Uma elaboração teológica correta é decisiva para que os frutos da missão evangelizadora, as almas que foram resgatadas, se incorporem à comunidade dos crentes, a Igreja, e permaneçam ali como testemunho vivo do poder de Cristo. O conhecimento teológico faz com que o evangelista se sinta mais seguro e apresente a mensagem com maior autoridade.

Evangelização e Teologia

É reconfortante saber que há um sólido fundamento bíblico para a evangelização. Segundo Mateus 28:18-20, todo o empreendimento evangelizador, com todas as suas implicações, encontra sua base no Senhor Jesus Cristo. Por conseguinte, a mensagem que se proclama, a metodologia que se escolhe e os objetivos para os quais se propende devem encontrar sua justificação na Palavra de Deus. (Harold Lindsell, An Evangelical Theology of Mission, pág. 64. Grand Rapids: Zondervan, 1970.) Lewis A. Drummond assinalou com clareza que se a Igreja Cristã contemporânea pretende evangelizar com êxito, “deve fazê-lo a partir de uma sólida base teológica”. Por outro lado, se o evangelismo perder de vista sua teologia, perderá sua própria objetividade e significação.

O autor já mencionado propõe três razões para manter unidos o evangelismo e a teologia. Em primeiro lugar, nunca aparecem divorciados no relato bíblico. Em segundo lugar, quando o evangelismo não tem um conteúdo teológico bem claro, logo se desvirtua, degenerando em palavreado, emocionalismo e sentimentalismo. A terceira razão está vinculada com o “fato pragmático de que Deus tem honrado mais” os evangelistas cuja pregação se apóia num “assim diz o Senhor”. Todos os apóstolos foram evangelistas e teólogos. Deve-se insistir, embora pareça óbvio, que eles são os teólogos em cujo ensino se baseia toda a investigação teológica posterior. (Lewis A. Drummond, Evangelism: the Counter-Revolution; págs. 41-43. Londres: Marshall, Morgan and Scott, 1972.) Além disso, a ausência total ou parcial de um pensamento teológico bem estabelecido pode tornar-se a ocasião para o surgimento de toda espécie de deturpações heréticas. O investigador sincero adverte que quando se analisam os fatos da revelação divina, sujeitando-se com humildade à autoridade suprema das Escrituras Sagradas, estas provêem um conjunto harmonioso de verdades essenciais para ser proclamadas pelo evangelista. E embora seja verdade que o evangelismo e a teologia não podem nem devem ser confundidos, a proclamação das verdades redentoras que Deus revelou em Sua Palavra é a credencial mais segura de que o evangelista está realizando a obra do evangelho.

Finalmente, uma elaboração teológica correta é decisiva para que os frutos da missão evangelizadora, as almas que foram resgatadas, se incorporem à comunidade dos crentes, a Igreja, e permaneçam ali como testemunho vivo do poder de Cristo. O conhecimento teológico faz com que o evangelista se sinta mais seguro e apresente a mensagem com maior autoridade. A compreensão do conteúdo abundante e variado das Escrituras enche as pessoas de fervor para fazer a obra de Deus e de zelo para salvar as almas que perecem.

Em 1894 Ellen G. White chamou a atenção dos pastores adventistas para a necessidade de ter um claro fundamento teológico para enfrentar os enganos satânicos. Ela disse: “Não vos apresentais a vós mesmos, mas tão grande é a presença e a preciosidade da verdade, realmente, tão abarcante, tão profunda, tão ampla, que o eu é perdido de vista…. Pregai de maneira tal que as pessoas possam apreender as grandes idéias e extraiam o minério precioso contido nas Escrituras.” — Evangelismo, pág. 169. Por certo a ambição do evangelista é investigar cuidadosamente a Bíblia para aprender o máximo possível acerca de Deus e de Cristo, a quem Ele enviou. Quando os pastores compreenderem mais clara-mente a Cristo e se imbuírem de Seu espírito, pregarão com mais poder a singela verdade da qual Cristo é o centro.

