Assunto preparado por um grupo composto de 145 membros, em resposta à intenção do Presidente da Associação Geral, Pastor Neal C. Wilson, de que fossem estudados alguns temas teológicos difíceis e apresentados os resultados à igreja. O presente estudo ficou pronto em 1980.
A história de nossa salvação é inexaurível. Ela apresenta o mistério do pecado e revela o mistério da cruz, por meio do qual o amor divino vence o mal. Fala da desesperada condição da família humana e do plano e poder de Deus para restaurar em nós Sua imagem. É a incrível boa nova de que Deus fez por nós e faz em nós o que jamais poderíamos fazer por nós mesmos, e que não merecemos.
Essa história será nosso estudo e cântico por toda a eternidade. Nossas mentes continuarão a dilatar-se pela contemplação do “mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações, e agora foi manifesto aos Seus santos” (Col. 1:26), e discerniremos os mais ricos tesouros do amor e da sabedoria divinos.
Contudo, as boas novas são para todos. Embora sua profundidade exija o esforço do mais aguçado intelecto, ela é simples o bastante para até mesmo uma criança poder entendê-la. Deus a tornou clara para que todo membro da família humana pudesse ouvir e maravilhar-se e, em se maravilhando, ser conquistado pela história do amor divino. Ele deseja que cada um de nós compreenda que em Jesus Cristo somos aceitos, redimidos e adotados na família de Deus na Terra e no Céu. Esta certeza transforma o desespero em esperança, a desolação em prazer; pois o poder transformador do amor de Deus torna-nos novos homens e mulheres em Cristo.
Os Adventistas do Sétimo Dia entendem o evangelho numa configuração especial. Nós o vemos à luz das mensagens finais do tempo do fim, dos três anjos de Apocalipse 14:6-12. Nossa responsabilidade é terminar a proclamação do “evangelho eterno” a todo o mundo antes da volta do nosso Senhor. É a mesma história, a história eterna, a única história desde Gênesis até Apocalipse — a mensagem do terceiro anjo que, é-nos dito, centraliza-se na justificação pela fé (Evangelismo, pág. 190) — mas é proclamado no contexto dos acontecimentos finais da história da Terra e do ministério de Cristo no Céu (Daniel 7 e 8; Apoc. 3 e 4; Heb. 8-10).
Vemos também uma dimensão cósmica na história da salvação. O plano divino reconcilia todas as coisas no Céu e na Terra através da cruz de Cristo (Col. 1:20). O perene conflito entre o bem e o mal, originou-se no Céu com a rebelião de Lúcifer contra Deus. Ele se estendeu à Terra, quando nossos primeiros pais se renderam ao tentador; assim, o pecado se tornou parte de nós, e nosso mundo se tornou a arena em que Cristo batalhou contra Satanás pela nossa lealdade.
A lei de Deus, que é uma expressão do Seu caráter, desempenha um papel central nesse conflito. Lúcifer negou a justiça e benevolência da lei, rejeitou-lhe a autoridade e alegou que ela não poderia ser obedecida; ele e seus súditos continuam a opor-se a ela. Ao salvar da rebelião e do pecado os homens e as mulheres, portanto, Deus continua fiel a Seu próprio caráter e a Sua lei; Sua graciosa atividade que nos salva, vindica ao mesmo tempo Seu caráter e a lei, e reconcilia o mundo consigo mesmo (II Cor. 5:19; Patriarcas e Profetas, págs. 64 e 65).
Esse estudo focaliza a dinâmica da salvação. Ele não procura abranger todos os aspectos do plano da salvação, nem pretende também penetrar todas as profundezas destes mistérios. Ele tem que ver com os homens e as mulheres, aqui e agora; tenta anunciar claramente as boas novas que Deus tem para nós. Estas boas novas, o evangelho, são totalmente diferentes das maneiras humanas de considerar o que é verdadeiro. Elas são facilmente distorcidas ou perdidas e obscurecidas — mesmo pelo debate teológico. Por isso, devem ser ditas e repetidas, provadas cada vez com mais profundidade, e ouvidas mais e mais.
Seção 1. A tremenda necessidade da humanidade
Antes que possamos aceitar as boas novas, devemos reconhecer nossa grande necessidade. Temos que reconhecer que nada podemos fazer para restaurar-nos ao favor divino, ou melhorar nossa natureza má; nossa condição é sem esperança. Para essa pobreza — mental, física e espiritual — vem a salvação de Deus.
1. Permanecemos condenados diante de Deus (Rom. 3:19 e 20). Somos rebeldes de coração e rebeldes nos atos, alienados de Deus e uns dos outros. Mesmo nossos “atos justos” são como “trapos de imundície” (K. J. V.) às Suas vistas (Isa. 64:6), pois mesmo nossos motivos na melhor das hipóteses são confusos: gloriamo-nos de nossa reputação; somos orgulhosos de nossas próprias realizações; comparamo-nos com outros. Quando nos vemos como Deus nos vê, verificamos que somos uma mistura do bem e do mal, sempre um aglomerado de desejos, emoções e aspirações conflitantes. No íntimo do nosso ser, somos corruptos: “Toda a cabeça es-tá enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres, não espremidas” (Isa. 1:5 e 6).
