Apresentamos quatro valiosas referências históricas sobre antigos “Batistérios e Fontes”, “Batismos em Massa e Batismo Obrigatório na Idade Média”, “O Batismo nas Missões Católicas de Épocas Recentes” e “O Testemunho de Orígenes”, todos extraídos do apêndice da obra de Johannes Warns, Baptism (Londres, The Paternoster Press c., 1957), pp. 327-338.
I. Batistérios e Fontes
Os chamados batistérios ou capelas batismais nas igrejas católicas mais antigas são prova adicional de que todas as igrejas, durante séculos, realizaram o batismo por imersão. Contêm grandes tanques batismais (com degraus descendentes) e amiúde mais uma sala para instrução batismal. O batistério de Letrán, em Roma, é célebre. A grande fonte de mármore branco, no batistério de San Giovanni in Fonte, em Ravena, data do quinto século. Estruturas similares também se encontram em Pisa, Florença, Novara Pistoja e muitas outras cidades.
Na obra italiana, II Battistero Di Parma da Michaele Lopez (pp. 124 e 125), são mencionados nada menos de 66 batistérios dessa natureza, na Itália, cuja construção se estende do quarto século ao décimo quarto. Outrossim, em muitos batistérios e igrejas ainda podem ser encontrados antigos quadros que representam o batismo na forma de imersão, como na cripta de Santa Lucina, na catacumba de Calixto, em Roma, que datam do terceiro século. O batizador e o batizando estão ambos em pé dentro da água; este último, num quadro, com a água até o pescoço.
Na capela do Batistério de San Porziano, fora de Roma, representa-se a Cristo em pé, emergindo do Jordão. O quadro data aparentemente do quinto século. Diz-se que do mesmo período provém o quadro em mosaico da cúpula do batistério de Ravena, no qual Cristo também é representado de pé na água. Na Basílica de São Clemente de Roma descobriu-se um afresco antigo, que provavelmente representa o batismo de um príncipe eslavo pelo missionário eslavo, Cirilo. Também aqui a pessoa batizada está erguida em água profunda.
Representações similares se encontram em miniaturas em numerosos manuscritos que datam de diversos séculos.
É claro que o método de imersão era o original e foi geral mente o usual até o fim da Idade Média.
Depois da adoção do batismo infantil, as fontes de pedra tomaram o lugar dos batistérios; mas, como se pode comprovar a contento nas igrejas católicas antigas, são de tal profundidade e tamanho que a criança podia facilmente ser submergida. Daí a expressão muito conhecida: “Ser o padrinho de alguém” (literalmente: levantar uma pessoa do batismo). Em 813, o Sínodo de Mogúncia decidiu: “Ninguém poderá ser padrinho de uma criança [literalmente: ‘levantar a uma criança da sagrada água batismal]’ antes de repetir o credo e o Pai Nosso perante o sacerdote”.
Clodoveu, rei dos Francos, desceu às águas batismais, segundo narra Gregório de Tours em sua French History, vol. 2, p. 31. Isto implica um batistério.
Em muitos distritos da Alemanha, a forma de imersão permaneceu por longo tempo na prática, como no distrito de Mark, onde esse costume declinou primeiramente no período do Racionalismo.
Os irmãos Grimm narram nas sagas alemãs que o duque frísio Radbot foi induzido a ser batizado por São Wolfram, e já tinha um pé no tanque batismal, quando perguntou onde, então, foram parar seus antepassados, e recebeu a resposta: “Eles eram pagãos e suas almas se perderam”. Radbot afastou rapidamente o pé e disse que desejava estar onde estavam seus antepassados. Isso é o que relata a saga. Para os que não conhecem a forma original do batismo por imersão, que ainda era usada no tempo de Radbot, a descrição deve parecer incompreensível, se não ridícula. A Idade Média conhecia um só batismo, na forma de imersão.
Hoje essas fontes de pedra são amiúde substituídas por outras menores, com uma pia batismal de metal. Fala-se com freqüência que a antiga fonte de pedra foi coberta com uma tampa na qual há uma pequena pia batismal.
