Para os Adventistas do Sétimo Dia a única norma, regra e suprema autoridade doutrinária é a Bíblia. Todas as outras autoridades são secundárias. Ellen White escreveu: “Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas.” — O Grande Conflito, pág. 594. “A Bíblia, e a Bíblia tão-só, deve ser nosso credo, o único laço de união…. Ergamos o estandarte no qual está escrito: A Bíblia, nossa regra de fé e disciplina.” — Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 416.
Neste artigo a palavra “doutrina” é usada no sentido de “doutrina da Igreja”. Semelhante doutrina freqüentemente se encontra numa declaração das Crenças Fundamentais da igreja. Constitui a exposição sistemática, o sumário, a ênfase e a organização das verdades divinas por parte da Igreja. Assim, a “doutrina” expressa a compreensão que a Igreja tem de Deus, de Sua vontade e de Seus caminhos.
O primeiro passo na formação doutrinária é procurar compreender a Bíblia por meio da exegese. O esforço da exegese é determinar, da melhor maneira possível, o que o autor queria dizer e o que seus primeiros leitores entenderam quando leram suas palavras com a mente tornada impressionável pelo Espírito Santo; Até mesmo na literatura apocalíptica, procuramos estabelecer exegeticamente o que a linguagem, a forma, a história e o contexto permitem. É no processo exegético que se deve deixar que a Bíblia seja seu próprio intérprete. Ao fazer exegese, deixamos de lado, tanto quanto possível, nossas idéias preconcebidas acerca do que a Bíblia quer dizer, no sentido de que silenciamos nossos desejos pessoais a respeito do resultado da interpretação. Procuramos aprender as questões que determinado autor tentava responder, os pontos e os problemas que ele estava enfrentando, e o conceitos e os métodos que tinha à sua disposição ou procurar solucionar esses problemas.
A lingüística, a História, a identificação de formas literárias e cuidadosa atenção ao contexto — todos desempenham importante papel no processo exegético. Os que são versados no uso desses instrumentos exegéticos são indispensáveis à Igreja. Sem dúvida, as pessoas comuns podem obter conhecimento para a salvação da Bíblia. No entanto, essas mesmas pessoas são devedoras a peritos que, comparando antigos manuscritos num processo conhecido como crítica textual, se esforçam por estabelecer o texto original da Bíblia mais acurado. As pessoas comuns também são devedoras aos lingüistas que traduziram esses manuscritos antigos para as línguas modernas. Neste sentido, o conhecimento e a compreensão que as pessoas comuns têm da Bíblia dependem do trabalho de eruditos bíblicos e podem ser aumentados ainda mais por suas contínuas contribuições.
Cumpre lembrar que a Bíblia, embora escrita em palavras humanas, continua sendo a Palavra de Deus. Por isso, o exegeta, ao empregar sua proficiência técnica, precisa rogar a orientação do Espírito tanto quanto os participantes em qualquer outra etapa do estudo da Bíblia e da formação doutrinária.
Este processo exegético não produz, porém, a doutrina da Igreja. Apenas constitui o indispensável passo inicial na formação doutrinária porque estabelece nossa compreensão fundamental de nossa suprema autoridade doutrinária, as Escrituras Sagradas. O processo exegético elucida os ensinos da Bíblia em toda a sua multiplicidade. A clareza e a ênfase desses ensinos variam de um escritor bíblico para outro, e mesmo dentro da obra dos autores individuais. Além disso, nem todos os ensinos da Bíblia são usados pela Igreja na formação doutrinária. Por exemplo, embora a Bíblia ensine a bondade para com os animais, não fizemos desse ensino uma de nossas “Crenças Fundamentais”. Para o Exército da Salvação, porém, a bondade para com os animais faz parte da doutrina da Igreja.
Ao dizer que os resultados da exegese não são doutrina, asseveramos que doutrina não é meramente uma nova exposição da Escritura em termos contemporâneos. A doutrina não se relaciona com a Escritura como a tradução de um documento se relaciona com o original escrito numa língua diferente. Uma analogia mais precisa, embora imperfeita, seria a relação entre as leis de um país e a constituição de seu governo. A constituição enuncia objetivos e assuntos, e impõe limites a possíveis leis, mas legisladores vivos formam as leis, apelando para necessidades contemporâneas e fatos recém-compreendidos, bem como para os objetivos e assuntos da constituição. A analogia é imperfeita porque há muitas doutrinas que procedem da exegese, com bem pouca influência interpretativa evidente por parte da Igreja. Além disso, toda doutrina precisa ter uma autorização e justificação exegética na Escritura. Isto significa que embora possa ser promulgada alguma lei não proibida na constituição, só podem ser adotadas doutrinas expressas ou insinuadas na Escritura.