Não podemos mudar nossa condição diante de Deus. Nenhum sacrifício, nem dom, nem ato de devoção — nem obra de qualquer espécie — podem restaurar o relacionamento interrompido. Nossos primeiros pais foram criados à imagem de Deus, mas essa imagem foi desfigurada (Gên. 1:27; Testimonies, vol. 4, pág. 294); após sua queda eles foram expulsos da presença de Deus. “O pecado mareou e quase obliterou a imagem de Deus no homem” (Patriarcas e Profetas, pág. 638), e nós ainda estamos fugindo dEle.
2. Estamos alienados de nossa verdadeira individualidade. Somos dilacerados pelas dúvidas e conflitos; ficamos amedrontados por causa das profundezas do pecado que vemos em outros, e sentimos em nós mesmos as ondas do mesmo mal. Estamos opressos pela culpa, pois fomos destituídos da glória de Deus (Rom. 3:23). Proclamamos nossa liberdade, mas estamos sujeitos ao jugo da servidão (Gál. 5:1) e somos servos da corrupção (II Ped. 2:19).
3. Estamos alienados também uns dos outros. Procuramos unir-nos aos ricos e aumentar nossa reputação a expensas de outros; dessa forma, somos invejosos e desconfiados, ciumentos e astutos, insensíveis e cruéis (Jer. 17:9). A teia das relações humanas, estabelecida pelo Criador, jaz em frangalhos (Rom. 1:28-32); procuramos remendá-la aqui e ali, mas todos os nossos esforços são fragmentários e inadequados.
4. Estamos alienados do mundo criado. Deus nos designou para termos “domínio” sobre o mundo (Gên. 1:26; Sal. 8:6), mas nos tornamos despenseiros da exploração. Devastamos os recursos da Terra, consumimo-los vorazmente e transformamos tudo o que encontramos para fins egoístas (Apoc. 11:18).
Assim, a humanidade está numa condição desesperadora. Todos os nossos planos, esperanças e esforços estão corrompidos por nossa pecaminosidade. Individual e coletivamente, permanecemos condenados por aquilo que temos feito e por aquilo que somos, pelo espírito de rebeldia contra o Deus que é parte de nós, pois Se compadece de toda a nossa alienação e pecado (Rom. 5:18; Caminho Para Cristo, págs. 19-25).
Estamos perdidos, cheios de ansiedade e solidão. E somos incapazes de ajudar a nós mesmos.
Seção 2. A iniciativa divina
As boas novas da Bíblia são que Deus tomou a iniciativa de salvar-nos. Ele vem até nós em nosso extravio, ofertando abundantemente a salvação. O evangelho modifica todo entendimento e esforço humano. Por natureza, operamos de acordo com os princípios do progresso: a recompensa deve corresponder à realização. Mas as boas novas são que “o dom de Deus é a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rom. 6:23, KJV). Deus é generoso em Seu amor, pródigo além da nossa compreensão.
Através de toda a Bíblia, Deus toma a iniciativa de salvar. Por ocasião do primeiro pecado, Ele apareceu buscando; e Seu chamado “onde estás?” (Gên. 3:9) ecoa através de todas as eras. Ele chamou Abraão e fez dele o pai de todos os fiéis (caps. 12:1-3; 15:6-21; Heb. 11:8-10). No Egito, Ele iniciou o resgate das tribos hebréias da excravidão (Êxo. 3:6-10), e em Babilônia interferiu novamente para trazê-los para o lar, procedentes do exílio (II Crôn. 36:22 e 23).
Essa atividade salvífica de Deus é expressa pela palavra justiça. A Bíblia mostra a justiça de Deus por aquilo que Ele é: não constitui apenas uma condição; antes, ela se manifesta unicamente em atividade salvadora. E, nessa atividade, Israel encontrava esperança. Dessa forma, o salmista suplica: “Senhor, guia-me na Tua justiça” (Sal. 5:8) e “livra-me pela Tua justiça” (caps. 31:1; 71:2), enquanto Deus anuncia: “Faço chegar a Minha justiça, e não estará ao longe; e a Minha salvação não tardará: mas estabelecerei em Sião a Salvação, e em Israel a Minha glória” (Isa. 46:13; cf. 51:5; 56:1; etc.,) Podemos dizer então que a justiça de Deus traz salvação; pois Deus é chamado “o Senhor justiça nossa” (Jer. 23:6, KJV).
A justiça salvadora de Deus não está em conflito com Sua lei eterna. No Sinai, a lei foi dada em forma escrita, como parte do ato salvador de Deus, para definir os termos do concerto de relação entre Deus e Seus filhos terrenos; não, porém, como um meio de salvação. A lei previne que Deus “não justificará o ímpio” (Êxo. 23:7, KJV); ainda, que diante dEle nenhum homem que vive é justo” (Sal. 143:2, NASB). E uma vez que Deus como “o Juiz de toda a Terra” (Gên. 18:25) não pode agir injustamente, cada pessoa deve esperar uma sentença de condenação baseada em seus atos. Compreendendo isto, o salmista implora: “Não entres em juízo com o Teu servo” (Sal. 143:2). Pois a lei, dada por iniciativa de Deus, diz aos homens e às mulheres o que fazerem, mas não como obterem a salvação; só Deus pode criar um coração puro (cap. 51:10), e o profeta anuncia que Alguém escolhido por Deus “justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre Si…. Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercede” (Isa. 53:11 e 12).