Cirilo de Jerusalém (m. 386) menciona os batistérios em seus discursos batismais. Num destes (C. 17), ele declara: “Agora descereis ao tanque batismal para serdes submergidos na água . ..; porque quem é submergido na água se vê totalmente rodeado pela água”. Alguns dos edifícios batismais são tão grandes que daria para celebrar um sínodo dentro deles.
Até a Idade Média, só em casos de necessidade se substituía a imersão dos candidatos pela aspersão. Tomás de Aquino (m. 1274) explica em sua Summa Totius Theologiae: “In inmer-sione expressius repraesentatur figura sepultarae Christi, et ideos hic modus baptizandi est communior et laudabi-lior”, isto é: “Na imersão a representação da sepultura de Cristo é mais claramente expressa, e por esta razão essa maneira de batizar é mais geral e mais recomendável”. (III. 66, 7.)
Na França, o Concilio de Ravena (1311) declarou permissível o batismo 1. Notas da edição inglesa por aspersão. Na Inglaterra, o batismo por imersão foi ordenado reiteradas vezes por resoluções sinodais, como nos anos 1106, 1200, 1217 e 1224. Não foi antes de 1645 que se fez uma declaração em favor da aspersão, a qual havia sido introduzida na Inglaterra um século antes, por pregadores escoceses que citaram a Calvino. As Igrejas Orientais têm retido a prática da imersão até o dia de hoje. Na Rússia e até na fria Sibéria, todas a crianças continuam sendo batizadas por imersão. A partir do século catorze, a Igreja Romana tem permitido a escolha entre a aspersão e a imersão. Os reformadores seguiram a prática romana neste sentido, depois de superar dúvidas na primeira época. Bugenhagen, colaborador de Lutero e pastor da Igreja de Vitembergue, escreveu o seguinte no ano 1542:
“Quando estive em Hamburgo em 1529, fui padrinho. O batizador tomou o menino com suas roupas e mantas, e batizou-o apenas na cabeça. Isto me alarmou, pois nunca havia visto nem ouvido fazer isso, nem havia lido alguma vez em histórias que se tenha procedido assim, salvo por necessidade, como quando o médico o tenha recomendado de antemão”.
A opinião de Bugenhagen era a seguinte: “Quer se faça de modo deliberado, quer não, é um erro”. E assevera que Lutero, em resposta a sua indagação, escreveu que era um erro que “deveriamos evitar”. Mas em 1537 teve novamente a mesma experiência em Copenhague, onde travou uma discussão com os clérigos locais, porém recebeu a resposta de que “os inovadores, por falta de compreensão ou até por malignidade contra a imersão, que anteriormente prevalecera na Terra, haviam de tal maneira convencido as pessoas que já não a aceitavam voluntariamente”.
“Lutero também sempre prescreveu o batismo por imersão, como quando em seu Catecismo falou de “afogar o velho Adão”, e de “levantar do batismo” ou “sair engatinhando do batismo”. Disse ele em seu Sermão Sobre o Sacramento do Batismo:
“O batismo recebe em grego o nome de baptismos, e em latim mersio, tendo o significado de submergir algo completamente na água, que se fecha por cima. E embora em muitos lugares não se costume submergir na água batismal, mas só aspergi-la com a mão, assim deveria ser, e é correto que, em consonância com a palavra submergir, todo aquele que é batizado seja submerso ou introduzido completamente na água e de novo tirado dela. Porque sem dúvida a palavra taufen (batizar), na língua alemã, deriva do vocábulo tief (profundo), de modo que se submerge profundamente na água aquele que é batizado (taufet). O significado do batismo também exige isto; porque significa que o velho homem e o nascimento pecaminoso de carne e sangue devem ser completamente afogados por meio do batismo, como veremos mais adiante. Portanto, se deve fazer justiça ao significado e dar um sinal perfeito”.
