MADELINE S. JOHNSTON

A autora deste artigo é a secretária do Departamento de Missão Mundial, Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan. Ela completou recentemente uma importante pesquisa na qual foram examinados 559 missionários Adventistas do Sétimo Dia para determinar por que eles só permaneceram além-mar durante breve período de tempo.

Os pastores, especialmente na Igreja Adventista do Sétimo Dia, freqüentemente recebem chamados para mudarem de uma igreja ou associação para outra. As esposas — é claro — estão inextricalvelmente envolvidas no atendimento ao chamado. Dedicados casais cristãos podem variar consideravelmente em sua compreensão de como determinar a vontade de Deus num chamado para um novo campo de trabalho. Alguns sempre aceitam o chamado, considerando-o proveniente de Deus. Outros consideram todas as vantagens e desvantagens de um ponto de vista humano — o uso dos talentos, a proximidade de escolas para os filhos, o progresso na carreira, etc. Não sendo menos devotos do que os componentes do primeiro grupo, eles crêem que a inteligência é um dom concedido por Deus para tomar decisões. Os que fazem parte do terceiro grupo oram e ponderam. Eles também levam em conta as vantagens e as desvantagens, mas depois de tomarem uma decisão baseada em todas as evidências, pedem que Deus abra ou feche as portas segundo for necessário para mantê-los no centro de Sua vontade. Deus pode operar por meio de todas essas pessoas que sinceramente procuram fazer Sua vontade.

O chamado para labutar noutro país apresenta muito maior dificuldade — os riscos são mais altos, as mudanças são mais drásticas, e os efeitos sobre o futuro de toda a família têm mais vasto alcance. Como um casal deve responder? Para alguns isto é fácil, pois sonharam com o serviço além-mar desde a infância. Toda história missionária reforçou esse desejo, e a idade adulta só o intensificou. Agora, quando finalmente chegou o chamado, não há problema.

Para outros, talvez um número cada vez maior hoje em dia, o chamado para o serviço além-mar constitui uma surpresa total. Tal foi o nosso caso, há uns vinte e seis anos. Às vezes o conselho de amigos pode ser útil. Nós, porém, aprendemos mais acerca de nossos amigos do que acerca do campo missionário. Um nos disse convictamente: “Não aceitem o chamado. Vocês serão olvidados ali e nunca chegarão à A.G.” Como nosso principal alvo na vida não era chegar à Associação Geral, não demos muita importância a esse conselho. Além disso, os oficiais da Associação Geral precisam ter experiência nas terras de além-mar!

Como devemos responder, portanto, a um chamado missionário que chegar até nós? A consideração destes sete fatores poderá ser útil neste sentido:

1. O Trabalho da Esposa. — O chamado também especifica um serviço para ela, ou só para o marido? Neste último caso, ela se preocupa com isso? Pretende trabalhar fora de casa? Se for assim, convém verificar as possibilidades de emprego antes de ir, pois os regulamentos do governo ou as disponibilidades de empregos poderão impedi-lo. Embora gradualmente estejam ocorrendo modificações, nossa Igreja geralmente espera que a esposa considere o chamado do marido como mais importante. Mas deverá sentir que o chamado também é seu, se ele for reconhecido oficialmente.

2. O Casamento. Na mudança para além-mar, toda a família terá de enfrentar adaptações a novos cenários, sons, odores, idiomas e cercanias. As alterações no estilo de vida poderão incluir a falta de isolamento apropriado no lar, uma mudança de alimentação, modalidades diferentes de transporte (ou falta dele), instrumentos estranhos para tarefas rotineiras e uma modificação total do programa e ritmo diário (com a frustração acompanhante devido à falta de planejamento dos outros).

O novo trabalho do marido talvez abranja responsabilidades mais pesadas do que no emprego atual — complicadas ainda mais pela barreira da linguagem.

O papel da esposa trará novos encargos: lidar com a empregada, cozinhar com escassa variedade de alimentos, usar talvez pela primeira vez um fogão a querosene, etc. Ela também terá de suportar o impacto dos problemas de adaptação de seus filhos.

Assim, na própria ocasião em que os dois se sentirem ansiosos por desempenhar devidamente o papel de missionários, a esposa talvez se sinta incompetente para cumprir a rotina diária de suas funções. A reação do casal diante do crescente número de pressões poderá ser aproximarem-se ainda mais em mútuo apoio e compreensão, ou criticarem-se mutuamente. O serviço num campo missionário pode exacerbar problemas matrimoniais já existentes, trazer à tona problemas latentes não notados antes, ou causar problemas novos; mas também pode fortalecer os laços matrimoniais. É preciso estar ciente disso antecipadamente.

3. Os Filhos. Enquanto os pais enfrentam importantes adaptações, os filhos terão de adaptar-se a uma nova escola, à separação de amigos e parentes na terra natal, e à experiência singular de salientar-se em toda multidão. Alguns aprendem rapidamente a apreciar ser postos num pedestal, o que ocasiona seu próprio conjunto de problemas. Outros acham muito desagradável ser fitados, tocados e talvez escarnecidos pelas pessoas na praça do mercado.

Uma das principais razões por que os missionários adventistas do sétimo dia retornam à terra natal depois de alguns anos é a educação dos filhos. Os pais devem considerar o que estará à sua disposição no campo missionário — um programa de estudos por correspondência, uma escola especial, etc. Se for necessário, eles mesmos estarão preparados e dispostos a ensinar os filhos?

