A primeira referência ao planêta Terra descreve sua superfície coberta de água que estava obscurecida da luz dos corpos celestes. 1 Se alguém quisesse admitir que em cada estágio da criação o planêta estava em condição “natural”, isto é, a condição que seria de esperar-se se a obra da criação não houvesse prosseguido, concluiría que esta água estava em forte movimento de maré e provàvelmente também agitada por fortes ventos. 2 O texto hebraico de Gênesis 1:2 bem pode sugerir, ou pelo menos admitir uma tal suposição. 3

No primeiro dia da Semana da Criação o poder de Deus de maneira sobrenatural (isto é, extraordinária) fêz com que a luz atingisse um lado da superfície do globo coberta de água. A inspiração não revela se essa luz provinha do Sol ou da presença de Deus, mas provàvelmente provinha do Sol, pois marcou um dia regular de vinte e quatro horas no ciclo semanal. A mudança que permitiu que a luz atingisse a superfície da água, bem pode haver envolvido uma criação original de matéria elementar, que não havia prèviamente na atmosfera durante a precedente porção do dia.

A obra da criação do segundo dia evidentemente produziu uma atmosfera apropriada para a vida vegetal e animal que se seguiría. A falta de componentes atmosféricos requerería que fôssem produzidos pela criação direta de matéria elementar, ou extraído da matéria sólida que havia na Terra e na água que a cobria. As considerações seguintes indicam que a primeira dessas possibilidades é a mais aceitável.

A superioridade de Deus sôbre a matéria e sôbre a lei natural é claramente estabelecida nos acontecimentos do terceiro dia da Semana da Criação. Nesse dia, em menos de vinte e quatro horas (provàvelmente num instante) apareceu terra sêca sôbre a maior parte do globo, e o agitado oceano de amplidão mundial transforma-se em rios, lagos e pequenos mares sôbre a Terra. No final desta transformação o planêta é deixado em estado estacionário para prover ao homem, nos milênios futuros, moradia não ameaçada por terremotos, maremotos e vulcões. A natureza dessas realizações será apreciada ao considerarmos a atividade cênica e vulcânica que mostra que a Terra não atingiu ainda o estado estável posterior às mudanças provenientes do dilúvio.

Gênesis 1:9 mostra que ou (1) Deus pode tomar a incompreensível quantidade de átomos da crosta da Terra 4 e num instante reestruturá-los num agrupamento diferente que depois permanecerá estável, de acôrdo com as leis físicas naturais (normais), ou (2) Deus pode tomar uma quantidade de matéria do tamanho da crosta da Terra e num instante fazer desaparecer êsses átomos que não se adaptem aos Seus desígnios, substituindo-os por outros ou a êles acrescentando uma quantidade e espécie de átomos que em cada posição cumpram os Seus propósitos. A alternativa (2) equivale a (1) e inclui a capacidade de criar matéria original elementar, necessária para outros aspectos do relato da criação.

No terceiro dia a Terra estava coberta de vida vegetal, desde o microscópico vírus e passando pela bactéria do solo, até aos altaneiros gigantes das florestas. A formação de uma única árvore adulta em ampla frutificação teria sido uma realização incompreensível. Com a criação de uma única árvore foi produzida uma hoste de moléculas orgânicas que não existiam anteriormente; e, além disso, essas moléculas estão organizadas na mais complexa estrutura celular da árvore. A quantidade das várias espécies diversas de moléculas orgânicas existentes numa árvore é desconhecida, mas pode-se com segurança dizer que excede muitíssimo a quantidade das diferentes espécies de átomos que havia na Terra antes de existir a matéria organizada. 5 A quantidade de espécies diversas de moléculas orgânicas em tôda a vida vegetal do mundo que acabava de ser criado está, com o nosso atual conhecimento limitado, fora de nossa capacidade de estimativa.

Ao Criar os Átomos Elementares Deus não Dependia de Matéria Pré-Existente

A criação das plantas envolve não sòmente a formação da própria planta, mas também a criação das condições do solo em que essa planta medrará. Os minerais necessários, a matéria orgânica, e a vida bacteriana precisam estar colocados no solo no local da planta. Na formação de uma planta e suas devidas condições de solo, não usou Deus átomos elementares que houvesse prèviamente criado, tirando dêles o material necessário bem como várias partes da Terra, nem fêz uma criação original de matéria elementar exigida pa-ra cada plantar Em face das capacidades exigidas para a criação, segundo o relato do Gênesis, a primeira proposição é muito grosseira. Pareceria que um criador que tivesse a capacidade de pôr em existência a matéria elementar comparativamente simples, produzisse-a “fresca” como e quando se tornasse necessária em todo o processo da criação. Assim Deus não dependería de matéria pré-existente em nenhum passo da criação da Terra. 6

Pelas aptidões demonstradas ao produzir a vida vegetal sôbre a Terra dir-se-ia ser coisa sobremaneira simples produzir átomos inorgânicos e em quaisquer distribuições; relativas abundâncias, ou composições isotópicas em que se podem encontrar. O Deus que, mediante a fala, pode produzir milhares e milhares de quilômetros quadrados de floresta adulta, certamente pode, num momento, produzir rochas e solos que tenham “idade” radioativa que Lhe atenda aos propósitos.

