Mensagem devocional apresentada em New Orleans, na sexta-feira, 5 de julho de 1985.

“Depois destas coisas vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro.” Apoc. 7:9.

Apocalipse 7:9 está a muitos milênios e a incontáveis bilhões de pulsações do coração, da sublime arena do Éden. Ninguém compreenderá isso melhor do que Adão.

Podeis imaginá-lo? Moldado pela própria mão do Criador, ele se levanta para fixar os olhos na face dAquele que sempre é belo. Sua mente é clara e de uma inteligência inigualável: sua enorme constituição física não padece de nenhuma enfermidade. Lucas relata em sua genealogia de Jesus que Adão era “filho de Deus”. No seu coração não palpitava nenhum desejo pecaminoso. Ele nasceu para triunfar!

“Adão foi coroado rei no Éden. Foi-lhe dado domínio sobre todos os seres vivos criados por Deus. O Senhor favoreceu Adão e Eva com uma inteligência que não concedera à criação animal.” — Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874….

Quando os anjos contemplaram este santo par — esses dois feitos um para o outro; esses dois (tendo um deles as mais austeras virtudes de Deus, e o outro os mais suaves atributos da Divindade) que se davam as mãos e olhavam um para o outro — os filhos de Deus gritaram de alegria.

“Deus criou o homem para Sua própria glória, para que, após as provas e provações, a família humana pudesse tornar-se uma só com a família celestial. Era desígnio de Deus repovoar o Céu com a família humana, se eles demonstrassem ser obedientes a todas as Suas palavras…. Se ele [Adão] suportasse a prova, sua instrução a seus filhos só teria sido de lealdade. Sua mente e seus pensamentos teriam sido como a mente e os pensamentos de Deus.” — Comentários de Ellen G. White, SDABC, vol. 1, pág. 1.082.

Oh, sim! O homem nasceu para triunfar!

Mas a cena se modifica. Uma voz — a voz do Criador — está dizendo à mulher: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos.” Gên. 3:16. Adão e Eva estão agora vestidos de trajes de derrota e egoísmo.

Essa mesma voz acaba de dirigir-se ao autor da rebelião: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu Descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar.” Verso 15.

A voz do Criador, que declarara exultantemente: “Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança” (Cap. 1:26), dirige-se agora a Adão, em tons suaves. Essa voz está impregnada de um pesar que só pode ser conhecido por alguém que ama divinamente. Diz o relato: (Ler Gên. 3:17-19). Nascidos para triunfar?

Tanta coisa foi perdida tão repentina e completamente! Eles não puderam, naquela ocasião, compreender a tenacidade do amor de Deus. Paulo ainda não escrevera a carta de direitos humanos, a qual diz: “Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom. 5:8.

O Lenço da Graça

Gênesis 3:15 é o S. João 3:16 do Antigo Testamento. Ambos prometem que aquilo que ainda não aconteceu, já é; que o futuro tragou o presente; que a esperança daquilo que será pode trazer paz em virtude do que aconteceu. O Cordeiro é morto desde a fundação do mundo. O lenço da graça do Calvário enxuga as lágrimas da ignomínia do Éden.

Um anjo de luz fechou a porta do Éden. Adão e Eva teriam de crer agora no triunfo. Isto não seria fácil. Adão viveu até atingir 930 anos de idade. “E durante centenas de anos houve sete gerações vivendo na Terra contemporaneamente.” — Patriarcas e Profetas, pág. 80.

O que foi que Adão viu? Houve aquele triste dia de angústia em que ele e a esposa descobriram o corpo ensangüentado de Abel. Sinta o profundo pesar dessa mãe ao deitar no regaço a cabeça sem vida de seu próprio filho.