Em Jesus Cristo a iniciativa divina atinge um clímax sem precedente. Deus vinha sempre intervindo para trazer a salvação; agora, num supremo ato de desprendimento, Deus o Filho Se torna o Cristo encarnado. “A palavra foi feita carne, e habitou entre nós” (S. João 1:14, KJV). Ele Se tornou um conosco. Participando de nossa sorte, mostrando-nos a que se assemelha a verdadeira humanidade — a humanidade feita à imagem de Deus. Ele sofreu e foi provado, lutando com o tentador (Heb. 2:14 e 17; 5:7-9). “Foi tentado como nós, em todos os pontos, mas sem pecado” (cap. 4:15, KJV). Pela palavra e pela vida, pela morte e a ressurreição, trouxe-nos o Deus-Homem, Jesus Cristo, as boas novas do amor de Deus e a salvação que Ele proporciona. (S. João 3:16).
Repetidas vezes, a vida e os ensinos de Jesus revelam o caráter de Deus (cap. 1:18). Em lugar de nos encolhermos com medo ou dEle nos afastarmos em rebeldia, devemos chamá-Lo “nosso Pai” (S. Mat. 6:9). Tudo o que vemos em termos de bondade, cuidado e provisão amorosa na paternidade humana é, quando muito, um pálido reflexo do Pai celestial. Ele é o divino Amigo, que considera a todos sobre a Terra como Seus filhos, embora Sua paternidade não seja reconhecida (cap. 5:43-48); Ele é o Doador divino, que Se deleita em derramar Suas bênçãos sobre Seus filhos (cap. 7:7-12).
Sua generosidade nos causa espanto. Ele é pródigo em salvação; nada fazemos para obtê-la. Ele não é um soberano irado, nem um juiz exigente. Antes, derrama liberalmente, sem levar em conta se merecemos. Nossa única condição é nossa necessidade; não temos ne-nhum direito sobre Ele, absolutamente (cf. S. Mat. 18:23-25; 20:1-16; S. Luc. 18:9-14).
A graça de Deus sempre surpreende os que desejam a justiça-própria. São os chamados “justos” que desafiam os ensinos de Jesus; eles não podem aceitar a idéia de que a salvação é, de fato, inteiramente de graça. Apegam-se a algum vestígio de meritória atividade humana, algum remanescente de sua própria realização, no qual possam encontrar satisfação íntima (S. Mat. 21:31; S. Luc. 14:11).
A missão de Jesus se ajusta a esta revelação de Deus. Ele veio como Aquele que foi enviado de Deus. (S. João 5:36 e 37), a viva personificação do amor divino a um mundo perdido. Ele veio não para condenar-nos, senão’ para salvar-nos (cap. 3:16-21; S. Mat. 1:21).
E esta missão exemplifica libertação (S. Luc. 4:16-21). Ele nos torna livres do cativeiro do diabo. Torna-nos livres da morte eterna (Heb. 2:14 e 15). Ele nos liberta da culpa. Proclama-nos “o ano aceitável do Senhor” (S. Luc. 4:19), oferecendo perdão a todo aquele que crer. Vamos a Ele abatidos, sobrecarregados, escravizados; voltamos exultantes, renovados para viver como filhos e filhas do Deus que perdoa.
A missão de libertação de Jesus leva inevitavelmente à cruz. Ele predisse-a, quis evitá-la, mas a aceitou de conformidade com a vontade divina. Toda a Sua vida apontou para ela; por mais importante que Lhe tenha sido viver entre nós e por nós, foi tão-somente por Sua morte que Deus pôde salvar-nos (Rom. 3:21-26; Fundamentos da Educação Cristã, pág. 382).
Ele era “o cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Apoc. 13:8). Antes que o mundo fosse criado, Deus Se comprometera a enfrentar a crise do pecado e da morte (O Desejado de Todas as Nações, pág. 22; The SDA Bible Commentary, Comentários de E. G. White, vol. 5; pág. 1149). O pecado não é coisa simples e Deus não o passa por alto; a iniciativa divina satisfaz as exigências da lei infringida. Deus é justo, e justificador daqueles que crêem em Jesus (Rom. 3:26) — através da cruz. Deus não somente Se tornaria carne e lutaria contra a tentação sem sucumbir a ela (Heb. 4:15); no ato culminante da espantosa série de iniciativas divinas, Ele morreria numa detestada cruz, vicariamente, por todos nós. “Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filip. 2:8).