Parece ser justo pensar que quando os pássaros foram criados, êles entraram em existência ativos como seriam se houvessem existido um tempo considerável. Assim, o observador da Semana da Criação poderia estar olhando um céu sem vida e repentinamente ver, sobrevoando-lhe a cabeça, uma águia soltando penetrantes gritos (e possivelmente com uma ninhada de filhotes numa árvore altaneira ou num rochedo próximo!). Ao criar essa águia, retirou Êle os necessários átomos elementares de lugares da Terra em que podiam ser encontrados e reuniu-os, no ar, em unidades orgânicas e na estrutura celular infinitamente mais complexa do pássaro adulto? Mais lógico é pensar que houve uma formação original, no ato, da matéria original em cada criação animal ou vegetal.

Mas o leitor poderá dizer: “Tudo isso é uma conjetura muito interessante; mas que proveito traz? Existe algum testemunho inspirado de que Deus realmente produziu a matéria elementar depois do primeiro dia da semana da criação? A resposta é sim. Por certo não havia na costela de Adão suficientes eléctrons, prótons e nêutrons para formar um corpo feminino adulto.8. Sem dúvida houve uma produção de matéria elementar original na criação de Eva.

A declaração de que Adão foi feito do pó da Terra não implica necessàriamente que a matéria do corpo de Adão houvesse sido extraída da terra e existisse no primeiro dia da semana da criação. Com o vocabulário de Moisés Deus não poderia haver-lhe dito como Adão fôra formado aos elementos básicos constantes de nossa tabela periódica. Em que maneira melhor poderia Êle haver expressado essa verdade, do que dizendo que o corpo de Adão foi formado do pó da Terra?

Vastas Quantidades de Matéria Elementar Necessitadas na Criação

A precedente apresentação teve por finalidade confirmar que vastas quantidades de matéria elementar foram criadas durante todo o primeiro dia da semana da criação. Muitos perguntarão: “Foi tôda a matéria elementar que agora existe na Terra, formada durante a semana da criação?” Para achar a resposta correta a esta pergunta deve a pessoa adotar o princípio de que “o livro da Natureza e a Palavra escrita lançam luz um sôbre o outro. ” 9 Os cientistas a quem falta o conhecimento da Palavra escrita (ou a fé nela) tiraram algumas conclusões incorretas acêrca do mundo material. Através de tôda a História, pessoas bem-intencionadas por insuficiência de conhecimentos dos fatos da Natureza, formaram também opiniões insustentáveis.

Declara o quarto mandamento que durante a semana da criação “Deus fêz o céu, e a Terra, o mar, e tudo quanto nêles há.” 10 Nós, hoje, não apontamos para uma vaca e insistimos em que Deus haja feito essa mesma vaca por meio da criação direta. O livro da Natureza — nossa experiência e observação — testifica que essa vaca nasceu, pelo processo natural, de seus pais. Essa luz do livro da Natureza claramente explica ser o significado do quarto mandamento, que durante a semana da criação Deus fêz os animais originais, de que os subseqüentes animais descenderam.

A declaração “e tudo o que nêles há”, ou simplesmente se refere à vida vegetal ou animal no ar, na terra e na água, ou também essa vida vegetal e animal mais a matéria elementar da terra. Se também se refere à matéria elementar, o milhar de toneladas de pó meteórico que cai sôbre a Terra cada dia 11 deve haver sido criado durante a semana da criação do Gênesis. Visto que essa matéria não fazia parte da Terra naquele tempo, pode duvidar-se de que o relato de Gênesis pretendesse incluí-lo — exceto no tocante à referência geral às estrêlas 12 que assegura ao leitor que as estrêlas, os meteoros e tôdas as coisas do universo tenham tido sua origem em Deus. Como a matéria meteórica faz parte de nosso sistema solar,13 pode formar-se a opinião de que todo o nosso sistema solar foi criado juntamente com a Terra, a fim de tornar a declaração em aprêço aplicável à matéria elementar.

Há pelo menos dois processos pelos quais a Terra está continuamente adquirindo nova matéria elementar de fora do sistema solar. Um dêles é a colisão com matéria interestelar, ao mover-se pelo espaço o sistema solar. Está bem confirmado que o espaço existente entre os sistemas solares, e mesmo entre as galácias, não é o vácuo absoluto mas contém pequenas quantidades de gases e poeira.14

O outro processo é o bombardeio da Terra pela radiação cósmica. A radiação cósmica primária é o núcleo de energia atômica que atinge a Terra de tôdas as direções no espaço. Átomos de hidrogênio, hélio e elementos mais complexos, que se originaram nas regiões remotas da Via Láctea são por êsse meio continuamente acrescentados à Terra.15