Em seu Sermão Sobre o Mui Venerável Sacramento do Corpo de Cristo Santo e Verdadeiro (1519), Lutero já havia dito ser “conveniente e belo que a figura e forma ou sinal do sacramento não seja dada em pedaços e parcialmente, mas em forma completa; assim como tenho dito do batismo, que é mais apropriado submergir na água do que aspergir somente, para conseguir um sinal completo e perfeito”.
O Prof. Hagenbach escreve: “Que o batismo se realizava originalmente ao ar livre, em ribeiros e lagoas, e por imersão, sabe-se pelos relatos do Novo Testamento. Mais tarde foram construídos grandes tanques e capelas batismais (batistérios). Visto que a pessoa a ser batizada descia por vários degraus ao recipiente da água e depois todo o corpo era submerso na água, a representação ‘de ser sepultado na morte de Cristo e ressuscitado da tumba’ era apresentada à alma com grande poder, que a aspersão posterior empalidecia consideravelmente. A princípio a aspersão só se aplicava aos enfermos, que eram batizados em seu leito de morte, e nos casos em que já não se podia realizar o batismo por imersão”.
Cita-se como evidência contra a forma de imersão, a grande quantidade de candidatos para o batismo. Declara-se que em Jerusalém não havia possibilidade de batizar por imersão a tantas pessoas. O Dr. Alberts comprova que a provisão de água dessa cidade nunca foi tão abundante como naquela época e que os numerosos tanques de água ofereciam suficiente oportunidade para o batismo. São mencionados os tanques de Siloé, Betesda e Gião e dos imponentes aquedutos de Herodes. (Comparar com o artigo “O Suprimento de Água da Cidade de Jerusalém”, pelo agrimensor do Governo C. Schick, em Journal of the German Palestine Union, vol. 1, p. 138.)
O missionário P. Kranz, ex-clérigo, cita uma declaração do Dr. Hiscox, em The New Directory for Baptist Churches, na qual é mostrada a existência de uma porção de tanques, maiores e menores, dentro e ao redor de Jerusalém.
Kranz também se refere a dois exemplos mais modernos da história missionária, num dos quais 2.222 pessoas foram batizadas em 1878 no rio Gunda-lakuma, sul da Índia, em seis horas, por dois pastores que atuavam simultaneamente e eram substituídos de hora em hora. No outro caso, em 28 dezembro de 1890, no batistério do Dr. Clough, de Angola, 1.671 pessoas foram batizadas em quatro horas e vinte e cinco minutos.
Nos tempos antigos também foram batizados grandes grupos num só dia, em diversas ocasiões, como em Antioquia, “numa vigília”, três mil pessoas de ambos os sexos. Só o Arcebispo Remígio de Reims batizou num dia umas três mil pessoas, por imersão. A objeção de que é impossível batizar três mil pessoas num só dia é apresentada pelos que nunca presenciaram um batismo em forma bíblica.
II. O Pretenso Testemunho de Orígenes Sobre o Batismo Infantil
Entre a evidência histórica a favor do batismo de criancinhas, é citado especialmente o “Testemunho de Orígenes”. Segundo se afirma, Orígenes (m. 254) asseverava que o batismo infantil era um costume apostólico.
No trecho em lide, Orígenes fala realmente, segundo parece, do costume do batismo de infantes (secundum ecclesiae observatiam etiam parvulis dari baptismun; além disso, ecclesia abaapostolis traditionen accepit, etiam parvulis baptismun dari; quer dizer que segundo a observância da igreja, se administrava o batismo até às criancinhas; além disso, a igreja recebeu uma tradição dos apóstolos, de dar o batismo até a um infante.)
Em vários outros lugares, porém, Orígenes realçou claramente o batismo de pessoas com inteligência e adultos.
Para replicar ao escritor pagão, Celso, o qual dizia que os cristãos ganhavam seus membros com o batismo de crianças de tenra idade, Orígenes respondeu (Contra Celsus III, p. 51): “Os cristãos primeiro examinam, da melhor maneira possível, o coração dos que desejam toma-se seus ouvintes. Instruem-nos individualmente, e só quando esses ouvintes deram prova adequada de que desejam levar uma vida correta são admitidos na irmandade”.
