EARL W. HESLOP
(Pastor-Evangelista da Associação de Michigan)
Que Atitude Assumir Para com as Heresias Parte I
HERESIA nada tem de novo; ela foi reconhecida e enfrentada pelos apóstolos. A heresia sempre causa perplexidade e confusão. O ministro de uma congregação praguejada dessa doença tecnológica fica perplexo sôbre como enfrentá-la, e seus paroquianos, ficam confundidos com as variantes interpretações das Escrituras, que são o produto lógico dos heréticos.
Desconhecer a heresia seria desastroso para a organização perturbada com essa atividade cancerosa. O corpo todo seria lesado, possivelmente com resultados fatais. Se um grupo quiser manter as suas características distintivas, é-lhe necessário enfrentar a heresia e vencê-la. Visto que a heresia precisa ser enfrentada, o problema a ser considerado é êsse método.
A Evolução do Têrmo
A fim de compreender devidamente a significação do têrmo é necessário examinar o seu uso e evolução. A palavra provém do grego. 1 Herodoto usou-a ao referir-se à captura de Babilônia por Dario. Sua proclamação foi: “Depois da tomada de Babilônia, o próprio Dario marchou contra os citos.” 2
Josefo usou o têrmo ao referir-se às “três heresias dos judeus”, que eram os fariseus, os saduceus e os essênios, suas três seitas mais famosas. 3 Para Josefo, o têrmo “heresia” significava o mesmo que “seita” para nós; isto é, um grupo de pessoas que se separam de outras.
A mesma palavra é traduzida por “seita”, em Atos 15:5 e 26:5, referente aos fariseus, e em Atos 5:17, referente aos saduceus. Os cristãos foram designados por essa palavra, em Roma, quando Paulo se encontrou ali com os judeus. Atos 28:22 conta-nos o incidente, e usa a tradução “seita”. Quando perante o tribunal de Félix, Paulo foi chamado por Tértulo, de “o principal defensor da seita dos nazarenos” (Atos 24:5), e no versículo 14 Paulo declara, em sua defesa, que servia a Deus “conforme aquêle caminho que chamam seita [heresia].”
Dêsse uso feito ao tempo dos apóstolos, o têrmo passou a ter a significação de partido, divisão, seita, sem qualquer insinuação de censura. “Os gregos usavam comumente o têrmo para descrever as escolas em que os seus filósofos estavam divididos.” 4
Escrevendo aos coríntios, Paulo declara que tivera conhecimento de “dissenções” [cismas] entre êles, e raciocina que “importa que haja entre vós heresias.” 5
Escrevendo aos membros da igreja na Galácia em Gál. 5:19 e 20, êle classificou o têrmo heresia entre as “obras da carne”. Já aqui, o têrmo heresia começa a ter a significação de uma escolha feita pelo indivíduo, pois essas obras são o produto da vontade ou desejo do homem. “Seu sentido secundário é ‘escolha’, ‘preferência’.” 6
Pedro, em sua segunda epístola, (II S. Ped. 2:1), advertiu os primitivos cristãos de que falsos ensinos seriam introduzidos em seu meio “heresias de perdição”. Essa profecia indica que os que introduzissem as heresias seriam destruídos. O uso do têrmo, por Pedro, indica que êle compreendia que heresia significava “falsos ensinos”. Heresia era alguma coisa a ser evitada. 7 Com êsse uso o têrmo começa a ser aplicado a certos ensinos e crenças, ou a escolha de diferençar-se na crença e, “desde então a palavra foi usada para denotar qualquer espécie de noção errônea concernente à fé.” 8 Paulo faz predição semelhante em sua primeira epístola a Timóteo (4:1): “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios.” Aos Colossenses, escreveu Paulo: “E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas” (Col. 2:4). A expressão “palavras persuasivas”, “doutrinas de demônios”, e “apostatar da fé”, eram usadas para indicar ensinos definidos pelos heréticos.
