Kevin J. Howse

Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Waynesboro, Pensilvânia

O senso do dever pastoral tem feito com que abuseis de vossos recursos interiores a tal ponto que vosso ministério se encontre em bancarrota?

Ele era um bom pastor. Pregava com fervor e era bem sucedido na realização de reuniões evangelísticas. Visitava os membros com regularidade e era sinceramente espiritual em suas relações interpessoais. Assistia às reuniões da comissão e encarava com seriedade as responsabilidades administrativas de sua igreja. A administração da Associação estava contente com ele, pois bem poucas queixas, se é que havia alguma, chegavam à escrivaninha do presidente.

No entanto, durante certo período de tempo, o tesoureiro da Associação notou acentuado aumento no número de receitas médicas que esse pastor entregava para reembolso. Um exame revelou a presença de úlceras, e outro, de colite. Teria de realizar exames adicionais para descobrir a causa de sua dor de cabeça e hipertensão.

A igreja também começou a notar algumas modificações. O pastor que antes era pontual passou a chegar atrasado, e de vez em quando deixava de comparecer a um encontro ou reunião. As pessoas começaram a mencionar que ultimamente não o tinham visto nas proximidades de seus lares. Em particular e muito confidencialmente, o pastor revelou a seus anciãos que ele necessitava de uma “mudança e que estava procurando um chamado para outro lugar.

Finalmente o pastor teve de admitir em seu íntimo que não só era ineficiente em seu trabalho, mas na realidade não se importava com isso. Com freqüência fazia castelos no ar e perdia tempo por ficar olhando para a carga de trabalho em sua escrivaninha. Tornava-se cada vez mais ciente de frustração e monotonia. Deveres que pouco tempo antes causavam satisfação, agora pareciam requerer mais energia do que ele podia reunir. Percebeu que estava procurando desviar-se das pessoas sempre que fosse possível, embora em tempos passados apreciasse encontrar-se e conversar com elas.

“Talvez Deus me tenha abandonado”, pensava ele. “Talvez eu seja uma nulidade como pastor e como homem. Minha saúde está se deteriorando rapidamente, estou sendo mal sucedido em meu trabalho e provavelmente estou ficando desequilibrado.

Extenuação e estafa constituem tanto uma possibilidade para o pastor como para o vendedor, para o dirigente de uma empresa ou para o supervisor de uma linha de montagem. Preparo inadequado, falta de oportunidade para crescimento, medo do fracasso e exigências irrealistas são apenas alguns dos fatores de tensão que os pastores partilham com os outros.

Mas o pastor também tem alguns fatores de tensão que lhe são peculiares. Os pastores são dirigentes de uma organização voluntária que possui elevados ideais e expectativas para seus membros. Contudo, o próprio fato de que é uma organização voluntária deixa o pastor com poucos meios que de fato sejam tangíveis para assegurar que os membros do grupo assumam responsabilidades e alcancem certos alvos. O gerente de uma repartição pode prevalecer-se dos cheques de pagamento para incen-tivar os funcionários; o pastor tem de contar com a persuasão e a motivação espiritual. Ao mesmo tempo, é o pastor que assume a maior parte da responsabilidade pelo êxito ou fracasso dos objetivos da igreja, bem como pelo crescimento pessoal dos membros. Pelo menos, é assim que ele muitas vezes encara a situação. Além disso, lida constantemente com pessoas e seus problemas, o que às vezes constitui um pesadelo para o seu coração. E está empenhado num trabalho que jamais é concluído.

Depois de quatro ou cinco anos de ministério, alguns pastores verificam que se equivocaram em sua vocação. Às vezes o chamado para ser cristão é confundido com o chamado para o ministério.

Depois de quatro ou cinco anos de ministério, alguns pastores verificam que se equivocaram em sua vocação. Às vezes o chamado para ser cristão é confundido com o chamado para o ministério. O idealismo dos adolescentes e a necessidade de patrocinar uma causa justa podem atrair um jovem converso para a preparação para a luta pastoral sem que ele se certifique primeiro de que possui os necessários característicos de personalidade e dons para que a vocação seja genuína. Erudição doutrinária ou mesmo a habilidade de pregar bem jamais podem compensar as deficiências na arte de dirigir os outros e comunicar-se com eles.