Jesus morreu por todas as pessoas em todos os lugares e em todas as épocas. Este era o acontecimento para o qual os sacrifícios do Antigo Testamento apontavam. Ele reconciliou o mundo com Deus (II Cor. 5:19); libertou a humanidade do poder de Satanás; abriu a porta para uma vida em união com Deus. Por isso, como cristãos não nos envergonhamos da cruz; ela é a garantia de nosso perdão, a base de nossa segurança e o penhor de nossa vida eterna em Deus. “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gál. 6:14; Testemunhos Para Ministros, págs. 161 e 162).
Enquanto a cruz e a ressurreição de Cristo são o ponto focal de todos os tempos (cf. Heb. 9:26), a iniciativa divina não termina com elas. O Cristo ressurgido, elevado à direita do Pai, pede o Espírito Santo para O enviar ao mundo (S. João 14:16 e 26). O Espírito sempre preparou homens e mulheres para seguirem a Deus; agora Ele vem de uma maneira diferente. Sem Ele, nossa vontade é fraca, tão inclinada para o mal que não podemos por nós mesmos escolher o bem. Ele, porém, fortalece a vontade de maneira que podemos atender às boas novas e aceitar o dom da salvação (cap. 3:5-8; 7:17; Filip. 2:13). Dessa forma, o ministério de Jesus é perpetuado: o Espírito convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (S. João 16:8).
A história da salvação é assim a história da graça e do amor. O Deus que Se deleita em perdoar, redimiu o mundo por meio de Cristo Jesus. Em cada ponto da história, Deus toma a iniciativa.
Seção 3. A resposta humana à graça
Enquanto Cristo, por Sua morte redimiu o mundo e pagou a penalidade de todo o pecado, nem todas as pessoas experimentarão realmente a salvação. Por que isto? Porque Deus não coage, nem mesmo para o nosso maior proveito. Ele proveu a salvação como um dom, mas não nos força esse dom. Ele fez a reconciliação, mas devemos concordar em ser reconciliados.
A resposta humana à graça centraliza-se na fé, e a essência da fé é confiança — tomar a Deus em Sua palavra (Rom. 14:23; Heb. 11:1). Na Bíblia, o maior exemplo de fé é Abraão, a quem Paulo se refere, citando o Antigo Testamento, que “creu a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rom. 4:3; cf. Gên. 15:6). Aqui, no contexto de um concerto feito por Deus, a fé de Abraão não é apenas um assentimento intelectual, mas uma total resposta de confiança na promissora palavra de Deus. É a prontidão em submeter-se inteiramente a Deus e aceitar-Lhe a palavra. Nesse ato de fé, Abraão está em correto relacionamento com Deus, e o resultado é a obediência (Heb. 11:8). Dessa forma, ele obedece a Deus e é circuncidado (Gên. 17:22-27). Em sentido bíblico, a fé jamais é simplesmente um ato mental, mas sempre um relacionamento de “a fé que opera por amor” (Gál. 5:6; cf. The SDA Bible Commentary, Comentários de E. G. White, vol. 6, pág. 1111; Mensagens Escolhidas, Livro 1, pág. 398).
Não há mérito algum na própria fé. Não somos salvos pela fé, mas pela graça: “Pois pela graça sois salvos, por meio da fé” (Efés. 2:8); “Nada há na fé que a torne nosso salvador.” — The SDA Bible Commentary, Comentários de E. G. White, vol. 6, pág. 1071. Por outro lado, a fé é o meio, o instrumento, pelo qual reclamamos o dom da salvação de Deus (Mensagens Escolhidas, Livro 1, pág. 363). A cruz, somente, é nossa salvação; a fé é nossa aceitação pessoal da cruz como ato decisivo de Deus em nosso benefício.
Sem a atração de Deus, pessoa alguma virá a Ele (S. João 6:44; Idem, pág. 390). Nossas faces se desviam dEle e nos falta sequer o desejo de voltar-nos. Nossa vontade é tão fraca que preferimos constantemente apenas o mal (Jer. 13:23). O Espírito Santo, porém, nos fortalece a vontade, despertando em nós um intenso desejo em favor de Deus. Ele nos leva a arrepender-nos; sentimos tristeza pelo pecado e nos afastamos dele quando pela fé estendemos a mão para receber o dom de Deus (The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White, vol. 6, pág. 1073; O Desejado de Todas as Nações, pág. 178). Assim, a própria fé é um dom de Deus oferecido a todos nós (Efés. 2:8; Mensagens Escolhidas, Livro 2, pág. 375) através das Escrituras.
Não podemos compreender plenamente a maneira em que o Espírito Santo nos fortalece a vontade para ocasionar a fé. Podemos dizer que recebemos a salvação de Deus porque escolhemos assim fazer; devemos, porém, afirmar também que, tudo o que é humano na fé só é possível por causa da iniciativa divina na obra do Espírito Santo. Assim não pode haver nenhuma “jactância” em nossa fé (Rom. 3:27).
A possibilidade da fé é também a possibilidade de sua rejeição. Podemos resistir ao apelo do Espírito e repelir o dom oferecido por Deus. Em assim fazendo, condenamo-nos a nós mesmos, pois repelimos a graça e desprezamos o amor (S. João 3:18 e 19).
