Um Estudo Bíblico Acrescido de Citações do Espírito de Profecia

W. E. READ

(Secretário da Associação Geral)

ENCARNAÇÃO da Palavra Eterna de Deus é um dos mais profundos mistérios da fé cristã. Alguma coisa dêste tema maravilhoso está revelada nas Escrituras, mas muito permanece como um dos mistérios da Providência divina. Existem muitos outros mistérios na Palavra de Deus, assuntos, uns em que podemos aprofundar-nos e outros impenetráveis. Além do que está divinamente revelado, não nos devemos aventurar. Estaremos seguros apenas se nos mantivermos na senda da verdade revelada; além disso está a especulação, a dedução filosófica e a vã imaginação.

Sem dúvida todos nós reconhecemos que há aspectos para que não possuímos respostas. Podemos nós explicar como pôde Deus criar o homem? Sabemos como a Divindade e a humanidade se amalgamaram na pessoa de Jesus Cristo? Podemos nós explicar como Cristo, Ser sem pecado, assumiu a natureza pecadora? Podemos explicar o milagre da vida sem pecado de Jesus Cristo? Por certo gostaríamos de saber como pôde Êle ser tentado em todos os pontos, tal como nós somos tentados. Quem pode explicar o milagre de Sua ressurreição, ou de Sua ascensão? Como gostaríamos de possuir as respostas a tôdas essas perguntas! Certamente, alguns dêsses mistérios estão revelados parcialmente, mas muito ainda permanece sem revelação, e por certo assim permanecerá até que transponhamos os portais de pérola da cidade de Deus.

Realmente, ao pensarmos em Jesus, tudo quanto Lhe diz respeito é um milagre. Sua vinda ao mundo foi um milagre; Sua passagem por aqui constou de uma série de milagres; Sua retirada foi um milagre; verdadeiramente ninguém mais a Êle se assemelha. Sua vida é única, o unigênito Filho do eterno Deus.

Muitas outras coisas há na Palavra de Deus situadas num domínio de mistérios. O que foi revelado na Palavra aí está para o nosso conhecimento, para crermos e tomarmos a peito; mas nunca nos devemos esquecer de que “as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus” (Deut. 29:29).

Podemos, sem dúvida, reverentemente meditar em algumas coisas das quais o nosso conhecimento é limitado. Pensai no ser de Deus. O apóstolo dos gentios refere-se ao “mistério de Deus” ou o mistério “de Cristo” (Col. 2:2). A Sra. Ellen G. White, de cujos escritos em livros e revistas damos algumas citações, diz:

“Nenhum espírito finito pode compreender completamente o caráter ou as obras do Ser infinito. Não podemos pelas nossas pesquisas encontrar a Deus. Para os espíritos mais fortes e mais altamente educados, assim como para o mais fracos e ignorantes, aquêle Ente santo deverá permanecer revestido de mistério.” — Educação, pág. 169.

Muita coisa acêrca do plano da redenção é um mistério. Paulo a isso se refere como o “mistério do evangelho.”

“Há no plano da redenção mistérios — a humilhação do Filho de Deus, o ser achado em forma de homem, o maravilhoso amor e a condescendência do Pai ao entregar Seu Filho — que são para os anjos celestiais motivo de contínuo assombro.” — Test. Sel. [Ed. mundial] Vol. II, pág. 307.

“Que Êle consentisse em deixar Sua glória e tomar sôbre Si a natureza humana, era um mistério que os sêres sem pecado de outros mundos desejavam compreender.” — Patriarcas e Profetas, pág. 76.

Tudo isto — Sua decisão e Seu nascimento na família humana — estava compreendido na encarnação. “Grande é o mistério da piedade: Aquêle que Se manifestou em carne!” exclama o apóstolo (I Tim. 3:16).

“Na contemplação da encarnação de Cristo na humanidade, ficamos estarrecidos diante de insondável mistério, que a mente humana não pode compreender. Quanto mais nela refletimos, mais pasmosa se afigura. Quão amplo é o contraste entre a divindade de Cristo e o frágil infante da manjedoura de Belém! Como podemos nós suprir a diferença entre o poderoso Deus e uma frágil criança? Não obstante o Criador dos mundos, Aquêle em quem habitava corporalmente a plenitude da Divindade, estava manifesto na frágil criancinha da manjedoura. Imensamente superior a qualquer anjo, igual ao Pai em dignidade e glória, e não obstante ostentando a roupagem da humanidade! Divindade e humanidade estavam misteriosamente combinadas, e Deus e o homem se tornaram um. Nessa união é que encontramos a esperança de nossa raça caída. Olhando a Cristo na humanidade, contemplamos a Deus, e nÊle vemos o brilho de Sua glória, a expressa imagem de Sua pessoa.” — Sra. E. G. White, em Signs of the Times, de 30 de julho de 1896.