O Conteúdo da Proclamação Evangelística

Lucas conta em Atos, capítulo 2, que “então se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz…” proclamou a verdade central da evangelização. Nessa proclamação se destacam os pontos seguintes:

1º. A mensagem da evangelização, de toda evangelização que se relaciona com essa gloriosa origem da qual Pedro é um arquétipo, se baseia na autoridade das Escrituras Sagradas. A autoridade para a proclamação evangelística não pode nem deve ser buscada no próprio evangelista, pois nesse caso o mundo da evangelização se tornaria um caos. Quando o pregador adventista prega bem, segundo o modelo do evangelho, ele não se baseia em sua própria autoridade, nem na experiência relacionai que tenha tido com o Senhor. Não! A autoridade para a qual apelará é a Palavra escrita de Deus. (John Bob Riddle, “O Padrão do Evangelismo”, em The Church Proclaiming and Witnessing, pág. 63. Grand Rapids: Baker Book House.)

2º. A mensagem de Pedro não somente se baseia nas Escrituras, mas também apela para as necessidades humanas. Há algo de que o homem necessita salvar-se, e esse algo, como Pedro assinalou, é o pecado. A mensagem do evangelho ajuda o pecador a salvar-se do pecado que reside nele, e também do pecado de uma sociedade pervertida.

3º. Em terceiro lugar, a mensagem de Pedro tem como centro de atração a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele pôde dizer com irresistível poder: “Abaixo do Céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” Atos 4:12. De todos os pregadores que existem no mundo, o pregador adventista deve ser o que com maior convicção e poder exalte o Senhor. Quão certa está Ellen G. White ao insistir: “O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, desde Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário.” — Evangelismo, pág. 190.

4°. Finalmente, a mensagem do evangelho, segundo a versão de Pedro, convida a tomar posição. Indubitavelmente, a mensagem, a proclamação evangélica segundo o ministério que realizam os pastores adventistas deve reclamar uma clara, definida e urgente resposta ao chamado divino. Cumpre reconhecer, porém, que “é o poder do Espírito Santo que concede eficácia” a esses apelos para arrependimento feitos pelo evangelista. (Evangelismo, pág. 285.)

A Igreja e a Evangelização

Com singular agudeza, G. Campbell Morgan afirmou que “se a evangelização se separa da igreja é como se ela estivesse se separando de Cristo, deixando, portanto, de ser evangelização”. (G. Campbell Morgan, Evangelism, pág. 25. Grand Rapids: Baker Book House, 1976.) O único e genuíno evangelismo é o de Jesus Cristo proclamado por Ele mesmo através de Sua Igreja, no poder do Espírito Santo. Esta conclusão é inevitável, e temos de aderir a ela, pois no eterno propósito de Deus este decidiu que “a multiforme sabedoria de Deus” seja comunicada por meio da Igreja (Efés. 3:10 e 21).

O missiólogo adventista, Gottfried Oosterwal, assinala que a missão da Igreja não se cumpre plenamente até que sejam alcançados cinco objetivos básicos:

1. A Igreja é um instrumento, não o objetivo da atividade divina. Isto significa que a finalidade da Igreja não poderá encontrar-se nela mesma, mas na finalidade da missão de Deus.

2. A Igreja deve crescer em santidade e amor, em companheirismo e fé, na graça e no conhecimento de Cristo.

3. A Igreja foi organizada para servir; portanto, deve pregar as boas-novas por palavra e por obras.

4. Sua participação no grande conflito entre o bem e o mal será cada vez maior. Seu chamado profético aumentará o compromisso que ela assumiu como instrumento da graça redentora.

5. A obra da Igreja não se esgota com a participação de uns poucos de seus membros. Sua atividade redentora será completada quando ela se envolver e comprometer com a totalidade de seu ser e com a totalidade de seus membros. (Gottfried Oosterwal, Patterns of SDA Church Growth in America, págs. 14-16. Michigan: Andrews University Press, 1976.) Naturalmente, es-se autor baseia suas considerações no pen-samento de Ellen G. White a esse respeito.

Deve insistir-se, então, que a natureza da Igreja e seu trabalho ou missão se acham indissoluvelmente unidos, porque “o corpo de Cristo”, que é Sua Igreja, constitui não somente um instrumento do evangelho, mas também a viva demonstração do que a graça pode fazer em favor do pecador. Neste sentido temos que reconhecer que todos os crentes são evangelistas. Assim, por natureza e por desígnio de Deus, a Igreja não tem outra alternativa senão fazer evangelismo. Ela vai contra sua mais recôndita essência e trai sua vocação mais original quando deixa de fazer a obra da evangelização.