Os resultados da salvação adequada pela fé são todo-abarcantes; somos radicalmente reorientados; temos tanto uma nova condição como uma nova vida. Na seção seguinte deste estudo trataremos dessa nova condição e da nova vida em Cristo. Precisamos entender, contudo, que, enquanto estes aspectos podem ser distinguidos em benefício da clareza da discussão, eles nunca estão separados na experiência. A atividade salvadora de Deus, que nos declara Seus filhos e filhas, é ao mesmo tempo um relacionamento transformador (Rom. 5:1-5; Tito 3:5; Heb. 10:16 e 17; O Maior Discurso de Cristo, pág. 114).
Seção 4. A nova condição em Cristo
A nova condição em Cristo é por demais significativa para ser abrangida por qualquer palavra. Entre as muitas expressões usadas na Bíblia para descrever esta realidade, as principais são justificação, reconciliação, perdão, adoção e santificação. Cada uma destas palavras, ao ser comumente usada pelos cristãos, tem um uso e significado bíblico distinto.
1. Justificação. Esta palavra provém do ambiente de uma corte legal. Somos considerados criminosos, citados na barra da justiça de Deus. Ao ser-nos lida a lei, ficamos sabendo que somos culpados. Ainda que pudéssemos alegar inocência em termos de transigência externa, a lei prova nossos motivos e desejos, e destrói nossas defesas: “A lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Rom. 7:14). Agora, porém, há uma agitação na corte. Nosso Advogado Se ergue para falar em nosso favor. Em lugar de concordar com a nossa morte, Ele apresenta Sua própria morte; embora conheça nossa desobediência, aponta para Sua própria obediência. Em lugar de reclamar nossa justiça, cobre-nos com Sua própria justiça (Parábolas de Jesus, pág. 311). Assim Ele assume o nosso lugar como nosso Representante (O Desejado de Todas as Nações, pág. 340; The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White, vol. 7, pág. 925) e Substituto (Mensagens Escolhidas, Livro 1, págs. 256 e 258). Por causa dEle, é pronunciado o veredicto: “Absolvido!” Saímos livres das acusações da lei, que nos haviam condenado antecipadamente. Este é o significado da justificação pela graça mediante a fé (Rom. 3:21-26).
2. Reconciliação. O quadro aqui é tirado das relações humanas. Os amigos se foram; instalaram-se os piores sentimentos de separação. Um grupo, contudo, já agiu para restabelecer o relacionamento; Ele foi até, e além da expectativa, imaginação ou atividade humana, a fim de endireitar a situação. De novo, Deus tomou a iniciativa; Ele nos “reconciliou consigo mesmo através de Cristo” (II Cor. 5:18, N.A.S.B.). Até onde Lhe diz respeito, toda a causa de hostilidade foi afastada. O segundo grupo, porém, continua alienado. Ele abriga sentimentos de culpa pelas atividades que levaram à ruptura do relacionamento; ele rumina suas hostilidades. Um dia, contudo, a inutilidade da situação e a magnanimidade do primeiro grupo lhe toca o coração. Ele dá meia-volta e se reconcilia (II Cor. 5:20; cf. Rom. 5:10; O Maior Discurso de Cristo, págs. 115 e 116).
3. Perdão. Esta palavra se relaciona com o mundo das transações financeiras. De acordo com a parábola de Jesus sobre os dois devedores, defrontamo-nos com uma dívida que jamais poderíamos pagar. Tão imensa é essa dívida que jamais podemos enfrentá-la (S. Mat. 18:25-35). Essa dívida representa nosso pecado. Nessa condição sem esperança, contudo, Deus cancela gratuitamente a dívida por meio de Jesus Cristo. “Cristo morreu por nossos pecados” (I Cor. 15:3). Todas as nossas contas são totalmente pagas; sentimo-nos alegres com a situação daqueles que não mais têm dívidas de pecado, e que, por isso, perdoam seus devedores (S. Mat. 18:32 e 33).
4. Adoção. Temos aqui um exemplo de relacionamento de família. Estamos numa condição miserável, órfãos em um mundo hostil. Buscamos um lar, um lugar que nos acolha, um lugar para morar. Estamos “separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Efés. 2:12). Então um dia somos adotados. Nosso Pai preenche todas as formalidades, pagando o preço total da adoção e tornando-nos assim filhos Seus. Ele nos dá as boas-vindas a Seu lar e nos concede todos os direitos e privilégios a Ele pertencentes. Recebemos a plena condição de Seus filhos e filhas. “Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gál. 4:4 e 5; cf. Rom. 8:15; Parábolas de Jesus, pág. 250).
