Morris Chalfant, Pastor da Primeira Igreja do Nazareno, em Norwood, Ohio, EE.UU.
Quando Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, Eva virou-se para Adão e perguntou:
— Oh! que será de nós agora?
Adão respondeu:
— Estamos prestes a experimentar uma abrupta transformação sócio-econômica!
Pelo menos é assim que teria sido a conversação se os clérigos tivessem a oportunidade de relatá-la em sua linguagem profissional! O redator da seção de religião da revista Time censura os eruditos protestantes por seu vocabulário rebuscado com estas palavras moderadamente sarcásticas: “Hoje em dia, nenhum teólogo digno de seu doutorado ousaria falar de pregação ou ensino — as formas convencionais são kerigma e didache.”
Se você quer ser um pregador que traga bênçãos para sua congregação, evite o insípido jargão profissional que se torna enfadonho e obscuro devido a empréstimos do grego ou do alemão e por causa de uma porção de expressões que não têm sentido, a menos que sejam reduzidas a alguma coisa mais simples. A respeito de nosso Senhor é declarado que “a grande multidão O ouvia com prazer” (S. Mar. 12:37). É na espuma da linguagem comum que deve ser tirado o amido da maneira afetada de falar de muitos pregadores. Todos os poderosos evangelistas, através dos séculos, têm sido homens que expõem as Escrituras e apresentam a Cristo de maneira simples, direta e persuasiva.
Agostinho disse certa vez: “Uma chave de madeira não é tão bela como uma chave de ouro; mas, se ela consegue abrir a porta quando a chave de ouro não pode fazê-lo, é
muito mais útil.” Lutero acrescenta: “Ninguém pode ser um bom pregador para o povo se não estiver disposto a pregar de um modo que pareça ser pueril e grosseiro para alguns.” João Wesley escrevia todos os seus sermões na íntegra, e os lia para a criada. Todas as palavras que ela não conseguia entender eram eliminadas.
Na atualidade, alguns “dirigentes” religiosos parecem encarar a simplicidade com desprezo. Dão a impressão de acreditar que um sermão deve ser uma profunda exposição sobre alguma questão sociológica ou mesmo política. Tais pastores, aparentemente, supõem que são uma espécie de assistentes do Congresso. Seja aprovado um projeto de lei, e o mundo estará em boa forma — essa é a noção corrente. Outros pastores, que foram um pouco além da sociologia, agora se consideram teólogos e estão perscrutando profundamente os mistérios do Universo. Onde, porém, tudo isso deixa as pobres almas assentadas na congregação?
Quando Kari Barth, o famoso teólogo, visitou os Estados Unidos, um grupo de jovens estudantes de Teologia foi interrogá-lo. Um deles pediu que Barth condensasse sua definição da fé cristã, e esperava uma longa declaração cheia de termos teológicos dos quais pudesse discordar e fazer com que Barth se empenhasse em outras considerações intelectuais. O teólogo suíço refletiu por uns momentos, e então disse: “Aprendi tudo isso aos joelhos de minha mãe. Com efeito, se eu tivesse de resumir o cristianismo, creio que diria o que minha mãe me ensinou: ‘Jesus me ama, bem sei, pois a Bíblia assim me diz.’”
Ninguém gosta de perguntar a si mesmo depois de ter ido à igreja: “Que será que o pregador queria dizer?” Ou: “O que isso tem que ver comigo?” Semelhante reação geralmente resulta, não da falta de inteligência dos ouvintes, mas do uso de jargão bíblico ou teológico por parte do pregador. Quem apreciará o sermão, se tiver de usar um dicionário ou um glossário teológico? Muitos pregadores eruditos têm dificuldade para expressar-se na linguagem popular. De fato, alguns levam anos para explicar as grandiosas ideias da fé em palavras que as pessoas medianas usam ao debater coisas mais simples. Mas o pregador precisa fazer a transição de sua linguagem empolada, senão estará pregando para o vento, e sua arenga voará de volta para ele, rejeitada por sua perplexa congregação. Comunicar eficazmente as insondáveis riquezas da verdade de Deus ainda é nossa principal tarefa.
Uma menina de onze anos de idade ouviu os adultos falarem muito a respeito do brilhante e novo pastor. Depois de ouvi-lo pela primeira vez pregar um sermão admiravelmente claro, ela disse: “Papai, esse pregador não é tão hábil assim. Eu entendi todas as palavras que ele disse!” O fato é que esse pregador não somente era brilhante, mas também prudente, pois seguia o exemplo de Jesus. Pregava numa linguagem que todos podiam compreender. Pregava com poder.
Simplicidade na pregação não quer dizer pregação superficial, e, sim, clareza de pensamento e expressão — a habilidade de contar aos outros o que temos visto e sentido, até que eles o vejam e sintam por si mesmos. O nevoeiro é bom para o feijão-de-lima; ele viceja em sua viscosa umidade. Mas os nevoeiros pouco têm a oferecer aos homens. Experiências científicas têm indicado que uma camada de nevoeiro de um metro de espessura, dois metros de altura e trinta metros de comprimento contém me
nos do que a sétima parte do conteúdo de um copo de água. Não se pode mitigar a sede com o nevoeiro; nem banhar-se nele. Só há uma coisa que se deve fazer com o nevoeiro: conservar-se fora dele! O evangelho não ficava envolto num nevoeiro quando Cristo e Paulo o apresentavam.
Pregar um sermão deve ajudar as pessoas a viver num mundo difícil e complicado. Muitas vezes tenho necessitado de ajuda; e ainda preciso de auxílio. Graças a Deus tenho conseguido obtê-la por meio da pregação. Por isso, quando me levanto para falar detrás do púlpito, meu grande desejo é, em nome de Cristo, prestar algum auxílio aos outros.
Em todas as nossas pregações, portanto, sejamos simples, claros, concisos e profundamente fervorosos. Lembre-se de que Jesus disse: “Apascenta os Meus cordeiros” — não as girafas! Alguns pregadores têm o instinto de aviadores — anunciam um texto, rolam sobre a pista por um breve período de tempo, e então levantam vôo e desaparecem nas nuvens. Depois disso só se ouve o estrépito das explosões da gasolina, denotando que estão voando alto, muito acima da cabeça de seus ouvintes. Mudando de figura, um sermão, apresentado corretamente, não deve ser um meteoro, mas um sol. Seu verdadeiro teste é o seguinte: Pode dar crescimento a alguma coisa?
Jorge Fox, buscando orientação espiritual, andou uns doze quilômetros a pé para falar com um clérigo que tinha a reputação de ser útil. “Achei, porém, que ele era semelhante a um casco vazio e oco”, disse Fox pesarosamente. O problema com a nossa pregação é que, com demasiada frequência, as pessoas buscam a água da vida, e só encontram um casco vazio. Mas, às vezes encontram água — quando o pregador, com simplicidade e autoridade, proclama a Jesus Cristo.
Alimente seu povo com o pão da vida; faça com que tomem grandes sorvos da água da vida. Cuide para não confundir comunicação simples e fácil com estudo e pregação superficiais. Pode cavar bem fundo, mas não deve estar seco ao vir à tona. Use suas ferramentas profissionais em casa, mas leve apenas a Palavra Inspirada para o púlpito. Com a ajuda de Deus, seus sermões podem ser profundamente simples e singelamente profundos.