Como decidir se aceita ou não um chamado para um novo pastorado? Um jovem pastor conta a história de dois chamados que recusou e de um que aceitou. Este artigo o estimulará a pensar sobre o critério que o ajudará a identificar o verdadeiro chamado do Senhor.

O Secretário Ministerial da Associação de Michigan estava pregando naquele dia em Indiana, bem na fronteira do Estado de Chicago. Ser-me-ia possível encontrá-lo em seu hotel naquela noite? Pus o telefone no gancho e refleti.

Eu estava indo para casa, procedente do lado Norte da cidade. Entre as cabinas de pedágio, minha mente em geral derivava para outros assuntos que não a estrada que estava em minha frente. O impacto da discussão acalorada sobre a dívida galopante da escola da igreja estava a diminuir-me o entusiasmo pelo pastorado. Meu alvo de batismo estava pouco acima de zero. Apesar do meu zelo inicial, não conseguia ver nenhuma prova de que todo o meu esforço produzisse a mais leve mudança na qualidade de vida de alguém.

— Senhor — orei, enquanto o vento soprava gelado no meu Fusca — tira-me daqui! Para qualquer lugar. Não suporto mais!

Quando já me encontrava em casa, o telefone tocou à noite, já um pouco tarde. — Matt! — exclamei — você não pode imaginar quão bom é ouvi-lo. O que esteve fazendo estes dias? Como vai a ensolarada Califórnia?

Depois dos cumprimentos cordiais e das perguntas de rotina, a respeito de outros amigos do seminário, ele foi ao ponto. Fora incumbido de saber se eu estava interessado em um lugar no quadro pastoral onde ele era pastor dos jovens.

Descreveu o trabalho: pastor de jovens adultos em uma das maiores igrejas adventistas do Sul da Califórnia. Havia vários outros pastores que faziam parte do grupo. Eles haviam obtido muito sucesso.

Eu estava maravilhado! Odeio o frio. Quando a temperatura cai para menos de dez graus centígrados, procuro agasalhar-me bem. Detesto ainda mais as discussões sobre orçamento de escola e a cor do tapete para o subsolo da igreja. Não me sinto o perito em cada setor da igreja — coisa que as pequenas igrejas do subúrbio esperam que seja seu pastor. Sonho em deixar a direção para outro, e deixar para outras pessoas as visitas aos enfermos, de maneira que possa dedicar-me ao grupo “mais importante” da igreja — os homens de 20 a 50 anos de idade. Canso-me de ficar responsável por tudo no distrito, e não ter ninguém para desabafar-me; de ser o único recém-formado do seminário em toda a Associação, que fala o inglês falado nos Estados Unidos; de sentir-me isolado.

Será que iria gostar de rumar para o ensolarado Sul da Califórnia, e ser pastor de jovens adultos no mesmo setor em que dois dos meus amigos mais chegados trabalhavam?

Como saber se eu deveria ou não ir? Outro amigo está retirando seu apoio ministerial de um distrito de três igrejas, espalhadas pelas montanhas de Kentucky. Se o convite tivesse partido dele, faria eu ainda a pergunta? (O Senhor sempre chama para a frente e para o alto, não é?) Se a igreja a que eu estava servindo atualmente não estivesse tão envolvida em discórdia acerca de projetos irrazoáveis, se eu gostasse da vizinhança entre a qual vivo, se pudesse batizar tuna porção de pessoas, se houvesse amigos do colégio ou do seminário perto, se eu gostasse de frio — se as coisas fossem diferentes — a pergunta não seria urgente.

Matt estava do outro lado da linha. Estudariam eles o meu nome junto com o dos outros candidatos potenciais?

Eu conhecia a resposta costumeira. Já ouvira os pregadores mencioná-la diversas vezes; já havia lido sobre ela nas histórias das missões: “Não sei; vou orar a respeito do assunto.”