5. Santificação. Esta palavra é geralmente empregada pelos cristãos para indicar crescimento no sentido do ideal divino. Na Bíblia, contudo, ela tem um significado de maior alcance, que muitas vezes indica nova situação. Assim, freqüentemente ela significa “dedicação” ou “consagração”, como acontece na ocasião em que Paulo dirige suas cartas aos “que são santificados” ou “santos” (e. g, Rom. 1:7; I Cor. 1:2; II Cor. 1:1; Efés. 1:1). Ele escreve também aos Coríntios: “Mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados” (I Cor. 6:11). O significado é tirado do cenário do santuário. Em Israel, tudo e todos que se associavam com o santuário, deviam ser separados de uso profano e “consagrado” ao serviço de Deus. Assim, em um mundo em revolta, tem Deus aqueles que pertencem a Ele, que são separados do mundo e separados para Ele. Pelo fato de terem eles aceito Sua graça mediante a fé, já não pertencem ao príncipe do mal. São selados com o selo de identificação do próprio Deus; são Sua propriedade particular, que Ele tem em alto preço no meio da agitação deste mundo (Filip. 2:15; Testemunhos Para Ministros, págs. 49 e 50).
Estas palavras sugerem também responsabilidade. Visto sermos filhos e filhas do Rei dos Céus, importa que vivamos de maneira que honremos nossa condição real. Tendo sido absolvidos no tribunal pelo fato de Jesus ter tomado o nosso lugar, cumpre-nos revelar gratidão pela maneira em que vivemos. Uma vez cientes das providências divinas, até a morte de Cristo na cruz, que nos levou à reconciliação, já não podemos tomar levianamente o conhecimento de Deus. Removido o esmagador fardo de nossa culpa, devemos cuidar para não cair de novo sob a servidão da dívida. Agora que já não somos sós nem estranhos, regozijemo-nos em nossa nova família e procuremos honrar-lhe o nome. Desde que Deus nos chamou para sair do mundo, não podemos conservar seu estilo de vida e perseguir seus alvos e ambições. (II Cor. 6:16-18).
Temos, portanto, uma nova atitude para com o pecado e o cometer pecado. O domínio do pecado foi interrompido em nossas vidas; somos servos de Cristo, apresentamos nossos membros “como instrumentos de justiça” (Rom. 6:12-19). Podemos fazer todas as coisas por meio de Cristo que nos fortalece (Filip. 4:13). Deus deseja que obtenhamos a vitória sobre todo pecado: “Filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis” (I S. João 2:1). Mesmo, porém, que deslizemos e caiamos, nossos pecados não são inteiramente semelhantes aos dos não redimidos. Vistos pelo lado exterior, os atos podem parecer idênticos; a atitude interior para com eles, porém, é radicalmente diferente. O descrente está familiarizado com o pecado, é indiferente a suas conseqüências e a Deus, e muitas vezes está em deliberada rebelião contra Sua lei. Quando o crente peca, ele aborrece seu pecado e o pecar, pois ele foi a causa da morte do Salvador, e ele não deseja crucificar de novo o Filho de Deus (cap. 3:4-10; Heb. 6:6; O Grande Conflito, pág. 512, 28ª edição).
Quanto mais tempo permanecermos em um relacionamento de fé com Deus, tanto mais manteremos nossa condição como Seus filhos e filhas. Embora sejamos às vezes vencidos pela tentação, não seremos lançados fora, pois ainda temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo o justo (I S. João 2:1), que é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (cap. 1:9). Continuamos membros da família divina. Não é a boa ou a má ação ocasional, mas a inclinação geral da vida, que indica a direção em que estamos indo — se nos tornamos rebeldes de coração, novamente, e se ainda permanecemos no relacionamento de fé (Caminho Para Cristo, págs. 57 e 58; A Ciência do Bom Viver, pág. 249).
A nova condição envolve o novo relacionamento. Não se pode separar um do outro. Uma vez recebendo de Deus o dom da salvação, vivemos agora pela fé. Necessitamos buscar a Deus cada dia com terna confiança, deixar nosso orgulho e confiar inteiramente nEle. O relacionamento crescerá e se fortalecerá; do contrário, ele definhará e morrerá. Deus deseja que aconteça a primeira destas coisas, mas quer evitar a última. Ele não violará o elemento da liberdade humana na fé. Se permitirmos que pereça o novo relacionamento, já não podemos reclamar os benefícios da nova condição da salvação (Heb. 6:4-8; S. João 15:4-8; Mensagens Escolhidas, Livro 1, pág. 366).
Seção 5. A nova vida em Cristo
A nova condição em Cristo está inseparavelmente relacionada com a nova vida. Recebido mediante a fé, o dom da salvação torna-nos novas pessoas. O amor divino, que tem início, desperta em nós um amor correspondente, e somos progressivamente transformados na bondade de Deus. Essa mudança está relacionada com várias dimensões.
1. Novo nascimento. Ninguém pode desvendar o mistério do novo nascimento. O Espírito Santo opera em nós e “nascemos de novo” ou somos “regenerados” (S. João 3:4-8). Há uma mudança fundamental na direção de nossa vida, nossas atitudes, nossos valores. Conservamos nossa individualidade, mas agora já não somos egocêntricos; deixamos de alimentar nosso ego e nos dedicamos a servir a Deus e ao homem. “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (verso 6).
2. Restauração. No poder do Espírito, a quase obliterada imagem de Deus em nós acha-se em processo de contínua restauração.