É difícil, e para muitas pessoas parece inteiramente desarrazoado, pretender que tôda a Via Láctea, uma galáxia com o diâmetro da ordem de 100.000 anos de luz, haja sido criada juntamente com a Terra, e nenhum dos comentários inspirados da semana da criação sugere que alguém o faça. A conclusão parece ser que o relato de Gênesis seja um simples esbôço de uma obra de criação feita na modelagem da Terra e provimento de vida orgânica de forma a que se pudesse tornar um membro da família dos mundos habitados; que êsse relato trate apenas de aspectos da criação que podiam ser vistos com olhos desarmados de um observador postado na superfície do planêta. Não deve alguém procurar ler o que não está contido na leitura das palavras do relato inspirado concernente à criação, pois os escritores originais da Bíblia e seus tradutores, por cujo intermédio suas mensagens chegaram até nós, não possuíam o vocabulário com que redigir as Escrituras de forma a que respondam a tôdas as perguntas que o moderno conhecimento atômico e nuclear sugerem, referentes à formação e à história da matéria.

Determinações Incertas da Idade Radioativa

A idade radioativa de determinado espécime expressa tanto a sua presente composição isotópica como algumas das suposições concernentes à sua história física. A presente composição isotópica pode ser determinada com precisão, mas as suposições feitas concernentes à distribuição ra-dioisotópica na formação da matéria elementar na espécie e concernente à subseqüente história térmica, química e de radiação torna incerta a relação entre a idade radioativa do espécime e sua idade em têrmos de anos solares.

Para ilustrar as incertezas concernentes à determinação das idades radioativas, suponhamos que tivéssemos um espécime de urânio do qual tivéssemos a certeza de que desde a sua criação original nunca houvesse sido submetido quer a temperaturas que evaporassem uma porção de al-guns dos elementos radioativos voláteis, quer a radiação que lhe transformasse a composição isotópica. A análise de laboratório poderia determinar se a presente distribuição isotópica dêsse espécime indicava a vontade divina para os seus 6 milhares, 6 milhões ou 6 bilhões de anos de existência. Não antes de têrmos a oportunidade de estabelecer comunhão com os anjos e com os habitantes dos mundos não caídos, poderemos estar certos de uma interpretação de ano solar da idade radioativa obtida de análise de laboratório.

O relato de Gênesis não fornece respostas a muitas perguntas que gostaríamos de ver respondidas, referentes à criação e à história da matéria elementar; mas apresenta alguma coisa vastamente mais importante: um Deus não limitado pelo tempo nem pelo espaço, que é superior à matéria e dela independente, um Deus que pode num instante arranjar um mundo de átomos que Lhe sirvam aos propósitos, um Deus que, mediante a manifestação de Sua vontade, pode criar vastas quantidades de matéria elementar organizada na estrutura da superfície e na vida orgânica complexa de um planêta habitado.

Ainda mais incompreensível é o conhecimento de que o supremo objeto da preocupação dêsse Deus, é o homem; de que todos os Seus recursos estão em disponibilidade para a ajuda ao homem, e que Êle ama cada um de nós e de nós cuida como se não existisse outro objeto de Seu amor. 16 Um propósito do relato do Gênesis é levar-nos a demonstrar o que a fé implícita e ativa nestas verdades pode realizar na vida humana.

REFERÊNCIAS

  • 1. Genesis 1:2
  • 2. A presença de água subentende pelo menos uma atmosfera de vapor de água.
  • 3. The S. D. A. Bible Commentary, Vol. I, pág. 209.
  • 4. Existem 384 milhões, de milhões, de milhões, de milhões de átomos numa vasilha da capacidade de cinco litros de água.
  • 5. Existem apenas 92 espécies diversas de átomos na matéria da Terra. A quantidade total de isótopos dêsses átomos não passa de 329.
  • 6. Sra. Ellen G. White, Testimonies, Vol. VIII, pág. 258.
  • 7. Salmo 33:9.
  • 8. Gênesis 2:21 e 22.
  • 9. Sra. Ellen G. White, Educação, pág. 128.
  • 10. Êxodo 20:11.
  • 11. International Geophysical Year (documento 124 da Imprensa Nacional dos Estados Unidos), pág. 20. (1956)
  • 12. Gênesis 1:16.
  • 13. William T. Skilling e Robert S. Richardson, A Brief Text in Astronomy (Nova York: Henry Holt e Cia. Inc., 1954), págs. 204 e 195.
  • 14. Idem, págs. 267-271. Astrophysics J. A. Hynek, editor (Nova York: McGraw-Hiil Book Company, Inc., 1951) cap. 13. O Dia Escuro de 19 de maio de 1780, pode haver si-do causado pela passagem da Terra através de incomum densa região de matéria interestelar. No dia se-guinte foi observada uma escória preta na superfície de tanques de águas tranqüilas e de recipientes que continham água. Ver Source Book for Bible Students, págs. 134-141.
  • 15. Serge A. Korff The Origin and Implications of the Cosmic Radiafion”, American Scientist, Vol. 45, (setembro de 1957), pág. 281. Philip Morrison, “On the Origins of Cosmic Rays”, Reviews of Modern Physics, Col. 29 (abril de 1957), pág. 235
  • 16. Sra. Ellen G. White, Vereda de Cristo (edição de bolso), pág. 100.