Naturalmente, Deus pode habilitar um indivíduo a vencer deficiências pessoais; mas, na maioria dos casos, temos de trabalhar dentro dos pontos fortes e fracos de nossa personalidade.

Alguns pastores que ficam extenuados são afeitos ao trabalho, porém não necessariamente por gostarem tanto dele. Amiúde, esse tipo de pastor labuta compulsivamente devido ao receio oculto de fracassar e por causa das expectativas da congregação e da administração, e experimenta uma sensação de culpa que precisa ser enfrentada. Tal pastor é impelido por irresistível atitude coerciva que o incita a sacrificar seus dias de folga, seu tempo com a família e, talvez, até mesmo as férias. Não tem a intenção de ser intemperante, mas chegou ao ponto de ser incapaz de lidar com suas responsabilidades sem sentir que precisa fazer tudo, solucionar todos os problemas (especialmente os insolúveis), estar em toda parte, e nunca dizer “Não”, exceto a sua família.

A extenuação e a crise de adaptação da meia-idade freqüentemente andam juntas. Entre os 30 e os 45 anos de idade, o pastor de tipo médio começa a enfrentar seu próprio íntimo e a avaliar para onde está indo sua vida. Fica acabrunhado ao perceber que não é tão moço como antes e que a possibilidade de alcançar certas aspirações pode estar desaparecendo rapidamente. Às vezes olha para o futuro e indaga se deseja ser pastor pelo resto de seus dias. Investiu a si mesmo completamente em seu trabalho, e agora lhe parece que obteve poucos resultados concretos. A amargura se avoluma ao examinar ele o que se lhe afigura como anos desperdiçados no passado e anos vazios que se estendem invariavelmente para o futuro. Deus parece estar distante, e tudo que o pastor considerava precioso parece ter perdido o valor.

A tensão do trabalho também pode provir da administração. As pesquisas revelam que a extenuação tem muito mais probabilidade de ocorrer entre os trabalhadores cujo patrão suscita uma

atmosfera impregnada de medo, proporciona pouca oportunidade para crescimento, não delega responsabilidades significativas, se empenha em processos manipulatórios, não manifesta confiança ou é insensível às necessidades pessoais. Os administradores que não estão cientes de sua influência sobre a saúde mental de seus obreiros têm parte na culpa quando seus pastores ficam extenuados.

A sobrecarga de tensão afeta todos os aspectos da vida de uma pessoa — físicos, intelectuais, sociais, psico-emocionais e espirituais. Cada um deles tem seus próprios sintomas.

Sintomas de Extenuação

Constante fadiga e a sensação de esgotamento físico, mesmo quando não houve grande esforço corporal, constituem um indício de excessiva tensão e iminente extenuação. Outros sintomas: a tendência de necessitar de mais sono do que habitualmente, ou a incapacidade de dormir; doenças de origem emocional e pequenos problemas físicos que se tornam males crônicos.

O efeito da tensão sobre a mente, em geral, se manifesta pela incapacidade de concentrar-se, pela tendência de ser esquecido, pela redução da agilidade e pela sensação de “sobrecarga de informação” — o senso de tensão e esgotamento devido a excessivo esforço das faculdades mentais. O indivíduo pode volver-se para evasões, como leituras leves ou TV, em vez de atividades mentais mais intensas.