O segundo passo na formação doutrinária é dado na obra teológica da Igreja. Destarte, há tanto uma fase exegética como teológica na formação doutrinária. A teologia abrange, pelo menos em parte, a comparação de uma passagem, de um autor e de um ensino com outros. À medida que esse estudo for prosseguindo, surgirão com clareza certos temas. Cristo é visto como a suprema auto-revelação de Deus e o assunto unificador de toda a revelação bíblica. Baseando-se na obra exegética da igreja, há um encargo teológico que procura harmonizar as aparentes contradições da Escritura, para determinar a relativa significação de vários ensinos bíblicos, para identificar assuntos unificadores e para expressar a resultante interpretação doutrinária da Igreja.
Visto que reconhecemos a necessidade e a inevitabilidade dessa etapa teológica, seria ingênuo de nossa parte afirmar que a Bíblia é a influência “exclusiva” na formação da doutrina da Igreja. A Escritura é certamente a única autoridade normativa; porém, mesmo em questões de “fé” é a Igreja viva que decide — por exemplo — como equilibrar os ensinos dos Evangelhos, das Epístolas de Paulo, do livro de Tiago e do Apocalipse sobre tais assuntos como fé, obras e julgamento. Em questões “práticas”, uma igreja que usa a Bíblia como sua autoridade “exclusiva” não estaria em condições de pedir que seus membros se abstivessem do uso do fumo, pois a Bíblia não menciona o tabaco em parte alguma. A Bíblia contém princípios de vida saudável, mas há casos em que a ciência, interpretada pela Igreja viva, tem um papel a ser desempenhado.
Nessa etapa teológica da formação doutrinária, a Igreja — qualquer igreja, sociedade religiosa ou congregação — emprega vários meios extrabíblicos, tais como os escritos de respeitados fundadores e teólogos, bem como decisões anteriores sobre questões doutrinárias por parte da Igreja. Um dos melhores auxílios para os Adventistas do Sétimo Dia são os escritos que o Espírito de Profecia induziu Ellen G. White a redigir. Seus escritos têm sido instrutivos e proveitosos nos esforços da Igreja para formular suas doutrinas. Ela proporciona ajuda, orientação e discernimento à Igreja nesse processo.
Isso não significa que Ellen White é uma “teóloga” ou “exegeta”. A não ser em raros casos, ela não nos proporciona exegese no sentida técnico, nem os instrumentos necessários para efetuá-la. Raoul Dederen expressou-o muito bem, nestes termos:
“Como intérprete da Bíblia, a parte mais característica de Ellen G. White foi a de um evangelista — não a de um exegeta, nem a de um teólogo, como tais, mas a de um pregador e a de um evangelista. … Os modos profético e exortativo eram mais característicos de sua pessoa do que o exegético. … As pessoas a quem ela estava pregando ou escrevendo eram mais o objeto de sua atenção do que as pessoas específicas às quais se dirigiram os escritores bíblicos individuais.” — “Ellen White’s Doutrine of Scripture”, Are There Prophets in the Modern Church? (Suplemento da revista Ministry, julho de 1977), pág. 24H.
O caso é simplesmente que na formação doutrinária, nem os exegetas nem os teólogos são suficientes por si mesmos. Nem mesmo juntos podem eles formular a doutrina da Igreja, pois essa doutrina expressa a compreensão de toda a Igreja, e não só as interpretações de esmerados peritos ou talentosos dirigentes nesses setores. O fato de que a própria vocação particular da Sra. White era a de um profeta denota que seu papel não é meramente devocional ou pastoral, nem exegético ou teológico, mas profético. Embora seu ministério apresente elementos de todas essas outras funções, é separado e distinto delas. A autoridade profética tem competência para aplicar a mensagem de Deus aos problemas fundamentais da existência humana, para devassar a perversidade humana e para acentuar as possibilidades humanas em Cristo. Um profeta pode argumentar teologicamente, fazer ponderações devocionais e atender pastoralmente ao povo de Deus, mas sua mensagem comumente é mais incisiva do que a de um pastor, mais desafiadora do que a de um escritor devocional, mais cativante do que uma formulação teológica e mais relevante do que uma exposição exegética.
