Ellen White e a mensagem de reavivamento e reforma

Um dos maiores apelos recentes por reavivamento e reforma iniciado entre os adventistas do sétimo dia ocorreu na Assembleia da Associação Geral em 2010, por ocasião da eleição do pastor Ted Wilson como presidente mundial da igreja. Muitos adventistas ao redor do mundo se envolveram no projeto de Reavivamento e Reforma1, criado com base na Bíblia e nos escritos de Ellen White, mas poucos sabem seu significado. Apesar dos esforços dos adventistas para ensinar essa grande verdade, ainda há muito o que aprender e fazer.

O pensamento de Ellen White sobre reavivamento e reforma começou em 1875 e teve uma ênfase especial em 1901. Durante seus anos de serviço ativo, houve 29 publicações a respeito dessa urgente necessidade. Para facilitar o estudo, o escopo dessas publicações será apresentado neste artigo da seguinte forma: (1) fundamento teológico; (2) experiência pessoal e familiar; e (3) liderança.

Fundamento teológico

Reavivamento e reforma expõem o problema mais sério do povo de Deus: sua apostasia. Essa realidade é recorrente em todos os tempos, mesmo para quem esteve próximo de Jesus: “Vocês estão Me procurando não porque viram sinais, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos” (Jo 6:26). O mesmo equívoco é visto no jovem rico, que imaginou ser um exemplo de judeu, mas rejeitou a Cristo. Simão, o fariseu curado da lepra, não reconheceu Jesus “como representante de Deus. Enquanto Maria era uma pecadora perdoada, ele era um pecador não perdoado.”2 Portanto, não basta conhecer Jesus, é preciso submeter-se a Ele e à Sua Palavra.

Ellen White explicou: “Reavivamento e reforma são duas coisas diferentes. Reavivamento significa renovação da vida espiritual, uma vivificação das faculdades do espírito e do coração, um ressurgimento da morte espiritual. Reforma significa reorganização, mudança de ideias e teorias, hábitos e práticas. A reforma não produzirá os bons frutos da justiça a menos que esteja ligada ao reavivamento do Espírito. Reavivamento e reforma devem fazer a obra que lhes é designada e, para realizarem essa obra, têm de estar unidos.”3

O pecado arruinou tudo, inclusive nosso relacionamento com Deus, ao criar um abismo de separação tão profundo e intransponível por meios humanos. Pecado “é ‘errar o alvo’ e ficar aquém das expectativas divinas. […] Trata-se de uma vida de rebelião aberta e deliberada contra a vontade de Deus e Seus caminhos”.No entanto, com o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário, o amor, a justiça e a salvação foram manifestos e oportunizados à humanidade (Rm 8:1-4; 6:9). “Cristo morreu para reivindicar a lei e exaltá-la diante de todas as nações, línguas e povos.”Como resposta, a maior decisão que o ser humano pode tomar é levar uma vida em harmonia com a lei divina, e isso só será possível com a ajuda de Deus. Em outras palavras, o Senhor nos convida a uma experiência de “reavivamento e reforma”.

Por meio de seus escritos, Ellen White advertiu que os adventistas também precisavam de reavivamento e reforma: “Agora, de maneira mais decidida do que nunca, você vê orgulho, ambição mundana, autoexaltação, fraude, hipocrisia, engano e a destituição do poder espiritual.”Se não houver mudança, os “mornos continuarão a se tornar cada vez mais odiosos para o Senhor, até que Ele Se recuse a reconhecê-los como Seus filhos”.Portanto, “um reavivamento e uma reforma devem ocorrer, sob a ministração do Espírito Santo”.8

Ellen White acrescentou que a admoestação à igreja de Éfeso “você deixou o seu primeiro amor” (Ap 2:4) é aplicável às “igrejas em sua condição atual. […] O eu, eu, eu é acariciado e está se esforçando para a supremacia. Quanto tempo isso continuará sendo como tem sido? A menos que haja uma reconversão, haverá tal falta de piedade que a igreja será representada pela figueira estéril. Grande luz foi dada à igreja. Foi-lhe dada abundante oportunidade de produzir muito fruto. Mas o egoísmo entrou; e Deus diz: ‘Se não te arrependeres, irei rapidamente a ti e removerei o candelabro do seu lugar’”.9

Quando os seguidores de Deus se humilharem e recuperarem seu primeiro amor, “Ele os fortalecerá na ação reformadora, erguendo para eles um estandarte contra o inimigo. […] Então uma multidão que não é de sua fé, vendo que Deus está com Seu povo, se unirá a ele para servir o Redentor”.10 Portanto, é necessário primeiro nascer de novo. Ellen White acrescentou: “Deus deve criar um coração puro no ser humano antes de ele andar em Seus estatutos e guardar Seus mandamentos para cumpri-los. […] Um novo gosto moral deve ser criado antes que a pessoa goste de obedecer à lei de Deus. […] O pecador precisa ter definido claramente em seu entendimento o que é o pecado. […] Quando isso é totalmente compreendido por mentes racionais, a semente é semeada para uma conversão verdadeira e completa. […] Os grandes princípios da verdade devem ser estabelecidos no coração e revelados na vida pelo amor, fé, humildade e obediência, mostrando que a religião de Cristo tem poder controlador sobre todos os homens”.11

