Ocupação Missionária Protestante

Conforme vimos em artigos anteriores, o monopólio religioso do catolicismo na América do Sul cessou com o monopólio político de Espanha e Portugal.

Com os regimes liberais das novas repúblicas e os princípios de tolerância religiosa gravados na maioria das constituições, abriu-se a porta para os grupos evangélicos, e desde então o movimento protestante tem crescido firmemente em força e intensidade.

Tentativas Infrutíferas

Ficamos surpresos quando nos lembramos de que a primeira aparição do protestantismo na América do Sul ocorreu apenas pouco mais de meio século depois que os espanhóis e portuguêses avistaram as praias do continente. No tocante a essa primeira tentativa das igrejas protestantes depois da Reforma, para empenharem-se em missões estrangeiras, Barbieri comenta o seguinte:

“No fim de 1555, uma expedição francesa comandada por Nicolau Durand de Villegaignon, apoderou-se de uma pequena ilha na entrada da baía do Rio de Janeiro, Brasil. Êle esperava prover um refúgio para os huguenotes, que estavam passando por severas dificuldades na França, devido à oposição católica. Entretanto, depois de alguns anos, Villegaignon demonstrou ser um mau administrador e um traidor da fé protestante. Por essa razão, a primeira tentativa protestante para colonizar parte da America do Sul terminou em tragédia. Não restou qualquer vestígio dessa povoação.”23

A próxima tentativa para introduzir o protestantismo foi efetuada pelos holandeses, em 1624-54, durante os trinta anos em que dominaram, por vários períodos, a Bahia, Pernambuco e outras partes do litoral do nosso país; e, se tivessem sido bem sucedidos, teriam também formado um forte Estado Protestante na América do Sul. Durante êsse breve período de ocupação, os missionários holandeses “tencionavam tornar essa região uma colônia protestante e procuraram substituir a supremacia católica por princípios protestantes.” 24 Contudo, pouco ou nada resultou da obra dêsses trinta anos, depois que os portuguêses expulsaram os holandeses.

Com o malôgro dessas duas tentativas, o protestantismo estêve completamente ausente da IberoAmérica por mais de três séculos. Não obstante, o período das revoluções e os anos que vieram imediatamente após a independência das repúblicas da América do Sul apresentaram uma oportunidade mais favorável para o ingresso de grupos evangélicos — podemos dizer que foi mesmo a oportunidade mais propícia.

Desde então, o protestantismo tem tomado extraordinário impulso, causando grande preocupação aos dirigentes da Igreja Católica Romana.

“No presente, há pelo menos seis milhões de protestantes na América Latina. Parte dêsse número pode ser atribuído à imigração, mas a parte principal deve ser atribuída ao esfôrço missionário e à consagração dos novos conversos e às igrejas recém-organizadas. Êsse resultado é muito significativo, especialmente se considerarmos a firme e sistemática oposição da Igreja Católica Romana e o demorado ingresso da verdadeira obra missionária protestante.”25

O crescimento fenomenal do protestantismo em anos recentes tem ocasionado muito alarme e atividade nos círculos católicos romanos. 26

Na verdade, circunscrito durante séculos pelas muralhas de seus castelos, sofrendo tanto a falta de sacerdotes como de competição, o catolicismo romano não estava preparado para enfrentar o arrojado evangelismo empreendido por grupos protestantes.

A princípio Roma procurou impedir a obra dos missionários protestantes, usando o poder da espada. A Defensa Catholica, publicada no México (1887), declarava abertamente:

“No serviço do Senhor e por amor a Êle, devemos, se necessário fôr, ofender os homens; devemos, se necessário fôr, ferir e matá-los. Essas ações são meritórias e podem ser realizadas em nome da caridade católica.”27

Atualmente, porém, a igreja desoficializada abandonou a violência física em favor de métodos mais sutis. Ela está incrementando suas atividades em tôda a América Latina, fazendo vigoroso esfôrço para “recuperar” o continente. Êles estão procurando aplicar ou imitar os métodos dos missionários protestantes. Estão procurando dar a Bíblia; naturalmente, com algumas notas. Estão procurando realizar conferências evangelísticas. E agora algumas pessoas estão ficando confusas, pois os métodos dêles se assemelham aos dos protestantes. W. Stanley Rycroft escreve:

“Indubitàvelmente, o cristianismo protestante exerceu um efeito benéfico sôbre o sistema católico romano. Foi mencionado a êste autor que em certo país latino-americano um bispo católico romano disse que gostaria de ver um missionário ou pastor protestante em cada paróquia de sua diocese.”28

Assim, o protestantismo revitalizou a Igreja de Roma, que agora está dirigindo uma vigorosa campanha para a “recatolização” da América Central e do Sul.

