Como você lida com a importante tarefa de decidir sobre o que irá pregar? As decisões em cima da hora não somente aumentam a tensão que você terá de suportar, mas também é provável que resultem num regime espiritual desequilibrado para sua congregação. Neste artigo o autor menciona alguns meios experimentados por ele, e diz qual tem sido o melhor.
__ Sobre o que irei pregar na próxima semana?
O proverbial desalento na segunda-feira de manhã tem especial significação para o pregador, pois ele precisa decidir, semana após semana, qual será o novo sermão que oferecerá a sua expectante congregação. A questão torna-se mais significativa em proporção direta com o passar dos dias. Outras perguntas, muito conhecidas em virtude do seu freqüente aparecimento, tornam a apresentar-se à medida que se aproxima o limite de tempo no sábado de manhã, e ainda não há nada no papel: “Por que me incomodo com isso? Que importa; será que alguém vai mesmo prestar atenção? Por que não consigo dominar-me e evitar isto? Sou um fracassado?” Na sexta-feira, o pânico se estabelece firmemente se ele ainda estiver à espera de um derradeiro sopro de inspiração.
Assim como o nascimento de uma criança, a preparação do sermão abrange ao mesmo tempo dor e contentamento, ao ser concebida a nova criação, ao desenvolver-se e ao ser finalmente dada à luz. Em cada um desses casos há intensa emoção, bem como certa quantidade de risco e incerteza. Ambas as situações são exaustivas. E quando se completa todo o processo, não se pode dizer se o resultado foi, ou não, compensador.
Experimentei quatro soluções para o problema crônico: “Sobre o que irei pregar na semana que vem?” Três foram rejeitadas.
1. O Método da Inspiração Repentina. Também conhecido como o Método da Crise de Adrenalina, ele demonstrou ser demasiado traumático para mim. Meu organismo não suporta muitas decisões de última hora. Além disso, a repentina irrupção de fogo do alto freqüentemente se transformou em atabalhoado fracasso no púlpito.
2. O Plano Mensal de Sermões. Este método só conseguiu aliviar parcialmente a minha tensão. Eu tinha ainda doze ocasiões de crise por ano.
3. Sermões Para um Trimestre. Este método constituiu um aperfeiçoamento do anterior, reduzindo os pontos de tensão de doze para quatro. Mas todo trimestre a crise retornava. Prefiro ter menos ansiedade do que isso.
4. Sermões Para o Ano Todo. Durante os oito últimos anos tenho seguido este método, como muitos outros pregadores no passado e no presente. Agora eu sei, não somente o que irei pregar no próximo sábado, mas também daqui há doze semanas ou mesmo daqui a doze meses!
Meus sermões para o ano todo começam no primeiro sábado de outubro. A fim de que tudo esteja pronto para essa data, recomendo que a secretária prepare, durante a primeira parte de junho, um diagrama para cada mês, contendo espaços para as seguintes informações: data, o texto da pregação, leituras do Antigo e Novo Testamento, assunto do sermão, idéias e título. A reunião geral me proporciona algum tempo livre para preencher os espaços em branco. Durante esses nove dias eu elaboro o programa de sermões para o ano todo. Naturalmente, foi dada consideração prévia aos assuntos que eu gostaria de pesquisar no ano vindouro. Também examino as listas dos sermões de anos anteriores, para ver quais os assuntos e textos que foram usados, e consulto as leituras do Lecionário. Este ultimo instrumento não é muito conhecido entre os adventistas, mas considero-o útil quando junto os sermões para o ano todo.
O Lecionário é publicado e usado em conjunto por diversas denominações. Há uma série A, B e C, que abrange o ano litúrgico. Para cada semana, o Lecionário apresenta pelo menos três passagens bíblicas relacionadas com o período do ano eclesiástico. Usá-las no planejamento dos sermões faz com que eu seja menos propenso a repetir assuntos favoritos, põe-me em contato com passagens que de outro modo eu talvez não fosse escolher, ajuda-me a assegurar a inclusão das doutrinas fundamentais da fé cristã e me traz à lembrança que fazemos parte de uma ampla comunidade cristã que participa de interesses similares.
