ENTREVISTA  AGUSTIN GALÍCIA 

“Deus tem nas mãos o destino da igreja e da História. Ele dirige a missão e os acontecimentos. Tudo se cumprirá conforme Seus propósitos” 

Antes de ser nomeado secretário associado da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, nove anos atrás, o pastor Agustin Galícia liderou igrejas, departamentos, e foi presidente de Missão, Associação e União em seu país, México. Depois, trabalhou como secretário da Divisão Interamericana. Com a esposa, Eucaris, ele partilha a felicidade de ter quatro filhos e dois netos.

Na Associação Geral, o pastor Galícia faz parte de uma equipe composta por sete membros (secretário titular, subsecretário e cinco associados). Eles têm a responsabilidade de secretariar comissões, redigir eventuais alterações no Manual da Igreja e elaborar procedimentos para orientar o trabalho das secretarias das igrejas. Segundo Galícia, o controle de membros é fundamental para o exercício da missão. “Sem saber quantos membros possui nem com quantos pode contar, nenhuma organização avançará muito em busca de seus objetivos”, ele afirma.

Durante o Concilio Ministerial da União Sul-Brasileira, realizado em fevereiro, no Instituto Adventista Paranaense, ele concedeu a entrevista que segue.

Ministério: Como o senhor avalia o crescimento da igreja adventista no mundo?

Galícia: Bem, existem regiões como África, América Central e América do Sul, que são os maiores focos de crescimento da igreja. O mesmo fenômeno se repete nas Filipinas e nas ilhas do Pacífico, pertencentes à Divisão do Pacífico. Há outros setores em que também se observa considerável crescimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, as chamadas minorias étnicas, os imigrantes, fazem a diferença em termos de crescimento evangelístico. Em outras regiões, o progresso é lento. Porém, o projeto de Missão Global, que agora é chamado de Missão Adventista, tem muitos missionários e pioneiros trabalhando na abertura de lugares em que anteriormente não havíamos penetrado.

Ministério: Qual é o nível de crescimento da igreja na Europa?

Galícia: O grande problema da Europa é o secularismo. Porém, também devo dizer que alguns sinais de despertamento nos dão esperança de que as coisas estão começando a mudar. Na Divisão Euro-Africana, há um renovado enfoque no evangelismo, produção de literatura e, pouco a pouco, estão despertando e tratando de avançar com a pregação do evangelho.

Ministério: Crescimento de igreja pressupõe avanço numérico. Contudo, há também o incômodo fenômeno da evasão. Contabilizados os dois aspectos, o chamado crescimento neto é satisfatório?

“É quase inacreditável o que Deus está realizando no mundo, como fruto da oração. Ele é o maior interessado em Se tomar conhecido”

Galícia: Fiz uma análise de duas Divisões. Ainda não pude avaliar a questão no âmbito mundial. Nas Divisões estudadas, a porcentagem dos que saem é de 34%. Então, temos 66% que permanecem. Outro fenômeno que devemos considerar, ao falarmos de porcentagem, é o fato de que em muitos lugares e durante muitos anos, ninguém tomou a iniciativa de atualizar os números. Todos nós sempre soubemos que éramos menos do que os números diziam. Finalmente, no ano passado, alguns Campos resolveram enfrentar a situação e descobriram que tinham números, mas não tinham nomes. Então, o índice de remoção foi grande. A verdade é que, sem saber quantos indivíduos possui ou com quantos pode contar, nenhuma organização avançará muito na busca de seus objetivos.

Ministério: A apresentação de uma longa lista de membros que devem ser removidos é uma experiência traumática para uma igreja. Que fórmula o senhor aconselha para amenizar esse processo?

 • Galícia: Em 1993, a Associação Geral lançou um programa de auditoria de secretarias das igrejas. Obviamente, como você sabe, se não for colocado em prática, nenhum programa funciona. Mas, vou lhe dizer muito cuidadosa e amorosamente: Parece-me que nem todos os administradores estão amadurecidos para enfrentar esse problema. Todos nós tememos a redução dos números porque, como você mesmo disse, é uma experiência traumática.