Das crianças Orígenes escreve (Contra Celsus): “Exortamos os meninos…, e quando aqueles dentre os exortados que progridem demonstram terem sido purificados pela palavra e, na medida do possível, levam uma vida melhor, nós os convidamos a nossa irmandade”.
Declara ele noutro lugar: “O benefício do batismo depende da decisão livre e voluntária do indivíduo”.
Esses testemunhos de Orígenes contra o batismo de crianças de tenra idade e a favor do batismo de crentes demonstram com bastante clareza que a pretensa citação anterior, existente apenas numa tradução latina, é de caráter duvidoso, a menos que se esteja disposto a admitir que Orígenes se contradizia a si mesmo.
A pretensa citação a favor do batismo infantil deriva de uma tradução mui livre, do quarto século, por Rufino. Portanto, essas citações de Orígenes são de pouca confiança e não podem ser usadas como argumento estritamente científico.
Se por “crianças” que haviam sido batizadas o próprio Rufino entendeu infantes, ainda assim não fica provado que Orígenes tinha tal intenção, porque Rufino tinha interesse em debilitar a Orígenes, com vistas a “melhorar” o ensino dogmático do quarto século.
É lamentável que somente tenham sido preservados poucos escritos de Orígenes em língua grega. Mesmo supondo, porém, que na citação anterior houve uma tradução inteiramente fidedigna de uma declaração de Orígenes, ainda resta o seguinte:
1. Orígenes não apela para as Escrituras Sagradas, mas para os costumes e a tradição da Igreja.
2. Para uma investigação estritamente científica, a origem apostólica do batismo de crianças de tenra idade não poderia ser provada por esse testemunho bastante tardio, mas somente que no terceiro século o batismo infantil, como tantos outros erros, remontava ao período apostólico.
Disse o Prof. Kattenbusch: “Se Orígenes apela em seu favor para a tradição apostólica (em Ep. a Rom., livro V), cumpre recordar (se realmente é ele e não Rufino o que está falando) que a Igreja se achava nesse período mui disposta a derivar uma doutrina aprovada ou uma prática ritualística da tradição apostólica”.
Talvez pareça supérfluo entrar em tantos pormenores a respeito do testemunho de um só Doutor da Igreja, mas é necessário, porque em numerosos escritos em defesa do batismo infantil se faz constante alusão à “notável evidência histórica” que se alega encontrar em Irineu e Orígenes.
Para dar realce à impressão causada por essa evidência, costuma-se adornar os autores citados com toda sorte de epítetos e títulos elogiosos. São “versados em línguas”, “conhecedores profundos”, “célebres”, “bem conhecidos” e “santos”. O resultado dessa evidência é que “uma série ininterrupta de testemunhas, célebres mestres da Igreja, levantam suas vozes a favor da prática do batismo infantil na Igreja Cristã dos primeiros séculos”. Assevera um folheto em defesa do batismo infantil, difundido pela “Irmandade Evangélica”:
“À luz da informação derivada da história da Igreja, cremos ter citado uma sucessão firme e ininterrupta de testemunhos fiéis e incontestáveis que levantam suas poderosas vozes para testificar que o próprio batismo bem como o batismo infantil foi uma prática da igreja cristã em todas as épocas, desde os dias dos apóstolos, e que a asseveração de que o batismo infantil é um ensino errôneo introduzido pela igreja degenerada permanece até hoje sem comprovação.
“Perguntamos: Qual mestre da Igreja ou qual Concilio fez algo semelhante? Onde e quando se resolveu introduzir o batismo infantil na Igreja?
“Temos lido as conclusões das pesquisas de estudiosos competentes e examinado cuidadosamente a própria história da Igreja, mas em parte alguma encontramos resposta às perguntas anteriores. Portanto, o batismo infantil é uma tradição apostólica e instituição da Igreja”.
