Um exemplo que nos ajuda a enfrentar e superar os altos e baixos da vida ministerial

Leões rugindo, fornalha ardendo, bode voando e chifres falando. Quando pensamos em Daniel, normalmente essas imagens nos vêm à mente. Ele é visto como verdadeiro superstar, um dos grandes favoritos das crianças que ouvem suas histórias, por causa de sua capacidade para subjugar leões, ou como um sábio capaz de antever o tempo do fim, através de sonhos e visões.

A despeito de toda sua capacidade e o dom lhe que foi divinamente outorgado para revelar o futuro e do brilhante trabalho associado a seu nome, Daniel também deve ser visto como exemplo de como um cristão pode enfrentar e superar os desafios físicos, emocionais e espirituais da vida.

Antecedentes

Daniel nasceu em uma família de classe alta, na Palestina, provavelmente por volta do ano 622 a.C.1 Ele tinha aproximadamente 18 anospor ocasião da queda de Jerusalém, quando foi levado cativo, marchando quase dois mil quilômetros em dois meses até Babilônia.3 Tanto quanto podemos ver nos relatos, nenhum dos primeiros exilados, inclusive Daniel, pôde ver novamente sua terra.Ele passou o restante da vida como estadista na corte da maior monarquia do mundo de então.

Isaías falou da Babilônia durante o tempo de Daniel como “a joia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus” (Is 13:19). Jeremias a descreveu como uma cidade que habita “sobre muitas águas, rica de tesouros” (Jr 51:13), acrescentando que Babilônia era “a glória de toda a terra” (v. 41). Isso foi especialmente verdadeiro durante o reino de Nabucodonosor, pois ele foi considerado o maior governante do mundo naquele tempo.

Ezequiel falou a respeito de Nabucodonosor como “rei dos reis” (Ez 26:7). Assim, Daniel e seus três companheiros se encontraram no centro da maior monarquia do mundo, e sua maneira de administrar essa situação tomou-se fundamental para a história.

Durante os dias de Daniel, o reino de Judá estava pronto para o castigo. Depois de demonstrar enorme paciência, Deus deixou Seu povo ao léu de suas próprias escolhas, não antes de lhe ter dado repetidas e redentoras advertências. Em meio àquela desesperadora situação, havia indivíduos em Judá que permaneciam firmes. Ellen White os chama de “patriotas, homens tão fiéis ao princípio como o aço”.5 Um desses poucos homens fiéis era Daniel, que nos legou um modelo de ministério cristão, a ser seguido em tempos de crise e calamidade. Mesmo em meio à prosperidade, ele não hesitou em ser agradável a Deus. Desse pastor por excelência, podemos aprender três grandes princípios que nos habilitarão a tratar com assustadores desafios que enfrentamos.

Homem de oração

Daniel nos é apresentado como aquele que fez da oração a respiração da alma. A primeira vez em que ele aparece descrito como homem de oração é em Daniel 2:20-23, quando estava em perigo sua vida e a de seus amigos, incluindo a vida dos sábios de Babilônia. No capítulo 6:10, Daniel novamente é visto em outra situação ameaçadora à sua vida, não pela fúria do rei, mas pela fome de leões. Finalmente, no capítulo 9:4-19, ele ora, não por segurança pessoal, mas por seu povo.

Por ocasião dos eventos narrados no capítulo dois, Daniel tinha aproximadamente 18 anos; no capítulo nove, tinha mais de 80. Durante esses anos, ele manteve a prática de buscar a Deus em oração, que acabou se tornando a fonte de constante e ilimitado poder do Onipotente em sua vida. Ellen White enfatiza que grandes resultados serão vistos no trabalho de ministros que oram, a despeito dos combinados esforços da terra e do inferno para destrui-los.Que conforto para os pastores é saber que, quando eles se ajoelham, se tornam invencíveis e inexpugnáveis, mesmo diante dos mais desafiadores poderes do mundo!

Homem da Palavra

Daniel era uma pessoa em cuja vida a oração e a Palavra andavam de mãos dadas. No início do capítulo nove, nós o encontramos estudando os profetas, especialmente Jeremias. Cronologicamente, o evento ali descrito relaciona-se com o capítulo cinco, de modo que 9:1 é continuação de 5:31. A data da ocorrência foi entre 538 a.C. e 537 a.C., e foi um tempo crítico, em uma era de muita confusão. A noite fatal da morte de Belsazar e da queda de Babilônia deixou uma assustadora lembrança na mente do povo. Naquele tempo de revolta e incerteza, Daniel se ocupou do estudo das Escrituras, o que lhe deu segurança a respeito do futuro.

