Tivemos, tempos atrás, o privilégio de sobrevoar boa porção da floresta amazônica. Através da pequena janela da aeronave, pudemos descortinar, durante quase duas horas, uma sucessão de quadros que a mente humana não consegue descrever.

O que, entretanto, mais nos chamou a atenção foi a quantidade de rios que serpenteiam por entre a densa e majestosa floresta, chamada de “Inferno Verde”, por Alberto Rangel. Enquanto meditávamos na grandeza daquele sistema hidrográfico, veio-nos à mente o seguinte pensamento do livro Educação, pág. 116: “O vasto e profundo rio, que oferece caminho ao tráfego e viagens dos povos, é tido na conta de um benefício ao mundo inteiro; mas que dizer dos regatozinhos que auxiliam a formar aquele nobre rio? Se não fossem eles, o rio desapareceria.”

O que seria do Amazonas, se não fossem os rios que nele lançam as águas? Sabemos que quase todos os afluentes do “Mar Dulce” são rios caudalosos. Estes, entretanto, recebem águas de cursos menores, que, por sua vez, recebem águas de rios ainda mais humildes.

Tais reflexões, durante a viagem a que aludimos, ocuparam-nos o espírito.

Pois bem. No panorama da Igreja — para sermos específicos — dá-se algo semelhante ao que se verifica num sistema hidrográfico: as pessoas investidas de maiores responsabilidades dependem dos obreiros mais humildes. “Semelhantemente, homens há que, chamados a dirigir algumas grande obra, são honrados como se o êxito fosse devido a eles, tão-somente; mas esse êxito exigiu a fiel cooperação de quase inumeráveis obreiros mais humildes, obreiros de quem o mundo nada conhece.” — Ibidem.

Assim como os rios dependem dos regatos, os líderes precisam da cooperação daqueles que lhes são subalternos sob pena de fracassarem na execução de seu programa de trabalho. Mesmo que sejam dotados de raros talentos e considerável capacidade de trabalho, sempre dependerão do concurso de obreiros mais humildes.

Muitas lições podem ser tiradas dessa realidade.

Cooperação. — A Obra de Deus é u’a máquina cujas peças funcionam num clima de interdependência. O todo depende de uma série de situações configuradas por uma escada de atos de cooperação. Do primeiro ao último degrau, é indispensável a integração de valores e talentos.

Não há razão para orgulho. — O rio Amazonas não deve orgulhar-se de ser o maior rio do mundo. Ele é o somatório de milhares de cursos de água. Muitos homens, da Causa de Deus, estão em evidência, em face das responsabilidades de que se acham investidos. Tais obreiros, entretanto, não se devem iludir com a idéia de que são bem-sucedidos em virtude de sua capacidade e inteligência. Inúmeros regatos contribuem para que eles sejam grandes caudais de realizações. Tire-se-lhes o apoio da parte dos regatozinhos, e serão leitos secos, desérticos.

Há, porém, os descontentes. — Se alguns obreiros são tentados a orgulhar-se dos talentos que possuem, outros se inclinam a chorar por causa de seus magros dotes ou minguadas oportunidades. A tais pessoas o Espírito de Profecia diz: “Trabalhos que não recebem louvores ou reconhecimento de outrem, são a sorte que toca à maior parte dos que mourejam no mundo. E muitos se enchem de descontentamento com tal sorte. Têm a impressão de que sua vida não é aproveitada. Mas o regatozinho que segue silenciosamente através dos bosques e prados, levando saúde, fertilidade e beleza, é tão útil em sua marcha como o grande rio.” — Idem, pág. 117.

Eis o conselho adequado para os que deixam de produzir, em virtude de se considerarem regatos insignificantes: “O que precisamos aprender é fidelidade em fazer o maior uso das faculdades e oportunidades que temos, e ter contentamento na parte que o Céu nos designou.” — Ibidem. “Os talentos, conquanto poucos, devem ser empregados.” — Parábolas de Jesus, pág. 329.

O balão do louvor. — Muitos dos professos seguidores de Cristo — quer obreiros, quer leigos — só trabalham com disposição e alegria, quando louvados e engrandecidos. “Muitos há que nada fazem a menos que sejam reconhecidos como dirigentes; muitos são os que, não recebendo louvores, não têm interesse no trabalho.” — Ibidem.

Qual é a sua situação, caro leitor? É você um Amazonas ou um modesto regato?

Se você se considera um rio caudaloso, lembre-se de duas coisas: primeira — Deus espera que todas as suas potencialidades sejam usadas ao máximo; segunda — não fossem as bênçãos divinas e a cooperação de outras pessoas, e você não estaria onde está, como líder, nem seria o que é.

Se se considera um regato apagado, leve em conta o seguinte: Não pense que, por ser pouco aquinhoado, pode enterrar o único talento, pois o rio caudaloso depende de muitos regatos, dos quais você é um.

Na hidrografia da Obra do Senhor, o que importa não é a posição que ocupamos no mapa. O que interessa não é a quantidade de talentos que possuímos, mas o judicioso uso que deles fazemos. Afinal, rios e regatos correm para o oceano. E o oceano é Deus.

RUBENS S. LESSA, Redator-Chefe da Casa Publicadora Brasileira