O “portanto” anterior é ingênuo. Uma pessoa que pode escrever desse modo mostra que, com todo o seu “cuidadoso exame da história da Igreja”, não apelou realmente para as fontes adequadas, como se pode esperar com razão de alguém que queira instruir a outros sobre esse assunto.
É lamentável que numerosos crentes sejam enganados por necessidade de algo tão erudito. Até Ruvanovitch não desdenha de tais métodos, pois, a fim de refutar o protesto de Tertuliano contra o batismo infantil, declara que Tertuliano era um espírito turbulento e excêntrico, e que em “diversos assuntos ensinou em forma implacável contra as Escrituras. … Por exemplo, exigia o ascetismo no tocante à alimentação”, e assim por diante.
Ele afirma então: “Um homem que assim se põe em oposição às claras declarações das Escrituras não pode ser considerado forte evidência contra a prática de batizar criancinhas”. Mas ele só põe de lado o testemunho de Tertuliano. E agora vem o melhor: É citado imediatamente, pela outra parte, “o pai da Igreja, Orígenes”, “contemporâneo de Tertuliano. Faltam aí os epítetos de censura a seu caráter e ensinos errôneos. Se se procede de acordo com a regra anterior, pode-se fazer referência às especulações filosóficas de Orígenes, a seu ensino da preexistência da alma humana e da salvação final de todos, e chegar então à conclusão, segundo a maneira ante-rior: “Um homem que assim se põe em oposição às claras declarações das Escrituras não pode ser considerado forte evidência a favor da prática de batizar criancinhas”. Destarte os testemunhos de Tertuliano e de Orígenes se cancelariam mutuamente, e o resul-tado seria completamente nulo.
Esses defensores do batismo infantil não sabiam que a declaração de Orígenes, tão amiúde citada como evidência, é considerada, do ponto de vista científico, como transmitida de modo inexato, não sendo portanto digna de confiança.
Não sabemos se os pais de Orígenes fizeram com que ele fosse batizado na infância. Mas sabemos que Agostinho, o qual teve uma mãe muito piedosa, Jerônimo, Ambrósio, Gregório, Crisóstomo, Basílio e outros, que provinham de famílias cristãs, não foram batizados quando eram criancinhas. Por que se oculta isto? Um historiador deve apegar-se mais estritamente às fontes, do que a dar livre curso a sua fantasia.
O exame radical da evidência da “história da Igreja” estabelece que os historiadores de toda tendência relegam ao âmbito das lendas piedosas a asseveração da prática apostólica do batismo infantil. É penoso que na literatura da Irmandade as evidências tendenciosas e não científicas sejam copiadas de um folheto para o outro; e, por conseguinte, em leitores que não podem comprovar por si mesmos essa pretensa evidência, é causada a impressão de que a origem apostólica do batismo infantil fica comprovada pela história da Igreja.
III. Batismos em Massa e Batismo Obrigatório Durante a Idade Média
Quando no ano 496 Clodoveu, rei dos Francos, foi batizado pelo Arcebispo Remígio de Reims, alguns milhares de seus nobres acompanharam-no à água para receber o batismo. Declara-se que nessa ocasião Remígio se dirigiu ao rei, dizendo: “Inclina a cabeça com humildade, Sugambrer; adora o que tens queimado; queima o que tens adorado”. Infelizmente, porém, mesmo depois de seu batismo Clodoveu continuou sendo “um violento homem de intrigas e sanguinário, para quem o cristianismo era uma arma que lhe servia para aplanar o caminho a fim de alcançar seus objetivos políticos.
Casos parecidos se repetiram no batismo de Recaredo, rei dos Visigodos, num sínodo de Toledo, em 589.
Dagoberto, rei dos Francos (628-638), obrigou não somente os judeus, mas também os pagãos, a serem batizados; como por exemplo os habitantes de Ghent. Isto ocorreu por solicitude do missionário Amandus.
Em sua Ecclesiastical History of the Tribe of the Angles (Book II, C. 16), o Venerável Beda (m. 735), ao narrar a atividade do missionário Paulinus, disse que em 627 o rei Edwin, com todos os seus nobres e grande multidão de súditos, receberam o batismo. Trinta e seis dias foram ocupados em instrução e batismo. Batizou-se no rio Glen (Bowent) e no Sarle.