Há uma restauração da pessoa física, mental e espiritual (I Tess. 5:23). Em lugar de ansiedade e conflito interior, temos “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Filip. 4:7). Temos a inabalável alegria do Senhor, prontidão e boa vontade para fazer o Seu querer (cap. 2:13), e viver para Sua glória. Honramo-Lo em nosso corpo, o templo do Espírito Santo, apresentando-o como um “sacrifício vivo” para o serviço (I Cor. 6:19 e 20; Rom. 12:1 e 2).
Há uma restauração do relacionamento interpessoal. Vemos todas as pessoas como Deus as vê, sem distinção de raça, posição social, sexo ou religião: Todos são um em Cristo Jesus (Gál. 3:28). Amamos aos outros; apreciamo-los pelo que eles são; procuramos entender as circunstâncias que lhes modelaram a vida; deles cuidamos com interesse semelhante ao de Cristo.
Há uma restauração do relacionamento com o mundo físico. No pecado, o domínio sobre a terra, concedido aos nossos primeiros pais (Gên. 1:26), é explorado; agora, em Cristo é restaurada a administração responsável. Consideramos os recursos do mundo como dons de Deus a nós.
3. Crescimento. A nova vida é um dos crescimentos em Cristo. A imagem divina em nós é progressivamente restaurada quando, ao contemplarmos nosso Senhor, somos transformados pelo Seu Espírito (II Cor. 3:18). Esse processo é geralmente chamado de santificação, embora a Bíblia a ele se refira de várias maneiras. “Purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito aperfeiçoando a santidade no temor de Deus” (II Cor. 7:1, KJV). Podemos assim ‘‘crescer nEle em todas as coisas” (Efés. 4:15, KJV; cf. Profetas e Reis, pág. 233; Testimonies, vol. 6, pág. 350; The SDA Bible Commentary, Comentários de E. G. White, vol. 5, págs. 1146 e 1147).
O crescimento espiritual é refletido em nossas palavras e atos. Essas “obras”, contudo, são o resultado de nossa salvação, e não os meios dela. Por meio do Espírito que habita em nós produzimos o fruto do “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio-próprio” (Gál. 5:22 e 23). Este fruto é a evidência de que nos tornamos filhos e filhas de Deus (The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White, vol. 6, pág. 1111).
A vida cristã envolve novo relacionamento com a lei de Deus. Em lugar de nos ofendermos com a instrução divina e procurar evitá-la, deleitamo-nos agora em conhecer a vontade de Deus e segui-la (Sal. 40:8). Pomos nossa vontade ao lado da vontade de Deus e evitamos todo pecado conhecido; as-sim Sua lei se cumpre em nossa vida (Rom. 8:1-4; 13:8-10; Gál. 5:14).
O caminho da obediência leva-nos a compreensão sempre crescente da vontade de Deus para nós (Prov. 4:18). Por sua magnificação na vida e ensinos de Jesus, notamos que ela é mais do que o estabelecimento de regras que demandam submissão exterior. Vemos que ela esquadrinha até nossos pensamentos e motivos, e os desejos e intentos do nosso coração. Demais, obediência não é apenas a ausência de transgressão; é uma vida de virtudes positivas. Consiste em atividades de benevolência não estudadas em relação com cada pessoa cuja vida alcançamos. É uma vida que, em sua própria esfera, reflete a vida de Deus “quando o impulso de auxiliar e abençoar a outros brota constantemente do íntimo” (Parábolas de Jesus, pág. 384; S. Mat. 5:20-48; O Maior Discurso de Cristo, págs. 76-78).
Com esta compreensão, não podemos querer enumerar nossa obediência à lei de Deus. Ainda que fôssemos capazes de relacionar os atos pecaminosos que evitamos e os atos de bondade que praticamos, não poderíamos contar os segredos de nosso coração. Não poderíamos dizer que amamos, como devíamos ter amado, como Deus ama.
A vida de obediência é medida de maneira adequada pelo grau em que nos temos confiado inteiramente a Cristo. Quando tivermos posto de lado a confiança em nós mesmos. Quanto mais semelhantes a Cristo nos tornarmos, tanto menos confiaremos em nós mesmos e veremos quão distantes do modelo divino estamos ainda. Pela fé, porém, somos vestidos com a perfeita justiça de Cristo, que satisfez todos os reclamos da lei. “Nossa confiança não está no que o homem pode fazer; e, sim, naquilo que Deus pode fazer pelo homem por meio de Cristo. Quando nos entregamos inteiramente a Deus, e cremos plenamente, o sangue de Cristo purifica de todo pecado. A consciência pode ser libertada da condenação. Pela fé em Seu sangue, todos podem ser aperfeiçoados em Cristo Jesus. Graças a Deus por não estarmos lidando com impossibilidades. Podemos pretender santificação” Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 32.
4. Graça e fé. Não vivemos a vida cristã de maneira diferente daquela em que a princípio aceitamos a salvação. Tendo aceito a salvação mediante a fé, não confiamos agora em realizações humanas (Gál. 3:1-5). Em cada fase de nossa vida, desde o começo desta até a sua definitiva glorificação, dependemos inteiramente da graça recebida por meio da fé. “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle” (Col. 2:6; Caminho Para Cristo, pág. 69). Por meio do Espírito Santo, Deus opera em nós “tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Filip. 2:13). É a iniciativa divina que mantém nossa vida em Cristo, da mesma forma que a trouxe à existência (The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White, vol. 6, pág. 1071).