Experiência pessoal e no lar

A experiência pessoal mais importante é a conversão. É por isso que, quando uma pessoa escolhe a Cristo e renuncia ao mundo, é a hora mais difícil da batalha. Quando isso acontece, “a bandeira escura de Satanás será deixada e [os crentes] serão colocados sob a bandeira ensanguentada do Príncipe Emanuel. Então começa na alma um grande reavivamento moral, um reavivamento demonstrado por uma reforma de pensamentos, palavras e ações. […] Acontece uma revolução espiritual; uma pessoa é salva da morte; e há grande alegria no Céu”.12

Ellen White advertiu que não basta ter uma fé nominal. Os seguidores de Cristo devem permitir que o Espírito Santo transforme cada aspecto da vida. Ela questionou os professos adventistas: “Ele é o seu Redentor pessoal? Você tem interesse pessoal Nele? Sua alma tem fome e sede de salvação? Você anseia por um melhor conhecimento de Jesus Cristo? […] Se não estiverem imbuídos do Espírito de Deus, interesses sagrados e eternos terão pouco peso em sua mente”.13

De acordo com a autora, reavivamento e reforma devem começar em casa. Da obediência à Bíblia, o grande livro de lições de Deus, dependem a vida e a felicidade, a saúde e a alegria de homens, mulheres e crianças (Dt 6:3-9). Se a lei de Deus tivesse sido ensinada em casa, especialmente nos primeiros anos das crianças, “quão diferente o mundo seria hoje! Veríamos a temperança, a indústria e a economia. O mal seria evitado. A virtude seria apreciada”.14 Ellen White exortou os pais para que não roubassem “a Deus nos talentos que lhe foram confiados”.15

Ellen White afirmou ainda: “Deus chama a uma purificação completa dos lares e das instituições. […] Não só a um reavivamento, mas a uma reforma. […] Os preconceitos estranhos que deram maus frutos serão superados e desaparecerão. Entrará um espírito de franqueza, um espírito segundo a semelhança de Cristo. […] Os seguidores de Deus abandonarão o desejo obstinado de fazer as coisas do seu jeito e de impor suas próprias ideias, pois perceberão que estão na presença do Filho de Deus”.16 Ela rogou ainda “aos pais em nossas igrejas para fazerem uma aliança solene com Deus mediante o arrependimento e a confissão”.17 Certamente, hoje é o dia de buscarmos esse reavivamento e reforma em nosso lar. Precisamos repetir as mesmas palavras de Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24:15).

Liderança

A mornidão espiritual é o maior problema da igreja, inclusive de seus líderes (Ap 3:15, 16). Deus “clama por um reavivamento, uma reforma. A menos que isso aconteça, aqueles que são fracos e sem vida continuarão a odiar cada vez mais o
Senhor, até que Ele os vomite. […] Quantos existem que estão tentando carregar uma carga de maldade não confessada? […] O fardo do mal não confessado é o fardo mais pesado que pode ser suportado.
Jesus, o grande carregador, pede que você transfira seu fardo para Ele”.18

Ellen White acrescentou: “Quando a igreja se voltar completamente para o Senhor, orações sem vida e sem espírito não serão mais ouvidas”.19 A oração deveria ser “lutar com Deus” assim como Jacó lutou com o Anjo (Gn 32:26). Da mesma forma, nos encontros de oração e testemunho que contribuem para aliviar os fardos e preocupações, “ocorrerá o espírito de reforma, reavivamento e despertar genuínos”.20 Assim, as súplicas a Deus serão ouvidas (ver Hc 3:2; At 3:19).

Deus adverte por meio dos escritos proféticos que “os professos seguidores de Cristo não têm tempo para permanecer no terreno da neutralidade. Há mais esperança de um inimigo aberto do que de um neutro”.21 Por exemplo, no caso de Judas, ele teria sido uma bênção, mas era um homem egoísta, crítico e questionador. Judas pode ser descrito como uma fraude religiosa, porque “manteve um alto padrão para os outros, mas ele próprio falhou em cumprir o padrão da Bíblia. Ele não trouxe a religião de Cristo para sua vida”.22

Assim, Ellen White advertiu que há muitos líderes traindo seu Senhor como Judas, pois seguem práticas desonestas. Estão dispostos a sacrificar a Cristo por ganho
egoísta. Portanto, o conselho bíblico é: “Sujeitem-se a Deus, mas resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Cheguem perto de Deus, e Ele Se chegará a vocês. Limpem as mãos, pecadores! E vocês que são indecisos, purifiquem o coração” (Tg 4:7, 8).