Há dezenove anos, estou trabalhando em secretaria e sempre digo aos irmãos nas igrejas o seguinte: Se as estatísticas dizem que temos mais de um milhão de adventistas no Brasil, por exemplo, e em algum momento descobrimos que somos menos, em vez de ficar traumatizados, devemos louvar a Deus. Afinal, isso indicará que com menos estamos fazendo mais. Nosso problema é alimentar uma cultura que resiste à redução de números. Temos que batizar e aumentar o número de conversos. Porém, igualmente temos que manter os números atualizados. E posso lhe dizer que a Divisão Sul-Americana tem dado um passo à frente nessa questão. Aqui, existem Campos que exemplificam muito bem a conscientização dos benefícios dessa prática. Ela tem que ser constante, cotidiana. Não devemos acumular um problema, para que, depois, a solução dele não produza algum tipo de trauma.

Ministério: O que tem sido feito para abrirmos a chamada “janela 10/40”?

Galícia: Preocupada com esse assunto, no ano passado, a liderança da Associação Geral formou uma comissão que trabalhou junto às Divisões mundiais no sentido de canalizar recursos financeiros para o trabalho na “janela 10/40”. Como resultado disso, lá pelo ano 2012, algumas Divisões terão suas subvenções redirecionadas para o restante do mundo, especialmente a “janela 10/40”. Atualmente, a Divisão Interamericana é um dos Campos com maior número de obreiros interdivisão. A partir de 2012, ela disponibilizará 50% desses obreiros à “janela 10/40”. Assim, em nossa igreja, há um movimento para redirecionar e focalizar a missão evangelística onde a necessidade é maior. Nos próximos meses, o projeto terá sua discussão final, mas o relatório preliminar indica que iremos nessa direção.

Ministério: Atualmente, não temos nenhum obreiro naquela área?

Galícia: Depende do local. Há lugares em que temos obreiros e outros em que não podemos tê-los. Mas, o Instituto de Missões da Associação Geral tem um programa de identificação de membros adventistas que estão em países onde oficialmente não existe a presença da igreja. Quando essa identificação é feita, os membros recebem treinamento missionário. Não podemos enviar pastores, mas há profissionais de outras áreas que, no respectivo contexto e devidamente treinados, plantam a semente do evangelho de Cristo Jesus.

Ministério: O que se tem demonstrado mais difícil para nossa missão: o mundo secularizado ou o misticismo das religiões orientais?

Galícia: Parece-me que as duas coisas têm o mesmo tipo de dificuldade. Veja, há dois anos, visitei a China pela primeira vez e, ali, alguém perguntou qual era minha igreja. Respondí que era adventista do sétimo dia, e continuamos a falar sobre o cristianismo. Quando lhe perguntei por que não aceitava os ensinamentos cristãos, a resposta foi que o cristianismo é coisa do mundo ocidental e não tem nada para lhe oferecer. “Sua religião”, disse meu interlocutor, “surgiu há dois mil anos; a minha é mais antiga.” Analise esse argumento junto ao grande número de ocidentais que cada vez mais adotam as práticas místicas orientais. Enquanto tentamos ganhar terreno entre eles, eles também conquistam os ocidentais. Então, eles pensam: Somos nós que temos algo a oferecer. Creio piamente que nossa saída é a oração. Costumo colecionar relatos missionários e é quase inacreditável o que Deus está fazendo no mundo, como fruto da oração. Às vezes, nós nos desesperamos e preocupamos, parecendo esquecer-nos de que Deus está no controle e é o maior interessado em Se tornar conhecido de todas as pessoas.

Ministério: Fale algo sobre o ano do evangelismo.

Galícia: Desde o início de sua administração, o pastor Jan Paulsen imprimiu novo enfoque ao evangelismo. Antes, prioritariamente discutíamos em nossos concílios assuntos administrativos. Atualmente, o evangelismo ocupa a pauta desde o primeiro dia de reuniões. Nesse contexto, estamos empenhados em insistir, durante o ano 2009, no fato de que a igreja tem uma missão e Deus espera que a cumpramos. Isso deve ecoar em todos os Campos e instituições denominacionais do mundo. O alvo da Associação Geral é que todos nós estejamos envolvidos na proclamação da mensagem de que Cristo é o Salvador e em breve retornará para estabelecer Seu reino eterno.

Ministério: E o projeto “Siga a Bíblia”?