Depois do que foi afirmado acima, uma conclusão se torna inevitável: o chamado evangelismo de “manutenção própria”, em que o evangelista se separa da Igreja visível para fazer sua obra de acordo com suas próprias diretrizes, e não de acordo com o corpo organizado, pode ter seu lugar unicamente por exceção. Ellen G. White advertiu de um perigo. Disse ela: “Alguns têm apresentado a idéia de que, ao aproximarmo-nos do fim do tempo, cada filho de Deus agirá independentemente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta obra não há isso de cada qual ser independente.” — Obreiros Evangélicos, pág. 487.

Além do evangelismo que realizam todos os crentes, alguns receberam o dom específico da evangelização propriamente dita (II Tim. 4:5; Efés. 4:11; At. 21:8). A palavra “evangelista” nestas três passagens tem um significado específico: refere-se a uma função especializada que se efetua em favor da Igreja como um todo (Jorge W. Peters, Saturation Evangelism, pág. 22. Grand Rapids: Zondervan, 1970).

A imagem do evangelista que nos dá o Novo Testamento é a de alguém que viaja de lugar em lugar, de país em país, para propagar as boas-novas da salvação, convidando homens e mulheres ao arrependimento e a fazer parte do corpo de Cristo por meio do batismo. (John McArthur Jr., The Church the Body of Christ, pág. 116. Grand Rapids: Zondervan, 1974.) Pois bem, como poderiamos caracterizar o evangelista contemporâneo? O conceito que o autor deste artigo tem do evangelista pode expressar-se assim:

1. Evangelismo é a proclamação de um evento, que os homens não podem nem devem evitar (I Cor. 1:17-24), sendo ao mesmo tempo um convite urgente para um encontro pessoal com Cristo.

2. Evangelismo se define como “o ministério da reconciliação”, que Deus confiou a Sua Igreja (II Cor. 5:18 e 19). O evangelista é um reconciliador, o qual tira a pedra que impede, de modo que possa ser ouvida a voz de Cristo, que chama os mortos.

3. Evangelismo é o impacto que o Espírito Santo causa nos corações humanos através do evangelista. É a chama divina da verdade, o fogo de Deus incendiando as vidas com a centelha divina da salvação. (Salim Japas, Fuego de Dios en la Evangelización, págs. 1 e 2. Mayaguez, Porto Rico, Antillian College Press, 1977.)

4. Segundo D. T. Niles, evangelismo é “um mendigo dizendo a outro mendigo onde encontrar pão”. (D. T. Niles, That They May Have Life, pág. 96. Nova Iorque: Harper & Row, 1951.) Mas o mendigo tem a capacidade de adaptar-se. Visto que a Igreja é uma comunidade humana, pode fazer que Cristo Se torne presente a todas as culturas. Sua capacidade de adaptação é sua fortaleza (I Cor. 9:20-23).

5. Evangelismo vem a ser a ação salvífica de Deus canalizada através do exemplo de unidade fraternal, serviço de amor e confiante proclamação da Palavra (Atos 2:44; 3:6; 5:42). Na realidade, como indica John T. Seamands, “há cinco evangelhos no total” (John T. Seamands, The Supreme Task of the Church, pág. 74. Grand Rapids: Eerdmans, 1964). Temos os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, e o evangelho segundo você.

6. O melhor dom que Deus tem dado a Sua Igreja, em relação com o seu crescimento, é o evangelismo. O crescimento da Igreja se torna visível quando é usado este dom do evangelismo, e para o ministro a procura desse objetivo deve ser suprema.

7. Para os pastores adventistas, evangelismo é a viva comunicação da “verdade presente” (II S. Ped. 1:12), mas essa verdade comunicada deve estar arraigada em “todo o desígnio de Deus” (Atos 20:27). Tudo isto abre o caminho para que a Igreja se exercite no ministério do ensino. Na realidade, o plano de Deus para a evangelização não atinge sua plenitude no ato de levar os homens e as mulheres a um encontro existencial com Deus; a obra completa exige que esses homens e essas mulheres sejam ensinados e confirmados na verdade presente. À Igreja Adventista do Sétimo Dia foi confiada a missão de comunicar esta gloriosa mensagem, a qual é — embora pareça redundante dizê-lo — o chamado final de Deus para a salvação, e esta mensagem deve ser proclamada tanto aos crentes como aos descrentes. — DR. SALIM JAPAS