Explosão Adventista

A emancipação política da América Latina é contemporânea com a renovação da Mensagem do Segundo Advento, na América do Norte, da qual emergiu a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Entretanto, foi sòmente no início da décima década do século passado que os adventistas do sétimo dia se inteiraram do fato de que a América Latina era um grande campo necessitado.

Em 1894, a Associação Geral enviou Frank H. Westphal para iniciar a obra adventista nessa região, e desde então a Igreja Adventista arraigou-se em solo ibero-americano e vicejou opulentamente.

Nas palavras da Sr.a E. G. White, escritas em 1916, podemos ter uma visão do triunfo do adventismo no continente negligenciado:

“Na África pagã, nas terras católicas da Europa e da América do Sul, na China, na Índia, nas ilhas do mar e em todos os escuros recantos da Terra, Deus tem em reserva um firmamento de escolhidos que brilharão em meio às trevas, revelando claramente a um mundo apóstata o poder transformador da obediência a Sua Lei.”29

Quando foram escritas essas palavras inspiradas, havia apenas algumas luzes diminutas brilhando no continente sul-americano. Dêsse tempo em diante, porém, milhares e milhares de filhos de Deus estão sendo trazidos dentre as massas, sob o impacto da Terceira Mensagem Angélica.

A Igreja Adventista na América do Sul avançou a princípio com a velocidade da lêsma. Após 55 anos de árduo trabalho, de muitas lutas e sacrifícios, nosso número de membros em 1949 era de apenas 50.000 crentes batizados. Por volta dessa época, porém, o movimento adventista começou a dar indícios de vida. Em 1959 a população adventista na América do Sul era de 100.000 almas. A partir de então a causa do Senhor progrediu consideràvelmente, atingindo 200.000 em 1967.

Como podemos explicar êste rápido crescimento? Cremos que os seguintes fatôres são os mais importantes:

  • 1. A rebelião da nova geração contra as velhas tradições. Como resultado dessa rebelião, cada dia milhares de católicos estão abandonando a igreja. Em sua revolta, os jovens estão agora buscando novas doutrinas e ideais.
  • 2. O início de um evangelismo mais arrojado, que o dinâmico e intrépido evangelista Valter Schubert promoveu em dramáticas campanhas organizadas e dirigidas por êle, especialmente durante os anos 1948-1954. Antes dêsse tempo parecia que a Igreja Adventista na América do Sul se tomara institucionalizada ou chegara a um impasse, e estava sofrendo de um complexo de inferioridade motivado por forte preconceito e oposição popular.
  • 3. O abandono do sistema tradicional de evangelismo protestante, introduzido por missionários dos Estados Unidos, e a adoção de métodos novos e mais eficazes para lidar com os católicos romanos. Essa nova maneira de proceder foi sistematizada por Valter Schubert e modificada posteriormente de acordo com as necessidades de um continente em alteração.

A América do Sul, a “terra proibida” do passado, está bem aberta para o Evangelho. Quinze anos atrás, nalgumas cidades, os mensageiros da Verdade teriam sido apedrejados. Agora êles estão sendo convidados a ir até lá e pregar. Não sabemos, porém, o que nos está reservado para o futuro. Estão ocorrendo rápidas modificações, e parece que virão outras maiores. É o que os acontecimentos) atuais nos declaram em linguagem eloqüente e persuasiva. O que sucedeu em Cuba, onde foram fechadas as portas para os missionários estrangeiros e mesmo para uma sistemática obra evangelística nacional, deve ser uma advertência para nós e um incentivo para multiplicarmos os esforços nos lugares em que ainda temos a oportunidade de anunciar o poder transformador do Evangelho.

Referências

  • 23. Santo Uberto Barbieri, Land of Eldorado (Nova Iorque: Friendship Press, 1961), págs. 62 e 63.
  • 24. Idem, pág. 63.
  • 25. Idem, pág. 67.
  • 26. Rycroft, op. cit., pág. 137.
  • 27. Roberto E. Speer, op. cit., pág. 231.
  • 28. Rycroft, op. cit., pág. 139.
  • 29. E. G. White, Profetas e Reis, págs. 188 e 189.