Victor Cooper, Diretor Associado do Departamento de Comunicação da Associação Geral
O que as congregações esperam de um pastor? Que espécie de pastor é procurado por elas?
A Associação de Escolas Teológicas nos Estados Unidos e Canadá patrocinou um projeto de três anos, o qual constatou que as congregações locais têm três grandes expectativas no tocante a seu pastor.
Primeira; Elas esperam que o pastor esteja disposto a servir sem dar atenção a aplausos.
Segunda; Elas esperam integridade e fidedignidade pessoal. Esperam que ele honre seus compromissos e cumpra suas promessas, mesmo sob pressão para transigir.
Terceira; Elas esperam que ele seja um exemplo cristão ao qual possam respeitar.
E onde as congregações locais encontram semelhantes modelos humildes, honestos, fidedignos e cristãos? Elas os encontram entre os que, como o Mestre, estão dispostos a dar a vida pelos irmãos (ver I S. João 3:16).
A função essencial de um pastor não é a de dominação, e, sim, de serviço. O papel de servo era bem compreendido na Inglaterra do século dezenove. Durante grande parte de sua vida meus antepassados estiveram “a serviço”. Meu pai e meu avô foram cavalheiros agricultores para Lorde Cholmondeley, em Siseley Oak Farm, Malpas, Cheshire. A mãe de minha esposa prestava bons serviços em Londres; sua avó era cozinheira em Leeds Castle. Elas nos diziam frequentemente que naqueles dias a principal posse de um servo era o seu “caráter”. Se a pessoa perdesse o seu “caráter” e não pudesse ser recomendada por seu patrão, perdia a capacidade de conseguir um emprego e estava condenada a ficar sem recursos num país que não tinha previdência social.
Por conseguinte, todos os que estavam empregados eram compelidos a prestar bom serviço. Alguns talvez procedessem servilmente, adulando e bajulando para obter favor, mas todos cultivavam o desejo de agradar. Em Akenfield — a Portrait of an English Village, Ronald Blythe descreve o serviço de Christopher Falconer, o jardineiro, dizendo: “Seus modos são rápidos e previdentes. Há nele uma espécie de anseio para dar, para ajudar, para facilitar as coisas.”
Os que viviam num nível menos elevado aprendiam da aristocracia a ser corteses e a ter esmerada consideração pelos outros. Eles se tornavam delicados, afáveis e atenciosos. Eram polidos e refinados. Cultivavam a arte de ser autênticos cavalheiros e damas. Os que ocupavam posições “inferiores” captavam as maneiras daqueles que viviam num plano mais elevado — e hoje em dia os servos dirigentes e cristãos fazem a mesma coisa. Contemplando somos transformados!
Jesus tratou do problema de falsos dirigentes de igreja. Ele os descreveu como mercenários (segundo está relatado em S. João 10), como pessoas que seguem as ordens de outro indivíduo sem outro interesse que não a paga. Eles sempre estão prontos a tosquiar as ovelhas. Em vez de enfrentar os problemas da congregação local, eles perguntam: “Como posso livrar-me deste problema? Como posso elaborar uma transigência?” Longe de estar dispostos a depor a vida pelas ovelhas, eles buscam os seus próprios interesses.
Outra descrição dessa espécie de dirigentes de igreja se encontra em S. Mateus 23, onde eles são caracterizados como estando interessados na aparência, na ostentação, na simulação. Apresentam-se como genuínos e têm um aspecto muito agradável. São, porém, hipócritas e afetados, pretendendo ser piedosos e virtuosos, sem realmente ser assim. Enganam a outros quanto ao seu verdadeiro caráter e sentimentos. Fazem longas orações — na igreja, é claro! Exploram os pobres e necessitados e devoram as propriedades das viúvas. Gostam de ser cumprimentados respeitosamente na rua como “rabi” ou “mestre”. Jesus advertiu, porém, que não devia ser assim. (Que será que Ele diria hoje de nossa fascinação por títulos e graus honoríficos?)
“Rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito”, Ele declarou, referindo-Se evidentemente aos que dispõem de orçamentos de viagem. “Sois, porém, guias cegos. Vosso ensino não resiste à prova da razão. Dizeis que podeis jurar pelo santuário, mas não pelo ouro do santuário. Hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e cominho: tendes, porém, passado por alto… a justiça, a misericórdia e a boa fé. Coais um mosquito, mas engolis um camelo!” (Ver os versos 23 e 24.)
Pensais que o Senhor diria estas mesmas coisas a alguns de Seus dirigentes de igreja na atualidade? Nossas prioridades se equiparam às Suas, ou passamos a maior parte do tempo coando mosquitos, preocupando-nos com minúcias e fragmentos, e negligenciando nossa principal ocupação: comunicar o âmago do evangelho?