Mas em tôda essa meditação e estudo, apegue-mo-nos a tudo quanto está claramente revelado. As seguintes advertências vêm muito a propósito neste sentido:

“É a obra prima dos enganos de Satanás conservar o espírito humano a pesquisar e conjeturar com relação àquilo que Deus não tornou conhecido, e que não é desígnio Seu que compreendamos. Foi assim que Lúcifer perdeu seu lugar no Céu.” — O Conflito dos Séculos,pág. 523.

“Assim muitos se desviam da fé, e são seduzidos pelo diabo. Os homens têm-se esforçado por ser mais sábios do que o seu Criador; a filosofia humana tem tentado devassar e explicar mistérios que jamais serão revelados por tôdas as eras eternas. Se os homens tão sòmente pesquisassem e compreendessem o que Deus tornou conhecido a respeito de Si mesmo e de Seus propósitos, obteriam uma perspectiva tal da glória, majestade e poder de Jeová, que se compenetrariam da sua própria pequenez, contentando-se com aquilo que foi revelado para êles mesmos e seus filhos.” — Idem, págs. 522 e 523.

Observemos, ainda, algumas das coisas que estão reveladas:

  • 1. Que Cristo é Deus. — Muitos passos da Escritura há que ressaltam êste aspecto cristológico da relação de Jesus Cristo para com a Divindade. Notai Rom. 9:5; II Cor. 5:19; I Tim. 3:16; Tito 2:13; Heb. 1:8-10; II S. Ped. 1:1.

“Cristo, o Verbo, o Unigênito Filho de Deus, era um com o eterno Pai — um em natureza, ca-ráter, propósito — o único ser que poderia penetrar em todos os conselhos e propósitos de Deus. ‘O Seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz.’ Isa. 9:6. Suas ‘saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade’ Miq. 5:2.” — Patriarcas e Profetas, pág. 22.

  • 2. Que Cristo era pré-existente. — Isto também é salientado em vários passos da Palavra de Deus. Ver S. João 1:1-3; 8:58; 17:5 e 24; Col. 1:17; Apoc. 1:8; 22:12 e 13. Lemos, também:

“‘Antes que Abraão fôsse Eu sou.’ Cristo é o Filho de Deus, pré-existente e existente por Si mesmo.” — Sra. E. G. White, em Signs of the Times, de 29 de agôsto de 1900.

“Acreditamos em Cristo, em Sua divindade e pré-existência.” — Obreiros Evangélicos, pág. 404.

  • 3. De que Cristo existiu desde a eternidade. — Em acréscimo aos passos bíblicos já mencionados, poder-se-iam citar Prov. 8:22 e 23; Miq. 5:2.

Lemos, também:

“Desde os dias da eternidade, o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai”. — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. pág. 13.

“O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa separada, não obstante um com o Pai. . . . Existe luz e resplendor na verdade de que Cristo era um com o Pai antes de haverem sido postos os fundamentos do mundo. Esta é a luz que brilha em lugar escuro, tomando-a resplendente com a divina glória original. Esta verdade, infinitamente misteriosa em si mesma, explica outras verdades misteriosas e doutra maneira inexplicáveis, se bem que postas em relicário de luz, inatingível e incompreensível.” — Sra. E. G. White, em Review and Herald, de 5 de abril de 1906.

  • 4. De que Cristo foi o Criador de tôdas ás coisas. — Êste pensamento é salientado seguidamente no Novo Testamento. Ver S. João 1:1-3; Efés. 3:9; Col. 1:13-16; Heb. 1:1 e 2.

Lemos:

“O Pai operou por Seu Filho na criação de todos os sêres celestiais. ‘NÊle foram criadas tôdas as coisas!” — Patriarcas e Profetas, pág. 22.

  • 5. De que Cristo é a fonte e o doador de tôda vida.— Ver S. João 5:26; 1:4; 10:17; 11:25.