A extenuação social é amiúde caracterizada pelo desejo de esquivar-se das pessoas e seus problemas. A fim de esquivar-se das pessoas, pode-se recorrer a tais artifícios como olhar em volta enquanto se conversa com alguém, monopolizar a conversação para não precisar ouvir, concordar com opiniões desagradáveis só para evitar confrontações, inventar compromissos para terminar ou evitar discussões, permanecer o máximo possível em casa ou ocupar-se em ministérios legítimos não voltados para as pessoas, como a escrita, a construção e a música. Nessa etapa da extenuação, não são ocultados os seus efeitos no lar. Detrás de portas fechadas há um indivíduo irritável e deprimido que nunca tem tempo para conversar com crianças, exceto para lhes impor silêncio, e que se esconde o máximo possível no escritório. Ele sente vontade de esquivar-se da esposa e dos filhos, bem como das responsabilidades que as pessoas lhe impõem.

À medida que continua a extenuação, sentimentos de enfado, depressão e confusão acerca de si mesmo são característicos. Tais sentimentos são acompanhados do terrível receio de que não haja um meio de escape.

À medida que continua a extenuação, sentimentos de enfado, depressão e confusão acerca de si mesmo são característicos. Tais sentimentos são acompanhados do terrível receio de que não haja um meio de escape. Ter de admitir que não se é capaz de exercer devidamente as funções relacionadas com o trabalho e o lar produz muito medo, senti-mento de culpa e insegurança. E, para o pastor, ter de admitir diante de Deus que as coisas não estão certas ocasiona um fardo de culpa adicional.

Talvez não haja efeito mais grave e complicado do que aquele que a extenuação exerce sobre o bem-estar espiritual de um pastor. Cercado pelo desejo de desvencilhar-se de seu ambiente e de suas responsabilidades, o pastor pode rejeitar valores nos quais confiava e que defendia publicamente. Imprecações, experimentação sexual e o uso de drogas e álcool constituem algumas das modificações radicais da conduta que denotam desintegração espiritual. Sua vida devocional está paralisada há muito tempo, e a leitura da Bíblia é destituída de significação. Ele pode, num ato de desespero, procurar readquirir algum significado espiritual para sua vida, mas não consegue concentrar-se durante o tempo suficiente para obter algum benefício desse esforço. Espiritualmente, ele é uma concha vazia, e sente que dentro de algum tempo a concha se quebrará e todos ficarão cientes de que sua vida e todas as suas palavras não passam de chavões ou vãs digressões.

A esposa do pastor carrega pesado fardo nesse tempo. Em parte ela fica indignada — indignada porque ele não moderou o passo quando ela recomendou que o fizesse, indignada porque ele não tirou suas férias quando podia tirá-las, indignada porque ele nunca teve um dia de folga. Agora ele se acha extenuado, e ela está indignada porque a culpa é dele mesmo.

Ela também é dominada por sentimentos de culpa. Talvez não se tenha esforçado suficientemente para apoiá-lo como pessoa e como pastor, embora não saiba ao certo que mais poderia ter realizado. Afinal de contas, não recebeu preparo especial para ser esposa de pastor.

Está receosa — receosa de que ele faça alguma coisa temerária e ponha em risco seu trabalho e a segurança da família. Receia que ele a abandone, assim como abandonou sua obra e seus valores religiosos. Receia que os filhos venham a sofrer por causa disso.

Em seu desespero, ela busca auxílio, mas ele recusa admitir que precisa de ajuda.

Recuperação

Os pastores, bem como outras pessoas, com freqüência podem ser legitimamente acusados de sobrecarregar o organismo. Precisamos compreender a nós mesmos e nossas verdadeiras motivações. Precisamos aprender a conservar nossa energia para proteger a vida e a felicidade. As seguintes sugestões podem ajudar a produzir essa compreensão e a evitar a extenuação:

1. Tomai a examinar vossa filosofia de vida. No fluxo e refluxo de demandas em conflito, que valores considerais de suprema importância? Dais lugar ao humor, à criatividade, à relaxação e à recreação? Quão importante é, para vós, dar e receber amor em vossas relações cotidianas? Experimentais um equilíbrio de atividades físicas, mentais, espirituais e sociais?

2. Estabelecei prioridades realistas de curto e longo prazo e atende-vos a elas. Empreender muito pouco ou empreender demasiado ocasiona tensão. Tende cuidado com as demandas impulsivas que desorganizam vossas prioridades.