A missão de pregar o evangelho (Mt 28:18-20) não foi cumprida plenamente porque “o egoísmo impede de receber estas palavras em seu sentido solene. […] Em muitos corações parece haver apenas um sopro de vida espiritual. […] [Assim], a guerra enérgica contra o mundo, a carne e o diabo não se manteve”.23 Então, ela fez a seguinte pergunta: “Devemos, com um cristianismo agonizante, encorajar o espírito egoísta e ganancioso do mundo, compartilhando sua impiedade e sorrindo de sua falsidade? Não! Pela graça de Deus, sejamos firmes nos princípios da verdade”.24

Chegou a hora de o povo de Deus fazer mudanças, a começar pela sua liderança. O chamado que Esdras fez ao povo em meio a uma grande apostasia é um bom exemplo para os líderes atuais. Esdras se humilhou diante de Deus e expôs pecados abertos (Ed 9:6-15). Então os israelitas reagiram com choro amargo (Ed 10:1), e a reforma ocorreu. Eles mandaram embora todas as mulheres e os filhos que não eram israelitas e disseram: “Que se faça segundo a Lei!” (Ed 10:3). Esdras era “um ensinador da lei; e ao dar atenção pessoal ao exame de cada caso, procurou impressionar o povo com a santidade dessa lei e a bênção a ser alcançada pela obediência. Onde quer que Esdras atuasse, ali surgia um reavivamento no estudo das Santas Escrituras. Eram designados mestres para instruir o povo; a lei do Senhor era exaltada e honrada”.25

O exemplo de Esdras deveria “ser uma lição prática para todos os que procurassem promover reformas. Os servos de Deus devem ser firmes como a rocha, sempre que estiverem envolvidos princípios corretos; mas, do mesmo modo, devem manifestar compaixão e paciência”.26 Nesse contexto, Ellen White advertiu que “Satanás procura, mediante múltiplas formas, cegar homens e mulheres para as inadiáveis exigências da lei de Deus […]. Há necessidade de verdadeiros reformadores, que indiquem aos transgressores o grande Doador da lei e lhes ensinem que ‘a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma’ (Sl 19:7).
Há necessidade de pessoas poderosas nas Escrituras; pessoas das quais cada palavra e cada ato exaltem os estatutos de Jeová”.27

Assim, “Deus pede um reavivamento e uma reforma. As palavras da Bíblia, e da Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito. Mas a Bíblia tem sido roubada no seu poder, e o resultado é visto no rebaixamento do nível da vida espiritual. Em muitos sermões de hoje não existe uma divina manifestação que desperte a consciência e leve vida às pessoas. […] Permitam que a Palavra de Deus fale ao coração de vocês. Deixem que os que têm ouvido falar apenas de tradição, teorias e máximas humanas ouçam a voz Daquele que pode renovar a alma para a vida eterna”.28

Conclusão

O chamado de Ellen White para reavivamento e reforma não é um conceito novo para os profetas de Deus. Ao longo da história, os profetas exortaram o povo a obedecer à lei do Senhor (1Jo 2:3-6), que expressa a Sua vontade (Êx 20:3-17). Portanto, o chamado para reavivamento e reforma envolve o retorno a Deus e à Sua Palavra, o que inclui a obediência à Sua santa lei. Em resposta, a plenitude do Espírito Santo virá para ajudar a igreja no cumprimento da missão. 

Cristian S. Gonzales, diretor do Centro de Investigação Adventista da Universidade Peruana União

Referências

1 O título original do documento é: “An Urgent Appeal For Revival, Reformation, Discipleship, And Evangelism”, disponível em <www.revivalandreformation.org/>, acesso em 20/12/2022.

2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 451.

3 Ellen G. White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2022), p. 35.

4 John M. Fowler, Pecado, em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, Raoul Dederen, ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 268.

5 Ellen G. White, “Self-Exaltation”, Review and Herald, 25/9/1900.

6 Ellen G. White, Carta 112, 1895.

7 Ellen G. White, “The Need of a Revival and a Reformation”, Review and Herald, 25/2/1902.

8 White, “The Need of a Revival and a Reformation”.

9 Ellen G. White, Carta 80, 1901.

10 White, “The Need of a Revival and a Reformation”.

11 Ellen G. White, Carta 19a, 1875.

12 Ellen G. White, Manuscrito 186, 1901.

13 Ellen G. White, Manuscrito 71, 1901.

14 Ellen G. White, Manuscrito 195, 1901.

15 Ellen G. White, Manuscrito 79, 1901.

16 Ellen G. White, “The Need of a Revival and a Reformation”.

17 White, Manuscrito 79, 1901.

18 Ellen G. White, Carta 40, 1901.

19 White, Carta 40, 1901.

20 Ellen G. White, Carta 30, 1880.

21 White, Carta 112, 1895.

22 White, Carta 40, 1901.

23 White, “The Need of a Revival and a Reformation”.

24 White, “The Need of a Revival and a Reformation”.

25 Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 363.

26 White, Profetas e Reis, p. 363.

27 White, Profetas e Reis, p. 363.

28 White, Profetas e Reis, p. 365.

Os grandes princípios da verdade devem ser estabelecidos no coração e revelados na vida
pelo amor, fé, humildade e obediência.