B. Russell Holt

Desligaríeis vosso aparelho de televisão por um mês inteiro se alguém vos oferecesse 500 dólares para fazê-lo? Não sejais muito apressados para dizer “Sim”. Quando o periódico Free Press recentemente fez essa oferta a 120 famílias em sua área de leitura, 93 rejeitaram-na completamente! É provável que idêntica porcentagem de vossa congregação faria a mesma coisa. Afinal de contas, a família de tipo médio na América mantém a TV7 ligada durante 44 horas, cada semana, e uma pessoa não abandona com facilidade um hábito que consome tanto tempo de sua vida. Se tendes uma igreja de “famílias americanas de tipo médio”, cotejai as 44 horas que cada uma delas passa semanalmente diante da TV com as 3 ou 4 horas passadas nos bancos de igreja, e podeis começar a ter uma boa idéia da competição que tendes de enfrentar em vossa pregação. Naturalmente, acompanhar as horas que vós mesmos passais vendo televisão cada semana também pode lançar alguma luz sobre o motivo por que vossos sermões nem sempre exercem o impacto desejado.

Com freqüência os redatores de publicações religiosas sentem o impulso de se desabafarem fazendo uma invectiva contra os males da televisão. Eu mesmo não tenho resistido a essa tentação. Na realidade, durante quase dez anos podia fazê-lo elegantemente, sabendo que meu lar estava entre o pequeno número que não possuía um só aparelho de TV, nem mesmo um velho aparelho portátil, preto e branco, no dormitório. Eu não deixava de mencionar casualmente esse fato em momentos oportunos, só para sentir o justificado ardor da abstinência e exercer um pouco de coerção cristã individual sobre meus irmãos não tão abnegados. Infelizmente, há alguns meses, o hospital em que minha esposa trabalha como enfermeira introduziu novos modelos a cores e vendeu os velhos aparelhos pretos e brancos a seus empregados, por apenas 15 dólares cada um. Aproximava-se a noite das eleições, e o preço da compra de uma televisão do hospital seria inferior ao aluguel de um desses aparelhos para acompanhar os resultados das eleições. Retornamos às fileiras dos possuidores de aparelhos de TV (ou dos possuídos por eles). Portanto, não posso mais combater os males da televisão com a liberdade anterior, e não pretendo fazê-lo aqui. Com efeito, prometo não usar as palavras sexo ou violência em parte alguma no resto deste artigo. (No entanto, gostaria de reservar-me o direito de jogar fora o aparelho de TV7, assumir a perda de 15 dólares e começar a pontificar novamente!)

Estou persuadido de que a razão por que Joãozinho (para não mencionar o pai e a mãe desse menino) não consegue prestar atenção ao sermão tem muito que ver com as 44 horas passadas diante da TV. Fiquei mais persuadido ainda desse fato depois de ler uma entrevista com Neil Postman, professor de Comunicação na Universidade de Nova Iorque, em 19 de janeiro de 1981, por parte de News and World Report. Embora o contexto da entrevista seja o efeito da televisão sobre as crianças, a maioria dos pontos de Postman se aplicam igualmente aos adultos, segundo minha opinião. Desejo apresentar-vos alguns pontos altos dessa entrevista.

A televisão, diz Postman, parece estar encurtando o período de atenção das crianças. A TV apresenta figuras que se movem muito depressa e dramaticamente. A duração média das tomadas de cena num programa regular é de três segundos (dois segundos e meio nas propagandas comerciais).

Não admira que Joãozinho fique enfadado, a menos que veja o pregador de um ângulo diferente cada três segundos. Ele também acha falta das vistas minuciosas da face do pastor que se dissolvem no cenário de grande abertura angular do coral; da repetição instantânea quando o pregador apresenta um ponto impressionante (repetido em câmara lenta de duas ou três posições diferentes, na televisão, naturalmente), e da interrupção, de dez em dez minutos, para uma palavra do patrocinador. Em suma, tendes de enfrentar forte competição.

Postman também salienta que embora a linguagem humana seja ouvida na TV, é o visual que sem-pre contém o que é mais significativo. Como resultado, a televisão, na realidade, não serve para transmitir idéias, pois as idéias são essencialmente palavras. A televisão comunica de um modo que é acessível a todos; ninguém precisa aprender a observar figuras na tela. Por outro lado, Postman diz que as escolas (e eu acrescentaria as igrejas) supõem que há certas coisas que a pessoa precisa saber antes que possa aprender outras coisas, e que nem tudo é tão facilmente acessível como se afigura na televisão.