Mas eu sabia. Queria o trabalho que Matt descrevia. Queria morar na Califórnia ensolarada, onde “todas as igrejas são grandes, ricas todas as congregações e estão na vanguarda todos os pregadores”. E sabia que me achava na fria e malancólica Oak Lawn. Estava naquele distrito. Juntamente com aquele povo de Deus. Orar sobre o assunto, seria tão-somente procurar mudar o plano de Deus. A lembrança de Balaão deixava-me paralisado.

— Não, Matt. — Embora tenha sonhado exatamente com o trabalho que me ofereceu, sei que ele não é para mim. Não sei como sei, mas sei. Vim para cá com a convicção do chamado de Deus. Não posso agir de outra maneira.

Depois disso, quando o vento soprava gelado no meu Fusca, durante semanas sonhei com os céus ensolarados. Imaginava um ministério exitante e com passos firmes, com um grupo de jovens adventistas dedicados e atrativos — e me levantava para pregar no sábado para uma pequena congregação suburbana, onde a média de idade era de 50 anos. E na segunda-feira do mês, sentava-me com a Comissão da igreja, onde a idade mínima era 50 anos, sem contar o pastor. E na segunda segunda-feira do mês, brigava na reunião da junta escolar. E quase todas as noites me sentia exausto e frustrado ao ir para a cama.

Tudo isso foi discutido naqueles poucos minutos de conversa telefônica com o Secretário Ministerial de Michigan.

— Você conhece o Pastor Robey? — perguntou ele.

— Não sei se já o vi.

— Ele falou bem de você. E o Pastor Grenn o recomendou elogiosamente. Estamos sempre pensando em bons ministros … Gostaria de encontrar-me com você, se lhe convier.

Os sonhos se repetiram. Essa consulta inclui uma das duas igrejas que sempre sonho pastorear, afora a minha igreja atual. E recomendações! Uma de um homem que não me lembro de ter visto antes, e outra de um homem que morou em minha casa por três meses, que é tão velho que pode servir de pai para mim; que conhece minhas verrugas melhor do que qualquer outra pessoa, com exceção de minha esposa. Situação difícil para um iniciante!

— Quanto tempo faz que você está na associação onde se encontra agora? — continuou ele.

— Quatro anos e meio.

— E na igreja onde está?

— O mesmo tempo.

— É ordenado ao ministério?

— Sim.

Conversamos mais alguns minutos. Falei-lhe do meu interesse especial pelo evangelismo urbano. Ele mencionou uma igreja da cidade que fora recentemente formada.

Contudo, não era conveniente encontrá-lo naquela noite. Minha esposa precisava do carro. Além disso, havia em algum lugar dentro de mim aquela mesma convicção: Você deve ficar onde está.

— Sinto-me honrado pelo seu convite — disse-lhe. — Tenho sonhado com pastorear uma de suas igrejas da cidade. Todavia, ainda que você me esteja oferecendo essa igreja, não sei o que levaria a convencer-me de que Deus me está chamando para sair do meu trabalho atual. Precisaria realmente de alguns sinais visíveis, suponho. Logo que for a Lansing, procurarei encontrá-lo. Estou contente por ter conversado com você, especialmente a respeito do ministério urbano. Por enquanto, porém, sinto-me chamado para onde estou.

Quando apresentei a primeira parte deste artigo à revista Ministry, ele terminava aqui. Recebi então uma anotação: “Gostamos do seu artigo, mas ele está incompleto. Recomendamos acrescentar mais algumas páginas, fazendo a pergunta: “Como se reconhece que foi chamado pelo Senhor?’’

Tentei várias maneiras de terminar o artigo, mas elas nunca se distanciavam do fundamental. Jamais eu deixara uma igreja para ir para outra. Poderia agora escrever sobre uma experiência que nunca tivera? Deixar a igreja de estudantes na qual eu servira como pastor voluntário durante o seminário, dificilmente seria a mesma coisa. Por definição, a escola é provisória.

Quase dois meses depois de minha rejeição praticamente apressada de um chamado para “ser promovido” para uma igreja maior em outra Associação, eu era convidado a “descer” para uma igreja menor em minha própria Associação. E eu disse Sim.