3. Desvencilhai-vos do ambiente de trabalho quando vos retirais dele. Lutai contra o constante sentimento de ter de concluir um trabalho que na realidade jamais será concluído.

4. A diversão, amiúde, é mais relaxante e revigorante do que o repouso completo. Escolhei um passatempo ou uma atividade que sirva de válvula de segurança, permitindo que seja descarregada a tensão e estimulado vosso interesse em assuntos não relacionados com o trabalho.

5. Desfrutai a vida que tendes; dirigi o carro mais devagar e apreciai a paisagem; detende-vos um pouco e saboreai uma refeição saborosa; não fiqueis tão sobrecarregados que não tenhais tempo para os filhos.

6. Socializai-vos com pessoas fora de vosso ambiente de trabalho imediato. Isto reduzirá as conversas que causam tensões. Tende uma plêiade de verdadeiros amigos com os quais podeis partilhar-vos profundamente, em lugar de uma porção de conhecidos com os quais só podeis partilhar formalidades.

7. Fazei questão de obter suficiente repouso e sono. Reduzi as horas passadas em claro e vendo televisão.

8. Evitai, na medida do possível, freqüentes transferências. Aceitar uma transferência muitas vezes apenas é um modo de fugir das dolorosas realidades da frustração no trabalho e da necessidade de examinar-se melhor.

9. Sabei quando deveis retirar-vos do conflito e quando insistir numa questão. Acabai com as hostilidades antes que elas acabem com a vossa pessoa. Acautelai-vos contra a amargura.

10. Desenvolvei uma atitude de gratidão e contentamento. Encarai as pessoas e as situações de modo positivo.

11. Desenvolvei a arte da tolerância. Pessoas irritantes sempre têm profundas necessidades que podem ajudar a explicar sua conduta.

12 • Acostumai-vos a olvidar aquilo que é doloroso, feio e injusto. Pensai naquilo que é verdadeiro, honroso, justo, puro, amável, e digno de louvor.

13. Tende cuidado com o idealismo excessivo. A maioria das pessoas idealistas são indivíduos hostis que se dão ao trabalho de estabelecer suas próprias regras para a vida, e ficam iradas quando outras pessoas não lhes dão atenção nem concordam com elas. Se este for o vosso caso, deveis expandir o vosso pensamento e aprender que a vida não consiste somente em ser cor-reto.

14. Desenvolvei expectativas realistas a vosso próprio respeito e dos outros. Não podeis modificar o impossível; ninguém é indispensável; nem todos irão amar-vos; a perfeição raramente é encontrada deste lado da eternidade.

15. Não subestimeis o deleite da simplicidade em vosso estilo de vida.

16. Combatei a “doença da precipitação”. A obsessão de constantemente realizar as coisas mais depressa e melhor é um caminho que conduz a saúde precária.

17. Elaborai um programa diário que dê lugar à meditação criativa. Acautelai-vos contra orações e devoções monótonas e rotineiras que não condizem com vossas necessidades e sentimentos pessoais.

18. Cuidai de vosso corpo. Fazei exercícios diários, bebei suficiente quantidade de água, respirai ar fresco e puro, comei frutas e verduras frescas e efetuai todas as boas coisas que tendes recomendado aos outros.

19.Determinai os limites de vossa sobrecarga de tensão e recusai envolver-vos em atividades que requerem mais do que esse limite.

20. Mantende um padrão de crescimento positivo e não fiqueis assoberbados pelo excesso de trabalho, nem vos deixeis acabrunhar pelo pessimismo e os problemas dos outros.

Embora seja possível viver num ambiente completamente livre de tensões, podemos fazer alguma coisa no tocante à quantidade e aos tipos de tensão. A extenuação pode ser evitada. Nosso trabalho, nossa família, nossa vida espiritual e nossa saúde física e emocional são demasiado importantes para serem sacrificados no altar da tensão.