No tocante a êsses tempos, escreveu a Sra. Ellen G. White:
“Enquanto os anos passavam e o número de crentes aumentava, João trabalhava pelos irmãos com crescente fidelidade e devotamento. Os tempos eram cheios de perigo para a igreja. Enganos satânicos existiam por tôda parte. Por meio de adulteração e falsificação, os emissários de Satanás buscavam suscitar oposição às doutrinas de Cristo; e como conseqüência disso, dissenções e heresias estavam pondo em perigo a igreja. Alguns que professavam a Cristo pretendiam que Seu amor os libertara da obediência à lei de Deus. Por outro lado, muitos ensinavam ser necessário observar os costumes e cerimônias judaicos; que a mera observância da lei, sem fé no sangue de Cristo, era suficiente para a salvação. Outros mantinham que Cristo fôra um homem bom, mas negavam Sua divindade. Alguns que simulavam ser leais à causa de Deus, eram enganadores, e, na prática, negavam a Cristo e Seu evangelho. Vivendo êles mesmos em transgressão, introduziam heresias na igreja. Muitos eram assim levados a um labirinto de ceticismo e engano”. 9
Definição de Heresia
Com base nessa prova, podemos definir que o têrmo heresia significa qualquer doutrina ou idéia contrária à ensinada nas Escrituras, e que negue os ensinos formulados por Cristo e pelos autores de Sua Palavra revelada. O “herético” seria a pessoa que defende, ensina e, de qualquer maneira auxilia a propagação de tais crenças.
“Sua significação, para o catolicismo, é uma doutrina mantida dentro da Igreja, que lhe promove a desunião. É mais séria do que um cisma, visto que, ao passo que a última se refere à cisão eclesiástica, a primeira se refere à alienação espiritual.” 10
Necessário é que outros termos, tais como cisma, fanatismo e apostasia, não sejam confundidos com heresia. Se bem que êsses termos sejam parcialmente sinônimos, há nêles variantes de significação.
O cisma é uma divisão dentro da igreja devida a divergências ou ponto (ou pontos) de doutrina de menor importância. O fanatismo é o entusiasmo ou zêlo por determinado tópico, doutrina ou prática na igreja. Apostasia é o abandono da igreja e das doutrinas e princípios de crença anteriormente professados.
Quando acariciada, a heresia pode levar ao cisma. Poderá alguém ser cismático sem ser herético. O fanatismo poderá não ser heresia, mas o herético poderá ser fanático. A apostasia pode resultar dum cisma ou da heresia, mas o apóstata não será necessàriamente herético ou cismático.
Para os católicos romanos, o cisma significa:
“A recusa de submeter-se à autoridade do Papa ou manter comunhão com os membros da igreja que lhe está sujeita. Difere da apostasia e da heresia, mas o cisma muitas vêzes leva a elas. Qualquer pessoa culpada dum ato externo de cisma é ipso facto excomungado; as condições para a absolvição são as mesmas que para a heresia. Os sacramentos podem não ser administrados a cismáticos, mesmo aos de boa fé.” 11
No tocante à apostasia, declara a mesma fonte:
“Apostasia é o ato de rejeitar totalmente a fé uma vez abraçada. O abandono da prática da fé não é, para os católicos, apostasia. O apóstata precisa ingressar noutra igreja ou cair em ateísmo, mas fica sujeito às leis da igreja.” 12
(Continua no próximo número)
REFERÊNCIAS
- (1) George Cross, “Heresy”, Encyclopedia of Reli-gion an Ethics (1914), Vol. VI, pág. 614.
- (2) Herodoto (livro 4, par. 1), traduzido por A. D. Godley. The Loeb Classical Library, Vol. II, págs. 198 e 199.
- (3) W. L. Alexander, “Heresy”, Kitto’s Cyclopaedia of Biblical Literature (Edinburgh: Adam and Charles Black, 1869), Vol. II, pág. 282.
- (4) Loc. cit.
- (5) I Coríntios 11:18 e 19.
- (6) Morley Stevenson, “Heresy”, Dictionary of the Apostolic Church, (New York: Charles Scribner’s Sons, 1922), Vol. I, pág. 560.
- (7) Alexander, loc. cit.
- (8) J. H. Blunt, ed., “Heresy”, Dictionary of Doctrinal and Historical Theology (Philadelphia: .1. B. Lippincott and Company, 1872), pág. 306.
- (9) Ellen G. White, The Acts of the Apostles, pág. 553.
- (10) George Cross, loc. cit.
- (11) A Catholic Dictionary (New York: The Macmillan Company, 1949), art. “Cisma”, pág. 451.
- (12) Ibidem, art. “Apostasia”, pág. 27.