No fim dessa passagem, nosso Senhor dirige o olhar para esses sábios e mestres tão completamente empenhados em escrúpulos e ninharias, e os chama de enganadores, serpentes traiçoeiras, raça de víboras.
Seu maior problema não parece ser, porém, tão terrível. Eles são apenas orgulhosos! Mas o Senhor detesta o orgulho, pois ele transformou anjos em demônios, e ainda pode transformar infinito bem em infinito mal. Esses clérigos tinham um ar de dignidade, mas o Senhor disse que eles eram arrogantes e inflexíveis. Henry Ward Beecher disse o seguinte: “Quando as flores se acham repletas de orvalho que desce do céu, elas sempre inclinam a cabeça. Mas os homens, quanto mais recebem, mais erguem a cabeça, tornando-se mais orgulhosos quando ficam cheios.”
Em contraste com isso, olhe para os característicos do servo dirigente que toma como seu exemplo o Filho do homem, Jesus Cristo, “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos” (S. Mat. 20:28). Os quatro cânticos de Isaías, nos capítulos 42, 49, 50 e 53, retratam nosso Mestre-Servo. Ele “não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega” (cap. 42:3). Acha que trabalhou debalde e gastou as forças inútil e vãmente, mas cada manhã Ele acorda para ouvir a voz de Yahweh, e presta atenção como um discípulo (cap. 49:4; 50:4). É desprezado e rejeitado, oprimido e humilhado, mas guardou silêncio diante dos que O condenavam. Cheio de pesar, reconhece que isso faz parte do plano do Senhor, e finalmente fica satisfeito porque, em virtude de Seu ministério de sofrimento, muitos serão considerados justos (cap. 53:3, 7, 10 e 11).
E assim, à semelhança do Mestre, o servo dirigente, na atualidade, atende ao lastimoso clamor — sofrendo com os que têm o coração quebrantado, empatizando, ajudando a suprir as necessidades e labutando com afinco no cumprimento de seus deveres.
Como Filipe, ele é submisso à direção do Espírito de Deus.
Como Maria, está disposto a sentar-se aos pés de Jesus.
Como João, está pronto a permanecer bem perto de Jesus.
E como seu Mestre, é sensível aos sentimentos dos outros, afligido por suas debilidades e imperfeições, e movido de compaixão pelos membros de sua igreja. Fica preocupado com seus lares despedaçados, com o contínuo poder do pecado em sua vida, com sua falta de interesse no estudo das Escrituras e em assistir à Escola Sabatina e aos cultos, com sua mornidão, com sua falta de poder e vigor espiritual, com sua mentalidade tacanha, com seu espírito de crítica e legalismo, com sua má compreensão dos grandes princípios do evangelho, e com sua falta de certeza no tocante à salvação. Em face, porém, de tudo isso, devido ao seu irresistível amor pelo Mestre e porque alegremente se considera escravo de Cristo, continua a trabalhar incansavelmente para produzir reconciliação e redenção na vida de todos aqueles a quem procura servir.
Nossa Igreja está voltada para tais servos dirigentes — assalariados e não assalariados — bondosos, nobres, generosos e cristãos. E é a bondade, a compaixão e o amor que mantêm unidas as famílias que compõem nossas igrejas. A Igreja não floresce devido aos projetos de seus administradores ou devido ás promoções de seus departamentos, mas pelo mútuo afeto e lealdade de seus membros. É o mais profundo amor pelo Senhor que inspira as mais nobres ações cristãs. A Igreja necessita de organização — de organização bem desenvolvida, eficiente e progressista — mas só para auxiliar os que são pessoalmente dedicados ao Senhor. A dedicação particular precede a atividade pública.
Que é, então, que o Senhor requer dos servos dirigentes? “Que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Miq. 6:8).
A humildade é tão mal-compreendida! Não consiste em ser tímido, retraído, inepto, ou medrosos. Tem que ver com o contentamento. André Murray definiu-a desta maneira: “Humildade é perfeita tranquilidade de coração. É não sentir nenhum aborrecimento. É nunca ficar agastado, irritado, ressentido ou decepcionado. É não esperar nada, nem admirar-me de coisa alguma que me façam. É estar em paz quando ninguém me elogia, e quando sou acusado ou desprezado. É ter uma bendita morada no Senhor, aonde eu posso entrar, fechar a porta e ajoelhar-me secretamente diante de meu Pai, e estar em paz no profundo mar de calma, quando tudo ao redor e em cima se acha agitado.”
O servo dirigente está a serviço. Ele nunca pensa nalguma outra coisa. Não tem nenhuma outra ambição. Está contente com a sua sorte. Horácio Bonar expressou-o desta maneira:
“Vá, e continue a labutar;
Gaste-se, e deixe-se gastar.
Sua alegria é fazer a vontade do Pai;
Este foi o caminho seguido pelo Mestre,
E convém que seja trilhado pelo servo.”