Lendo as cartas de S. Paulo, encontramos dezenas de nomes de pessoas cujos caminhos se cruzaram com os do apóstolo. Há-os de todo tipo: bons e maus, cultos e ignorantes, bem intencionados e perversos.

Antes de ser um ministro, dois homens de Deus influíram poderosamente nele: Ananias, cujo nome significa “Deus é misericordioso”, lhe trouxe libertação da cegueira, batismo para salvação e plenitude do Espírito, para ser um ministro poderoso. A despeito, porém, de seu poder diante de Saulo, ele fora um tanto covarde ao ouvir a ordem do anjo de ir visitar a Saulo. Terá revelado seus sentimentos durante a visita? Tempos atrás, a corajosa atitude de Estêvão (coroado) causara um impacto em Saulo, “que não pôde apagar de sua memória a fé e constância do mártir e a glória que lhe resplandeceu no rosto” (Atos dos Apóstolos, p. 101). Talvez tenha aprendido da firmeza de Estêvão e da insegurança do homem Ananias.

Durante seu ministério trabalhou com Demas, cujo nome significa “homem do povo”, o qual o serviu, mas que afinal abandonou tudo, quando o amor ao mundo foi superior ao amor à causa.

Teve que deixar a Trófimo (nutritivo) enfermo em Mileto. Qual terá sido essa enfermidade? Cansaço? tensão? uma úlcera? O foto é que Paulo teve que seguir só, talvez assumindo responsabilidades e trabalhos adicionais que Trófimo deveria ter realizado.

Um trio: Himeneu, Fileto e Alexandre, o latoeiro, lhe causaram verdadeiras angústias. Ensinavam doutrinas errôneas por interesse pessoal. Certamente houve conversos de Paulo que, atraídos por eles, o abandonaram, ocasionando uma ferida no coração do apóstolo. Alexandre, de quem Paulo disse que lhe causara “muitos males”, teve destacada participação no alvoroço em Éfeso (Atos dos Apóstolos, p. 294). Seu nome significa “defensor do homem”.

A lista inclui, porém, nomes insignes: Onesíforo, cujo nome significa “que produz proveito”, nobre cidadão de Éfeso que visitou freqüentemente a Paulo na penosa prisão de Roma, fazendo “tudo o que estava em seu poder para aliviar o fardo que representava ao apóstolo a prisão” (Atos dos Apóstolos, p. 491); Lucas, o único que ficou com Paulo em Roma depois da saída de Demas, Crescente, Tito e Tíquito, uns por trabalho, outros por outras razões; Timóteo, a quem chama de verdadeiro filho na fé” (I Tim. 1:2), “irmão, servidor e cooperador” (I Tess. 3:2); Onésimo, o antigo escravo, em quem Paulo pôde ver operando a grandeza da mensagem. Havia sido ladrão, mas se arrependeu, foi convertido, transformando-se no “irmão amado” que Paulo calorosamente recomenda ao antigo amo, o qual, por sua vez, era “o amado irmão Filemom” (Filem. 1:1).

A lista seria muito longa: detratores e defensores; os que o aclamaram de manhã e o apedrejaram à tarde; amigos e inimigos.

O ministro de hoje também trabalha com gente e lhe toca equiparar-se a todo tipo de indivíduos. Encontrará Demas e Alexandres, bem como Onésimos e Timóteos.

Quando uma campanha está em andamento, receberá o abraço do que se alegra com as novas verdades, e a crítica desapiedada de um ministro de outra igreja, molestado pela apresentação de verdades que sacudiram a consciência de seus membros. Terá que enfrentar os “homens do povo”, que depois de professar fé e lealdade, o abandonam pelo amor ao mundo. Também a Alexandres, “homens do povo”, cujo objetivo único será amargurar-lhe a vida.

Se, porém, é fiel e vive o ministério, sua vida estará cheia de Onesíforos, Filemons, Apias, Timóteos, Árquipos, Áquilas e Priscilas, prontos a pagar com fidelidade, lealdade, companheirismo, amizade, colaboração e oração, a inspiração recebida do fiel ministro.

Alguns princípios devem reger as relações do ministro com aqueles que se cruzam em seu caminho:

  • 1. A oposição ou perseguição que enfrenta, a padece não em forma pessoal, mas no nome de Cristo, “o Príncipe dos pastores”. Deve, no entanto, ter a certeza de que se enfrenta oposição ou vitupério, não é por sua própria culpa ou falta, mas pela fé que ensina. (I S. Ped. 2:19 e 20.)
  • 2. Em poucas profissões podem ser conseguidas amizades mais desinteressadas e puras que no ministério. O “Onésimo” transformado e perdoado através da pregação de um servo de Deus, lhe professará uma amizade não comparada a nenhuma outra (I Cor. 4:15). Paulo chamava a Epêneto de “meu amado”, por ser as “primícias da Asia, para Cristo” (Rom. 16:5).

Uma das maiores alegrias do ministério é experimentada ao regressarmos a uma igreja de cujo nascimento fomos testemunhas, ou a que dedicamos nossos melhores esforços. O carinho e a gratidão que agora colhemos, pagam sobejamente os esforços feitos.

  • 3. Se quisermos colher, teremos que semear. Isto não é válido somente na colheita dos frutos da pregação, mas também nas relações humanas. “Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro”, disse S. João, referindo-se a sua relação com Cristo. (I S. João 4:19.)

Tackeray dizia: “O mundo é um espelho que reflete nosso próprio rosto”. Demos amor e receberemos amor. Semeemos indiferença, e colheremos indiferença.

  • 4. As diferenças de opinião com colegas, membros da comissão ou da igreja, jamais devem descer ao terreno pessoal. Pode um ministro ter uma opinião diametralmente oposta à de um ancião em relação a um assunto administrativo, à construção de uma igreja, etc., mas essa diferença “profissional” não deve afetar no mínimo que seja a amizade entre ambos. “Diferir sem ferir” seria a expressão que expressa a atitude correta de um bom líder. Os sentimentos humanos mesquinhos, jamais devem primar em questões tão sagradas como as que envolve o Ministério.
  • 5. Esse Ministério é o “da Reconciliação”. Sua missão é cicatrizar feridas e jamais produzi-las. É lógico que proferir verdades claras às vezes produzirá feridas. Essas feridas serão, porém, as do bisturi do cirurgião, e não as do punhal do assassino.

E que fazer com os “Alexandres”, que só causam males? S. Paulo dá a chave: Cuidar deles, e não odiá-los. Orar por eles e deixar que o Senhor faça justiça. Lutar contra suas idéias, mas sempre com dignidade e hombridade.

Nosso pior oponente pode tomar-se nosso melhor aliado. Saulo “causou muitos males” à igreja. Mas a situação mudou. O pior inimigo tomou-se o mais fervoroso aliado.

  • 6. Finalmente, o ministro deve ter uma vida totalmente transparente diante de seus irmãos e colegas. “Testemunhai contra mim perante o Senhor — disse Samuel ao povo — a quem defraudei? a quem oprimi? … Então responderam: Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém”. I Sam. 12:3 e 4.

Quando Samuel faleceu, todo o povo o pranteou. Mesmo depois de morto, Saul quis consultá-lo. Nada sabemos de Paulo, mas seu nome ocupa um lugar privilegiado em toda a Bíblia. Foi um ministro de Deus que cumpriu dignamente seu ministério.

E tu, que és também um ministro, como te relacionas com aqueles que se cruzam em teu caminho? Que vêem em ti? Por teu comportamento, convertes os inimigos e os indiferentes, em amigos e irmãos?