O papel profético da Sra. White no âmbito doutrinário é formativo, não normativo. Quando a Igreja se empenha em sua tarefa teológica de formular os resultados da exegese, transformando-os em doutrina, ela acolhe de bom grado a influência profética ao decidir expor e salientar certos ensinos da Escritura, e não outros. Assim, a Sra. White não prova para nós que o sétimo dia é o sábado, nem constitui o padrão ou a norma para essa crença; mas, salientando a importância do sábado em nossa relação com Deus, ela nos estimula a dar especial atenção a esse ensino da Escritura.
Cremos que a revelação e inspiração da Bíblia e dos escritos de Ellen White são de igual qualidade. A supervisão do Espírito Santo foi tão cuidadosa e esmerada num caso como no outro. Há, porém, uma clara distinção entre a autoridade normativa da Escritura e a autoridade formativa dos escritos da Sra. White em nossa Igreja. Por que essa distinção? Em primeiro lugar, Ellen White colocou unicamente a Bíblia na categoria de “norma” e “regra” de doutrina. Então há razões práticas para fazer a distinção. Só abstendo-nos de usar Ellen White como autoridade normativa na doutrina podemos esperar enfrentar outros cristãos numa base comum e esperar que vejam a validez de nossas doutrinas. Depreende-se, portanto, que mesmo dentro da Igreja não se deve fazer da Sra. White o recurso final de apelação em questões de doutrina, pois isso equivaleria a ter um padrão de doutrina para ingressar na Igreja, e um padrão diferente depois de fazer parte dela.
Podemos acrescentar outra razão prática por que não ousamos fazer de Ellen White o árbitro final em questões doutrinárias. O vasto acervo de assuntos sobre os quais ela escreveu, o grande volume de sua produção literária, e o fato de que ela emprega ou comenta tão ampla proporção de todos os versos da Escritura tornam extremamente difícil, na vida prática, deixar de atribuir-lhe um papel mais importante do que a algum escritor bíblico, na formação da doutrina. Ela simplesmente teve muito mais que dizer sobre todos os assuntos doutrinários do que qualquer escritor bíblico individual. Destarte, se os seus escritos forem usados para pôr fim a todas as disputas doutrinárias, é quase impossível manter a Bíblia como a autoridade normativa na doutrina. Os escritos de Ellen White inspirados pelo Espírito de Profecia certamente não devem ser desprezados nas considerações doutrinárias. Eles nos proporcionam valioso discernimento na mensagem da Escritura, e acentuam a importância de certos assuntos e verdades. Em última análise, porém, os debates precisam ser encerrados apelando unicamente para a Escritura. No caso de Ellen White, existe a tendência de conceder-lhe mais autoridade prática do que aos escritores bíblicos individuais por que ela escreveu mais a respeito da Bíblia do que qualquer escritor bíblico individual. Essa tendência pode conduzir-nos a uma situação em que a autoridade canônica seja realmente menos importante para nós do que a autoridade confirmatória.
A legitima função da Sra. White em relação com a Bíblia deve estar de acordo com aquilo que ela mesma proclamou a esse respeito. A dificuldade está na aparente diferença de compreensão de seu propósito num conjunto de declarações para outro. Por um lado, a Sra. White fez menção do propósito de seus “testemunhos” — um termo genérico atribuído a todos os seus conselhos. Em relação com a Biblia eles devem:
“guiar os homens à Bíblia” (Ev. 257)
“conduzir homens e mulheres de volta à negligenciada Palavra de Deus” (2T 455)
“chamar a atenção para a Palavra de Deus” (LS 199)
“gravar a verdade bíblica na mente” (LS 199)
“simplificar as grandes verdades já transmitidas na Palavra de Deus”(LS199)
“exaltar a Palavra de Deus” (2T 606)
“proporcionar mais clara compreensão da Palavra de Deus” (4T 246)
“gravar no coração verdades já reveladas” (2T 660-1) e
“estar em harmonia com a Palavra de Deus” (TM 402)
A Sra. White declara que os seus testemunhos nunca devem ser postos na frente da Bíblia (Ev. 256), nem ser “um acréscimo à Palavra de Deus” (4T 246); não visam a “proporcionar nova luz” (LS 198-199), nem devem “ocupar o lugar da Bíblia” (5T 663-8). Todas essas declarações se ajustam a um molde que subordina claramente a autoridade de Ellen White à autoridade da Escritura.