Então Caim sai de casa e constrói uma cidade. Adão só pode presumir que essa cidade daria origem a todas as grandes cidades de nosso tempo…, onde impera a pobreza, o crime, a sensualidade, a cobiça e a injustiça. Ouvi, prezados irmãos, quando Adão e Eva comentam, horrorizados, a imoralidade dos descendentes de Caim. O tataraneto de Caim, Lameque, tomara duas esposas, quebrando a aritmética sagrada que disse que dois se tornariam um. E que dizer daquele mês ou ano — teria sido centenas de anos mais tarde? — em que Adão, andando por entre as árvores de enorme altura, talvez tenha tropeçado em dois de seus jovens descendentes que praticavam o ato sexual antes do casamento? Acima de tudo, porém, havia a inevitável lembrança diária de que todo ato de pecado, toda mentira proferida, toda rosa que murchava — oh, sim! toda folha que caía — foram ocasionados pela rebelião dele mesmo e de sua esposa. Nascidos para triunfar? Era difícil acreditar no triunfo.

Adão nasceu para triunfar, mas devido ao câncer da confiança em si mesmo, os seus descendentes nasceram em pecado. A morte e a derrota incidiram sobre todos. Portanto, os filhos de Adão e Eva… se acham debilitados pelo derrotismo. Mas, junto à mesma árvore do bem e do mal, onde o cordeiro da harmonia e paz foi devorado pelo leão da desarmonia e desesperança, implantou-se no homem a inimizade, a hostilidade e o descontentamento com a sua situação.

O perigo da Igreja é rejeitar essa bússola interior — articulada pelo Espírito Santo, que punge a consciência — a qual declara que algo está errado precisamente quando todos estão dizendo que tudo vai bem. Ê uma atração para a vitória e uma aversão à derrota.

O Movimento de Deus em Direção ao Triunfo

Sete nasceu quando Adão tinha 130 anos. Seu nome significa “designado”. Deus começou a manifestar então o Seu movimento em direção ao triunfo final de nossa raça. Diz o relato: “A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos: daí se começou a invocar o nome do Senhor.” Gên. 4:26.

Isto deve ter animado o coração de Adão e Eva…. As grandes verdades ensinadas a Adão e Eva pelos anjos — as verdades da Criação, da Trindade, do sábado, da lei, do casamento, da mordomia, da temperança, da justiça pela fé na promessa de Deus — não somente eram aceitas por alguns de seus filhos, mas agora, por meio dos descendentes de Sete, estavam sendo ensinadas no culto.

Quando tinha mais de seiscentos anos de idade, Adão ouviu a pregação de Enoque — uma mensagem de otimismo, vitória e triunfo. Num mundo que perdia o apego à verdadeira piedade, num mundo que Paulo descreve como depravado e tão deturpado que os homens esqueciam como ser homens e as mulheres desdenhavam da verdadeira feminilidade — nesse mundo Enoque começou a mudar a maré da derrota para a vitória….

Deus compreende quão enlevante e desorientador pode ser o pecado quando esta Igreja, que tem um aumento de mil membros por dia, repele os danosos efeitos de muitas culturas e variados costumes sociais. Não devemos ficar desesperados se em todo o mundo este evangelho remanescente não é praticado em todos os lugares exatamente do mesmo modo. Essa ferrenha inimizade — essa hostilidade contra o mal — ao ser estimulada, desenvolve o senso de que algo não está certo. Deus nos unirá, mas ai de nós — tanto na América do Sul como na Coréia — quando torcemos o evangelho para satisfazer nossa própria debilidade. Adão nasceu para triunfar, mas os descendentes de Adão nasceram em pecado. Por meio do Descendente de Adão, o Verbo que Se fez carne, podemos novamente ser chamados filhos de Deus, renascidos para triunfar.

Adão morreu sem ter obtido a concretização da promessa. Enquanto Adão estava vivo, ninguém podia esquecer que o homem nasceu para triunfar. Menos de quatro gerações após a morte de Adão, só oito seres humanos estavam vivos. As águas estendiam-se sobre os cadáveres dos filhos e filhas da humanidade. Onde está o triunfo, Noé?