Lemos, ainda:

‘“Eu sou a ressurreição e a vida.’ Aquêle que disse: ‘Eu dou a Minha vida para tomar a tomá-la,’ ressuscitou do sepulcro para a vida que estava em Si mesmo. .. . Somente Aquêle que tem a imortalidade residente na luz e na vida podia dizer: ‘Eu tenho o poder de depor a Minha vida, e tenho o poder de tornar a tomá-la’.” — Sra. E. G. White, em The Youth’s lnstructor, de 4 de agôsto de 1898.

“‘NÊle estava a vida, e a vida era a luz dos homens.’ Não é especificada a vida física, mas a imortalidade, a vida que é de exclusiva propriedade Deus. . . . NÊle estava a vida, original, não emprestada, não derivada.” — Sra. E. G. White, em The Signs of the Times, de 8 de abril de 1897.

  • 6. De que Cristo era divino e humano. — Êle era o “Filho de Deus” (Rom. 1:4). Também era o “Filho do homem” (S. Mat. 26:64). Era Deus “manifesto na carne” (I Tim. 3:16). O Verbo Eterno “Se fêz carne e habitou entre nós” (S. João 1:14).

“Em Cristo, a divindade e a humanidade estavam combinadas. A divindade não foi degradada para a humanidade; a divindade manteve o seu ugar.” — The SDA Bible Commentary, Vol. V, pág. 1082.

“Cristo era verdadeiro homem; Êle deu prova de Sua humildade com tornar-se homem. Entretanto, era Deus na carne.” — Sra. E. G. White, em The Youth’s lnstructor, de 13 de outubro de 1898.

“Êle vestiu a Sua divindade com a humanidade. Era em todo o tempo como Deus, mas não aparecia como Deus. . . . Era Deus enquanto estava na Terra, mas Se despiu da forma de Deus, e em vez disso assumiu a aparência e o aspecto de homem.” — Sra. E. G. White, em The Review and Herald, de 5 de julho de 1887.

  • 7. De que Cristo assumiu a nossa natureza humana. — O apóstolo Paulo dá ênfase a esta verdade. Ver. Fil. 2:7; Rom. 8:3; Heb. 2:14.

“Cristo não simulou haver assumido a natureza humana. Êle a tomou verdadeiramente. Êle realmente possuía a natureza humana. ‘E visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Êle participou das mesmas coisas.’ Êle era o Filho de Maria; era a semente de Davi, segundo a descendência humana.” — The SDA Bible Commentary, Vol. V, pág. 1130.

Tomando sôbre Si a humanidade, Cristo veio para ser um com a humanidade e ao mesmo tempo revelar nosso Pai celestial aos sêres humanos pecadores.

“Jesus foi em tôdas as coisas semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se carne, da mesma maneira que nós. . . . embora fôsse o imaculado Filho de Deus.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 228.

  • 8. De que Cristo estava sem pecado, imaculado pelo pecado. — O caráter perfeito, sem pecado do Filho de Deus é salientado. Diz Paulo que Êle “não conheceu pecado” (II Cor. 5:21); Pedro declara que Êle “não cometeu pecado” (I S. Ped. 2: 22); João comenta que “nÊle não há pecado” (I S. João. 3:5). Outro testemunho é encontrado em Heb. 4:15; 7:26. Êle é “santo, imaculado, incontaminado, separado dos pecadores.”

“Na plenitude do tempo, Êle [Cristo] seria revelado em forma humana. Tomaria Sua posição à testa da humanidade, assumindo a natureza, mas não a pecaminosidade do homem.” — Sra. E. G. White, em The Signs of the Times, de 29 de maio de 1901.

“Ao tomar sôbre Si a natureza do homem em sua condição caída, Cristo não participou absolutamente de seu pecado. … Houvesse Satanás no mínimo que fôsse podido tentar Cristo a pecar, e teria ferido a cabeça do Salvador. Como aconteceu só lhe pôde ferir o calcanhar. Se a cabeça de Cristo houvesse sido ferida, teria perecido à esperança da raça humana. … Não devemos nutrir dúvida alguma quanto à perfeita isenção de pecado da natureza humana de Cristo.” — The SDA Bible Commentary, pág. 1131.

Reiterada ênfase é encontrada neste pensamento, nos escritos da Sra. Ellen G. White:

“Êle .. . estava sem a mancha de pecado. . . . Sua natureza estava sem a mancha do pecado.” — Testimonies, Vol. IV, pág. 528.

“Êle não estava contaminado com a corrução, era estranho ao pecado.” — Idem, Vol. II, pág. 508.

