“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis ele modo digno da vocação a que fostes chamado

O conceito de chamado normalmente está ligado ao trabalho pastoral. Como Ken Crawford argumentou em seu artigo “A mais alta vocação” (Ministério, set./out, 2007), o trabalho pastoral é realmente uma elevada vocação. Os profetas bíblicos concebiam seu trabalho como um chamado de Deus. Suas mensagens freqüentemente iniciavam com a frase: “Veio a mim a palavra do Senhor”. Durante toda a história da igreja, pastores, evangelistas e missionários consideraram sua obra não um trabalho secular, mas chamado especial para cumprir uma missão divina. 

Sem discordar desse pensamento, meus dez anos de experiência como servidor da igreja me levam a concluir que Deus também chama pessoas para o ministério da administração. Ele pôs esse chamado em meu coração. 

Depois de concluir o bacharelado em Administração de Empresas, em 1983, sem planos de trabalhar para a Igreja, aceitei um emprego temporário na União Nevada-Utah, imaginando que logo conseguiría outro trabalho efetivo. Quando terminaram os dois anos dessa temporalidade, fui convidado a continuar como contador. Não tendo para onde ir, naquela ocasião, aceitei o convite. Passados mais dois anos, me tomei tesoureiro assistente, e antes que eu percebesse, passaram-se dez anos. 

Durante a última porção daqueles dez anos, eu era infeliz, entediado, intolerante e, em muitas ocasiões, insubordinado. Abertamente, procurava emprego em outros lugares e, certo dia, me foi oferecido trabalho em um hospital. Pensei em aceitar, mas decidi não fazê-lo pela única razão de que o salário seria o mesmo que eu já recebia na igreja, e eu não queria fazer apenas uma mudança financeira “lateral”. 

Fundamental em minha vida, essa decisão determinou onde eu acabaria. Acredito que somente pela providência de Deus trabalhando em minha mente e através de um paciente administrador, agora me encontro feliz, servindo à Igreja como tesoureiro de União, obedecendo ao chamado divino. Meu Pai celestial usou pessoas e circunstâncias por quase uma década para me levar à compreensão de que Seu lugar para mim é a administração da Igreja. Através dos anos nessa função, muitas experiências me têm dado oportunidade para crescimento cristão e benefício daqueles aos quais sirvo. 

Reconhecendo limitações 

Na ocasião em que fui despertado para o chamado de Deus, compreendí, no íntimo de meu ser, que eu estava onde Deus queria que eu estivesse. Porém, ao mesmo tempo, entendi que devia confiar inteiramente nEle. Se havia um trabalho que me levava a permanecer em oração, esse era o de administrador da Igreja. Logo compreendí que as decisões a serem tomadas e a grandeza da responsabilidade eram muito maiores que minha capacidade. A admoestação bíblica: “Não por força nem por poder, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor” (Zc 4:6) tomou-se minha companheira de todas as horas. A realidade de que afeto vidas com as decisões tomadas e como os recursos são utilizados ou não, baseados em minha opinião, tem se tomado uma responsabilidade estonteante. Não posso nem pensar em administrar, sem contato diário com Deus. 

Às vezes, decisões difíceis têm que ser tomadas e muito tempo é empregado na discussão com as partes envolvidas. Então, numa comissão composta de pessoas qualificadas, muitas das quais não são empregadas da Igreja, chegamos à decisão final. Algumas pessoas podem discordar do resultado e fazer acusações de mau gerenciamento ou inépcia. Porém, devemos permanecer no entendimento de que foi seguido um bom processo, incluindo súplicas a Deus por sabedoria e discernimento, enquanto o assunto era discutido. Nessas ocasiões em particular, sinto minha necessidade da presença de Deus mais intensamente.

Há mais uma tentação: a de tomar decisões unicamente baseado na experiência ou habilidade inata. Compreendí que esse terreno é extremamente perigoso. Não é que não devamos reconhecer os talentos que o Senhor nos deu nem usá-los, mas a tentativa de fazer as coisas sem espírito submisso leva a uma atitude de auto-importância e desejo por status. Sou lembrado de que Lúcifer sucumbiu à sedução do status e importância pessoal, originando dessa forma o pecado. Portanto, devo saber que estou em submissão constante a Deus e à Sua vontade.

Oportunidade para servir

Sou graduado em Administração, não fui treinado para pregar. Contudo, tenho o privilégio de fazer esse trabalho. Embora não seja desafiado com a tarefa de preparar um sermão toda semana, tenho oportunidade de cavar profundamente na Palavra de Deus, ao preparar sermões. Esse processo enriquece minha experiência espiritual e vai além da devoção diária.