Desde o meu tempo de segundanista no colégio, abrigara a inabalável convicção de que Deus me havia chamado para trabalhar em Chicago. Durante todo o curso, e um período como auxiliar no pastorado urbano, o senso da indicação divina para Chicago persistira. Nos quatro anos seguintes, porém, nos subúrbios, o senso do chamado para a cidade diminuiu. De forma maravilhosa, que suponho seja comum à maioria dos pastores, as pessoas do meu distrito — membros da igreja, bem como o público — tornaram-se meu povo. Certamente o chamado do Senhor poderia cumprir-se em fiel serviço naquele lugar.

Contudo, durante meus últimos dezoito meses como pastor da Igreja Adventista de Oak Lawn, eu estivera acompanhando um pastor da cidade em pequenas campanhas evangelísticas. Depois, achamos que era tempo de fazer uma nova e definitiva investida na vizinhança.

Alguns jovens das redondezas da igreja aceitaram o convite. Quando começaram a demonstrar interesse genuíno pelas lições que havíamos preparado, a antiga convicção voltou; comecei a lutar com o senso de missão, de vocação para a cidade.

A administração da Associação havia pensado durante algum tempo em finalmente transferir-me para a cidade. Havíamos conversado sobre isso. Mas durante os cinco anos passados em Oak Lawn eu me tornara mais e mais atraído para o meu povo do subúrbio. Minha esposa e eu havíamos ido para uma igreja cheia de dívidas, dividida em facções, com poucas crianças e quase sem nenhum jovem. Depois de alguns dolorosos esforços, estávamos agora contentes com uma igreja cheia de jovens, animada na fé e desejosa de partilhá-la.

Financeiramente a igreja estava saneada. Não havia nenhuma facção da qual eu tivesse conhecimento; reinava um bom entendimento entre os idosos e os jovens. Os bebês que eu havia apresentado eram já criancinhas crescidas, capazes de manter uma conversação. Minha esposa havia feito algumas amizades íntimas e valiosas na igreja. Por que estragar uma coisa boa? Por que não permanecer perto, para manter a igreja numa contínua forma de crescimento — tanto em número como em espiritualidade?

Todavia, a cidade não era uma missão impossível. Já ouvira outros a ela se referirem como o cemitério dos evangelistas. Mas a convicção não devia ser abandonada — sentia-me chamado para a cidade. Como podia deixar Oak Lawn? Como podia deixar a igreja que estava tão de acordo com o meu ideal do que devia ser uma igreja? Como poderia deixar a igreja que confirmara meu chamado para o ministério e levou a minha ordenação?

Acredito na voz interior de Deus. Creio que Deus às vezes nos leva a fazer coisas que não podem ser explicadas. Mas como saber se a convicção não vinha de minhas ambições? Eu conhecia muitas pessoas cuja obediência a cada “chamado” lhes enchera a vida de compromissos não cumpridos, de planos realizados pela metade, de obrigações não satisfeitas.

A atração que eu sentia pela cidade, tornava-se cada vez mais forte. Ao mesmo tempo, estava percebendo a ruptura e sofrimento que minha saída causaria. De maneira que procurava avaliar esse apelo interior usando critérios um tanto mensuráveis.

Sentia que, tanto os novos membros, como os interessados de nossa última campanha evangelística em Raymund, achavam-se tão integrados à vida da igreja, ou foram levados a tal ponto, que continuar o trabalho em seu favor por meu intermédio, era uma prioridade pouco significativa. Alguns daqueles com os quais eu estive estudando a Bíblia ainda não haviam feito a entrega a Cristo. Mas eu havia estudado tanto com eles, que sentia ter cumprido minha obrigação de declarar-lhes todo o evangelho de Deus.

