Junto ao poço de Jacó, enquanto dialogava com a mulher samaritana sobre a verdadeira adoração, Jesus afirmou: “Vocês adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus” (Jo 4:22, NVI). A declaração de que “a salvação vem dos judeus” resume a rica herança judaica recebida pelos cristãos. Por exemplo, temos em comum o mesmo Deus e a missão de proclamá-Lo a todos os povos (1Pe 2:9), a fé religiosa dos patriarcas que também incluía a esperança do Messias que acreditamos ter vindo na pessoa de Cristo Jesus, os Dez Mandamentos, além de outras instruções morais, dietéticas, sociais e espirituais.
Contudo, se existem semelhanças, também há diferenças ressaltadas nas Escrituras, especialmente no que tange à continuidade ou não da observância dos rituais e cerimônias com seus sacrifícios e festivais. Tal sistema, de caráter temporário, foi estabelecido por Deus com o propósito de ensinar Seu povo a exercer fé na realidade do Redentor vindouro, Sua morte vicária e Seu ministério intercessor no Santuário celestial. Ao entregar a vida no sacrifício oferecido no Calvário, expiou o pecado do mundo. Ressuscitado, ascendeu ao Céu e entrou para Seu ofício sacerdotal. Com isso, tornou realidade tudo o que os rituais, cerimônias e festividades simbolizavam. Ao se romper o véu do templo, no momento em que o Salvador expirou na cruz, a realidade substituiu a sombra, tornando antiquados e envelhecidos os tipos (Hb 8:13).
Porém, ultimamente, algumas igrejas têm debatido a pertinência da observância daquele sistema, ainda hoje, pelos cristãos. Essa não é uma questão nova. O capítulo 15 do livro de Atos relata o surgimento, administração e solução de grande controvérsia a respeito desse assunto. A conversão de gentios ao cristianismo, sem que observassem os rituais judaicos, motivou da parte de “alguns da seita dos fariseus que haviam crido” (At 15:5) e de outros cristãos judeus a exigência para que aqueles conversos também praticassem a circuncisão e observassem “a lei de Moisés”.
Em busca de orientação divina, apóstolos e presbíteros reuniram-se em Jerusalém. No fim das discussões, Pedro expressou seu entendimento de que o recebimento do Espírito Santo por um grupo de gentios, mesmo que esses não fossem observadores dos rituais exigidos, evidenciava a possibilidade de que alguém fosse salvo pela fé em Jesus, independentemente de colocá-los em prática (At 15:7-11). Isso envolve os cristãos de todos os tempos.
Assim, podemos viver jubilosamente confiantes nas realidades históricas da morte, ressurreição e do ministério sacerdotal de Cristo no Santuário celestial em nosso favor. A realidade dissipou a sombra; estamos sob o brilho da graça que “se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2:11), inclusive judeus.
Zinaldo A. Santos