqüidade de nós todos” (Isa. 53:6).
“Quando a Sua alma se puser em expiação do pecado …” (verso 10).
E contudo, isto se constituiu ato voluntário de nosso bendito Salvador, pois lemos:
“As iniqüidades dêles levará sôbre Si” (verso
11). “Derramou a Sua alma na morte” (verso 12).
“Levando Êle mesmo em Seu corpo os nos-sos pecados sôbre o madeiro” (I S. Ped. 2:24).
“Como membro da família humana Êle era mortal, porém como Deus era a fonte da vida para o mundo. Ele podia, em Sua pessoa divina, até ter detido os avanços da morte, e recusado a submeter-se ao seu domínio; porém voluntàriamente depôs a vida, para que, assim fazendo, pudesse dar vida e trazer à luz a imortalidade. . . . Que humilhação foi essa! Causou espanto aos anjos. A língua não pode descrevê-la; A imaginação não pode apreendê-la. O Verbo eterno consentiu em fazer-Se carne. Deus Se tornou homem! Foi uma humilhação maravilhosa.” — Ellen G. White, no The Review and Herald, de 5 de julho de 1877. (Grifos supridos.)
Sòmente o impecável Filho de Deus podia ser nosso substituto. Isto nosso impecável Redentor fêz; tomou sôbre Si os pecados do mundo inteiro, mas, em assim fazendo, não ouve nÊle a mais leve mancha de corrução. A Bíblia Sagrada, contudo, diz que Deus “O fêz pecado por nós” (II Cor. 5:21). Esta expressão paulina tem desconcertado teólogos durante séculos, mas por mais que signifique, certamente não quer dizer que nosso Imaculado Senhor Se tornou um pecador. O texto declara que Êle foi feito “(como) pecado.” Portanto deve significar que Êle tomou nosso lugar, que morreu em nosso lugar, que “Êle foi contado com os transgressores” (Isa. 53:12), e que tomou o fardo e a penalidade que nos cabiam.
Todos os fiéis cristãos reconhecem êste ato redentivo de Jesus na cruz do Calvário.