Havíamos pago todos os projetos maiores de construção pelos quais trabalhamos; a dívida da escola para com a Associação, que se arrastara por tanto tempo, estava sendo sistematicamente paga. A agitação e o facciosismo que por anos haviam caracterizado a igreja, fora resolvido. Foi restabelecida a fraternidade da igreja. A liderança jovem estava sendo escolhida e respeitada pelos mais idosos da igreja. Eu não podia deixar minha igreja com o coração alegre; podia deixá-la, porém, com a consciência tranqüila.

Acho até que, a despeito do meu amor à igreja e seu desejo de que eu permaneça, pode ela, de fato, ter chegado ao ponto de necessitar de uma espécie diferente de liderança que eu não poderia oferecer. Caso devesse ela continuar progredindo, outra pessoa deveria liderá-la. Em definitivo, eu não a estava deixando porque estivesse aborrecido ou decepcionado. Fazia-o porque sentia o chamado para outra responsabilidade urgente.

A igreja da cidade era uma antiga congregação de língua estrangeira. A média de idade dos membros era de 65 ou mesmo 70 anos. Com uma exceção apenas, todos os que tinham profissão de alguma espécie se haviam mudado. Embora a igreja tivesse capacidade para 350 pessoas sentadas, apenas trinta ou quarenta a freqüentavam, ainda que a assistência fosse exigida. Com a retirada do pastor, por este já anunciada, a igreja perderia sua identidade étnica. Muitos daqueles que moravam longe haviam começado a discutir a remoção dos membros para congregações mais próximas de suas casas. Dessa forma, se nenhuma providência fosse tomada até antes de o pastor sair, a igreja poderia ser deixada literalmente com apenas cinco a dez membros.

E não seria fácil encontrar alguém que pudesse assumir o pastorado e o fizesse. A localização da igreja, a condição de seus membros e a necessidade do trabalho durante meses, com a retirada do pastor, que nela estivera por mais de quinze anos, militava contra a igreja. Em contraste, eu pensava em minha igreja em Oak Lawn como em situação mais do que desejável. ministério na cidade era confirmada com certa freqüência pelos colegas de ministério. Mas devia eu distinguir em suas palavras a voz de Deus ou de outro qualquer?

No início da terceira semana de maio, recebi o que cria ser a direção de Deus. Quando a Associação chamasse, eu estaria pronto para ir; e diria Sim.

No escritório da Associação, na terça-feira seguinte, assisti a uma reunião para todos os que iriam trabalhar com as divisões dos adolescentes e juvenis na reunião campal. O presidente pôs a cabeça na porta:

— Chuck, posso falar com você?

Estirei-me na cadeira. Precisaria ele falar comigo naquela hora? Não! Depois que terminasse a reunião seria melhor.

Na sala do presidente, depois dos costumeiros cumprimentos, sentamo-nos para discutir o seminário evangelístico da cidade. Ou o que eu pensava fôssemos discutir. Depois de oitenta e cinco segundos de conversação a respeito do seminário, ele foi ao ponto.

— Chuck, falei com o Pastor Schlier ontem. Você sabe que havíamos pensado em aguardar até seu afastamento para tomar alguma providência quanto a sua ida para lá. Mas ele me disse que se não agirmos agora pode não haver ninguém na igreja quando ele sair realmente. Gostaria que você fosse imediatamente. Poderia fazer deste sábado o último em Oak Lawn e dedicar-se inteiramente à cidade na próxima semana?

Discordei de seu pedido para que eu encerrasse meu pastorado em Oak Lawn no sábado vindouro. Concordei em ir no fim do mês seguinte.

Tomada a decisão, não havia outra coisa a fazer a não ser ir adiante. Dessa maneira, gastei um mês com as despedidas a minha igreja, à congregação que havia confirmado meu chamado para o ministério, ao povo que me havia ensinado a pregar e visitar, aos membros da Comissão, que me haviam mostrado como a igreja deve funcionar; e aos amigos que tanto haviam significado! Então tornei a descobrir a vontade de Deus do lado Norte de Chicago! — CHUCK MITCHELL (Pseudômino)