Os profetas não podiam guardar silêncio. Jacó disse: ‘‘O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a Ele obedecerão os povos.” Gên. 49:10. Moisés, prevendo o Descendente Descendente triunfante, disse: Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as Minhas palavras.” Deut. 18:18. Josué teve um vislumbre da natureza triunfante do Descendente da mulher quando ele contemplou o Capitão do exército do Senhor em posição de sentido e preparado para o vitorioso ataque contra o inimigo.

Depois do Dilúvio, o homem, em todas as épocas, esforçou-se para acreditar no triunfo. Deus ousou escolher um povo e torná-lo o despenseiro de Sua Palavra, mas a Sua Palavra não parecia triunfar na vida deles mesmos. Os profetas foram implacáveis em descrever a derrota moral dos filhos e filhas de Adão, bem como positivos e coerentes em declarar o seu triunfo. Muitas vezes os profetas exprimiram seu otimismo em face de acontecimentos e situações tão diametralmente opostos ao triunfo, que davam a impressão de ser bobos.

O Pecado Tornou-se Mais Popular do que a Salvação

Como você ousa falar, Isaías, sabendo que no seu tempo o pecado era mais popular do que a salvação? Os governantes se prostravam diante dos ídolos de pedra, metal e madeira. O Templo era abandonado devido a interesses pessoais. Como você ousou escrever estas palavras? (O orador leu Isaías 35:1-10.)

Jeremias está em pé junto à porta do Templo, onde o culto era mais uma formalidade do que algo impregnado do Espírito. Os dirigentes e os crentes em geral preferiam ouvir mentiras a ouvir a verdade…. Mas, nesse ambiente, em que predominava a apostasia, e a religião pura e santa era tratada como fanatismo, Jeremias conseguiu dizer: “Eu mesmo recolherei o restante das Minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; serão fecundas, e se multiplicarão. Levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma delas faltará, diz o Senhor. Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na Terra. Nos Seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro.” Jer. 23:3-6.

Aos dezoito anos de idade, li um livro que começa de maneira bem simples: os dois são indescritivelmente belos e simpáticos. Sua relação é caracterizada pelo amor e admiração mútua. Mas os dias de felicidade são breves, e no terceiro capítulo do livro aparece um vilão que assume o domínio. No sexto capítulo o par original já está morto, e seus descendentes são corruptos. No nono capítulo só resta um punhado de gente. Quando cheguei ao Êxodo, os descendentes do herói são escravos, e em Números, embora livres, eles são muito ignorantes, e em Josué, deploravelmente incoerentes. No fim de Juizes cada um fazia o que achava mais reto, e quando acabei de ler os livros dos Reis, as pessoas estavam banidas de sua pátria, desesperadamente espalhadas e cativas numa terra estranha.

De repente, senti grande desejo de saber se haveria triunfo. (Eu não tinha lido a Bíblia antes disso.) Fui para a parte final do Livro. Ali havia dragões, bestas, escorpiões, estrelas cadentes e símbolos de toda a espécie. E então eu os vi — eles eram evidentemente descendentes do par original. Estavam vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos. Pude ver que tinham coroas de ouro sobre a cabeça, e ouvi também os cânticos. Oh, que cânticos! Continuando a ler esses preciosos capítulos, consegui ver, em minha imaginação, pessoas de pele amarela, escura, vermelha e branca! Elas provinham de muitos lugares. O livro dizia que provinham de toda nação, tribo, língua e povo. E que lugar era aquele em que se encontravam! Havia luz em toda a parte. Todos tinham boa aparência e muita saúde. O Livro afirmava que não haveria mais dor, lágrimas, luto e morte. O Livro apresentava uma grande árvore — a mesma que existira no começo da narativa. Chamava-se “Árvore da Vida”. Eles entoavam um cântico especial. O Livro dizia que haviam lavado as suas vestiduras no sangue do Cordeiro! Em minha imaginação, pude sentir o triunfo!

Retornei à parte do Livro que dizia: “Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam.” S. João 1:11. Mas não fiquei preocupado; eu havia consultado os capítulos finais. Sei agora que pelo sangue do Filho de Adão — o Filho de Deus — eu nasci — isto é, renasci — para triunfar!