Quando Carlos Magno subjugou os saxões, apresentaram-se muitos deles, em 776, para o batismo obrigatório. Em 777 também os saxões conquistados afluíram aos milhares a Paderborn “para receberem o batismo católico”. Dizem as crônicas: “Convulsionados pelo temor, os anciãos apresentaram-se ao rei, suplicando a paz, e uma grande multidão de pessoas foi batizada” (776). “Em Paderborn levantou um grande tribunal, e os saxões se reuniram ali para receber o batismo católico, e foram batizadas milhares de pessoas pagãs” (779). “Foi batizada uma multidão incontável deles”.
Em 786 Carlos Magno ordenou a pena de morte para quem recusasse o batismo. Comenta a esse respeito o Prof. Knodt: “Com seu conhecimento cristão imperfeito, que concebia a fé como uma lei prescrita por Deus numa fórmula assinalada pela Igreja, Carlos Magno, como soberano, sentiu-se obrigado a introduzir seus súditos ao cristianismo por meio do sacramento do batismo, tornando-o portanto obrigatório”. Foi somente sob a influência de Alcuíno que Carlos Magno fez tudo o que era possível com seu governo sábio para sanar as feridas infligidas ao povo saxão.
O cristianismo também foi imposto aos Vendas (tribo eslava que habitou o norte e leste da Germânia, hoje absorvida na população alemã) por Carlos Magno, Henrique I e Otto I.
Na Dinamarca, o imperador Otto I obrigou o rei Haroldo a introduzir o cristianismo. O rei e numerosos súditos tiveram que ser batizados.
A partir de 950, o batismo obrigatório foi um espetáculo freqüente na Noruega. O rei Olaf Tryggvason (995-1000) fez promulgar um decreto na Assembléia Nacional de Viken, obrigando as pessoas a serem batizadas. Com um grande acompanhamento militar, foi aos distritos e ordenou que todos fossem batizados. Toda negativa era castigada brutalmente. A Suécia também, depois de uma época de desenvolvimento tranqüilo, foi “cristianizada” pela lei e a força.
Em 865 o czar búlgaro, Boris, foi batizado em Constantinopla. A maioria dos búlgaros seguiram o exemplo de seu czar. Logo havia dez bispos búlgaros sob um arcebispo.
Quando o príncipe russo Vladimir se fez batizar em Chersan, no ano 988, dois mil de seus súditos receberam o batismo junto com ele. Também procurou impor abruptamente o cristianismo aos russos, ordenando que todos os que não quisessem ser seus inimigos se apresentassem para o batismo num dia especial. Assim multidões de pessoas foram batizadas no Dniepre.
Na História do Povo Judeu, por Herman, são dadas informações acerca do batismo obrigatório de judeus, levado a cabo a partir de 1496, pelo rei Manuel, de Portugal. O bispo Coutinho relata: “Vi como muitos eram arrastados pelos cabelos até à fonte, e como pais vestidos de luto, com a cabeça coberta e com amargo clamor, acompanhavam a seus filhos e protestavam junto ao altar contra esse batismo desumano e obrigatório. Vi outros horrores indescritíveis que lhes foram infligidos”. Também na França meninos judeus foram batizados obrigatoriamente. Batismos obrigatórios similares ocorreram na Polônia desde 1648.
O Modelo Saxão, a mais antiga obra da lei prescritiva alemã (antes de 1235), contém, entre outras coisas, as seguintes provisões a respeito dos batismos obrigatórios de judeus uma vez efetuados: “Embora tenham sido obrigados a submeter-se ao batismo e apesar disso, permanecerão fiéis a sua fé cristã. E por esta razão, não se pode anular o batismo do homem que o tenha recebido. E se um judeu se toma cristão e queira novamente separar-se da fé, seja obrigado pelas cortes espirituais e seculares a nela permanecer. E se renega a fé cristã e não quer manifestá-la, seja queimado como herege”.