Cumpre-nos alimentar a fé. O crescimento não é automático; a obediência não é mecânica. Deus deseja recriar-nos à Sua imagem, mas precisamos nutrir nossa relação com Ele (S. João 15:1-8). Devemos alimentar-nos de Sua Palavra, comungar com Ele em oração e anunciar o que Ele fez por nós (II Tim. 3:16 e 17; I Tess. 5:17; S. Mar. 5:19). Diariamente, cumpre entendermos de maneira mais completa a Sua vontade e experimentar as novas dimensões da entrega.
5. Certeza. A vida nova envolve certeza (Heb. 10:19-22). Nossa salvação foi assegurada pelo ato divino mais decisivo da História: a morte e a ressurreição de Cristo. Sabemos que Aquele que em nós começou a boa obra não nos deixará lutar sozinhos. Estamos certos de que, quanto mais tempo mantivermos nossa confiança nEle, mais Ele nos segurará com mão que jamais nos soltará (A Ciência do Bom Viver, pág. 182). Ele está capacitado a cumprir em nós os Seus desígnios, apresentando-nos sem mácula em Sua presença com inexcedível alegria (Filip. 1:6; I Cor. 1:8; I Tess. 5:23). Já passamos da morte para a vida; o Espírito já testifica com o nosso espírito que somos filhos e filhas de Deus (I S. João 3:14; 5:18-20; Rom. 8:16). Ele nos dá Sua paz no meio da luta, e força suficiente para todas as nossas necessidades (S. João 14:27; II Cor. 12:9). Em Cristo, Deus não somente fez o sacrifício uma vez por todas, pelos nossos pecados, mas temos agora um grande Sumo Sacerdote no santuário celestial, onde Ele vive sempre para interceder por nós e enviar-nos, do trono da graça, ajuda em tempo oportuno (Heb. 7:25; 4:16; Mensagens Escolhidas, livro 2, págs. 32 e 33).
6. Louvor. De maneira que nos alegramos no Senhor (Sal. 20:5; Filip. 4:4). Em todas as experiências da vida; nas trevas, bem como na luz, Ele está conosco (Heb. 13:5). Seu jugo é suave; Ele nos dá descanso (S. Mat. 11:28-30). “Arraigados e sobreedificados nEle, e confirmados na fé, abundamos em ação de graças” (Col 2:7). Em tudo Ele está operando para o nosso bem; “somos mais do que vencedores por aquele que nos amou” (Rom. 8:28 e 37). O sábado é a comemoração de Sua criação, Sua salvação e Sua presença libertadora. Na verdade, cada dever da vida é consagrado ao Deus de amor que nos tornou livres. Mediante a execução fiel mesmo da mais humilde tarefa e por meio da comunicação amorosa das boas novas da salvação, procuramos trazer glória ao nosso Pai celestial (S. Mat. 5:13-16; O Colportor-Evangelista, pág. 77).
Seção 6. A Comunicação
“Vede…. Agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro” (I S. João 3:1-3). Este é o alvo de uma vida santificada em Cristo.
Agora nossa devoção é falha, confusos os nossos desejos. Agora conhecemos em parte. Agora somos perseguidos por dúvidas em meio da paz, desapontamentos em meio da alegria. Agora nossa obediência é dificultada por nossa fragilidade. Um dia, porém, seremos como Ele. “Mas a nossa cidade está nos Céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso, segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a Si todas as coisas” (Filip. 3:20 e 21).
Aproxima-se o tempo para este fim culminante. Vivemos no tempo do fim. O relógio do tempo profético indicou que em 1844 a fase final do grande conflito entre o bem e mal começou com o juízo pré-advento de Deus. O povo de Deus de todas as épocas tem aguardado o juízo de Deus (Apocalipse 5). Eles o têm esperado com expectação como o tempo em que o povo de Deus será vindicado e o Universo restaurado a uma condição perfeita e sem pecado. Assim, nessa hora do juízo (cap. 14:6-12) agradecemos a Deus por Cristo, nosso Advogado, mediante quem somente podemos permanecer de pé no juízo, cujo amor nos motiva para vida santa e que em breve entregará todas as coisas ao Pai (I Cor. 15:14-24).
A consumação está perto. E a iniciativa final de Deus em Sua atividade salvadora.
Dessa maneira, a dinâmica da salvação centraliza-se eternamente na justiça de Deus e Seu Filho. A justiça de Deus abrange a extensão de nossas necessidades; ela nos leva da culpa à justificação, da alienação à restauração e à glorificação. Ela ocasiona a mudança da escravidão do pecado para a nova vida em Cristo, da servidão em temor para a alegria no Espírito. A salvação vem do Senhor; O Senhor é nossa justiça! (Jonas 2:9; Jer. 23:6).