Deus é amor’, está escrito sobre cada botão que desabrocha, sobre cada haste de erva que brota. Os amáveis passarinhos, a encher de música o ar, com seus alegres trinos; as flores de delicados matizes, em sua perfeição, impregnando os ares de perfume; as altaneiras árvores da floresta, com sua luxuriante ramagem de um verde vivo – todos testificam da terna e paternal solicitude de nosso Deus, e de Seu desejo de tornar felizes Seus filhos” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 10).

Essa declaração forma o pressuposto a partir do qual todo crente deve avaliar as experiências de dor e sofrimento que configuram sua existência terrestre. Contudo, para o cético, esse mesmo pressuposto é considerado intrigante paradoxo: “Se Deus é amor, por que sofrem Seus filhos?” Então, na busca de respostas para essa indagação, muitos têm enveredado por fantasiosas especulações como acontece, por exemplo, na racionalização epicurista:

“Deus ou quer impedir os males e não pode; ou pode e não quer; ou nem quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode é impotente, o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, de maneira idêntica, é contrário a Deus. Se nem quer, nem pode, é invejoso e impotente, portanto nem mesmo é Deus. Se pode e quer, que é o único conveniente a Deus, de onde provém, então, a existência dos males? Por que Ele não os impede?” (Reinholdo A. Ullmann, Epicuro: o Filósofo da Alegria, p. 112). A conclusão epicurista é que Deus não Se preocupa com o mundo, vivendo isolado “no gozo do Seu bem-estar”.

De fato, a compreensão plena do sofrimento ainda permanece como grande desafio também para o cristão. Nosso conhecimento do amor divino e a crença em “Seu desejo de tornar felizes Seus filhos” não têm impedido que, às vezes, nossa fé seja surpreendida pela indagação: “Por quê?” Somente quando observamos o milenar conflito entre Deus e Satanás, é que temos um vislumbre do grande quadro por trás do sofrimento. E, melhor ainda, somos informados de que um dia tudo isso terminará de modo a revelar ao mundo a justiça do caráter de Deus, graças à vitória conquistada por Cristo na cruz do Calvário.

Até esse momento, devemos confiar. Primeiramente, porque não somos deixados ignorantes a respeito do fim da história do mal, pecado e sofrimento. Em segundo lugar, Deus nos tem dispensado Sua amorosa providência, limitando (apesar de tudo) as ações do inimigo (Jó 1:12; Sl 124:1-3; 1Co 10:13) e utilizando situações adversas para cumprir Seus propósitos de salvação (Gn 50:20; At 2:36). Em nosso dia-a-dia pastoral, são muitas as oportunidades de aplicarmos o lenitivo das promessas divinas a corações feridos. Que o Senhor nos dê sabedoria e sensibilidade espirituais para fazê-lo.

Zinaldo A. Santos