Lehman Strauss desafiou os líderes cristãos quando disse: “Se sua vida de oração está deficiente, tome a Palavra de Deus… Daniel lia sua Bíblia e foi isso o que o levou a orar.”7 A vida de Daniel estava enraizada e fundamentada na Palavra de Deus. Essa Palavra lhe infundiu conforto e confiança de que “as Suas [de Deus] ordens são promessas habilitadoras”.8 Quando foi tentado a duvidar, ele teve a fé nas promessas divinas ancorada pela Palavra.

Homem de testemunho

A Bíblia deixa implícito que Na-bucodonosor reconheceu o Filho de Deus: “e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus” (Dn 3:25, NKJV). Isso implica que Daniel deve ter testemunhado fielmente no palácio real. Por sua vida e seu caráter, Daniel falou ao rei sobre a vinda do Redentor do Mundo. Escreveu Ellen White: “Como sabia o rei pagão a que era semelhante o Filho de Deus? Os cativos hebreus que ocupavam posição de confiança em Babilônia tinham representado a verdade diante dele na vida e no caráter. Quando perguntados pela razão de sua fé, tinham-na dado sem hesitação. Clara e singelamente haviam apresentado os princípios da justiça, ensinando assim aos que lhes estavam ao redor a respeito do Deus a quem adoravam. Eles tinham falado de Cristo, o Redentor vindouro; e na aparência do quarto no meio do fogo, o rei reconheceu o Filho de Deus.”9

Daniel também testemunhou diante do rei Dario. É-nos dito que ele constantemente reconhecia o Deus do Céu “diante de reis, príncipes e estadistas”.10 Evidentemente, o rei Dario também deve ter sido um desses, o que resultou na sua confissão de que a única esperança da sobrevivência de Daniel à cova dos leões era uma libertação miraculosa pelo Deus a quem ele, Daniel, servia “continuamente” (Dn 6:20). Ao testemunhar diante das pessoas, Daniel foi levado a exercitar o crescimento de sua fé nAquele que “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13:8).

Lições para hoje

Esses princípios comuns, interligados, reverberam através do tempo e falam eloquentemente aos pastores de hoje. A mensagem de Deus, contida neste livro relacionado ao tempo do fim, para Seus pastores no tempo do fim, é o convite a imitar Seu profeta do tempo do fim. A primeira metade do livro de Daniel contém o relatório de seu caráter impecável que deve ser imitado pelos pastores de hoje, enquanto a outra metade contém mensagens proféticas que esses pastores devem proclamar nestes últimos dias.

Quais devem ter sido os fatores que modelaram esses princípios em Daniel? Primeiro, o reavivamento incitado pelo rei Josias deve ter deixado marca indelével na vida de Daniel. A influência desse rei, bem como a de profetas piedosos como Habacuque, Jeremias, Sofonias e Naum, não foi ignorada por Daniel.11 Segundo, houve o ensinamento do lar. Seus pais o treinaram para ser o homem que foi.12 Finalmente, houve suas próprias escolhas. Chegaria o tempo em que ele teria que agir por si. Sua vida era fruto de suas escolhas. Daniel fez a escolha certa, ao priorizar a comunhão constante com o Criador, através da oração, do diligente estudo das Escrituras e do testemunho.

O ministério está cheio de altos e baixos. A vida de Daniel pode ser o modelo que nos dá esperança quando enfrentamos desafios.

Referências:

  • 1 C. Mervyn Maxwell, God Cares: The Message of Daniel for You and Your Family (Boisa, ID: Pacific Press Publishing Association, 1981), v. 1, p. 11.
  • 2 Zdravo Stefanovic, Daniel: Wisdom to the Wise: Commentary on the Book of Daniel (Nampa, ID: Pacific Press Publishing Association, 2007), p. 17.
  • 3 C. Mervyn Maxwell, Op. Cit., p. 15,16.
  • 4 Roy Allan Anderson, Unfolding Daniel’s Prophecies (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1975), p. 14.
  • 5 Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 479.
  • 6 _____________, Review and Herald, 08/08/1878, p. 50.
  • 7 Lehman Strauss, The Prophecies of Daniel (Winona Lake, IN: BMH Books, 2008), p. 257,258.
  • 8 Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 333.
  • 9 _______________, Profetas e Reis, p. 509.
  • 10 Seventh-day Adventist Bible Commentary, v. 4, p. 1170.
  • 11 Roy Allan Anderson, Op. Cit., p. 15,16.
  • 12 Ellen G. White, Orientação da Criança, p. 167.