Tenhamos pena do pobre pastor que precisa procurar transmitir a Palavra de Deus em meras palavras e que tem de “desaleitar o rebanho antes que possa apresentar o “alimento sólido . Na televisão, cada noite, o “alimento sólido” do mundo é facilmente acessível em quase qual-quer intensidade que se queira! E todo ele é servido de um modo que não requer grande esforço ou estudo diligente para que seja assimilado. Só é necessário sentar-se e observar. Não é de surpreender que o sermão seja considerado como algo inferior em comparação com o que Joãozinho acaba de ver na televisão.

O terceiro ponto apresentado por Postman é que as propagandas são o equivalente moderno dos antigos dramas alegóricos de fundo moral. Quando as crianças americanas atingem os vinte anos de idade, terão visto cerca de um milhão de propagandas comerciais, tomando-as com facilidade suas mais numerosas experiências culturais. E Postman declara que as propagandas comerciais pela TV somente são acerca de produtos “no sentido de que a história de Jonas é sobre a anatomia de baleias”. As propagandas, segundo esse perito em comunicação, na realidade constituem parábolas em miniatura em que o problema é exposto nos primeiros segundos, resolvido no segmento do meio e concluído com uma moral em que o ator desaparece extaticamente da tela. Aparentemente, uma propaganda pode estar vendendo dentifrício, mas na realidade está vendendo aceitabilidade para com o sexo oposto. As-sim também, propagandas de automóveis e motocicletas na realidade estão vendendo liberdade e independência. E essas propagandas comerciais ensinam três coisas interessantes às crianças, diz Postman:

1) Todos os problemas podem ser solucionados;

2) todos os problemas podem ser solucionados rapidamente; e

3) todos os problemas podem ser solucionados rapidamente por meio de alguma tecnologia.

Não é de admirar que Joãozinho (ou seus pais) fiquem desiludidos com o pastor que não pode sintetizar um problema, prescrever a pílula, o mecanismo ou a oração apropriados que possam solucioná-lo com rapidez, e retirar-se sorrindo — tudo isso em 28 segundos. As pessoas que aparecem na TV fazem isso constantemente; por que não o pastor? Por que ele precisa passar trinta minutos enfadonhos falando sobre soluções a longo prazo para os problemas da vida — soluções que requerem algo mais do que respostas tecnológicas?

A vida de acordo com a televisão — assevera Postman — é uma caricatura da vida real. Essa caricatura se baseia em determinadas suposições com que deparam inconscientemente os telespectadores. Por exemplo, personagens com educação ou discernimento são retratados, quase invariavelmente, como indiferentes, insensíveis e fora de contato com os seus semelhantes. O herói, por outro lado, geralmente é um “homem do povo”, talvez inculto, mas cordial e compreensivo. “Para os meninos é muito difícil encontrar nesses programas o modelo de alguém que seja admirável e também educado ”, diz Postman.

Assim, o pastor que procura apresentar o evangelho com base nalguma espécie de raciocínio tem três pontos contra ele, antes mesmo de começar. As pessoas na televisão que são admiradas e com as quais os outros se identificam não complicam as coisas com ponderações excessivas.

Portanto, se Joãozinho parece não poder prestar atenção ao sermão (ou se o pai e a mãe têm os mesmos sintomas), a causa primordial talvez não seja mais remota do que a bela televisão a cores em sua sala de estar.

Que podeis fazer?

Uma possibilidade é desafiar vossa igreja a livrar-se da televisão por um mês. (Experimentai uma semana se achais que um mês é muita coisa.) Se 93 dentre 120 famílias em Detroit rejeitaram 500 dólares para passarem um mês sem ver televisão, é provável que tereis dificuldades para convencer vossa congregação a fazê-lo espontaneamente, mas algumas pessoas resolutas poderão ficar excitadas com a novidade da idéia. Tomai-o algo importante; realizai alguns programas especiais na igreja para evitar a desintegração de famílias durante esse período de tensão; entrevistai os que completarem a experiência com êxito. Quem sabe quais serão os resultados de algo tão estranho? Pelo menos deveria merecer uma reportagem no jornal local!

Se experimentardes isso, eu gostaria de receber informações a esse respeito. Com um pouco mais de estímulo, talvez eu também participe da tentativa, jogando fora meu aparelho de TV de 15 dólares!