Além da riqueza para minha alma, ele possibilita meios para conservar as igrejas unidas ao corpo mais extenso de crentes. Minha presença no sábado em alguma igreja representa um elo entre a instituição e a congregação em que me encontro. Além disso, é uma experiência maravilhosa adorar com os irmãos e mantê-los informados sobre os acontecimentos em nosso território.

Gasto muito tempo em reuniões. Algumas têm que ver com assuntos internos da organização. Mas, com fre qüência, sou chamado a participar de uma comissão de igreja ou escola. Nesses casos, o assunto pode ser uma situação financeira difícil que tem bloqueado o andamento das atividades locais. Posso colaborar, oferecendo soluções aplicadas por outras igrejas ou escolas que enfrentaram o mesmo desafio. Também posso redirecionar recursos que a Associação tenha disponíveis.

Algumas vezes, questões políticas ou legais requerem uma resposta de minha parte. Posso, desse modo, ajudar a igreja local, ou escola em necessidade.

Representação organizacional

Vezes sem conta tenho oportunidade de ser rosto, mãos e pés da Igreja institucional. Todo administrador sabe que muitos vêm a instituição como uma entidade sem rosto, distante, talvez desnecessária. Mas, considero privilégio colocar um rosto nessa instituição. Algumas vezes, encontro indivíduos que se sentiram magoados pela Igreja no passado. Posso ouvi-los e, em nome dela, explicar o que aconteceu. Alguns têm chorado, argumentando que a dor deles nunca foi reconhecida.

Tenho muitas oportunidades de me reunir com diferentes grupos, como jovens, tesoureiros locais, oficiais de Escola Sabatina e outros. É reanimador ouvir as observações e partilhar perspectivas e encorajamento. Lembro-me de uma reunião campal, alguns anos atrás, em que tive a chance de falar aos jovens sobre a organização da Igreja. Quando falei que as igrejas recebiam recursos para evangelismo,. perguntei- me porque não fazia a mesma coisa em relação aos jovens. Assim, os desafiei a encontrar maneiras de partilhar Jesus em sua comunidade, garantindo-lhes apoio financeiro aos projetos que fossem apresentados.

Captando a visão

Nos últimos meses, meus colegas de administração e eu temos empreendido uma jornada, perguntando o que Deus quer de nós e de Sua Igreja. Essa busca nos tem levado ao livro de Atos. Como você deve se lembrar, os primeiros capítulos desse livro contam o desenvolvimento da igreja primitiva. Com o derramamento do Espírito Santo, os primeiros crentes partilharam, sem temor, o evangelho de Jesus. Milhares de pessoas aceitaram a mensagem.

O que permitiu o Espírito mover-Se de tal maneira? Fizemo-nos essa pergunta e concluímos que os primeiros crentes estavam impregnados da Grande Comissão. Deus nos chama a partilhar o evangelho com outros. Jesus ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28:19, 20).

Durante nosso estudo, o pastor Don Livesay, presidente da União, cunhou a expressão “cultura de comissão”, isto é, o estágio em que nós estamos tão imersos no chamado de Deus que esse chamado se toma parte de nós, parte do que somos, temos e de como vivemos; parte de nossa cultura individual.

Como administradores, devemos partilhar idéias com nossos colegas. Devemos captar a visão, antes de todos os demais servidores. Creio que parte do meu chamado, como administrador da Igreja, envolve captar uma visão e vivê-la, enquanto o Espírito opera na vida daqueles que abraçam essa visão.

Apoio ao pastorado

Gosto da forma como Paulo descreve o corpo de Cristo em Romanos 12. É um precioso conceito – somos um corpo com muitas partes, cada uma operando junto em prol do objetivo comum. Ele diz: “Tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12:6). Então, relaciona profecia, serviço, ensino, encorajamento, liberalidade, entre outros dons. Presto atenção ao dom de liderança. Paulo diz que se você reconhece seu dom, como líder, governe “com diligência” (v. 8).

Em 1993, depois de trabalhar para a Igreja por quase dez anos, meu chamado para a administração tornou-se bem claro. Meu desejo é apoiar a Causa de Deus até a volta de Cristo. Ele me chamou para liderar diligentemente, como administrador que tem a responsabilidade de gerir as finanças da Igreja em meu território. Chamou-me para servir aos companheiros de trabalho, às igrejas e às escolas, com o melhor das minhas habilidades.

Creio na premissa de que o chamado pastoral é o mais elevado e melhor. Mas, também creio que Deus chama homens e mulheres para administrar Sua Igreja. Fazendo minhas as palavras de Paulo, esta é minha oração por você, independentemente da vocação que Deus colocou em seu coração. “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Ef 4:1).