Por outro lado, há declarações em que ela parece reivindicar, em virtude de sua inspiração, o direito de “definir” e “especificar” o significado da Escritura. Ela diz que seus escritos sobre questões doutrinárias são essencialmente destituídos de erro: “Há uma retilínea cadeia de verdade, sem uma só frase herética, naquilo que escrevi” (3SM 52). Assegura-nos que os testemunhos “jamais contradizem a Palavra [de Deus]” (3SM 32). Lembrava-se freqüentemente dos primeiros tempos em que o “poder de Deus” vinha sobre ela, habilitando-a “a definir claramente o que era verdade ou erro” (OE 302). Quando os irmãos não conseguiam ir mais adiante naquelas antigas conferências bíblicas, ela era “instruída a respeito da relação dum texto bíblico com outros”. Assim, diz ela, “muitas verdades da mensagem do terceiro anjo foram estabelecidas ponto a ponto” (3SM 38). Até mesmo trechos de seus diários deviam ser publicados porque continham “luz” e “instrução” que foram dadas “para corrigir erros capciosos e para especificar que é verdade” (3SM 32). “Sou grata — escreveu ela ao evangelista W. W. Simpson — por que a instrução contida em meus livros estabelece a verdade presente para este tempo. Estes livros foram escritos sob a demonstração do Espírito Santo.” — Carta 50, 1906.
Essas últimas declarações nos advertem especialmente de que os comentários da Sra. White sobre a Escritura não podem ser considerados levianamente se queremos acatar sua autoridade da maneira como ela a compreendia. Mas, diante dessas declarações, podemos ver também por que alguns acham difícil crer que nossas doutrinas, em última análise, estão baseadas na Bíblia e não em Ellen White. Nossos primeiros críticos tiveram mais ou menos o mesmo problema. Tendo lido o relato de Ellen White sobre como sua visão ajudou a resolver as divergências entre os irmãos reunidos na conferência de Volney, Nova Iorque, em 1848 (2SG 98-99), eles sintetizaram desdenhosamente o incidente, dizendo: “Havia uma diversidade de opiniões; a irmã White viu que eles precisavam abandonar suas divergências e unir-se, e fizeram isso.” — J. N. Loughborough, “Reminiscências do Passado — Nº 12”, Review and Herald, vol. 62 (3 de março de 1885), pág. 138. Esse pioneiro protestou contra essa interpretação. “Aquelas pessoas — diz ele — não renunciaram a suas divergências simplesmente porque a irmã White disse que deviam fazê-lo, e, sim, porque na mesma visão lhes foram indicadas claras afirmações da Escritura que refutavam suas falsas teorias, sendo-lhes apresentado, em contraste com isso, uma reta e harmoniosa sucessão de verdades bíblicas.” — Ibidem.
Loughborough não esteve na referida reunião, mas a sua interpretação em 1885 merece séria consideração. Será que as declarações de Ellen White mencionadas mais acima podem ser interpretadas sob o mesmo aspecto? Se não, deparamos com intolerável tensão quando Ellen White afirma, por um lado, que nossas crenças precisam ser estabelecidas pela Bíblia e só pela Bíblia, e, por outro lado, assevera que seus escritos provêem a suprema confirmação de nossas doutrinas.
Visto que cremos que a Sra. White recebeu revelações da mesma qualidade, embora diferentes em propósito e função, que as revelações recebidas pelos escritores bíblicos, aplicamos seu conselho e testemunho a todas as etapas do processo de formação doutrinária — não como autoridade final, mas como fonte de influência e discernimento. Para que possamos fazê-lo da maneira mais eficaz, proveitosa e unificadora, também precisamos fazer dos escritos de Ellen White objeto de diligente estudo. Nem todos os membros de igreja são convidados a empenhar-se nos aspectos mais esmerados desse estudo, como também nem todos os membros de igreja são convidados a ser grandes eruditos. No entanto, isto não torna desnecessários os esforços de alguns que querem dirigir-se a maiores profundezas no estudo desses escritos.
Muitas das técnicas empregadas no estudo da Bíblia também são úteis, em forma modificada, no estudo dos escritos de Ellen White. Ainda existe considerável quantidade de rascunhos escritos por ela. Esses rascunhos escritos à mão podem ajudar-nos a compreender melhor o que Ellen White tinha em mente ao estar escrevendo. Durante sua vida, alguns de seus ajudantes literários tinham considerável latitude na revisão dos materiais escritos por ela. O trabalho deles era muito mais significativo do que o de um revisor que meramente cuide de questões mecânicas e técnicas. A Sra. White, naturalmente, reservava para si o direito da aprovação final do que eles preparavam. Assim, tanto o original escrito à mão como o rascunho concluído, de qualquer manuscrito de Ellen White, constituem textos igualmente válidos. O objetivo dessa análise textual dos escritos de Ellen White, por conseguinte, é descobrir a extensão do possível significado de determinado trecho ou restabelecer nuanças perdidas, de preferência a determinar qual é o verdadeiro texto original.