“Êle não consentia com o pecado. Nem por um pensamento cedia à tentação.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 87.

“Em Sua natureza humana manteve Êle a pureza de Seu caráter divino.” — The Youth’s lnstructor, de 2 de junho de 1898.

  • 9. De que Cristo foi tentado em todos os pontos como nós o somos. — Êste é um pensamento extraordinário e reconfortante. Mas lembremo-nos sempre de que conquanto seja verdadeiro, também é verdade que foi “sem pecado” (Heb. 4:15). A tentação que sofreu, não contaminou, porém, o Filho de Deus. Suportou Êle as nossas fraquezas, as nossas tentações, vicariamente, na mesma maneira em que tomou sôbre Si as nossas iniqüidades. Ao tomar sôbre Si os pecados do mundo, ainda foi o puro, imaculado Cordeiro de Deus. Que isso pudesse haver ocorrido, é certamente um mistério. Ninguém pode explicar como Jesus pôde ser tentado em todos os pontos em que nós somos tentados e no entanto permanecer incontaminado, sem pecado.

Algumas pessoas parecem inclinadas a argumentar que a fim de ser realmente humana tinha Êle que possuir propensões para o pecado. Conselho claro nos foi ministrado nesse sentido. E, conquanto estas citações e muitas outras da serva do Senhor tenham sido insertas na Seção de Conselho de The Ministry de setembro passado, convém serem repetidas aqui.

“Sêde cuidadosos, extremamente cuidadosos quan-to a como considerar a natureza humana de Cristo. Não O apresenteis ao povo como um homem com propensões para o pecado. Êle é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado puro, um ser sem pecado, sem uma mancha de pecado sôbre si. . . . Jesus Cristo foi o unigênito Filho de Deus. Êle tomou sôbre Si a natureza humana. . . . Poderia ter pecado; poderia haver caído, mas nem por um momento sequer houve nÊle uma propensão para o mal.” — The SDA Bible Commentary, Vol. V, pág. 1128.

“Ao tratardes da humanidade de Cristo, deveis vigiar estritamente cada declaração, para que não sejam dadas às vossas palavras maior significação do que têm, e assim desmereçais ou ofusqueis as claras percepções de Sua humanidade combinada com a divindade. Seu nascimento foi um milagre de Deus; pois, disse o anjo: ‘Conceberás e darás à luz um filho, e pôr-Lhe-ás o nome de JESUS.

Descerá sôbre ti o Espírito Santo, . .. pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.’

“Estas palavras não se referem a qualquer ser humano, mas ao Filho do infinito Deus. Nunca, de maneira nenhuma, deixeis a mais leve impressão nas mentes humanas de que houvesse em Cristo uma mancha de corrução ou inclinação para a corrução, ou que Êle de qualquer maneira houvesse cedido à corrução. Êle foi tentado em todos os pontos como o homem é tentado, no entanto é chamado o Santo’. Ê um mistério que haja sido deixado sem explicação aos mortais que Cristo haja podido ser tentado em todos os pontos, como nós o somos, mas sem pecado. A encarnação de Cristo sempre foi e sempre permanecerá um mistério. O que está revelado, é sempre para nós e para nossos filhos, mas seja todo ser humano advertido a não fazer de Cristo totalmente humano, tal como nós mesmos; porque isso não pode ser. O tempo exato em que a humanidade se fundiu com a divindade não nos é necessário saber. Devemos conservar os pés na Rocha, Cristo Jesus, como Deus revelado na humanidade.” — Idem, págs. 1128 e 1129. (Grifo nosso.)

Cantamos com entusiasmo “Maravilhoso Salvador é meu Senhor Jesus!” e isso é verdadeiro. Não há quem se Lhe iguale. Paulo fala do “dom inefável”. Isto não significa um dom de que não podemos ou não devemos nem testificar, mas sim um dom que “é maravilhosíssimo”. Êle é incomparável; é inexprimivelmente precioso; é o maior dom de Deus ao homem. Graças sejam dadas a Deus por Seu dom. É maravilhosíssimo!

Honestidade — Fidelidade — Operosidade

Ao se terem de confiar responsabilidades a um quais forem suas realizações, sem estas qualidades indivíduo, não se indague se êle é eloqüente ou êle se acha inteiramente inabilitado para qualquer rico, mas se é honesto, fiel e operoso; pois sejam cargo de confiança. — Testimonies, Vol. IV, pág. 413.