Galícia: Esta é uma iniciativa lançada, também no início deste ano, pela liderança da igreja no sentido de restaurar em nosso povo a intimidade com a Bíblia. Temos sido conhecidos como “o povo da Bíblia” e sempre nos avaliamos dessa forma. Porém, infelizmente, reconhecemos que muitos já não investem tempo de qualidade no estudo e meditação das Escrituras e, assim, descuidam de seu fortalecimento espiritual. Temos que priorizar a mensagem bíblica como sendo relevante em todos os tempos, para todos os povos e culturas. Nesse momento, há um exemplar das Escrituras percorrendo o mundo, como uma tocha olímpica. Entre os meses de setembro e outubro, essa Bíblia passará pela América do Sul, oriunda do Oriente Médio. Por ocasião da abertura da próxima assembleia geral da Igreja, no próximo ano, em Atlanta, ela será entregue solenemente ao presidente da Associação Geral.

Ministério: Inegavelmente, o mundo está muito agitado nos aspectos ecológico, político, econômico, social e outros. Como a liderança da igreja avalia tudo isso à luz da nossa escatologia?

Galícia: A igreja considera todos esses eventos como parte dos sinais do fim. A crise econômica atual chegou de surpresa, e a Associação Geral tem tomado medidas preventivas, congelando temporariamente o salário-base, reduzindo em 20% os gastos com viagens, suspendendo contratação de servidores, fazendo com que administradores e diretores de departamentos acumulem funções que inicialmente deviam ser preenchidas e reorganizando congressos. Entretanto, devo dizer que não fazemos coro com as vozes sensacionalistas e extremistas que, diante de tais acontecimentos, anunciam a vinda de Cristo quase para uma semana ou um mês depois. Há um calendário profético que se cumprirá, dentro do plano estabelecido por Deus. Devemos trabalhar, esperar e estar preparados. Há outros acontecimentos com certo impacto escatológico.

“Necessitamos de reavivamento e reforma.

Na medida em que dependemos de Deus, vamos progredir numérica e espiritualmente

Ministério: O que pensam nossos líderes a respeito de Barack Obama?

Galícia: Definitivamente, Obama galvaniza a simpatia de todas as correntes de pensamento em todo o mundo. Nenhum presidente conseguiu isso. Durante a posse, milhares de pessoas de todos os segmentos e partes do mundo estavam presentes, centralizando nele suas esperanças. É interessante notar a ênfase do seu discurso de posse sobre os valores éticos, morais e religiosos, honradez, liberdade, trabalho e outros. Tudo isso fala da América que nos é revelada na profecia. Deus está no controle da História e cumprirá Seu plano. Mas, não precisamos nem devemos tentar correr à Sua frente. Confiemos e esperemos nEle.

Ministério: Pela internet têm circulado mensagens informando sobre planos do parlamento europeu relacionados ao estabelecimento da observância obrigatória do domingo. O que o senhor diz sobre isso?

Galícia: Pelo menos no momento, não existe motivação religiosa nessa questão específica. Tudo está relacionado a questões trabalhistas. A proposta tem que ver com direitos dos trabalhadores. A melhor observância de leis que sempre existiram, destinadas a beneficiar o trabalhador, está sendo enfatizada, com objetivo de obter produção e crescimento da economia. Evidentemente, temos consciência de que, mais rapidamente do que imaginamos, tudo isso pode tomar rumo diferente do que agora é apresentado. Mas, repito, não temos que ser sensacionalistas.

Ministério: Se o senhor tivesse que apontar a maior necessidade da igreja, qual seria essa necessidade?

Galícia: Tenho pensado muito nisso e concluo que nossa maior necessidade é experimentar maior dependência de Deus. Como diz Ellen G. White, necessitam os de reavivamento e reforma. Na medida em que dependermos de Deus, vamos progredir numérica e espiritualmente, vamos nos preparar para o encontro com Ele, enfim, seremos uma nova igreja. Precisamos tomar tempo para comunhão com o Senhor e decidir nos entregar inteiramente a Ele. Necessitamos conhecer Jesus cada vez mais. Conhecendo-O, receberemos a bênção da presença do Espírito Santo. Ele dirigirá nossa vida, nos tornará mais ousados e imprimirá em nós maior sentido de urgência. Quando esses elementos forem conjugados, veremos um novo dia para a igreja.