IV. O Batismo nas Missões Católicas de Épocas Recentes
No tocante à prática do batismo pelos missionários romanos na China, o missionário P. Kranz dá em Witness for the Truth (“Testemunho da Verdade”), 1913, n? 11, a seguinte informação interessante extraída de Oeuvre de la Sainte Enfance (“Obra da Infância Santa”), na qual missionários franceses católicos romanos falam de sua obra na China.
Declara o número correspondente a junho de 1897: “Desde 1884 temos tido a felicidade de batizar a 20.552 criancinhas moribundas, inclusive 3.558 neste ano. Todos esses anjinhos não farão nada ali em cima para a conversão da China incrédula?”
No mesmo número há um relatório a respeito da fome em Yunnan, em 1893. “A providência . . . tem simplificado grandemente nossa obra, porquanto chamou para o Céu uma grande quantidade de nossas criancinhas. Estas mortes inoportunas, tão tristes numa terra cristã, são motivo de alegria e consolo nestas regiões pagãs”.
Escreve um dos correspondentes: “Realizei uma breve visita à casa da Imaculada Conceição, em Pequim. Estão vendo esta modesta porta de entrada? Tem sido este ano a porta do Céu para grande número de irmãozinhos e irmãzinhas. Neste pórtico 873 criancinhas nos foram entregues por 45 centavos cada uma; destas, 843 faleceram depois de haver nascido de novo pelas santas águas do batismo”. (N? 21, p. 258.)
Outro informa: “Uma criancinha custa uns cinco francos por mês. Suplico a Deus que estas queridas alminhas possam deixar-nos o quando antes possível e voltar para o Céu. Mas, se não morrerem, devem ser alimentadas e criadas”.
Uma dessas instituições pôde informar triunfalmente que de 12.000 criancinhas batizadas que lhe foram confiadas, somente 124 ou 125 haviam completado o primeiro ano de vida; e nos mesmos registros o bispo Quieroy felicitou os missionários por essa obra de enviar ao Céu, cada ano, mais de 40.000 criancinhas.
Warneck informa o seguinte a respeito das práticas batismais católicas em terras missionárias: “Quão considerável é a quantidade de crianças pagãs batizadas (é verdade que a maioria em perigo de morte) na Missão Católica se verá quando se menciona que somente nos distritos asiáticos do Seminário Missionário de Paris, de 1800 a 1850, mais de 250.000 adultos e 8.244.770 crianças pagãs, e de 1850 a 1904 também 984.000 adultos e 9.260.667 crianças pagãs, foram batizados. É verdade que a grande maioria estava em perigo de morte”.
O crescimento mais veloz e mais mecânico foi na Missão Americana mais antiga. Por exemplo, no México a Missão floresceu tão rapidamente que em quinze anos sete milhões de nativos aceitaram o batismo; mas também no Congo, e até na Índia, no Japão e na China houve batismos em massa a curto prazo.
Os chamados batistérios ou capelas batismais nas igrejas católicas mais antigas são prova adicional de que todas as igrejas, durante séculos, realizaram o batismo por imersão.
“O batismo recebe em grego o nome de baptismos, e em latim mersio, tendo o significado de submergir algo completamente na água, que se fecha por cima’.
As Igrejas Orientais têm retido a prática da imersão até o dia de hoje. Na Rússia e até na fria Sibéria, todas as crianças continuam sendo batizadas por imersão.
Em muitos batistérios e igrejas ainda podem ser encontrados antigos quadros que representam o batismo na forma de imersão.
“Os cristãos primeiro examinam, da melhor maneira possível, o coração dos que desejam tornar-se seus ouvintes. Instruem-nos individualmente, e só quando esses ouvintes deram prova adequada de que desejam levar uma vida correta são admitidos na irmandade”.
Depois da adoção do batismo infantil, as fontes de pedra tomaram o lugar dos batistérios; mas, como se pode comprovar a contento nas igrejas católicas antigas, são de tal profundidade e tamanho que a criança podia facilmente ser submergida.