Tem-se declarado que a compreensão “da Bíblia e das atividades de Deus”, por parte da Sra. White, cresceu com o passar do tempo. Portanto, convém estudar todos os seus escritos, publicados e não publicados, em sua seqüência cronológica para acompanhar o desenvolvimento e a variação de diversos conceitos.
Visto que a Sra. White não costumava usar extensas citações de fontes literárias, será proveitoso identificar, na medida do possível, todas essas fontes. O sentido do texto muitas vezes pode ser elucidado comparando e contrastando o que ela escreveu com a fonte da qual extraiu suas expressões e idéias. Precisamos ver o que ela decidiu usar em contraste com o que preferiu não usar de determinado autor ou determinado trecho, e perguntar por que escolheu certo material.
À medida que as fontes pertinentes se vão tornando mais acessíveis, podemos começar significativamente nosso estudo de alguns assuntos específicos que serão úteis para estabelecer a devida relação entre a autoridade profética de Ellen White, a autoridade de exegetas e teólogos, e a autoridade da própria Escritura, na formação da doutrina. Necessitamos de abrangente e meticuloso exame de todas as declarações de Ellen White sobre a Escritura, que foram ou não publicadas. Precisamos estudar o que ela diz sobre a hermenêutica, inspiração, autoridade e utilidade da Escritura. Isto deve ser efetuado, em primeiro lugar, no contexto cronológico, a fim de descobrir desenvolvimentos em seus ensinos. Em segundo lugar, deve ser efetuado no contexto histórico, comparando e contrastando o que ela escreveu com o que outros estavam escrevendo e pregando ao seu redor. Por exemplo, ela viajou e pregou com G. B. Starr na Nova Zelândia, durante um tempo em que ele atacou vigorosamente a alta crítica. Os sermões de Starr foram publicados num jornal local e podem ser comparados com os próprios comentários da Sra. White sobre a alta crítica, para ver quais os pontos em que ela concordou, discordou ou ‘permaneceu silenciosa.
Também importa dizer alguma coisa sobre um “elevado” conceito da Escritura, nos escritos de Ellen White, situado fora do âmbito das considerações acerca da inspiração propriamente dita. Isso tem que ver com suas declarações a respeito da utilidade da Escritura. Ela atribui grande poder à Bíblia. Esta é mais do que meramente uma fonte de corretas idéias religiosas. Pode aumentar a capacidade intelectual e suprir todas as outras necessidades emocionais, espirituais e mesmo físicas da humanidade. Este conceito sobre a Escritura envolve alguma coisa acerca de sua inspiração, mas não constitui um comentário direto sobre isso.
Precisamos estudar não somente o conceito de Ellen White sobre a utilidade da Escritura, mas dar também mais atenção ao uso que ela faz da Bíblia. Sabemos que ela usou a Escritura de diversas maneiras, mas raras vezes se empenhou no que chamaríamos de exegese. Há, porém, algo mais do que isso. Ellen White tinha a tendência de incluir longos trechos da Escritura em seus escritos. Em muitos casos esses trechos foram copiados por extenso em seus manuscritos originais. Que isto indica de seu conceito sobre a Escritura? Nalguns lugares em que não colocaríamos nenhum versículo ou frase da Bíblia, ou onde simplesmente poríamos uma referência em nossos escritos, Ellen White se dava ao trabalho de sentar-se junto à mesa e copiar diligentemente palavra por palavra de um longo trecho da Bíblia. Que significa isso? Denota o desejo de colocar-se em segundo plano e deixar que a Escritura fale por si mesma, ou é meramente um hábito que ajudava a encher páginas? Acho mais provável a primeira suposição. Fenômenos como esse nos advertem de que às vezes podemos estar fazendo perguntas inoportunas acerca da relação de Ellen White para com a Bíblia. Seja como for, antes de procurarmos sujeitá-la a categorias analíticas providas por críticos hostis, precisamos analisar sua relação para com a Bíblia de acordo com suas próprias afirmações, examinando tanto o que ela disse como o que fez.
Em suma, a Bíblia é nossa única norma e regra de doutrina. Ela é nossa suprema autoridade doutrinária. O primeiro passo para compreendê-la é a exegese. O processo exegético é seguido de um processo teológico. Neste processo, Ellen White, em virtude de sua autoridade profética, nos influencia ao transformarmos os resultados da exegese em doutrina. Seus escritos podem ser estudados com proveito, e ela continua sendo uma autoridade formativa na doutrina adventista. A Bíblia é a única autoridade normativa. — Ron Graybill