Por outro lado, deve-se pensar também nas vantagens dos filhos. Viajar contribui mais para sua educação geral do que muitos livros. Em especial, a Geografia e a História se tornam interessantes. Com a animação dos pais, os filhos poderão aprender uma outra língua. A compreensão que eles obterão de outros povos e culturas dar-lhes-á uma amplitude e profundeza de caráter que mais tarde serão objeto de inveja de seus companheiros. Haverá muitas outras oportunidades inigualáveis, como viajar com um pai itinerante ou assistir talvez a uma operação cirúrgica no hospital da Missão.

4. O ambiente. Vocês precisam dos móveis e utensílios mais modernos, ou podem viver com simplicidade? Conseguem, se for necessário, adaptar os seus gostos aos interesses de uma parte mais conservadora da Igreja?

Podem fazer planos criativos e prover o seu próprio entretenimento — ler, escrever cartas, ter passatempos, tocar música? Talvez a sua situação além-mar não requeira isso, mas em muitas posições o marido viaja bastante. A esposa saberá enfrentar a solidão e o isolamento? Seja como for, vocês ficarão separados de parentes e amigos. Em geral, vocês sabem encarar as coisas com serenidade, ou são ansiosos e excitáveis?

5. Outros Missionários. Talvez tenham de residir bem perto de outros missionários que não sejam seus amigos. Talvez alguns até cheguem a irritá-los. A proximidade no trato diário e no trabalho proporciona íntimo conhecimento tanto das boas como das más qualidades nos outros. Como uma grande família, talvez haja atritos de vez em quando, mas é porque vocês se preocupam com o bem-estar de seus vizinhos, e os defenderiam de ataques de fora. Procurem estar preparados para dar a melhor interpretação aos motivos. E lembrem-se de que outros missionários tendem especialmente a defender seus filhos e seus cães.

Vocês encontrarão inevitavelmente parcialidade dentro da Missão.

Ela existe em toda a parte, mas talvez seja mais irritante além-mar. Por exemplo, nossa casa não havia sido pintada por dez anos, quando a casa do presidente da Missão recebeu uma nova pintura depois de dois anos, simplesmente para mudar de cor, com base na próxima visita do presidente da Associação Geral. Isso talvez pareça ser algo insignificante, mas poderá ser muito mais difícil aturá-lo além-mar.

6. Satisfações no Trabalho. Ao atender a um chamado, convém estar inteirado das recompensas do serviço além-mar. A não ser nalguns campos muito difíceis, vocês verão resultados tangíveis do seu trabalho, talvez até dentro de pouco tempo. Em numerosas regiões, nossa Igreja está agora crescendo muito mais depressa fora da América do Norte do que neste território. É emocionante fazer parte desse trabalho na linha de frente!

Amizades duradouras têm-se desenvolvido no serviço além-mar. Missionários que foram colegas de trabalho ainda parecem ser membros de uma família, após muitos quilômetros e anos de separação, e os aspectos menos agradáveis dessa intimidade foram relegados ao esquecimento.

Alguns habitantes dos países de além-mar com os quais labutamos parecem ser filhos e filhas. Observá-los assumir posições de liderança na Igreja proporciona profunda satisfação.

Quando vocês retornarem à pátria, encararão seu próprio país e até os membros de igreja sob uma nova luz — nem sempre favorável, à medida que os contrastes se acentuam. Saberão então que sua variada experiência cultural lhes ampliou a compreensão, de modo que também se acham mais bem preparados para labutar na terra natal.

7. A Vontade de Deus. A mais importante consideração ao responder a um chamado — com um “Sim” ou com um “Não” — é a certeza da vontade de Deus para nossa vida. Enquanto meu marido e eu refletíamos sobre o nosso inesperado chamado para a Coréia, fomos visitar Teodora Wangerin, que trabalhou ali durante quarenta anos. Ela sepultou um bebê nesse país, conduziu o marido com tuberculose de volta à pátria, sepultou-o aqui, e então retornou à Coréia com duas filhinhas. A influência de seu trabalho nessa região do mundo ainda está se ampliando e multiplicando. “Muitas vezes — disse ela — eu teria arrumado as malas e voltado à terra natal, se não fosse uma coisa: a certeza de que Deus desejava que eu ficasse ali.”

Essas palavras muitas vezes ecoaram animadoramente em meio de paredes sem pintura, ataques de hepatite e pequenas tensões com outros missionários. Eu sempre tinha sentimentos de humildade quando comparava minha situação com a daquela senhora. Depois de dois meses de reflexão, nós também ficamos plenamente convictos da direção de Deus, a despeito de nossa própria vontade. Ao olhar para o passado, nós O louvamos por essa orientação nalguns dos melhores anos de nossa vida.

De vez em quando, Deus até chama os que, humanamente falando, não parecem estar habilitados. Tendo ajudado a preparar novos missionários, lembro-me de alguns casos muito “arriscados”. Ana (este não é o seu nome verdadeiro) demonstrou uma resistência passiva durante todo o tempo de espera, porque o marido aceitara o chamado em resposta ao sonho de sua vida, sem consultar os sentimentos dela. Ela se preocupava com a obtenção de alimento para o seu bebê, queixava-se de toda dificuldade e parecia ser um tanto grosseira e indelicada. Predizíamos que ela não permaneceria muito tempo além-mar, mas labutou durante mais de um período normal, apoiando fielmente o trabalho do marido e encontrando também seu próprio lugar adequado.

Se vocês estiverem ponderando sobre um chamado além-mar, considerem juntos todos esses sete fatores, como uma família. Mantenham abertas as linhas de comunicação, partilhem as preocupações e orem juntos. Preparem e incluam os filhos. Adotem uma atitude de aventura, tornando isso um especial e excitante desafio para toda a família. Então as adaptações serão mínimas, e as recompensas, máximas.