Neal A. Kuyper, Diretor do Serviço de Aconselhamento Presbiteriano, em Seattle, Washington, EE.UU.

Quando uma esposa de quarenta anos de idade, mãe de três filhos, faleceu num acidente ocorrido de madrugada, o choque, a dor e a inesperada ruptura oprimiram a família. Ao fazer os preparativos para a cerimônia, o diretor do funeral e eu sentimos que essa família precisava estar inteirada das realidades da trágica morte. Como podíamos ajudá-la a passar da sua subitaneidade para alguma aceitação da realidade da perda que haviam sofrido? Combinamos fazer uma visita ao lar enlutado, mas parecia que necessitávamos de tempo junto à sepultura. Por que não realizar a cerimônia no cemitério antes da cerimônia na igreja? Achamos que essa ordem incomum era exatamente o que aquela família necessitava.

Se a sua reação for idêntica à da maioria dos pastores, você dirá: “O quê?! Inverter a ordem tradicional dos funerais e realizar a cerimônia junto à sepultura antes da cerimônia na capela mortuária ou na igreja?” Foi exatamente isto que resolvemos fazer no caso que acabamos de citar, e estou persuadido, pelos funerais que realizei depois dessa ocasião, que este processo geralmente é o mais útil. Ao planejar a cerimônia, as famílias têm acolhido favoravelmente a ideia, e, mais tarde, esses indivíduos dizem algo positivo e agradável sobre a inversão da ordem na cerimônia fúnebre.

A família cuja esposa e mãe falecera tão repentinamente reuniu-se no cemitério quando o corpo já estava colocado sobre a sepultura. Depois de uma breve cerimônia de entrega, solicitei que houvesse expressões dos membros da família. Uma filha cantou “Memories” (Recordações), e a família participou do canto junto com ela. A filha de dezessete anos de idade falou do amor que recebera de sua mãe, e de seu próprio amor para com ela. O marido discorreu sobre a perda que sentia e sobre sua gratidão pelo amparo prestado por familiares e amigos. O padrasto deu um testemunho espiritual da vida em Cristo e expressou sua esperança na reunião da família na vida por vir. A cerimônia ao lado da sepultura foi uma genuína proclamação de cordialidade humana, solicitude e manifestação de fé.

Quando fomos do cemitério para a igreja, estávamos preparados para uma cerimônia de reminiscências e ações de graça. A família, colegas, vizinhos e amigos participaram juntos desse serviço de gratidão que se tornou uma celebração da ressurreição. Sem a necessidade de partir dessa cerimônia para o cemitério, a família pôde permanecer mais tempo nesse local e trocar algumas palavras e cumprimentos com todos os que tinham assistido ao culto. Eles se abraçaram e conversaram. Foi uma ocasião de amor, de companheirismo e de genuína solicitude.

A inversão da ordem costumeira pareceu funcionar tão bem nesse caso que decidi adotar um processo similar quando ocorreu a morte de um jovem advogado vitimado pelo câncer. Convidei todos os que pretendiam assistir à cerimônia rememorativa para comparecerem primeiro à cerimônia no cemitério. Além dos componentes de sua firma, também se achavam presentes os membros do Rotary Club e diversos clientes, como demonstração de pesar pela perda de seu amigo e colega. Sua jovem viúva era uma professora muito estimada por seus alunos. Eles sentiram falta de sua presença na sala de aula durante as últimas semanas e estavam inteirados de sua aflição. Essas crianças também compareceram ao cemitério. No fim da cerimônia, cada membro da comunidade, cada aluno da escola e cada membro da família colocou pétalas de rosas sobre o caixão. Agora eles estavam preparados para retornar à igreja, a fim de realizar uma cerimônia de testemunho da ressurreição. O cordial e afetuoso período de comunhão que se seguiu habilitou as pessoas a se cumprimentarem e deu tempo para que os parentes procedentes de outros Estados se comunicassem com amigos na comunidade. A viúva indicou mais tarde que esse período de companheirismo após a cerimônia rememorativa na igreja foi uma das experiências mais confortadoras de todo o funeral. Ela pôde passar algum tempo com pessoas que se preocupavam com ela e a amavam. Ir apressadamente para o cemitério depois da cerimônia na igreja certamente a teria privado de uma parte desse conforto necessário.

Finalmente, tive a oportunidade de usar esta ideia com uma família que nunca experimentara a morte antes disso. Um jovem morrera tragicamente num acidente automobilístico de manhã cedo. Em seu acabrunhante pesar, eles queriam apenas um culto simples, só para a família imediata, e não para os amigos, sócios comerciais ou colegas. Não podiam partilhar sua tristeza; ela era demasiado pessoal e dolorosa. Era necessário algum aconselhamento pastoral para ajudá-los a compreender que precisavam ajudar a outros, bem como lenir o pesar que sentiam por essa perda. Que diria o pai a seus colegas nos negócios quando retornasse ao trabalho? Eles precisavam ser capazes de condoer-se dele na capela. Os colegas de aula do rapaz falecido não podiam passar pela subitaneidade dessa perda sem algum meio para absorver a realidade da morte de seu amigo. Afinal a família consentiu em ter a cerimônia ao lado da sepultura, antes do culto rememorativo na capela.

Quando a família chegou ao cemitério, a sombria realidade da morte de seu filho se achava presente. Era uma ocasião aflitiva para eles. Após a cerimônia, eles retornaram à capela do necrotério para o culto rememorativo. Ali eles encontraram cordialidade da parte dos amigos. Os colegas de aula do rapaz se achavam presentes; o rosto de cada um deles tinha o aspecto de uma montanha situada ali por perto — sem nenhum movimento — até que esses jovens se puseram a chorar ao partilharem suas experiências uns com os outros no pórtico da capela, após o culto. Se houvéssemos saído de lá imediatamente para ir ao cemitério, não teríamos tido esse período de acomodação.

O quê?! Realizar a cerimônia no cemitério antes do culto rememorativo? Sim. Depois que o corpo foi colocado em seu lugar de descanso, em meio do frio do inverno, da chuva ou do calor, ou talvez até num belo dia, dirigir-se à igreja ou à capela com expectativas de tranquila meditação, leitura de passagens bíblicas e momentos de culto, ajuda a família a passar das realidades físicas para as confirmações espirituais e emocionais da fé e do conforto. Depois da cerimônia eles se encontram com os amigos e a família numa atmosfera impregnada de consolo e solicitude. Necessitam de cordialidade humana, amor e certeza de constante amparo mútuo. Creio que isto sucede melhor quando a cerimônia de sepultamento precede o culto rememorativo.