Se já lhe adveio o pensamento de que sua igreja desabaria e morreria sem a sua constante intervenção ministerial, considere a Igreja Batista de Southview, Lincoln, Estado de Nebrasca, com 400 membros.
Quando o pastor de Southview partiu em 1980, levou um ano inteiro até que chegasse o novo pastor. Poder-se-ia esperar que depois de um ano sem pastor, a primeira coisa a ser feita seria avivar a igreja, reunir o rebanho disperso e dar andamento às atividades. Tal não foi, porém, o caso em Southview. O Rev. Eddy Hallock, o novo pastor, encontrou um grupo que estava crescendo numérica e espiritualmente. Os doze diáconos (deve haver alguma significação apostólica nisso) puseram-se imediatamente a liderar os cultos, a pregação, o batismo de novos conversos e o aconselhamento dos membros. Roberto Rung, um dos doze, admite que houve um vácuo com a saída do pastor, mas “não encerramos as atividades”, diz ele. “Animamos um ao outro e partilhamos as responsabilidades. Nossa congregação cresceu com essa experiência. Aprendemos a confiar no Senhor.”
A experiência de Southview talvez seja um pouco desconcertante para os ministros do evangelho. Que aconteceria se todas as igrejas conseguissem passar sem um pastor durante um ano? Alguns de nós até ficamos apreensivos quando a igreja sobrevive a nosso período de férias! Southview deve ensinar-nos, porém, algumas lições.
A primeira é que não devemos pensar de nós mesmos mais do que convém (parafraseando as palavras do apóstolo Paulo). Os pastores, provavelmente mais do que a maioria dos outros grupos profissionais, são propensos a ilusões de grandeza, com laivos messiânicos. Dizemos que somos servos, mas a maioria de nós temos de lutar contra a tentação de bancar o rei. Portanto, sempre que se considerar “indispensável”, lembre-se de Southview e imagine sua congregação florescendo, crescendo e prosperando — depois de um ano sem a sua liderança! Não estou dizendo que sua função não é necessária e que as igrejas seriam mais bem-sucedidas sem os seus pastores. Tal é o caso de alguns pastores e de algumas igrejas, mas não da maioria. O que quero dizer é que o pastor que realmente acredita que sua igreja não pode funcionar sem ele, cedo ou tarde verá o erro dessa fantasia, geralmente de maneira desagradável.
Em segundo lugar, Southview deveria sugerir-nos alguns padrões diferentes para determinar o êxito pastoral. Você nunca experimentou o regozijo que se apodera de seu coração quando recebe informações de algumas das dificuldades que sobrevieram à congregação da qual saiu recentemente? As coisas estavam indo muito bem enquanto você estava ali, e agora a igreja ou o novo pastor não podem suster o que você construiu. Isto não é uma prova de sua proeza pastoral? Tenho a impressão de que Southview aponta noutra direção. Que pastor bem-sucedido não deve ter sido o ministro que partiu, Rev. Dennis Wood, o qual inspirou e preparou os membros de tal maneira que levassem avante a obra da igreja por si mesmos, durante um ano inteiro! Pastor bem-sucedido não é aquele cuja igreja se desintegra após a sua partida, e, sim, aquele cuja igreja foi tão bem edificada espiritualmente por seu ministério que se acha em condições de assumir muitas de suas funções e continuar operando.
Segundo afirmou o diácono Rung, “aprendemos a confiar no Senhor”. Isto constitui a chave para essa espécie de ministério bem-sucedido. Com demasiada frequência, a mensagem que nossos membros recebem é que nós confiaremos no Senhor, e que eles devem confiar em nós. Não é de admirar que após a nossa partida as coisas como que desmoronem até que venha um outro pastor no qual as pessoas possam apoiar-se/ Isso constitui um círculo vicioso: as pessoas o apreciam porque tira grande parte da responsabilidade deles e a coloca toda sobre o pastor; e o pastor gosta disso porque assim ele se torna o “papaizinho” da igreja. E um pouco de comiseração própria devido ao fardo de responsabilidades que ele carrega também pode causar uma boa impressão. Tal sistema talvez produza pastores “fortes”, mas debilita as igrejas, e milhares se encontram precisamente nessa situação.
O pastor que realmente é bem-sucedido se sente suficientemente seguro para delegar responsabilidades a seu rebanho sem o receio de que isso prejudique sua posição como pastor. É verdade que a maioria dos pastores não gostam de delegar responsabilidades. Mas também é verdade que a maioria dos membros se opõem, com unhas e dentes, a que as responsabilidades sejam transferidas para eles. Sem dúvida, isto acontece até mesmo em tão brilhante exemplo como a Igreja Batista de Southview, pois o diácono Rung acha que a maioria das pessoas não sabem como ser usadas por uma igreja. Elas não concebem o potencial de que dispõem. Mas uma parte da mensagem cristã, se for levada a sério, diz ele, é a seguinte: “Somos idôneos em Cristo.”
Transmitir esse conceito à congregação e adestrá-la e induzi-la a pô-lo em prática é um assunto completo em si mesmo. Southview deveria dizer-nos, porém, que um pastor é bem-sucedido na medida em que consegue preparar seu povo para aceitar e cumprir responsabilidades de maneira satisfatória. Durante um ano inteiro os membros da Igreja Batista de Southview cuidaram razoavelmente bem de grande parte do que seu pastor havia efetuado, embora não estivesse ali nenhum pastor para ajudá-los. Você não acha que os membros de sua igreja deviam ser capazes de realizar uma porção de tarefas que você tem realizado, especialmente se você ainda se encontra ali para orientá-los? Pastores prudentes — e os que evitam ataques cardíacos — delegam tudo que podem.
Mais interessante ainda do que o fato de que esses doze diáconos da Igreja Batista de Southview conseguiram manter a igreja em funcionamento durante tanto tempo, sem um pastor, talvez seja que quando chegou o novo pastor, eles não se afastaram prazerosamente, deixando que ele assumisse sozinho todas as funções de liderança usuais. Esses diáconos labutam agora, em certo sentido, como “pastores assistentes”, dirigindo vários grupos de comunhão e estudo dentro da igreja. E o Rev. Hallock, o novo pastor, sente-se feliz com isso. Diz ele: “Não posso atender pessoalmente a cada um dos 350 a 400 membros da congregação. O dia não tem tantas horas assim. Os pastores devem orar por dirigentes habilitados.”
A Igreja Batista de Southview parece ter tido sorte tanto com o pastor que partiu como com o que chegou. O primeiro deixou uma igreja que conseguiu funcionar muito bem sem ele, e o outro, evidentemente, não ficou intimidado por esse motivo.
Na próxima vez, portanto, que você perguntar a si mesmo o que sua igreja faria sem a sua pessoa, lembre-se de Southview. Como essa igreja, a sua talvez também efetue tudo muito bem. E isso será um sucesso para você.
B. Russell Holt