Depois de escolher os assuntos dos sermões e as passagens bíblicas, eu os coloco numa folha de papel dividida em seções semanais e transfiro essas informações diretamente para as folhas de pregação mensal. Dias especiais de culto, como o serviço de comunhão, feriados, retiros da comissão da igreja, festivais de hinos, programações do coral, sábado pró-lar e família, sábado de reforma, etc., já foram incluídos nessas páginas mensais. Os assuntos para cada semana giram em torno dessas ocasiões. Leituras do Antigo e do Novo Testamento são escolhidas para cada assunto, de modo que uma lista das leituras para os cultos pode ser dada a cada ancião e à equipe de música.
Quando o calendário do ano eclesiástico está completo, marco uma reunião com a organista da igreja e o diretor do coral. Dou uma cópia do programa para cada um deles e faço um breve resumo de cada semana, a fim de ajudá-los na seleção musical para o próximo ano. Numa reunião dos anciãos, cada ancião recebe uma cópia do programa, para que saiba com antecedência quais serão as leituras bíblicas e os assuntos dos sermões.
Há desvantagens em planejar os sermões para o ano todo de uma vez? Sim. São, porém, relativamente poucas e podem ser superadas com facilidade. O programa de sermões para o ano todo, obviamente, impede a flexibilidade. Determinadas situações requererão mudanças no programa. Talvez surjam circunstâncias incomuns na igreja que indiquem que o assunto programado não é oportuno, ou que há urgente necessidade de um sermão que não tenha sido incluído no programa. Quando isto acontece, omito o assunto para aquela semana, troco uma semana por outra ou preparo um sermão que satisfaça essa necessidade. No programa é declarado que o calendário está sujeito a revisões, e posso efetuá-las com facilidade. Não tenho recebido reclamações quando há alguma substituição.
Creio que os benefícios são muito maiores do que as desvantagens. Entre eles, encontram-se os seguintes:
1. O plano de sermões para o ano todo me habilita a ter uma vista geral do que pretendo realizar nesse ano.
2. É relativamente fácil fazer um retrospecto e verificar até que ponto fui bem-sucedido na realização do que eu pretendia efetuar.
3. São diminuídas as possibilidades de repetição de assuntos e textos. (De vez em quando, como interessante exercício, faça uma lista de todos os assuntos sobre que você pregou durante um período de dois ou três anos. Os temas favoritos aparecem com surpreendente freqüência.)
4. Saber de uma vez sobre o que pretendo pregar durante o ano todo me ajuda a ter a atenção voltada para informações relacionadas com os assuntos dos sermões. Quando me vêm à mente idéias ou artigos apropriados, eu os anoto e os arquivo de acordo com a data, para uso posterior.
5. O antigo sentimento de pânico está ausente. Sei que tudo que terei de fazer na segunda-feira de manhã é abrir a primeira gaveta do lado direito da escrivaninha, e ali está o assunto do sermão e os textos para o próximo sábado.
6. Os textos e os títulos dos sermões podem facilmente ser publicados no calendário da igreja, permitindo que os membros saibam que o pastor tem pelo menos uma situação sob controle.
Trabalhar de acordo com o plano de sermões para o ano todo traz satisfação pessoal. Sinto-me senhor da situação e enfrento cada semana com confiança num aspecto de minha vida: Sei sobre o que irei pregar na próxima semana. Às vezes parece que esta é a única coisa de que me sinto confiante nesse dia, e dou graças por isso.
É no frigir dos ovos que se vê quanta manteiga sobra, diz o ditado. Assim é também na preparação dos sermões para o ano todo. Creio que este procedimento enaltece o culto divino. Os anciãos, os músicos e o pastor sabem os assuntos que serão desenvolvidos durante o próximo ano e podem fazer planos de acordo com isso. As orações, os hinos, as passagens bíblicas, os cânticos e o sermão, quando tudo corre normalmente, se relacionam com esse assunto. Quando este é freqüentemente o modelo, a congregação começa a notar que as diversas partes do culto se ajustam, e que isso não acontece por acaso. Na realidade, um dos principais propósitos do plano de sermões para o ano todo é desenvolver intencionalidade no ministério da pregação.
Para mim, o Método de Sermões Para o Ano Todo respondeu à pergunta: Que irei pregar na próxima semana? Ainda estou perdendo cabelo, mas não por arrancá-lo na sexta-feira à noite, procurando descobrir alguma coisa para os santos no sábado de manhã!
LAWRENCE G. DOWNING, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Green Lake, Seattle, Washington